Por Narinilda Carvalho
Jornalismo em tempo real O fetiche da velocidade, de Sylvia Moretzsohn, Editora Revan, 182pp., Rio de Janeiro, 2002
A universidade muito colabora na reflexão sobre os rumos do jornalismo que praticamos, infelizmente na mesma medida em que é ignorada pelas empresas de comunicação – e pelos próprios jornalistas. No mês passado, ignorando embaraços, a professora Sylvia Moretzsohn, da Universidade Federal Fluminense, deu nova e relevante contribuição a esse debate, ao lançar em livro sua dissertação de mestrado, Jornalismo em tempo real – O fetiche da velocidade, que analisa mistificações e contradições inerentes ao grande postulado da imprensa, "a verdade em primeira mão". Postulado que se desdobra em outras mistificações e contradições, como a assunção da imprensa a um "quarto poder", acima de interesses, imparcial e objetiva, ou seu compromisso automático com a "responsabilidade social", daí a popular imagem de "cão de guarda" e "representante do povo", defendendo-o em seu "direito de saber" – não importa o quê.
Hoje premida pelo "tempo real", a mídia fetichiza a velocidade – no tradicional sentido marxista, como oportunamente recupera Sylvia: tão logo o produto do trabalho assume a forma de mercadoria passa a valer por si mesmo, escondendo a relação social que lhe deu origem. "No jornalismo, passa a ser o principal ‘valor notícia’: antes de tudo importa chegar na frente do concorrente, e alimentar o sistema com dados novos, num continuum vertiginoso a pautar o trabalho nas grandes redações."
Como informar com rapidez não pode ser o mesmo que desinformar, parece lógico à autora que também os meios sujeitos ao "imediatismo" estejam subordinados ao compromisso com a precisão. Haverá mercado para um jornalismo "que não exclua a perspectiva dialética de interação – e transformação – e sirva àquilo a que se propõe, ou seja, fornecer as informações indispensáveis à formação do cidadão"?
Sylvia tenta não ser pessimista: entre as saídas possíveis ela vê a mobilização dos jornalistas "em nome de uma causa social, a qualidade da informação que o público consome todos os dias". E uma "intensa pesquisa no campo do discurso na relação com o senso comum – algo passível de ser levado a efeito em projetos laboratoriais no âmbito da universidade". O difícil é imaginar, dadas as circunstâncias críticas que atravessa a nossa sociedade, uma categoria profissional mobilizada pela qualidade da notícia e a indústria da comunicação atenta à produção do campus. Que as dificuldades não desestimulem tentativas.
A presença de numerosas citações, como obriga a metodologia do estudo acadêmico, não subtrai a agilidade e a leveza do texto do livro: antes de se dedicar à universidade Sylvia trabalhou muitos anos em redações cariocas, como repórter e editora, e preservou a intimidade com a linguagem jornalística. Vivência que talvez explique também a inédita velocidade com que respondeu, por e-mail, às perguntas desta entrevista: andamento prestíssimo, quase "tempo real".
Você analisa com muita clareza a teoria da responsabilidade social, que subentende a idéia do "direito de saber" do público. Agora mesmo os americanos foram à Justiça pelo direito de transmitir execuções de condenados. Onde termina o direito de saber do leitor/telespectador? Como julgar esse limite?
Sylvia Moretzsohn – Eu poderia argumentar com um dos exemplos que estão reproduzidos no livro, um editorial de capa do Globo da véspera do debate entre Lula e Collor em 89: o título era exatamente "o direito de saber". E o que foi que o público conseguiu "saber" depois daquela famosa edição do Jornal Nacional? Mas talvez o melhor exemplo sejam as câmeras ocultas, que estão aí supostamente para tudo devassar, em nome desse ideal de transparência que se ergue hoje como supremo valor ético.
Então sabemos do escândalo da feira das drogas (como se já não soubéssemos), mas quando saberemos do que ocorre nas reuniões da Fiesp ou da Rede Globo? Argumento assim exatamente porque a falácia do "direito de saber" não comporta exemplos: da forma como é defendido, esse direito é que é uma falácia. Porque essa defesa exclui a empresa jornalística como parte desse processo e, portanto, oculta o trabalho de produção de sentido que o jornalismo, como qualquer discurso, inevitavelmente realiza.
Enquanto não se enfrentar essa questão, este e outros postulados continuarão a ser objeto de uma discussão interminável e inócua. Por isso defendo um jornalismo que não mascare o lugar da fala, que se assuma como atividade política. E isso nada tem a ver com deturpação dos fatos, ou com manipulação (no mau sentido que se costuma dar a esse termo). Pelo contrário, tem a ver com a possibilidade de esclarecimento do público, algo que não se dá apenas na transmissão de informações (no atendimento a esse suposto "direito de saber"), mas que exige colocar a imprensa como parte da produção dessa informação.
No item "A fabricação das notícias", você fala dos pseudo-eventos – e nossa mídia é que parece especialista nisso. Como você procederia se fosse editora de jornal? Ignoraria esses factóides? Daria nota na Primeira explicando?
S.M. – Bem, depende de que jornal. Se estamos falando da chamada grande imprensa, não creio ser possível responder à pergunta, porque jamais seria editora, ou não teria escrito o que escrevi (e que não peço que esqueçam, muito ao contrário...). Fui repórter, tive matérias engavetadas desde os tempos de estagiária, num breve período trabalhei no caderno de Turismo do JB, e mesmo ali consegui ser censurada, veja você! Conto isso pros meus alunos pra mostrar que nada é inocente. Pseudo-eventos, ou factóides, só existem porque fazem parte da lógica de trabalho da grande imprensa. Garantem polêmicas em geral vazias mas sempre espetaculares.
Romper com essa lógica é propor uma espécie de jornalismo à contra-corrente, que, para estar no mercado, não poderia ignorar os factóides, mas teria que dizer que eles são o que são. E não numa nota explicativa de capa, mas na própria matéria. Seria uma forma de esclarecer o público da tentativa de manipulação operada pelas fontes. Claro que isso não resolve, porque se divulgamos o factóide podemos estar, de alguma forma, fazendo o jogo da fonte, mas se o divulgamos de forma crítica podemos colaborar para um comportamento crítico por parte do público.
Se estamos fetichizando a máquina e portanto informando menos, como equilibrar? Como considerar um profissional que tem horror à máquina?
S.M. – Não creio que tenha dito isso, falei em fetichização da velocidade. No sentido marxista de fetichismo da mercadoria, e isso me parece correto porque o capitalismo transforma tudo em mercadoria, inclusive o tempo, que "é" dinheiro. Então, disse que, a título de estarmos consumindo informação (e, portanto, "esclarecimento"), estamos de fato consumindo velocidade, que é o grande fetiche da vida pós-moderna. Isso tem a ver com o processo global de produção de informações, desde aquilo que Ramonet chamou de "ditadura do ao vivo" promovida pelo noticiário televisivo via satélite nos anos 80, e que se radicaliza agora com a internet e seu "tempo real".
Acho a observação do Ramonet muito acurada, essa idéia de que não podemos analisar o trabalho da imprensa fora da lógica do "tempo real", que submete todas as formas de fazer jornalismo nas grandes empresas, que hoje são grandes corporações de mídia, e seu negócio não é apenas jornalismo, mas também a indústria do entretenimento e as telecomunicações.
De fato, inferi algo que você não disse, desculpe. Li o trecho "o que nos fascina mais? O tempo que se ganha com as novas técnicas da comunicação. Mas, para fazer o quê?" (pág. 177), e a citação seguinte, "(...) é mais fácil equipar maciçamente as escolas com computadores e conectá-los à rede do que pensar uma filosofia global de educação (...)", e transportei para as redações. Então, não há mal na febre da tecnologia, o erro é usá-la para fetichizar a velocidade? É que pensei na também velocíssima "tecnologização" das redações, que as empresas, de um lado, usaram para muitos fins não-jornalísticos (redução de custos, principalmente) e os jornalistas, de outro, aproveitaram para introduzir o Ctrl+C e Ctrl+V, a cópia pura e simples. Você quer comentar um pouco isso?
S.M. – Em primeiro lugar, não é que não haja mal algum na "febre" de tecnologia; a "febre", pelo próprio nome, constitui um problema, porque indica que a tecnologia vale por si (à maneira do fetiche: ganha vida própria). Mas em momento algum estou dizendo, e hoje acho que ninguém seriamente diria isso, que o problema é a introdução da tecnologia, mas o uso que se faz dela. Se bem que, insisto, a questão não é tão simples, porque evidentemente a tecnologia não é autônoma, não surge do nada, é desenvolvida para um fim determinado. Só que, uma vez posta em prática, acaba interagindo nas relações sociais e pode servir para outros fins, às vezes em sentido oposto ao do sistema que a criou.
É o caso da internet: é claro que, especialmente no início, houve uma enorme celebração desse meio como a "nova utopia tecnológica", como se de repente o mundo todo tivesse acesso simultâneo a todo tipo de informação. Ora, além de esconder uma série de questões importantes (por exemplo, o nível de instrução de cada um a influir decisivamente no uso que se fará dessas informações), essa idéia é simplesmente falsa. Basta ver quanto tempo demoramos pra conseguir conexão aqui, em comparação, por exemplo, a Nova Iorque. Agora, a agilidade propiciada pela internet é fundamental para articulações de movimentos sociais contestadores à globalização neoliberal. Os Fóruns de Porto Alegre não teriam ocorrido do jeito que ocorreram sem a internet.
Em segundo lugar, o trecho citado, do Wolton, tem a ver com o sentido crítico que ele adota em relação ao uso da tecnologia. Quando ele diz que é mais fácil equipar escolas com computadores do que pensar uma filosofia de comunicação está criticando o uso "em si" do argumento da tecnologia: basta ter computador, o resto não se discute. E é justamente esse "resto" que cabe discutir, ou melhor, que deveria orientar a discussão. Acho que o que ele diz pode se aplicar perfeitamente a certas ações do atual governo no campo da educação (o alarde em torno da destinação de computadores e vídeos a escolas públicas, paralelamente ao silêncio relativo à capacitação do pessoal docente e ao projeto pedagógico dessas escolas) e mesmo à propaganda intensiva sobre o combate à "exclusão digital", como se a existência do computador conectado à internet fosse dotada de poderes mágicos de transformação.
Sobre a introdução dessa tecnologia nas redações: claro que as empresas utilizaram esses equipamentos com o fim de cortar custos, e isso se refletiu diretamente na qualidade do produto final (qualidade no sentido estrito de correção gramatical, mesmo), até porque os primeiros cortes, ainda nos anos 80, foram no setor de revisão. Ler jornal hoje é uma dureza, você há de convir. Sem contar aquele comentário do Sérgio Augusto sobre as então recentes aquisições da Folha, que garantiriam maior velocidade na impressão do jornal, mas não representaram dilatação no horário do fechamento (ao contrário, os jornais fecham cada vez mais cedo); então, diz ele, "um jornal é cada vez mais um produto que, antes de ser bom, precisa ser rápido para chegar mais cedo que os concorrentes às mãos do leitor". Donde, é óbvio, a tecnologia não está sendo usada no sentido de um maior apuro e aprofundamento da informação.
Sobre a prática do corta-e-cola (a tal "recortagem"), não é propriamente novidade - e não só nas redações, no meio acadêmico também... É claro que é algo condenável, mas acho um equívoco acusar o jornalista de comodista ou preguiçoso. É louvável que o profissional resista à lei do menor esforço, mas este será sempre uma exceção num contexto em que praticamente não se deixa outra saída. Para falar disso, seria preciso verificar como se dá o controle de produção nas redações.
Perdi a conta dos relatos que ouvi de estagiários e repórteres a respeito do estímulo a essa prática de cortar e colar, especialmente se trabalham nas versões online dos jornais. Porque o que importa é fechar, ou jogar o flash no ar. Mas, como disse, isso não é propriamente novidade, e por isso fiz questão de citar no livro aquela que me parece a mais perfeita definição (cínica) de jornalismo, que me foi dita cara a cara pelo então editor do jornal onde iniciei a carreira, em 82: "Jornalismo é pintar de preto papel branco."
A conclusão do seu livro não é nada otimista. É óbvio que jornais perdem leitores devido a esse jornalismo simplista. Há alguma chance de melhoria nesse contexto atual? Você consegue ver a categoria se mobilizando contra as novas exigências profissionais? Ou a academia influenciando positivamente o mercado?
S.M. – Bem, costuma-se dizer que o otimista é um desinformado, mas não creio que tenha sido pessimista na minha conclusão. Não trato apenas de jornais impressos no livro, procurei tratar do trabalho jornalístico de uma forma geral, analisando os fundamentos que podem explicar o que acontece hoje e propondo uma alternativa, do ponto de vista teórico- prático. Muito modestamente, aliás: aquele conceito de notícia como clinamen, que é enunciado brevemente na conclusão, e sobre o qual pretendo trabalhar de maneira detalhada em outras pesquisas.
Refiro-me à perda de leitores devido à superficialidade do jornalismo impresso apenas como exemplo: digo explicitamente que não devemos cair na armadilha (que já virou lugar-comum) de achar que cabe ao meio impresso (jornal ou revista) um aprofundamento do noticiário, porque isso significaria considerar que, no fundo, o único jornalismo digno desse nome seria o impresso, restando ao audiovisual a ligeireza do espetáculo. O que seria, também, uma forma de justificar a superficialidade dos telejornais... Não acho que seja assim: trata-se de meios distintos, de linguagens distintas, mas que devem se pautar pela tentativa sempre problemática de apreender sua matéria- prima (o fato, o "real") em sua complexidade. Por isso digo que um jornalismo assim deveria ser menos conclusivo, menos definitivo, aceitar a dúvida como parte do processo de elaboração da informação. Fazer e provocar perguntas, não obrigar-se necessariamente a dar respostas definitivas a cada edição.
De modo que não vejo alternativa no contexto atual, porque a grande imprensa funciona exatamente de acordo com essa lógica objeto da crítica. O que pode ocorrer é a velha luta interna nas redações, coisa que considero importante e que ainda era comum quando trabalhei em jornal, durante a década de 80, e que é cada vez mais rara agora, devido a mudanças no perfil profissional, que abordo brevemente no livro.
Mas digo que não sou pessimista porque aposto em alternativas, seja em iniciativas comunitárias, seja no âmbito da universidade, e creio que essas iniciativas, uma vez sedimentadas, podem interferir nos rumos da grande imprensa. Sei que em universidades públicas existem alguns projetos nesse sentido, mas não vejo mobilização na categoria profissional, talvez por aquela mudança de perfil, que atinge obviamente a representação sindical.
Você pode citar algum telejornal que fuja ao superficialismo, e que você tenha prazer em ver?
S.M. – Fiz a afirmação baseada principalmente nos estudos e entrevistas citados no livro (veja o discurso do Frias no Fórum Folha, é bem significativo desse privilegiamento ao meio impresso, é indiretamente uma desqualificação do meio audiovisual), e menos por uma observação exaustiva dos nossos telejornais. Por isso não daria exemplos. Mas acho significativo que mesmo os telejornais da Globo News se pautem por essa superficialidade: trata-se de uma TV paga, que atinge um público de maior poder aquisitivo e, supostamente, mais qualificado para a crítica. Mas mesmo as entrevistas com estudiosos do tema que esteja na ordem do dia são conduzidas, em geral, de acordo com uma espantosa simplificação.
Dou um exemplo: agora mesmo, no meio daquela balbúrdia que se instalou em Bangu 1, um dos convidados a um dos Em Cima da Hora foi o pesquisador Ignacio Cano, e, diante da falta de respostas conclusivas, a locutora lhe perguntou: "Mas então, professor, QUAL É A SOLUÇÃO?". Como se houvesse soluções simples... Este é o problema: a enorme simplificação do mundo, que o jornalismo (este jornalismo, faço questão de ressaltar) opera. Ora, se temos "tempo" para uma interrupção, de alguns minutos que seja, no fluxo "normal" do noticiário, por que insistir na tentativa de respostas "definitivas" que não existem? Por que não aproveitar para levantar algumas dúvidas, ou pelo menos para sugerir que as coisas não são tão simples quanto parecem?
Sei que existe muito despreparo dos jornalistas (e por isso insisto tanto na necessidade de um investimento na formação teórica), e isso não é gratuito (posso contar que entrevistei o então responsável pelo programa de trainee do Globo e lhe perguntei se os candidatos deveriam, por exemplo, ter algum conhecimento de antropologia ou criminologia para cobrir a área de cidade, com pautas recorrentes sobre violência e segurança pública, e ele respondeu rapidamente que não, não, bastavam "neurônios ativos, neurônios ativos!").
Sei de tudo isso, mas isso não explica tudo. Porque essa simplificação conduz ao círculo vicioso de reiteração do senso comum, que me parece um objetivo claro das empresas de comunicação. Basta ver o recurso sistemático à imagem da dona de casa prudente, ciosa de seu orçamento doméstico, que sabe ser impossível gastar mais do que se ganha, para a comparação tão automática quanto absurda com a situação econômica do país. Como se a dona de casa tivesse que sustentar uma burocracia, gerir serviços públicos, investir a fundo perdido... Pior ainda é no campo criminal, e esse exemplo da jovem locutora é eficaz: ela pergunta qual a solução, e a solução imediata só pode ser o aumento da repressão, leis mais duras, fim de "regalias" jurídicas. Ou seja, esclarecimento nenhum, problematização nenhuma, nem mesmo numa TV paga.
Você participou do debate no OI sobre formação teórica versus prática nas escolas de Jornalismo. E diz no livro que pelo menos no Brasil esse debate permanece. Mas a maioria das escolas solta jovens despreparados – na teoria e na prática. Como resolver esse impasse? A atração pelo conhecimento e pela leitura depende de cada aluno, vem do ambiente familiar? O que a escola real – como a nossa – pode fazer? Como você lida com isso em sala de aula?
S.M. – Bom, a escola real são na verdade pelo menos duas, e aí vou apelar para aquela distinção que o nosso amigo Faro apontou muito apropriadamente: de um lado os "barracões" públicos, de outro, os "shoppings centers". O que, também, não pode ser tomado de forma absoluta, porque entre as particulares existem exceções, especialmente no caso das confessionais, como a PUC. Mas, grosso modo, se temos "barracões" e "shoppings", temos obviamente a disparidade de recursos: a disparidade de condições infra-estruturais entre esses cursos é gritante. Mas é igualmente gritante a disparidade de projetos pedagógicos, e não por acaso as particulares falam em geral em "formar para o mercado", o que é uma bobagem, porque quem forma para o mercado é o mercado, e isso é evidente no caso das empresas jornalísticas, que há anos desenvolvem seus programas de estágio e trainee.
Mas não ignoro que os projetos pedagógicos de cursos públicos sejam influenciados por essa demanda, que freqüentemente parte dos próprios estudantes: "preparar-se para o mercado", num sentido acrítico em relação a esse mercado. De minha parte, procuro mostrar que o nosso trabalho é formar "para a sociedade", o que é radicalmente distinto, e que implica um esforço simultâneo de crítica ao que existe e de formulação de alternativas. Acho que, no nosso campo específico, o papel da universidade pública tem de ser o de apresentar-se como um espaço teórico-prático da luta pela democratização da comunicação, o que implica, entre outras coisas, a ênfase em projetos laboratoriais que envolvem uma densa pesquisa de linguagem, que incorpore e supere o que pôde ser acumulado em iniciativas passadas de comunicação popular, por exemplo.
Claro que isso é desproporcional aos recursos de que dispomos e também pode ser um projeto além das nossas possibilidades de formulação, mas é nisso que aposto e é nisso que venho investindo, muito precária e modestamente, no meu trabalho como professora.
Fonte:
Observatório da Imprensa