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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Amarc propõe criação de fundo público para comunicação comunitária

Por André Vieira

O financiamento para as rádios comunitárias foi um dos temas mais debatidos durante o Seminário de Legislação e Direito à Comunicação da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc), realizado no último dia 11 de agosto na cidade do Rio de Janeiro. Para o novo representante da Amarc-Brasil, Arthur William, é preciso pensar em um fundo público para possibilitar a operacionalidade dos meios de comunicação comunitários.

William assume com o compromisso ainda de lutar pela implementação de um novo marco para as comunicações. “A Amarc vai atuar junto com rádios comunitárias e entidades do movimento social, unindo forças para que o marco regulatório traga avanços para a garantia do direito humano à comunicação”, enfatiza.

Outro grave erro apontado pelo militante na atual legislação é em relação à criminalização dos meios comunitários. “É um absurdo um comunicador ser levado em um camburão por estar prestando um serviço de utilidade pública. Nós cumprimos esse serviço que não é desempenhado pelos grandes meios, mas somos criminalizados”, critica.

Em relação ao financiamento para as rádios, o representante nacional da Amarc faz duras críticas. “Não queremos mesadinha, temos que debater financiamento para as rádios comunitárias. A publicidade estatal tem que ser feita por lei”. Ainda segundo Arthur, enquanto os grandes meios recebem muito com a publicidade estatal, as rádios comunitárias ficam na dependência do apoio cultural.

Nova composição da Amarc-Brasil

Além de eleger Arthur como representante nacional, a Amarc-Brasil, que esteve reunida entre os dias 11 e 14 de agosto em sua IX Assembleia, escolheu ainda 
João Paulo Malerba, comocoordenador-executivo da entidade e Denise Viola para comandar a Rede de Mulheres da associação. Foi escolhido ainda o novo conselho da entidade, que em sua nova gestão traz: a Rádio Comunitária Independência, do Ceará; o associado individual Dioclécio Luz, pesquisador de rádios comunitárias em Brasília; e o Ilê Mulher, do Rio Grande do Sul. A Rádio Comunitária Nativa FM, de Altamira, no Pará; e a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço) do Norte do Ceará, ficaram como suplentes. Todos cumprirão uma gestão de dois anos.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Um olhar sobre o MSN

Por Valério Cruz Brittos e Lucas de Souza Ferreira

Chegado ao Brasil em 2000, o MSN Messenger, programa de comunicação instantânea da Microsoft, conhecido popularmente apenas como MSN, logo obteve grande repercussão entre o público jovem por ser de fácil acesso e praticidade de diálogo, de forma que, em 2003, tornou-se o serviço de conversação mais utilizado pelos internautas. Na nova sociabilidade hoje estabelecida, ocupa um papel importante, não podendo ser descartado em qualquer análise que se faça do ser e estar no mundo contemporâneo.

Desde sua criação, o MSN vem evoluindo, sendo a versão 7.5 uma das mais inovadoras, na medida em que trouxe diversos complementos para animar as conversas: o que antes era para ser apenas um jeito mais fácil de comunicação, acabou transformando-se num incrível divertimento para seus usuários. Além de emoticons, tanto estáticos quando animados, transferência de arquivos e jogos, essa versão trouxe também a possibilidade de colocar uma foto junto do nick (pseudônimo), facilitando a interação.

Para os usuários do MSN atual, versão 2011, essas inovações do 7.5 são coisas do passado, comparando-se com as de agora. Presentemente, ganha força crescente a modalidade de vídeo do MSN que funciona à semelhança de uma videoconferência, quando a comunicação se dá através de imagem e áudio. Com isso, passa-se de um modelo de mensagens com linguagem rudimentar, de escrita muito próxima da fala, para outro baseado diretamente na voz (e na imagem), mais rápido e calcado em outras habilidades.

Mediação tecnológico-empresarial

Todas essas frequentes inovações no MSN têm como objetivo manter os utentes conectados o maior tempo possível. Tal estratégia vem obtendo resultados positivos, pois progressivamente mais os indivíduos preferem comunicar-se desta maneira, também por poderem interagir com diversas pessoas ao mesmo tempo, de diferentes lugares, fazendo o utilizador sentir-se rodeado de amigos, ainda que isto não passe de uma ilusão, na maioria das vezes. Sem dúvida, a comunicação internética não é exclusiva, mas é condicionadora.

As conversas entre amigos – e outros tantos tipos de intercâmbio, como no mundo profissional, o que não é o foco deste artigo – cada vez mais passam a receber mediação tecnológico-empresarial, um dado que já vinha da telefonia, mas que não se reproduzia com tanta dimensão. Se as repercussões disso no futuro são ainda desconhecidas, também se deve admitir que, nas sociedades complexas, o contato direto, presencial, foi dificultado pela própria extensão das distâncias e a ampliação substancial dos horizontes relacionais.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Publicidade, comportamento social e regulação

Por Valério Cruz Brittos e Marco Ries em 3/5/2011

Uma das características mais marcantes da comunicação é sua atualização permanente, acompanhando o desenvolvimento econômico-político-cultural. A publicidade, como instrumento de comunicação e marketing, insere-se neste quadro. Assim, quando a sociedade revê seus padrões de comportamento, por serem identificados como pejorativos, sexistas, racistas ou agressivos aos valores estabelecidos, a publicidade assume essas mudanças, do mesmo modo que estimula transformações, se forem do interesse do sistema.

Algumas décadas atrás não havia maior repercussão negativa frente à comercialização de armas de fogo em anúncios de revista, representação de um mundo glamouroso em propagandas de cigarros ou venda de bebidas alcoólicas por mascotes animadas. De outro lado, veicular a coisificação da sexualidade, como acontece atualmente, seria avaliado obsceno. No entanto, esta colagem social, por parte da publicidade, não tem impedido a proliferação de abusos, causando maior ou menor grau de reação coletiva.

Paralelamente a esta regulação pelo mercado, a publicidade, considerando sua dimensão simbólico-econômica, hoje também provoca preocupação especial da sociedade, legisladores e governantes. Desta forma, em 2000 entrou em vigor a proibição de veicular publicidade de cigarros e bebidas alcoólicas na mídia. A Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap), como presumível, condenou a medida, de maneira que, após muitas discussões, ficou definido que os anúncios de bebidas alcoólicas poderiam continuar, permanecendo a proibição quanto a cigarros.

Instrumentos jurídicos isolados

Ante isso, em 2008 iniciou a vigência de uma nova regulamentação de propagandas de bebidas alcoólicas, entregue ao Congresso Nacional pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). Consiste, entre outras iniciativas, em não mais fazer uso de erotismo e não utilizar conteúdo passível de associação com menores de 25 anos, inclusive atores. Já nos próximos meses deve entrar em vigor a nova regulamentação de controle à veiculação de cigarros. Entre as novas medidas está a proibição de incluir, na embalagem, qualquer atrativo ou substantivo integrado à marca (light, mint,free, suave), além de controle nos pontos de comercialização, o principal meio de venda na atualidade. Também fica restrita sua venda apenas a tabacarias, bares e armazéns.

Já visando a frear o consumismo de crianças e adolescentes e diminuir a obesidade infantil, desde 2006 estão em pauta os limites da publicidade infantil. Entidades de classe, como a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) e o Instituto Alana, assinaram, juntamente com fabricantes de alimentos, o termo público, já definido pelo Conar, coibindo práticas enquadradas como abusivas nas propagandas de produtos de alto teor de açúcar, gordura trans, sódio e alimentos de baixos teores nutricionais. Este é o mesmo tom do projeto de lei que proíbe qualquer ação de marketing dentro de escolas e entidades de educação básicas.

Nota-se que a publicidade acaba sendo regulamentada através de instrumentos jurídicos isolados, o que, aliás, é prática na comunicação, pela defasagem legislativa. Portanto, é o momento de se aproveitar a discussão de um novo marco regulatório das comunicações, numa perspectiva convergente – que se espera seja construído democraticamente já a partir deste ano, após debates ocorridos especialmente em 2009 e 2010 –, para se abordar diretamente a publicidade enquanto fenômeno enraizado na vida social, que como tal deve ser encarado, colocando-se a serviço dos macro-objetivos do país.

Fonte: Observatório da Imprensa

quinta-feira, 3 de março de 2011

Revista da PUCPR abre chamada para trabalhos acadêmicos

Nesta terça-feira (1), a Revista de Estudos de Comunicação do Curso de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) abre chamada de trabalhos para as edições de 2011. Os textos devem ser submetidos até 28/03/11, on-line, através do sítio www.pucpr.br. Basta clicar em revistas científicas, ir para a Revista de Estudos de Comunicação. Acima do título está localizado o link ‘submissão’. As colaborações podem ser em forma de artigos, resenhas, entrevistas, comunicações científicas, ensaios e reportagens científicas e devem seguir a linha editorial Imagem, Mídia e Práticas Sociais. Os organizadores solicitam, particularmente, o envio de resenhas. Mais informações pelo e-mail teresa.f@pucpr.br.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ministro reafirma que governo não intenciona controlar conteúdo da mídia

Redação Portal IMPRENSA

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, reafirmou que o governo não quer controlar o conteúdo das emissoras de rádio e TV pelo fato de ser "inconstitucional". A declaração foi feita nesta sexta-feira (04), após o ministro ter sido questionado sobre o projeto de criação do marco regulatório para a mídia. "Essa intenção do governo de regular a mídia eletrônica está na Constituição. Tem pelo menos quatro ou cinco artigos da Constituição que mencionam isso e que tratam do conteúdo", disse Bernardo em entrevista ao canal NBR TV.

O ministro ressaltou que a Constituição Federal já estabelece regras para as redes de rádio e TV do país, e que proíbe "manifestação de cunho racista e atentado contra crianças e adolescentes". Bernardo disse, ainda, que o governo pretende "fortalecer a democracia" e não retroceder. "Agora, se a Constituição prevê essas coisas, nós temos de ter uma legislação dizendo como isso vai se dar", informou.

O anteprojeto de regulação da mídia foi deixado pelo ex-ministro da Secretaria da Comunicação Social (Secom), Franklin Martins, e abrange a regulamentação de artigos da Constituição sobre produção de conteúdo nacional e investimento de capital estrangeiro em veículos de mídia brasileiros.

Além disso, o texto prevê a criação da Agência Nacional de Comunicação (ANC), que substituiria a Agência Nacional de Cinema (Ancine) e teria poderes para aplicar multas em caso de programação considerada abusiva ou imprópria para determinado horário, além de proibir a concessão de emissoras de rádio e TV a políticos.

Durante a entrevista, Bernardo falou sobre a entrada das empresas de telecomunicações no setor de comercialização de TV por assinatura, e acredita que deve haver uma regulação para a área. "Hoje é comum, você vai mandar ligar um telefone e já te oferecem TV a cabo, internet. Acho importante fazer a regulação dessas coisas", disse.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

RECIIS v4 - Políticas de Comunicação, Democracia e Cidadania

O Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), apresenta neste mês de novembro a edição de número 4 da Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde (RECIIS).

Suplemento deste volume trata-se de Políticas de Comunicação, Democracia e Cidadania, com editorial de Rodrigo Murtinho, Pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Comunicação e Saúde (Laces).

Entre os artigos apresentados estão os originais:

- Para regulamentar as Comunicações em regime público: Discutindo o novo cenário normativo em regime de convergência - Marcos Dantas.

- Possibilidade de uma nova agenda para as políticas de comunicação na América Latina - Murilo César Ramos.

- Liberdade, diversidade e controle na internet - Sérgio Amadeu da Silveira.

- As iniciativas da sociedade civil para dar rumo democráticos políticas de comunicação no Brasil - Bia Barbosa, João Brant.

- Tomando posição: uma análise política da I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) - Valério Cruz Brittos, Bruno Lima Rocha, Paola Madeira Nazário.

- Comunica o no Brasil: o que temos e o que queremos - Wilma Madeira.

- Controle social e regulação da propaganda de medicamentos - lvaro César Nascimento, Fernanda Affonso de Paula.

- Controle social e regulação da publicidade infantil: O caso da comunicação mercadológica de alimentos voltada às crianças brasileiras - Isabella Vieira Machado Henriques.

- Observatórios de mídia como instrumentos para (da) democracia - Edgard Rebou as, Patrícia Cunha.

Artigo de Revisão:

- O modelo brasileiro de regulação do audiovisual em perspectiva histórica - César Ricardo Siqueira Bolaño.

Ensaios:

- O processo de controle democrático da comunica o na Argentina - Santiago Marino, Guillermo Mastrini, Martín Becerra.

- Conectividade plena para todos: um desafio mundial - Carlos A. Afonso.

Resenha:

- Mutaçoes do visível: da comunicação de massa comunicação em rede, de Denis Moraes - Igor Sacramento.

Novas escrituras e mediações em saúde:

- Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de C , de Silvio Tendler - Christovam Barcellos, Mauricio Monken.

- Políticas de saúde no Brasil: um século de luta pelo direito à saúde, de Renato Tapajós - Aurea Maria da Rocha Pitta.

Mais informações pelo portal: www.icict.fiocruz.br

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Quatro anos de ilegalidade

Por Venício A. de Lima

No sábado, dia 20 de novembro, serão quatro anos que o Conselho de Comunicação Social, órgão auxiliar do Congresso Nacional, criado pela Constituição de 1988, se reuniu pela última vez. Um ano atrás, neste Observatório, publiquei artigo intitulado "CCS: Três anos de ilegalidade".

Matéria da Folha de S.Paulo sob o título "Congresso vai reativar conselho de comunicação", publicada no último dia 31 de outubro, informa que "no recesso de julho, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), despachou cartas a dezenas de entidades anunciando a medida [reativação do CCS], e 21 delas já indicaram nomes para compor o órgão" (ver aqui).

A se confirmar a informação, o senador do Amapá, exemplo emblemático do coronel eletrônico, terá esperado os últimos dias de seu terceiro mandato como presidente do Congresso Nacional para cumprir a lei. Todavia, até este momento, apesar da ilegalidade flagrante, a situação não se alterou.

Desta forma, tomo a liberdade de repetir aqui praticamente os mesmos argumentos do artigo publicado um ano atrás na expectativa de que, em novembro de 2011, talvez a Constituição e a lei estejam sendo cumpridas.

Responsabilidade do Congresso Nacional

Criado pela Constituição de 1988 (artigo 224) e regulamentado pela Lei 8.389 de 1991, os integrantes do CCS são eleitos em sessão conjunta do Congresso Nacional. Acontece que a Mesa Diretora, vencidos os mandatos dos conselheiros ao final de 2006, jamais promoveu a eleição dos novos membros. O § 2º do artigo 4º da Lei é claro:

Art. 4° O Conselho de Comunicação Social compõe-se de:

(...)

§ 2° Os membros do conselho e seus respectivos suplentes serão eleitos em sessão conjunta do Congresso Nacional, podendo as entidades representativas dos setores mencionados nos incisos I a IX deste artigo sugerir nomes à mesa do Congresso Nacional.

Trata-se, portanto, de evidente descumprimento de uma lei exatamente por parte do poder que tem o dever constitucional maior de criá-las e, espera-se, deveria cumpri-las.

A situação chegou a tal ponto, que um integrante do próprio Congresso Nacional, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), em agosto de 2009, entrou com uma representação na Procuradoria Geral da República para que o Ministério Público investigue os motivos pelos quais não se promove a eleição dos novos membros do Conselho de Comunicação Social.

Triste história

Ao longo de 2009, em pelo menos duas ocasiões, tratei da questão neste Observatório ("Por que o CCS não será reinstalado" e "CCS: o Senado descumpre a lei"). O tema, paradoxalmente, não merece a atenção da grande imprensa, apesar de os donos da mídia terem, pelo menos, a metade dos membros do CCS.

Como se sabe, o CCS, apesar de regulamentado em 1991, só logrou ser instalado onze anos depois como parte de um polêmico acordo para aprovação de Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que, naquele momento, constituía interesse prioritário dos empresários de comunicação. A Emenda Constitucional nº 36 (Artigo 222), de maio de 2002, permitiu a propriedade de empresas jornalísticas e de radiodifusão por pessoas jurídicas e a participação de capital estrangeiro em até 30% do seu capital.

O fato é que, mesmo sendo apenas um órgão auxiliar, o CCS instalado demonstrou ser um espaço relativamente plural de debate de questões importantes do setor – concentração da propriedade, outorga e renovação de concessões, regionalização da programação, TV digital, radiodifusão comunitária, entre outros.

Vencidos os mandatos de seus primeiros integrantes, houve um atraso na confirmação dos membros para o novo período de dois anos, o que ocorreu apenas em fevereiro de 2005. Ao final de 2006, no entanto, totalmente esvaziado, o CCS fez sua última reunião e os novos membros nunca mais foram eleitos.

Atribuições

Nunca será demais relembrar quais são as atribuições que o CCS deveria estar exercendo se o Congresso Nacional cumprisse a Constituição e a Lei. O artigo 2º da Lei 8.389/91 reza:

O Conselho de Comunicação Social terá como atribuição a realização de estudos, pareceres, recomendações e outras solicitações que lhe forem encaminhadas pelo Congresso Nacional a respeito do Título VIII, Capítulo V, da Constituição Federal, em especial sobre:

a) liberdade de manifestação do pensamento, da criação, da expressão e da informação;

b) propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias nos meios de comunicação social;

c) diversões e espetáculos públicos;

d) produção e programação das emissoras de rádio e televisão;

e) monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação social;

f) finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas da programação das emissoras de rádio e televisão;

g) promoção da cultura nacional e regional, e estímulo à produção independente e à regionalização da produção cultural, artística e jornalística;

h) complementaridade dos sistemas privado, público e estatal de radiodifusão;

i) defesa da pessoa e da família de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto na Constituição Federal;

j) propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens;

l) outorga e renovação de concessão, permissão e autorização de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens;

m) legislação complementar quanto aos dispositivos constitucionais que se referem à comunicação social.

Além disso, dois outros diplomas legais atribuem competências específicas ao CCS:

1. A Lei 8.977 de 6 de janeiro de 1995 (Lei do Cabo) diz em seu artigo 44 que ele deve ser ouvido em relação a todos os atos, regulamentos e normas necessários à sua implementação; e

2. A Lei 11.652 de 7 de abril de 2008 (Lei da EBC) diz em seu artigo 17 que o Conselho Curador da empresa de radiodifusão pública deve encaminhar a ele as deliberações tomadas em cada reunião.

Por que o CCS não funciona?

O Congresso Nacional e, sobretudo, o Senado Federal, abriga um grande número de parlamentares com vínculos diretos com as concessões de rádio e televisão. O CCS é um órgão que – insisto, mesmo sendo apenas auxiliar – discute questões que ameaçam os interesses particulares desses parlamentares e dos empresários de comunicação, seus aliados. Essa é a razão – de fato – pela qual o Congresso Nacional descumpre a Constituição e a lei.

Indefensável é a cumplicidade gritantemente silenciosa da grande mídia e daqueles que nos lembram quase diariamente dos supostos riscos e ameaças que a liberdade de expressão enfrenta no Brasil e em países vizinhos da América Latina.

O funcionamento regular de um órgão auxiliar do Congresso Nacional, composto por representantes dos empresários, de categorias profissionais de comunicação e da sociedade civil, com a atribuição de debater normas constitucionais e questões centrais do setor, não interessaria à democracia?

Por que, afinal, o Conselho de Comunicação Social não funciona?

Fonte: Observatório da Imprensa

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Redes sociais são trampolins ou buracos sem fundo?

Por Thaís Naldoni

As redes sociais são partes fundamentais do trabalho de um profissional de comunicação. Twitter, Facebook, Orkut... quem ainda não aderiu a, pelo menos, uma dessas redes, logo mais vai aderir. Não há nada pior para um jornalista do que se sentir desatualizado.

No entanto, o bacana das redes é que elas reúnem pessoas com mais os diversos interesses e pelos mais diversos motivos. Seja uma família espalhada no mundo que criou uma comunidade no Orkut para juntar o pessoal e manter contato; seja os jornalistas que falam sobre tudo o tempo todo no Twitter ou Facebook; atores, arquitetos, engenheiros, cantores, músicos, professores, estudantes. Todos são bem-vindos às redes e todos encontram seu espaço.

Esse lugar tão democrático, porém, tem suas armadilhas. E por mais que o princípio do "seja você mesmo" seja o "mote" das redes, já vi gente que se deu bem e gente que se deu mal, pela forma com que se expõe. Explico: se em todos os seus posts do Twitter a vida está um saco, você está com dor de cabeça, o trabalho é enfadonho, eu vou pensar vinte vezes quando considerar você para prestar algum serviço em sua área de atuação, seja ela qual for.

Ao mesmo tempo em que você pode se tornar interessante para alguém que nem o achava tanto assim, se você se mostra diferente do que o seu interlocutor imaginava. É a mágica da internet, que se coloca contra ou a favor de quem a usa.

Quanto aos veículos de comunicação, o uso das redes ainda é um mistério, desvendado dia após dia. Existem algumas regras, existem demissões por opiniões colocadas. É muito difícil, certamente, supor a força e a velocidade com que um simples "detestei a matéria tal" circula pela rede e vira, de repente, um "trending topic".

A grande pergunta é: quem faz o uso da rede? No meu caso, é a Thaís, pessoa física, filha do João Carlos e da Cida Naldoni, ou é a Thaís Naldoni, jornalista, editora-executiva do Portal IMPRENSA? Existe diferença nesse uso?

Quero muito saber sua opinião. Na próxima coluna, escrevo relatando as impressões de vocês.

Fonte: Portal IMPRENSA

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Começa a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação

Por Lia Segre

O dia 17 de outubro é conhecido pelo dia que, em 1978, revogou a Emenda Constitucional nº 11 (AI-5), o dia que Madre Teresa foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 79, e o dia que os restos de Che Guevara foram enterrados em Cuba, no ano de 1997. No Brasil, desde 2003, apesar de não estar escrito nas agendas, é o dia de luta pela democratização da comunicação. E como vem acontecendo desde então será marcado por eventos organizados pelos movimentos sociais de comunicação por todo o país.

“Nos anos 90 a gente realizava estes eventos pela democratização da comunicação em setembro, por terem diversos dias que fazem referência ao campo da comunicação. Depois de determinado momento, quando teve um vácuo de alguns anos nas mobilizações, elas começaram a ser feitas em outubro”, conta Cláudia de Abreu, do grupo ComunicAtivistas do Rio de Janeiro.

A mobilização em outubro começou em uma articulação da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos), o Centro de Mídia Independente e o Intervozes. Segundo Ana Straube, à época militante da Enecos, que ajudou na organização da primeira semana em 2003, em São Paulo exibiu o filme muito além do Cidadão Kane na Avenida Paulista. Em 2004 montaram uma feira no Parque do Ibirapuera com várias entidades e uma semana de debates na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Rogério Tomaz Jr. foi da coordenação da Enecos de 2001 a 2003, ajuda a recuperar a história. As pautas relacionadas à democratização da comunicação ficaram paradas por cerca de três anos, devido a derrotas expressivas do setor, como a privatização das teles e a lei do cabo. O próprio Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação ficou alguns anos sem fazer plenária anual, só retomando em novembro de 2001, pois nesse momento houve debate na Câmara sobre comunicação.

Em julho de 2002, a Enecos fez seminário em Belém, e lá surgiu a idéia de se trabalhar novamente com o tema da democratização em nível nacional, depois de anos de predominância de pautas relacionadas a currículos e Provão dentro da executiva de estudantes. “O seminário de julho foi a semente”, conta Rogério.

Os últimos detalhes foram acertados no Congresso anual da Enecos, no fim de janeiro de 2003. A abordagem foi denunciar a renovação automática das concessões de rádio e TV.

Quanto à escolha do dia 17, é relacionado ao Media Democracy Day, dia mundial pela democratização da mídia. Esse dia existe desde 2001, e tem a ver com o lançamento da BBC, que era vista como modelo de emissora pública plural. Apesar de o dia mundial ser dia 18, por uma desatenção, no Brasil adotou-se 17.

Em muitos estados já estão ocorrendo discussões sobre a democratização, e o calendário pode ser conferido na Agenda dp Observatório.

Apesar da semana ter aparentemente perdido força desde os primórdios, a discussão sobre os temas relacionados aumentou muito, acredita Rogério. “Surgiram muitos temas desde 2003: TV digital, PL 29, comunicação pública com criação da EBC, a Conferência, que é luta que travamos a fórceps”. A razão da semana de aglutinar os temas deixou de ser necessária por que militantes e pesquisadores passam o resto do ano discutindo essa questão.

Fonte: FNDC

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A democratização da comunicação no Brasil

Por Taís Ferreira

A 1ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE COMUNICAÇÃO evidenciou a necessidade de democratização da comunicação no Brasil e aprovou mais de 600 propostas que tratam da produção de conteúdo, meios de distribuição e direitos e deveres para o setor das comunicações no Brasil. A sugestão é que todas as entidades, ongs, sindicatos, universidades conheçam estas propostas e entrem na luta pela democratização da comunicação no Brasil. Além disso, é necessário que se conheçam os compromissos dos nossos representantes com relação à comunicação que queremos para o Brasil e que foi demonstrada na CONFECOM – existem alternativas para a efetiva democratização da comunicação no Brasil – tarefa histórica e inadiável.

Para o Brasil avançar na democratização da comunicação – de modo que, respeitando o direito de propriedade, sejamos também capazes de preservar a democracia e uma esfera pública e plural em conteúdo e representatividade -, as resoluções da 1ª Conferência Nacional de Comunicação precisam ser encaminhadas pelos nossos representantes no Congresso e nos poderes executivos estaduais e federal.

É o momento de iniciar uma interlocução com os candidatos para essas eleições que estão aí. E pressionar os poderes Executivos, no âmbito federal, estadual e municipal. Afinal, quem é que está compromissado com a comunicação?

Há 21 anos o país vem insistindo na regulamentação, mas os detentores do serviço nunca comparecem e nem favorecem a regulamentação. Prova disso é a retirada da Abert - Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, da 1ª Conferência Nacional de Comunicação. A Abert, se recusou a participar da Conferência por considerar censura as propostas de estabelecer um controle social da mídia.

A Constituição define a comunicação como algo de interesse público. No entanto, a mídia não quer discutir mídia, e os empresários – sobretudo detentores de concessões, principalmente de canais de TV aberta – estão sempre contrários a discutir comunicação no Brasil.

O Congresso Nacional deve trabalhar para que o Brasil tenha o setor regulamentado, condizente com as necessidades da evolução das telecomunicações no Brasil e no mundo, e com as necessidades de democratizar, cada vez mais, os meios de comunicação no Brasil. A comunicação social precisa ser regida pelo interesse nacional e pelo interesse público. Os princípios já estão estabelecidos no Art. 221 da Constituição Federal.

A idéia é uma sociedade e um Estado que compartilhem responsabilidades no exercício da regulamentação e qualificação das funções sociais, dizia o saudoso jornalista e militante pela democratização da comunicação Daniel Hertz. Para ele, a necessidade de uma revisão completa da organização do rádio e da televisão no Brasil, é condição essencial para a democratização da comunicação.

A Constituição Federal proíbe (artigo 54) os deputados e senadores de participar de organização definida como “pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público”. Essa determinação constitucional aplica-se, por extensão, aos deputados estaduais e prefeitos. Entretanto, o site Donos da Mídia identificou 20 senadores, 48 deputados federais, 55 deputados estaduais e 147 prefeitos como sócios ou diretores de empresas de radiodifusão.

A ilegalidade de grupos e políticos
Além da participação direta de políticos no controle de emissoras de rádio e TV - ilegalidade flagrada pelo cruzamento de dados proporcionado pelo site. Navegando em Donos da Mídia é possível saber quantos veículos há em cada município, quais os grupos de mídia atuantes nas várias regiões, bem como dimensionar a cobertura das redes. Os dados sobre as empresas incluem desde os seus endereços até seus concessionários, permissionários ou proprietários.

A localização dos veículos e a identificação de seus concessionários (e seus sócios) permite, por exemplo, constatar a situação ilegal da maioria dos grupos de mídia. Quase todos controlam um número de concessões superior ao permitido por lei.

Quanto às suas origens partidárias, predominam os políticos filiados ao DEM (58, ou 21,4%), ao PMDB (48, ou 17,71%) e ao PSDB (43, ou 15,87%. Esses dados podem ser pesquisados em Donos da Mídia, - Projeto que reúne dados públicos e informações fornecidas pelos grupos de mídia para montar um panorama completo da mídia no Brasil.

Fonte: FNDC

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Vírus, vermes e comunicação

Por Muniz Sodré

Em sua coluna semanal (O Globo, 22/9), o poeta e ensaísta Francisco Bosco vale-se da hipótese da "compulsão à emissão", formulada pelo crítico alemão Christoph Türcke, para falar do horror ao vazio que assaltaria a sociedade contemporânea, levando-a a manter-se ocupada o tempo todo em torno de e-mails, Facebook, Orkut, Twitter etc. Aliás, daí surge aos poucos uma curiosa linguagem: o verbo "tuitar", por exemplo. Até mesmo Barack Obama, dizem, tuíta.

O comentário da coluna coincidiu com a notícia, no mesmo dia, do ataque de hackers ao Twitter. Segundo a imprensa, durante horas uma enxurrada de mensagens se espalhou pelo Twitter com piadas, pornografia e vermes. Até então se falava de vírus, mas estes, ao que consta, são programas com um número adequado de instruções transgressivas. O verme é uma inovação em matéria de software transgressor, uma vez que realiza com poucos signos a sua tarefa de violação do campo comunicativo alheio. E mais: o verme desencadearia por "conta própria" efeitos suplementares, atinentes à lógica interna da máquina e de sua linguagem.

Estes dois tópicos, se bem examinados, podem lançar alguma luz sobre as relações entre a atualidade política e o espaço público brasileiro, no quadro das discussões sobre mídia e opinião pública. A primeira coisa a se sublinhar é que o desenvolvimento das democráticas ferramentas de comunicação – dentro da dinâmica de convergência entre as telecomunicações, a informática e o audiovisual – em nada democratizou a natureza oligopolística do império transnacional das tecnologias de informação e comunicação. Cerca de uma dezena de gigantes da multimídia controlam em torno de 90% dos mercados midiáticos mundiais, em termos de equipamentos, redes e conteúdos.

A hipótese de mediações culturais

Isso não é nenhuma novidade. Em torno dessa realidade oligopolística, giraram ao longo do último terço do século passado as críticas dirigidas pelos "pós-modernistas" à mídia ou ao que se vem chamando de "sociedade do espetáculo". Este prisma analítico, popularizado no meio acadêmico pelo teórico francês Guy Debord, é matéria corrente em teses, conferências e livros.

Movido pelas concepções frankfurtianas no sentido de uma sociedade regida pela "administração total", Debord fez do espetáculo o conceito unificador de uma enorme variedade de fenômenos, sob a égide do turbo-capitalismo ou da sociedade de mercado global. De um lado, havia o momento histórico em que o consumo parecia atingir a ocupação total da vida social; de outro, a evidência da exploração psíquica do indivíduo pelo capital. O espetáculo impunha-se, assim como uma verdadeira relação social, em meio à qual emergia a imagem como uma espécie de forma final da mercadoria, reorientando as percepções e as sensações.

Entretanto, com o desenvolvimento da comunicação eletrônica e o advento das chamadas "redes sociais" na internet, torna-se necessário revisar alguns aspectos dessa teoria do espetáculo porque esta supõe um espaço público unificado e "culturalizado" pela mídia. Não que tenha desaparecido o fascínio do espetáculo, que deu lugar, num determinado instante, a uma hierarquia classificatória da cultura (elitista, intermediária, popular) e à hipótese de mediações culturais.

Resultado das eleições

Mas o que agora ocupa o primeiro plano do fascínio é propriamente a "distração" ou o "divertimento" comunicativo, que consiste em inserir-se numa espécie de realidade integral da comunicação por meio de uma escrita e uma leitura ("lecto-escritura", talvez) fragmentárias, mas intermináveis, através dessas novíssimas "ferramentas" (twitter etc.) na rede eletrônica. Como numa adicção qualquer, o gozo está em manter-se "ligado", tecnicamente vinculado a um outro, que não é verdadeiramente uma alteridade, e sim, uma inscrição digital no espaço virtual. O divertimento é literalmente "celular".

Questões emergentes: pode-se falar de espaço público nessa realidade feita de digitalismo e espectro de frequências de telecomunicações? Ou então, existe mesmo opinião pública nesse espaço virtual em que a informação política e o interesse pela atualidade foram substituídos pelos tweets da banalidade? A informação e a comunicação não estariam dando lugar ao puro e simples preenchimento do vazio existencial pelo frenesi da presença de cada um na rede?

Não são indagações meramente acadêmicas. Se de fato a realidade da informação e da comunicação desceu de seu patamar público para essa esfera privada onde o grande acontecimento é a proliferação de "vírus" e "vermes", é possível que o discurso da mídia tradicional (jornais, TVs, rádios, revistas etc.), um discurso ainda tecnicamente público, deslize apenas sobre si mesmo, sem incidência forte sobre a vida comum.

Uma consequência prática disso tudo seria a inutilidade das ofensivas políticas por parte da mídia num período eleitoral como o de agora. Num vazio de cidadania política, não há de fato opinião pública, porque o "som" (do discurso, da fala) não se reproduz no vácuo. O resultado das urnas vindouras periga ser muito educativo para o jornalismo em voga.


Fonte: Observatório de Imprensa

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mídia mais distante do cidadão

Por Narinilda Carvalho

Jornalismo em tempo real O fetiche da velocidade, de Sylvia Moretzsohn, Editora Revan, 182pp., Rio de Janeiro, 2002

A universidade muito colabora na reflexão sobre os rumos do jornalismo que praticamos, infelizmente na mesma medida em que é ignorada pelas empresas de comunicação – e pelos próprios jornalistas. No mês passado, ignorando embaraços, a professora Sylvia Moretzsohn, da Universidade Federal Fluminense, deu nova e relevante contribuição a esse debate, ao lançar em livro sua dissertação de mestrado, Jornalismo em tempo real – O fetiche da velocidade, que analisa mistificações e contradições inerentes ao grande postulado da imprensa, "a verdade em primeira mão". Postulado que se desdobra em outras mistificações e contradições, como a assunção da imprensa a um "quarto poder", acima de interesses, imparcial e objetiva, ou seu compromisso automático com a "responsabilidade social", daí a popular imagem de "cão de guarda" e "representante do povo", defendendo-o em seu "direito de saber" – não importa o quê.

Hoje premida pelo "tempo real", a mídia fetichiza a velocidade – no tradicional sentido marxista, como oportunamente recupera Sylvia: tão logo o produto do trabalho assume a forma de mercadoria passa a valer por si mesmo, escondendo a relação social que lhe deu origem. "No jornalismo, passa a ser o principal ‘valor notícia’: antes de tudo importa chegar na frente do concorrente, e alimentar o sistema com dados novos, num continuum vertiginoso a pautar o trabalho nas grandes redações."

Como informar com rapidez não pode ser o mesmo que desinformar, parece lógico à autora que também os meios sujeitos ao "imediatismo" estejam subordinados ao compromisso com a precisão. Haverá mercado para um jornalismo "que não exclua a perspectiva dialética de interação – e transformação – e sirva àquilo a que se propõe, ou seja, fornecer as informações indispensáveis à formação do cidadão"?

Sylvia tenta não ser pessimista: entre as saídas possíveis ela vê a mobilização dos jornalistas "em nome de uma causa social, a qualidade da informação que o público consome todos os dias". E uma "intensa pesquisa no campo do discurso na relação com o senso comum – algo passível de ser levado a efeito em projetos laboratoriais no âmbito da universidade". O difícil é imaginar, dadas as circunstâncias críticas que atravessa a nossa sociedade, uma categoria profissional mobilizada pela qualidade da notícia e a indústria da comunicação atenta à produção do campus. Que as dificuldades não desestimulem tentativas.

A presença de numerosas citações, como obriga a metodologia do estudo acadêmico, não subtrai a agilidade e a leveza do texto do livro: antes de se dedicar à universidade Sylvia trabalhou muitos anos em redações cariocas, como repórter e editora, e preservou a intimidade com a linguagem jornalística. Vivência que talvez explique também a inédita velocidade com que respondeu, por e-mail, às perguntas desta entrevista: andamento prestíssimo, quase "tempo real".

Você analisa com muita clareza a teoria da responsabilidade social, que subentende a idéia do "direito de saber" do público. Agora mesmo os americanos foram à Justiça pelo direito de transmitir execuções de condenados. Onde termina o direito de saber do leitor/telespectador? Como julgar esse limite?

Sylvia Moretzsohn – Eu poderia argumentar com um dos exemplos que estão reproduzidos no livro, um editorial de capa do Globo da véspera do debate entre Lula e Collor em 89: o título era exatamente "o direito de saber". E o que foi que o público conseguiu "saber" depois daquela famosa edição do Jornal Nacional? Mas talvez o melhor exemplo sejam as câmeras ocultas, que estão aí supostamente para tudo devassar, em nome desse ideal de transparência que se ergue hoje como supremo valor ético.

Então sabemos do escândalo da feira das drogas (como se já não soubéssemos), mas quando saberemos do que ocorre nas reuniões da Fiesp ou da Rede Globo? Argumento assim exatamente porque a falácia do "direito de saber" não comporta exemplos: da forma como é defendido, esse direito é que é uma falácia. Porque essa defesa exclui a empresa jornalística como parte desse processo e, portanto, oculta o trabalho de produção de sentido que o jornalismo, como qualquer discurso, inevitavelmente realiza.

Enquanto não se enfrentar essa questão, este e outros postulados continuarão a ser objeto de uma discussão interminável e inócua. Por isso defendo um jornalismo que não mascare o lugar da fala, que se assuma como atividade política. E isso nada tem a ver com deturpação dos fatos, ou com manipulação (no mau sentido que se costuma dar a esse termo). Pelo contrário, tem a ver com a possibilidade de esclarecimento do público, algo que não se dá apenas na transmissão de informações (no atendimento a esse suposto "direito de saber"), mas que exige colocar a imprensa como parte da produção dessa informação.

No item "A fabricação das notícias", você fala dos pseudo-eventos – e nossa mídia é que parece especialista nisso. Como você procederia se fosse editora de jornal? Ignoraria esses factóides? Daria nota na Primeira explicando?

S.M. – Bem, depende de que jornal. Se estamos falando da chamada grande imprensa, não creio ser possível responder à pergunta, porque jamais seria editora, ou não teria escrito o que escrevi (e que não peço que esqueçam, muito ao contrário...). Fui repórter, tive matérias engavetadas desde os tempos de estagiária, num breve período trabalhei no caderno de Turismo do JB, e mesmo ali consegui ser censurada, veja você! Conto isso pros meus alunos pra mostrar que nada é inocente. Pseudo-eventos, ou factóides, só existem porque fazem parte da lógica de trabalho da grande imprensa. Garantem polêmicas em geral vazias mas sempre espetaculares.

Romper com essa lógica é propor uma espécie de jornalismo à contra-corrente, que, para estar no mercado, não poderia ignorar os factóides, mas teria que dizer que eles são o que são. E não numa nota explicativa de capa, mas na própria matéria. Seria uma forma de esclarecer o público da tentativa de manipulação operada pelas fontes. Claro que isso não resolve, porque se divulgamos o factóide podemos estar, de alguma forma, fazendo o jogo da fonte, mas se o divulgamos de forma crítica podemos colaborar para um comportamento crítico por parte do público.

Se estamos fetichizando a máquina e portanto informando menos, como equilibrar? Como considerar um profissional que tem horror à máquina?

S.M. – Não creio que tenha dito isso, falei em fetichização da velocidade. No sentido marxista de fetichismo da mercadoria, e isso me parece correto porque o capitalismo transforma tudo em mercadoria, inclusive o tempo, que "é" dinheiro. Então, disse que, a título de estarmos consumindo informação (e, portanto, "esclarecimento"), estamos de fato consumindo velocidade, que é o grande fetiche da vida pós-moderna. Isso tem a ver com o processo global de produção de informações, desde aquilo que Ramonet chamou de "ditadura do ao vivo" promovida pelo noticiário televisivo via satélite nos anos 80, e que se radicaliza agora com a internet e seu "tempo real".

Acho a observação do Ramonet muito acurada, essa idéia de que não podemos analisar o trabalho da imprensa fora da lógica do "tempo real", que submete todas as formas de fazer jornalismo nas grandes empresas, que hoje são grandes corporações de mídia, e seu negócio não é apenas jornalismo, mas também a indústria do entretenimento e as telecomunicações.

De fato, inferi algo que você não disse, desculpe. Li o trecho "o que nos fascina mais? O tempo que se ganha com as novas técnicas da comunicação. Mas, para fazer o quê?" (pág. 177), e a citação seguinte, "(...) é mais fácil equipar maciçamente as escolas com computadores e conectá-los à rede do que pensar uma filosofia global de educação (...)", e transportei para as redações. Então, não há mal na febre da tecnologia, o erro é usá-la para fetichizar a velocidade? É que pensei na também velocíssima "tecnologização" das redações, que as empresas, de um lado, usaram para muitos fins não-jornalísticos (redução de custos, principalmente) e os jornalistas, de outro, aproveitaram para introduzir o Ctrl+C e Ctrl+V, a cópia pura e simples. Você quer comentar um pouco isso?

S.M. – Em primeiro lugar, não é que não haja mal algum na "febre" de tecnologia; a "febre", pelo próprio nome, constitui um problema, porque indica que a tecnologia vale por si (à maneira do fetiche: ganha vida própria). Mas em momento algum estou dizendo, e hoje acho que ninguém seriamente diria isso, que o problema é a introdução da tecnologia, mas o uso que se faz dela. Se bem que, insisto, a questão não é tão simples, porque evidentemente a tecnologia não é autônoma, não surge do nada, é desenvolvida para um fim determinado. Só que, uma vez posta em prática, acaba interagindo nas relações sociais e pode servir para outros fins, às vezes em sentido oposto ao do sistema que a criou.

É o caso da internet: é claro que, especialmente no início, houve uma enorme celebração desse meio como a "nova utopia tecnológica", como se de repente o mundo todo tivesse acesso simultâneo a todo tipo de informação. Ora, além de esconder uma série de questões importantes (por exemplo, o nível de instrução de cada um a influir decisivamente no uso que se fará dessas informações), essa idéia é simplesmente falsa. Basta ver quanto tempo demoramos pra conseguir conexão aqui, em comparação, por exemplo, a Nova Iorque. Agora, a agilidade propiciada pela internet é fundamental para articulações de movimentos sociais contestadores à globalização neoliberal. Os Fóruns de Porto Alegre não teriam ocorrido do jeito que ocorreram sem a internet.

Em segundo lugar, o trecho citado, do Wolton, tem a ver com o sentido crítico que ele adota em relação ao uso da tecnologia. Quando ele diz que é mais fácil equipar escolas com computadores do que pensar uma filosofia de comunicação está criticando o uso "em si" do argumento da tecnologia: basta ter computador, o resto não se discute. E é justamente esse "resto" que cabe discutir, ou melhor, que deveria orientar a discussão. Acho que o que ele diz pode se aplicar perfeitamente a certas ações do atual governo no campo da educação (o alarde em torno da destinação de computadores e vídeos a escolas públicas, paralelamente ao silêncio relativo à capacitação do pessoal docente e ao projeto pedagógico dessas escolas) e mesmo à propaganda intensiva sobre o combate à "exclusão digital", como se a existência do computador conectado à internet fosse dotada de poderes mágicos de transformação.

Sobre a introdução dessa tecnologia nas redações: claro que as empresas utilizaram esses equipamentos com o fim de cortar custos, e isso se refletiu diretamente na qualidade do produto final (qualidade no sentido estrito de correção gramatical, mesmo), até porque os primeiros cortes, ainda nos anos 80, foram no setor de revisão. Ler jornal hoje é uma dureza, você há de convir. Sem contar aquele comentário do Sérgio Augusto sobre as então recentes aquisições da Folha, que garantiriam maior velocidade na impressão do jornal, mas não representaram dilatação no horário do fechamento (ao contrário, os jornais fecham cada vez mais cedo); então, diz ele, "um jornal é cada vez mais um produto que, antes de ser bom, precisa ser rápido para chegar mais cedo que os concorrentes às mãos do leitor". Donde, é óbvio, a tecnologia não está sendo usada no sentido de um maior apuro e aprofundamento da informação.

Sobre a prática do corta-e-cola (a tal "recortagem"), não é propriamente novidade - e não só nas redações, no meio acadêmico também... É claro que é algo condenável, mas acho um equívoco acusar o jornalista de comodista ou preguiçoso. É louvável que o profissional resista à lei do menor esforço, mas este será sempre uma exceção num contexto em que praticamente não se deixa outra saída. Para falar disso, seria preciso verificar como se dá o controle de produção nas redações.

Perdi a conta dos relatos que ouvi de estagiários e repórteres a respeito do estímulo a essa prática de cortar e colar, especialmente se trabalham nas versões online dos jornais. Porque o que importa é fechar, ou jogar o flash no ar. Mas, como disse, isso não é propriamente novidade, e por isso fiz questão de citar no livro aquela que me parece a mais perfeita definição (cínica) de jornalismo, que me foi dita cara a cara pelo então editor do jornal onde iniciei a carreira, em 82: "Jornalismo é pintar de preto papel branco."

A conclusão do seu livro não é nada otimista. É óbvio que jornais perdem leitores devido a esse jornalismo simplista. Há alguma chance de melhoria nesse contexto atual? Você consegue ver a categoria se mobilizando contra as novas exigências profissionais? Ou a academia influenciando positivamente o mercado?

S.M. – Bem, costuma-se dizer que o otimista é um desinformado, mas não creio que tenha sido pessimista na minha conclusão. Não trato apenas de jornais impressos no livro, procurei tratar do trabalho jornalístico de uma forma geral, analisando os fundamentos que podem explicar o que acontece hoje e propondo uma alternativa, do ponto de vista teórico- prático. Muito modestamente, aliás: aquele conceito de notícia como clinamen, que é enunciado brevemente na conclusão, e sobre o qual pretendo trabalhar de maneira detalhada em outras pesquisas.

Refiro-me à perda de leitores devido à superficialidade do jornalismo impresso apenas como exemplo: digo explicitamente que não devemos cair na armadilha (que já virou lugar-comum) de achar que cabe ao meio impresso (jornal ou revista) um aprofundamento do noticiário, porque isso significaria considerar que, no fundo, o único jornalismo digno desse nome seria o impresso, restando ao audiovisual a ligeireza do espetáculo. O que seria, também, uma forma de justificar a superficialidade dos telejornais... Não acho que seja assim: trata-se de meios distintos, de linguagens distintas, mas que devem se pautar pela tentativa sempre problemática de apreender sua matéria- prima (o fato, o "real") em sua complexidade. Por isso digo que um jornalismo assim deveria ser menos conclusivo, menos definitivo, aceitar a dúvida como parte do processo de elaboração da informação. Fazer e provocar perguntas, não obrigar-se necessariamente a dar respostas definitivas a cada edição.

De modo que não vejo alternativa no contexto atual, porque a grande imprensa funciona exatamente de acordo com essa lógica objeto da crítica. O que pode ocorrer é a velha luta interna nas redações, coisa que considero importante e que ainda era comum quando trabalhei em jornal, durante a década de 80, e que é cada vez mais rara agora, devido a mudanças no perfil profissional, que abordo brevemente no livro.

Mas digo que não sou pessimista porque aposto em alternativas, seja em iniciativas comunitárias, seja no âmbito da universidade, e creio que essas iniciativas, uma vez sedimentadas, podem interferir nos rumos da grande imprensa. Sei que em universidades públicas existem alguns projetos nesse sentido, mas não vejo mobilização na categoria profissional, talvez por aquela mudança de perfil, que atinge obviamente a representação sindical.

Você pode citar algum telejornal que fuja ao superficialismo, e que você tenha prazer em ver?

S.M. – Fiz a afirmação baseada principalmente nos estudos e entrevistas citados no livro (veja o discurso do Frias no Fórum Folha, é bem significativo desse privilegiamento ao meio impresso, é indiretamente uma desqualificação do meio audiovisual), e menos por uma observação exaustiva dos nossos telejornais. Por isso não daria exemplos. Mas acho significativo que mesmo os telejornais da Globo News se pautem por essa superficialidade: trata-se de uma TV paga, que atinge um público de maior poder aquisitivo e, supostamente, mais qualificado para a crítica. Mas mesmo as entrevistas com estudiosos do tema que esteja na ordem do dia são conduzidas, em geral, de acordo com uma espantosa simplificação.

Dou um exemplo: agora mesmo, no meio daquela balbúrdia que se instalou em Bangu 1, um dos convidados a um dos Em Cima da Hora foi o pesquisador Ignacio Cano, e, diante da falta de respostas conclusivas, a locutora lhe perguntou: "Mas então, professor, QUAL É A SOLUÇÃO?". Como se houvesse soluções simples... Este é o problema: a enorme simplificação do mundo, que o jornalismo (este jornalismo, faço questão de ressaltar) opera. Ora, se temos "tempo" para uma interrupção, de alguns minutos que seja, no fluxo "normal" do noticiário, por que insistir na tentativa de respostas "definitivas" que não existem? Por que não aproveitar para levantar algumas dúvidas, ou pelo menos para sugerir que as coisas não são tão simples quanto parecem?

Sei que existe muito despreparo dos jornalistas (e por isso insisto tanto na necessidade de um investimento na formação teórica), e isso não é gratuito (posso contar que entrevistei o então responsável pelo programa de trainee do Globo e lhe perguntei se os candidatos deveriam, por exemplo, ter algum conhecimento de antropologia ou criminologia para cobrir a área de cidade, com pautas recorrentes sobre violência e segurança pública, e ele respondeu rapidamente que não, não, bastavam "neurônios ativos, neurônios ativos!").

Sei de tudo isso, mas isso não explica tudo. Porque essa simplificação conduz ao círculo vicioso de reiteração do senso comum, que me parece um objetivo claro das empresas de comunicação. Basta ver o recurso sistemático à imagem da dona de casa prudente, ciosa de seu orçamento doméstico, que sabe ser impossível gastar mais do que se ganha, para a comparação tão automática quanto absurda com a situação econômica do país. Como se a dona de casa tivesse que sustentar uma burocracia, gerir serviços públicos, investir a fundo perdido... Pior ainda é no campo criminal, e esse exemplo da jovem locutora é eficaz: ela pergunta qual a solução, e a solução imediata só pode ser o aumento da repressão, leis mais duras, fim de "regalias" jurídicas. Ou seja, esclarecimento nenhum, problematização nenhuma, nem mesmo numa TV paga.

Você participou do debate no OI sobre formação teórica versus prática nas escolas de Jornalismo. E diz no livro que pelo menos no Brasil esse debate permanece. Mas a maioria das escolas solta jovens despreparados – na teoria e na prática. Como resolver esse impasse? A atração pelo conhecimento e pela leitura depende de cada aluno, vem do ambiente familiar? O que a escola real – como a nossa – pode fazer? Como você lida com isso em sala de aula?

S.M. – Bom, a escola real são na verdade pelo menos duas, e aí vou apelar para aquela distinção que o nosso amigo Faro apontou muito apropriadamente: de um lado os "barracões" públicos, de outro, os "shoppings centers". O que, também, não pode ser tomado de forma absoluta, porque entre as particulares existem exceções, especialmente no caso das confessionais, como a PUC. Mas, grosso modo, se temos "barracões" e "shoppings", temos obviamente a disparidade de recursos: a disparidade de condições infra-estruturais entre esses cursos é gritante. Mas é igualmente gritante a disparidade de projetos pedagógicos, e não por acaso as particulares falam em geral em "formar para o mercado", o que é uma bobagem, porque quem forma para o mercado é o mercado, e isso é evidente no caso das empresas jornalísticas, que há anos desenvolvem seus programas de estágio e trainee.

Mas não ignoro que os projetos pedagógicos de cursos públicos sejam influenciados por essa demanda, que freqüentemente parte dos próprios estudantes: "preparar-se para o mercado", num sentido acrítico em relação a esse mercado. De minha parte, procuro mostrar que o nosso trabalho é formar "para a sociedade", o que é radicalmente distinto, e que implica um esforço simultâneo de crítica ao que existe e de formulação de alternativas. Acho que, no nosso campo específico, o papel da universidade pública tem de ser o de apresentar-se como um espaço teórico-prático da luta pela democratização da comunicação, o que implica, entre outras coisas, a ênfase em projetos laboratoriais que envolvem uma densa pesquisa de linguagem, que incorpore e supere o que pôde ser acumulado em iniciativas passadas de comunicação popular, por exemplo.

Claro que isso é desproporcional aos recursos de que dispomos e também pode ser um projeto além das nossas possibilidades de formulação, mas é nisso que aposto e é nisso que venho investindo, muito precária e modestamente, no meu trabalho como professora.

Fonte: Observatório da Imprensa

Mineiros soterrados no Chile receberão media training para lidar com imprensa

Redação Portal IMPRENSA

Os 33 mineiros que estão soterrados em uma mina na cidade de Copiapó, Chile, desde agosto, receberão treinamento de mídia - media training - para concederem entrevistas a jornais e programas de rádio e televisão. O objetivo é fazer com que o grupo consiga lidar com a curiosidade da imprensa depois que forem resgatados.

Segundo informações das agências de notícias, os mineiros receberão o treinamento por meio de um circuito fechado de TV. O psicólogo Alberto Iturra, que supervisiona o bem-estar mental dos 33 chilenos, informou que o media training os ensinará a manter o equilíbrio durante uma entrevista, sobre como devem pedir ao entrevistador para repetir uma questão caso na a entendam, e sobre a melhor forma de se dizer que não gostariam de responder a uma determinada pergunta.

O grupo tem recebido comida, água e remédios por meio de três tubos de suprimentos. Além disso, os tubos mantém uma linha de comunicação com a superfície, onde alguns membros das famílias dos soterrados acampam.

Os trabalhos para resgatar os mineiros estão em estágio avançado, e conta com a supervisão de uma equipe especialistas da agência espacial dos EUA, a NASA, que enviou ao local um nutricionista, um engenheiro e um psicológo. A previsão é a de que as escavações da mina comecem em novembro.

Fonte: Portal IMPRENSA

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Justiça fixa prazo para apreciação de outorgas de rádios comunitárias

Redação Telesíntese

Decisão vale para os 152 pedidos de rádios do Piauí, que deverão ser apreciados em 120 dias. Os pedidos novos terão prazo de 180 dias.

O Ministério Público Federal no Piauí (MPF/PI) conseguiu na Justiça a fixação de prazo de 120 dias para a União apreciar os pedidos pendentes de autorização de funcionamento do serviço de radiodifusão comunitária formulados por entidades do estado. Em relação a novos pedidos, a União deverá obedecer ao prazo de 18 meses.

O descumprimento da sentença, segundo o juiz Nazareno César Moreira Reis, da 1ª Vara Federal do Piauí, implicará multa diária no valor de R$ 5 mil. Isso se dará sem prejuízo das sanções penais, civis, administrativas e por improbidade a que estarão sujeitos os agentes públicos locais, cujo termo se iniciará 120 dias após a publicação da sentença, datada de 31 de agosto de 2010. Em caso de aplicação de multa, os recursos arrecadados serão revertidos ao Fundo de Defesa Civil dos Direitos Difusos (FDD).

A Justiça acolheu os argumentos do MPF de que a União vinha prejudicando o exercício dos direitos à comunicação ao adiar injustificadamente a apreciação dos pedidos de outorga de radiodifusão comunitária, além do prazo razoável exigido pela Constituição Federal. Prova documental apresentada pelo MPF demonstrou para a Justiça que no estado do Piauí, em julho de 2007, havia 152 entidades que estavam na primeira etapa do procedimento previsto na legislação. Dessas, 34 permaneciam nessa fase desde 1998.

Fonte: Telesíntese

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

'Na América Latina, outra comunicação é possível'

Por Natalia Aruguete

Estudioso das transformações comunicacionais e culturais da era digital, Denis de Morais adverte que a tecnologia permite maior circulação de vozes, porém ao mesmo tempo reforça as desigualdades. Aqui ele analisa as mudanças em marcha na região, elogia o processo argentino e remarca o papel dos Estados (e suas dificuldades) na tarefa de limitar a concentração de meios e indústrias culturais.

Eis a entrevista.

De que modo impacta o avanço tecnológico nos setores comunicacional e cultural?
A mudança digital permitiu a confluência de todas as linguagens, usos e expressões, bem como a fusão de dados, sons e imagens numa linguagem digital única. Este impacto não cessa de manifestar-se em todas as áreas da sociedade e em todos os campos do conhecimento. Vivemos uma época em que a estética, a educação, o mercado e os campos científico, cultural, monetário e social estão sob uma influência completamente desproporcional das tecnologias. Os benefícios são, a meu juízo, indiscutíveis: permitem mais contato, mais intercâmbio, mais avanços científicos, mais expressões culturais e estéticas de uma forma sem precedentes. Porém, há ademais toda uma coleção de problemas.

Como? Quais?
Mantêm-se um abismo entre conectados e desconectados. A sociedade continua sendo extremamente desigual e injusta. As diferenças no usufruto tecnológico acentuam as diferenças entre as classes, os grupos, as comunidades. E isso tem a ver com a hegemonia.

Que fatores devem acompanhar a expansão da digitalização para reverter este cenário desigual, tendo em conta que a tecnologia não pode fazê-lo sozinha?
O capitalismo é uma fábrica de desigualdades, não promove uma distribuição de vantagens e benefícios de maneira igualitária. O próprio modo de produção é, por definição, um modo de diferenças, de desigualdades, de oportunidades totalmente apartadas da harmonia das classes, dos grupos, das pessoas. Sob a influência da ideologia do modo de produção capitalista é muito difícil que a tecnologia se encaminhe para uma conjuntura que facilite e estimule uma divisão mais igualitária dos benefícios e das possibilidades da tecnologia. Porém a expansão do consumo das tecnologias se faz sob o signo das desigualdades, porque, embora se esteja ampliando o mercado tecnológico comunicacional básico, o mesmo se dá de maneira estratificada.

Em que se manifesta concretamente essa distribuição injusta?

Muita gente está utilizando computadores: nas escolas primárias e secundárias, nas empresas, nas organizações não governamentais. Há uma expansão da base de consumo e das possibilidades de uso. Mas, esta expansão se desenrola de maneira desigual, porque há um tipo de tecnologia para os pobres e um tipo de tecnologia para os ricos.

Num cenário de alta concentração econômica como o atual, qual deveria ser o papel do Estado e que tipo de valoração se deve fazer da política para que a expansão tecnológica não contribua a uma apropriação desigual?
O papel do Estado é fundamental, não o digo somente como constatação teórica. Tenho viajado com freqüência pela América Latina, e publiquei inclusive no Brasil um livro intitulado A batalha da mídia, um trabalho de investigação sobre as novas políticas de comunicação dos governos progressistas latino-americanos. Inclui o governo de Chávez na Venezuela, de Evo Morales na Bolívia, de Nestor e Cristina Kirchner na Argentina, Tabaré Vázquez e Pepe Mujica no Uruguai, Michele Bachelet no Chile, Daniel Ortega na Nicarágua e – com algumas dúvidas – o presidente Lula no Brasil. Na maioria dos países, os governos estão conscientes da necessidade de desenvolver políticas eletrônicas de comunicação para valorizar o paradigma das redes. O Estado precisa fazer inversões – cada vez maiores, a meu juízo – no desenvolvimento da informação cidadã, a qual tenha como ponto de partida o fortalecimento das redes sem finalidades lucrativas. A maioria dos presidentes progressistas da América Latina tem consciência da necessidade urgente de inversões públicas em tecnologias direcionadas para o meio social, para fomentar as formas de comunicação e expressão cultural por fora da lógica hegemônica das indústrias culturais. Parece-me que o papel do Estado não deve anular a iniciativa privada. Não se trata de instituir ditaduras estatais que impeçam a existência de outras visões de mundo.

Por que faz esta declaração?
Quando defendemos o pluralismo, isso se refere a ambos os lados. O outro mundo e a outra comunicação que desejo viver inclui outros olhares sobre a vida social, cultural, econômica e política. O problema é que a dramática concentração dos meios de comunicação e das indústrias culturais constitui um obstáculo, uma barreira para a emergência de outras vozes na arena social.

Existe algum uso da tecnologia que não esteja subordinado à lógica mercantil por parte de atores não ligados ao mercado?
Este é um ponto que me mobiliza. Está se ampliando o uso alternativo e contra-hegemônico e, portanto, social, comunitário, cooperativo e colaborativo. Podemos observá-lo nas formas de apropriação das tecnologias digitais por fora da lógica comercial da mídia, das formas de controle ideológico e cultural das indústrias culturais. Claro que esta utilização não tem um caráter de massa, nem uma penetração harmônica e ampla em todas as classes, sociedades, países e povos. Mas isso não deve desviar-nos para uma forma de pensamento dogmático que deixe de reconhecer que há possibilidades imprevistas. Uma das consequências mais positivas e estimulantes deste processo de apropriação é que se incrementa a cooperação entre coletivos de periodistas, artistas plásticos, estudantes de diversos graus, grupos de trabalhadores ou desempregados, os quais utilizam, sobretudo, a Internet como centro gravitacional de suas manifestações e relações.

Neste cenário mercantil que você descreve, que capacidade de aproveitamento desta ferramenta tem os meios alternativos?
Está se construindo progressivamente um tipo de comunicação alternativa, mais aguerrida, combativa e estimulante do que a de décadas passadas. Os periódicos alternativos enfrentaram sempre uma dificuldade com os custos do papel, de impressão, de distribuição. Em troca, com as novas formas de comunicação eletrônica, sobretudo o ecossistema da Internet, não se depende mais disso. Com as novas formas de expressão, de comunicação, de interação e participação coletiva, se produziu uma espécie de quebra na relação com os usuários, com os consumidores, com os cidadãos. Essas novas formas estão em processo de formação, discussão e experimentação. É um processo que está ocorrendo fora do campo de visão de cada um de nós.

Em seu livro Mutações do visível você mencionava que é preciso “ganhar a batalha dos fluxos informativos”. Crê que essas possibilidades para a produção e circulação de conteúdos alternativos se vêem, a partir do discurso hegemônico, em termos de ameaça?
Não creio que a palavra correta seja ameaça, porém há uma preocupação crescente nos grandes meios comunicacionais. Não me parece que seja uma ameaça perigosa, no sentido de que possa acontecer algo que mude tudo, porque a lógica mercantil das indústrias culturais e comunicacionais por parte das grandes empresas não me parece que vá ser avassalada pela comunicação digital contra-hegemônica, alternativa, comunitária. No entanto, me parece que existe a possibilidade de um crescimento dessas novas formas de expressão, interação e intercâmbios que vão conviver com a hegemonia da mídia. Isso me parece uma grande novidade. Em décadas passadas, a comunicação alternativa – não digital senão impressa – era um tio de comunicação sedimentada, dirigida a militantes, a pessoas com maior consciência, a grupos organizados. Abrem-se hoje possibilidades para praticamente todos os setores da vida social, incluindo outras formas de organização, participação e construção.

Sem embargo, as indústrias culturais continuam fixando a agenda de temas, instalando as principais preocupações da sociedade.
Claro que continuam marcando, por isso não me parece que a palavra correta seja ameaça.

Sem embargo, você fala de convivência. Creio que tal convivência possa ter algum tipo de impacto na agenda política?
Creio que é uma expectativa perturbadora, porque, por um lado, há uma série de evidências de maior intercâmbio, maior contato, mais expressão e mais civilização. Porém, é cedo para avaliar se essas novas expressões vão canalizar-se em idéias e práticas mais ativas. Há uma diferença entre sociabilidade em rede e participação social e política em rede. Necessitamos ter uma percepção muito clara de que nem todas as expressões de sociabilidade em rede são manifestações ativas da cidadania. Há grupos políticos, sociais e comunitários muito organizados e mobilizados que utilizam as tecnologias digitais e, em especial, das redes com a finalidade de reivindicar a mudança social, a luta política aberta. Minha preocupação é se a sociabilidade em rede vai evolucionar para novas formas de consciência sobre o social, o político, o cultural, o comunitário.

A partir de que lhe surge essa preocupação?
Creio que a forma de organização da sociabilidade em rede se encaminha para uma direção mais relacionada com as questões existenciais ou espirituais, do que para o campo das expressões políticas e sociais mais organizadas e combativas. Parece-me muito interessante que se ampliem os canais de sociabilidade, de intercâmbio dos afetos, das manifestações espirituais e religiosas em rede. Porém, outra coisa é reconhecer a expressão dos afetos, das crenças religiosas e de aspirações existenciais como a única forma de usufruto das tecnologias.

Você mencionou o caso de ouros países da América Latina. Como vê o que está sucedendo na Argentina em relação com o setor comunicacional?
Creio que a nova Lei de Serviços Audiovisuais da Argentina deve ser um orgulho para todos os argentinos e para todos os latino-americanos. Esta legislação – conheço todas as que estão em vigência na América Latina – é a mais avançada do continente. Tem uma noção muito clara dos três setores que devem atuar no campo dos sistemas de comunicação: o campo público, o campo privado comercial e o campo social. Este equilíbrio entre os três setores é algo revolucionário, porque sempre os sistemas de comunicação – não só da Argentina, senão de todos os países latino-americanos – se caracterizaram por um desequilíbrio brutal que favoreceu historicamente o setor comercial da mídia. Temos, pois, um avanço com consequências de longo prazo.

De que modo impactará a nova legislação?
Será uma comunicação mais plural, mais complexa, mais participativa. Com a possibilidade de expressão de várias vozes ao mesmo tempo. Os diferentes setores sociais podem manifestar-se de maneira mito mais rica e estimulante e me parece que a interferência do poder estatal é fundamental para reequilibrar os marcos regulatórios dos meios de concessão pública. Veja, as licenças de rádio e televisão pertencem à sociedade, aos povos e não às empresas de comunicação que são concessionárias temporais. Os canais não pertencem ao Grupo Clarín, O Globo, El Mercúrio e demais grupos de comunicação latino-americanos, geralmente sob o controle de famílias que se reproduzem no comando da mídia, de geração em geração.

Um aspecto chave da lei que está em debate na Argentina é o não reconhecimento dos direitos adquiridos. Até que ponto deve avançar a regulação política num cenário como o argentino para obter uma real desconcentração do setor?
As pressões sobre a lei argentina de meios são similares às pressões que há na Venezuela, Bolívia e Equador. Em todas as partes, os grupos midiáticos estão desenvolvendo violentas campanhas contra as transformações, as mudanças nos marcos legais e nas leis, isto é, das normas que regulam a radiodifusão. As licenças de radio e televisão são “as jóias da coroa” dos grupos midiáticos. Então, essas campanhas tem como centro de sua argumentação o fato de que a liberdade de expressão está sendo agredida, violentada pelas novas regulamentações. É um argumento falso que oculta o que sempre tem sido ocultado pelos grupos da mídia. Os grupos da mídia latino-americana se consideram fora de qualquer tipo de controle, sobretudo do controle público democrático.

Por que crê que se instalou esse imaginário da liberdade de expressão na América Latina?
Ele tem a ver com a idéia mistificadora de que os meios representem a vontade geral e sejam, portanto, a esfera que tem condições de produzir uma espécie de síntese das aspirações sociais e coletivas. Então, se têm qualificação para ser a esfera de síntese do social, não há necessidade de nenhuma submissão a regulamentos, normas, leis. Porque são uma instância que tem relação direta com o povo, com os desejos das sociedades. Claro que tudo isso é uma estratégia argumentativa para ocultar as formas de domínio e hegemonia na formação das mentalidades e do imaginário social.

Que balanços faz do que se está produzindo na região em matéria de comunicação?
Creio que este processo de mudanças na comunicação latino-americana, sob a iniciativa oportuna dos governos, é um processo que põe a comunicação no centro do campo de batalhas pela hegemonia cultural e política. Neste campo de batalha os dois lados têm consciência de que não se podem deixar de lado as lutas pelo controle da opinião pública e do imaginário social. Este processo de ações em cadeia, que se estendem desde Caracas a Buenos Aires, é um processo articulado, muito bem pensado, muito competente do ponto de vista das articulações discursivas e que tem uma diferença crucial em relação com o campo do Estado e da sociedade civil.

Em que sentido se dá essa diferença?
Estes grupos detêm os canais de convencimento que são os diários, as rádios, as televisoras e os Estados não, com alguma exceção, como o caso da Venezuela que tem quatro redes estatais de televisão. Se os Estados e as organizações sociais não têm essa potência de persuasão, de conquista dos corações e da mente do público, temos um processo muito desequilibrado de formação de opinião pública – a meu juízo – sumamente perverso.

Por quê?
Porque o ideal que todos nós defendemos da liberdade de expressão deve ser o de uma liberdade generalizada e não pode concentrar-se em poucas mãos que definam o que é e o que não é liberdade de expressão. Se o governo do presidente Chávez contém erros, tem excessos, bem, vamos pressionar sobre as medidas do presidente Chávez, ele não é Deus. Porém, as mudanças profundas da comunicação venezuelana sob os dez anos do governo de Chávez são significativas.

Pode mencionar alguma dessas mudanças?

No canal educativo e cultural Vive TV, criado pelo presidente Chávez em 2003, todas as agendas informativas das programações culturais são definidas em assembléias de bairros pelo povo. Os executivos, os diretores, os periodistas, o grupo dirigente de Vive TV, vai aos bairros somente para coordenar, organizar as assembléias de bairro em que as comunidades indicam quais são os problemas, as ênfases informativas, que tipo de programação cultural as pessoas desejam. Na Argentina, outro motivo de orgulho para a sociedade latino-americana é o canal Encuentro [Encontro], uma experiência fabulosa de mudança das lógicas informativas, culturais e científicas. Com isso se modificou a concepção de um canal educativo, cultural e científico. Até o momento, só há algumas inserções da programação de Encuentro na televisão pública, no Canal 7, já que a maioria do público só acede a Encuentro nos pacotes de TV paga. Estou mencionando duas experiências de canais educativos, culturais e científicos, criados por governos progressistas, que mudaram a lógica perversa da mercantilização da informação e dos bens culturais.

Participa de algum projeto comunicacional, além de seu trabalho acadêmico na matéria?
Depois de viajar pela América Latina, estou hoje coordenando outro projeto latino-americano de comunicação contra-hegemônico e alternativo. Creio que a palavra esperança não é coisa inútil, é uma palavra de mobilização, de chamado, porque há coisas concretas que se estão construindo em distintos países da América Latina, em direções totalmente diferentes do cenário midiático e cultural que predomina. Em vários lugares da América Latina outra comunicação é possível. Esta é uma palavra de construção que não somente figure num papel, nas bandeiras políticas e retóricas, Vive TV ou Encuentro têm as tecnologias digitais como seus insumos, como recursos indispensáveis. É necessário um pensamento dialético entre os problemas, os bloqueios, as desigualdades e as injustiças de usos e acessos ao tecnológico. Ao mesmo tempo, há necessidade de uma avaliação muito sensível das possibilidades e apropriações, dos usos cidadãos e culturais, sem uma finalidade mercantil, como sucede hoje em nosso continente. Creio que a síntese dessa dialética é a palavra esperança.

Fonte: FNDC

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Passione! A indústria da telenovela no balizamento entre o merchandising social e o comercial



Por Jacqueline Lima Dourado*

As emissoras de televisão, enquanto indústrias culturais, desenvolvem processos estratégicos desenvolvidos que estão relacionados, muitas vezes, com temas ou questões que se reportam a situações enfrentadas por uma sociedade em diferentes domínios. Esses atuam desde a coletividade, no campo educacional, político, religioso, tecnológico e ambiental, como na esfera individual, em relação ao comportamento, práticas urbanas, solidariedade, usando para isso táticas de merchandising social, protagonismo social e marketing social.

A telenovela “das oito”, Passione (da Rede Globo, 21h:00min), retoma temas sociais, tais como dependência química, infidelidade, sexualidade, pedofilia, prostituição entre outros antes demarcados, somente, à esfera íntima. Com a mediação televisiva, migram para a esfera pública, proporcionando novas pautas e debates, além do agendamento de outras mídias.

Dessa vez, a Rede Globo afirma não fazer de forma mais explícita nenhum merchandising social. Contudo, retoma temas sociais que resgatam a prática especulativa do tema ao trazer o consumo e dependência de drogas ao enredo com alegorias bem peculiares, como a decadência física, desequilíbrio emocional, desagregação da família que servem de mote de discussão intra e extranovela. Traz ainda a esfera do debate temas motes como pedofilia, exploração e prostituição de menores. Essas abordagens não são colaterais ao enredo, mas a partir delas há um novo olhar sobre o tema da novela. Ressalte-se que os dois assuntos dominam noticiários e revistas no país.

Esses movimentos é o que chamamos de cidadania televisiva. Entendemos que, para adotar este conceito, é necessário concebê-lo como conjunto de temas voltados para os direitos sociais, educativos e morais presentes na programação. De alguma maneira, surge na grade, sob a forma de diferentes temas, problemáticas que, tradicionalmente, antes, não estavam inseridas. Começam a ganhar contornos próprios por meio de operações e estratégias peculiares, inerentes ao próprio regime e à discursividade da TV. Supomos que são escolhas deliberadas via agendas que a mídia faz para tratar simbolicamente, e, com sistematicidade, questões relativas a desafios enfrentados em dados momentos por determinada sociedade.

Ao observarmos o fenômeno por meio do eixo da Economia Política da Comunicação – EPC, avaliamos que, pela ordem capitalista contemporânea, tais injunções são absorvidas como alerta para a integração com outros agentes do capital, na tentativa de manter barreiras à expansão desmesurada de corporações comunicacionais. Qualquer que seja o país, a inserção da programação televisiva como elemento estratégico fortalece relações de poder, embora a função macro da comunicação midiática deva se restringir a acompanhar as mudanças sociais e não a produzi-las.

Também como elemento indissociável ao estudo está a ponderação acerca da postura do telespectador frente à programação da Rede Globo de Televisão. É preciso verificar se há espaço para a reflexividade ou se a grade somente fortalece eventuais mecanismos regulatórios, responsáveis por coletividades passivas e meramente consumidoras. Há indicativos de que esses mecanismos representam fonte de interferência na autonomia das pessoas e em sua capacidade de discernir sobre a participação em questões importantes à sua própria vida, tornando-as, cada vez mais, reféns dos ditames do modo de vida imposto pelas regras de convivência entre Estado, mercado e sociedade, a partir da lógica capitalista contemporânea.

Concomitantemente a esses mecanismos, observam-se ainda determinadas práticas de mercado com o fito do enfrentamento da multiplicidade de ofertas de produtos culturais à disposição do público tais como CDs com a trilha sonora da novela nacional e internacional entre outros subprodutos.

A fase da multiplicidade da oferta é perceptível desde o início da década de 1990, quando há mais opções para os telespectadores e crescente disputa por audiência. Porém, somente em 1995 se define essa fase da TV brasileira, a partir da obra de Valério Brittos, e é nesse panorama que se dá a reestruturação dos mercados televisivos contemporâneos, ávidos por alternativas para seu fortalecimento frente à concorrência.

Ocorre ainda a associação dos atores a práticas de merchandsing como Hospital São Luiz e o ator como personagem X, Houston Bike com os personagens Danilo e Sinval (Cauã Reymond e Kaiky Brito), e a C&A - rede de varejo de moda do Brasil com a personagem Melina (Mayana Moura).

“Cidadania, a gente vê por aqui!” - O que se observa na Rede Globo de Televisão é a autorreferência (a partir dos slogans adotados que surgem como palavras de ordem), como locus promotor de cidadania ao longo da programação. Mas não se pode esquecer é que, enquanto instituição privada, cujos interesses são, em sua essência, particulares, essa cidadania é tematizada na grade e imprime uma feição de prática capitalista, ou seja, emerge como configuração de administração do capital.
O capitalismo, como qualquer outro sistema, mesmo abarcando um rol de injustiças, às vezes, irreparável, não pode estar sujeito às críticas contínuas. Se assim for, inviabilizará qualquer tipo de adesão. Precisa oferecer, minimamente, vantagens que assegurem sua manutenção e, quiçá, sua melhoria.

* Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, professora do mestrado em Políticas Públicas e do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Piauí – UFPI, e líder do Grupo de Pesquisas COMUM/UFPI. Email: jacdourado@uol.com.br.

Fonte: Revista IHU Online Edição 342

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Prêmio MaxiMídia/RBS recebe incrições

Reconhecer e consagrar as melhores ideias e estratégias dos trabalhos de mídia em todo o País. Este é o objetivo do prêmio MaxiMídia/Grupo RBS. A 11° edição acontece no dia 6 de outubro, em almoço para convidados, no WTC Hotel Convention Center, em São Paulo. As inscrições podem ser feitas até o dia 15 de setembro, conforme regulamento no site do evento. Concorrem profissionais de planejamento e compra de mídia que atuam em agências, anunciantes e veículos de todo o Brasil.

A premiação abrange nove categorias: Televisão, Cinema, Revista, Jornal, Outdoor/Mídia Exterior ou Indoor, Rádio, Internet, Mídia Mix e Mídias Digitais.

Fonte: Coletiva.net

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Entrega de Prêmios Estudantis na solenidade de abertura

Ascom Intercom

A abertura oficial do Intercom 2010 acontece às 19 horas, no UCS Teatro, com o lançamento da enciclopédia Intercom de Comunicação, a apresentação do acordeonista Renato Borghetti e um tradicional filó de confraternização, com dança, música e gastronomia italianas. Durante a solenidade serão entregues os prêmios estudantis Vera Giangrande, Francisco Morel e Freitas Nobre.

O Prêmio Vera Giangrande é concedido a alunos de graduação e contempla três ganhadores por ano. Neste caso, são premiados trabalhos apresentados nas Divisões Temáticas (DTs) do Intercom Júnior, um dos eventos dos congressos da Intercom.

O troféu Freitas Nobre tem como foco pesquisas de estudantes de doutorado também apresentadas nas Divisões Temáticas dos Grupos de Pesquisa (GPs) formados durante os congressos nacionais. O prêmio Francisco Morel foi criado para prestigiar estudantes de mestrado, também defendidos nas DTs em congressos nacionais.


Finalistas Vera Giangrande (graduando)

O que você está fazendo? Um estudo da socialidade no twitter
Filipe Speck, Nani Rios – UFSC

Flash Mobs, Movimentos que transcendem o Ciberespaço: uma ferramenta alternativa de comunicação
Everton Bohn Kist – Unifra

Propaganda Política na Sociedade de Consumidores: o mercado eleitoral na disputa pela prefeitura de Juiz de Fora em 2008
Mário Braga Magalhães Hubner Vieira – UFJF


Finalistas Francisco Morel (mestrando)

A barreira Estético- Produtiva no Cinema Brasileiro
Bruno Bueno Pinto Leites – Unisinos

Telenovela e mediações culturais na conformação da identidade feminina
Lirian Sifuentes – UFSM

Por uma estética fotográfica do instante
Gabriela Pereira de Freitas – UnB


Finalistas Freitas Nobre (doutorando)

A programação do rádio brasileiro do campo público: um resgate da Segunda fase histórica dos anos 40 ao início dos anos 70
Valci Regina Mousquer Zuculoto – UFSC

Fanfics: A interação entre Leitura, Escrita e Tecnologias da Informação
Sérgio Luiz Alves da Rocha – UERJ

Fotografia e tempo: vertigem e parodoxo
Cláudia Gilmar Linhares Sanz – UFF

Fonte: Portal Intercom

Intercom realiza Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação

Por Rafael Cavalcanti, com assessoria de imprensa da UCS

Teve início ontem (02/09) a trigésima terceira edição do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, organizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) na Universidade de Caxias do Sul (UCS-RS). O encontro segue até o dia 6 de setembro na cidade da serra gaúcha. Cerca de quatro mil participantes, entre pesquisadores, professores, estudantes de graduação e de pós-graduação, profissionais e especialistas da área participarão do evento.

Nos cinco dias de congresso, haverá diversas atividades como oficinas, minicursos, fóruns, apresentações de grupos de pesquisa, distribuição de prêmios, lançamentos de livros e atividades culturais. Nesta quinta-feira, os participantes acompanharam o Colóquio Binacional Brasil-Estados Unidos, que reúne acadêmicos dos dois países para trica de conhecimento em estudos, assinatura de convênios e incentivo de pesquisas comparadas.

Paralelo à chegada do público, aconteceram também o Fórum de Economia Política das Tecnologias da Informação e da Comunicação (EPTIC), o Prêmio RP-Brasil (destinados aos profissionais e acadêmicos de Relações Públicas) e a abertura da exposição de charge “Comunicação e Tecnoligias com Humor”.

De acordo com a diretora do Centro de Ciências de Comunicação da UCS, Marliva Vanti, “o Congresso da Intercom é o maior encontro de estudantes, pesquisadores e professores da área em toda a América Latina. É a partir das discussões em eventos dessa categoria que constroem-se as linhas de pensamento para a comunicação no Brasil.”

Em virtude do primeiro dia se configurar como um pré-encontro, a maioria dos participantes deixou para se credenciar hoje, quando o Congresso abre oficialmente suas atividades.

Intercom

A Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – é uma associação científica, sem fins econômicos, destinada a congregar professores, pesquisadores e profissionais, bem como a prestar serviços para a comunidade. A entidade é constituída por mais de mil associados de todas as regiões do país ou residentes no exterior.

Fundada no dia 12 de dezembro de 1977, a Intercom trabalha o compartilhamento de pesquisas e informações da ciência da Comunicação Social de forma interdisciplinar. Além de encontros periódicos , a sociedade promove anualmente um Congresso Nacional entre acadêmicos da área. Em 2007, tornou-se a primeira associação relacionada aos estudos de comunicação a completar 30 anos de existência.

A Intercom ainda é responsável pelo lançamento de livros e revistas especializados em Comunicação, buscando sempre por parcerias com entidades de mesmo objetivo, institutos e órgãos de incentivo à pesquisa brasileiros e estrangeiros. Tal intercâmbio é um incentivo à formação científica, tecnológica, cultural e artística, além de uma forma de capacitar professores, estudantes e profissionais da Comunicação.

Fonte: Cepcom

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O celular como ferramenta: usos e perspectivas

Por Valério Cruz Brittos e Aléxon Gabriel João

Apesar do surgimento dos primeiros aparelhos de telefone, na segunda metade do século 19, terem causado enorme impacto econômico-comunicacional, uma transformação sem precedentes acontece agora, frente às múltiplas perspectivas abertas com a digitalização das telecomunicações. Nesse âmbito, o telefone celular – que desde os anos 80 do século 20, quando tem seu uso comercial desenvolvido, atravessa a sociedade progressivamente – torna-se um utensílio multimídia fundamental no arranjo urbano contemporâneo. O celular dissemina-se e seu uso passa a constituir parte indispensável do cotidiano de milhões de pessoas em todo o mundo.

As chamadas comunicações pessoais móveis estão revolucionando o serviço de telecomunicações e interferindo de forma direta na maneira como as pessoas se relacionam. Isto se concretiza a partir de duas características importantes desse modelo: a capacidade de mobilidade e a abrangência de linguagens, as quais propiciam que uma mensagem possa ser enviada rapidamente para um grupo de pessoas e estas possam redirecioná-la para outros coletivos, assim sucessivamente, gerando uma interminável rede de informações sem fio. É possível falar, sem nenhuma dúvida, em uma nova forma de comunicação a se instaurar com o celular, interferindo em estilos de vida.

Para a maior parte das pessoas, o celular tornou-se um aparelho comum, sendo impossível imaginar um mundo sem ele. Nesta direção, deve-se lembrar que a ideia inicial, que marcou os primeiros anos de sua existência, concebia o celular como um instrumento exclusivo para altos executivos e agentes governamentais. No entanto, ele só foi viável ante uma série de mudanças estruturais ocorridas nos últimos anos, consubstanciada essencialmente no desenvolvimento tecnológico, que contribuiu significativamente para o afloramento de um ambiente de convergência midiática, capaz de comportar e viabilizar conteúdos multimídia.

Agregação de outros recursos

O crescimento e o interesse pela telefonia e dados sem fio já ultrapassaram muitas mídias tradicionais. No Brasil, em maio de 2010 chegou-se a uma densidade de 95,26 aparelhos por 100 habitantes, num total de 183 milhões de celulares, conforme dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), detalhados na tabela 1. Isso só foi possível graças ao surgimento do conceito de comunicação celular como forma de solucionar os problemas de congestionamento de espectro e capacidade de armazenamento de usuários, na década de 70 do século 20, fenômeno que, por sua vez, deve ser dimensionado no interior do capitalismo, com seus entraves e demandas de expansão.

Nota: celulares ativos na operadora. Densidade calculada com a projeção de população do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o mês respectivo. TELECO. Estatísticas de celular no Brasil. Disponível em: http://www.teleco.com.br/ncel.asp. Acesso em: 20 jul. 2010.

Há muito tempo, o celular deixou de ser um aparelho unicamente para comunicação pessoal através da voz, hoje se navegando pela internet, através dos serviços GPRS e WAP, vendo-se e-mails a qualquer hora e em qualquer lugar, atualizando conhecimentos em áreas como notícias, entretenimento e aplicações financeiras, e utilizando-se jogos, por meio da linguagem Java. Ele está presente no cotidiano da maior parte das pessoas e o seu crescimento vem marcando os comportamentos sociais. Esse crescimento, somado à qualidade de serviços e às altas taxas de transmissão, tendencialmente tem levado à agregação de outros recursos, a exemplo de internet, televisão, videoconferência e aplicações interativas.

Ascensão do isolamento, do privatismo

Ao se considerar que o poder de transmitir informação é o que confere ao telefone sua especificidade como aparelho de comunicação, há de se pensar também que, quando ele se torna uma mídia de convergência, multiplicam-se as informações distribuídas. Dessa forma, o sujeito que utiliza o celular está diante de uma ferramenta de comunicação, entretenimento e produção de conteúdos, tornando-se, além de receptor, transmissor e fonte, uma vez que cada um que carregue o equipamento pode, a qualquer momento, gerar e disseminar informação, o que vem romper com o velho paradigma comunicacional. Nesse quadro, as tecnologias digitais e, especialmente, o celular, têm servido como motivador e potencializador de uma maior interferência do usuário no processo de comunicação.

As possibilidades de se conectar a qualquer hora e em qualquer lugar e a abrangência parecem ser os novos definidores de territórios sociais e modelos culturais, ao possibilitar que o usuário, através dos aparelhos celulares, possa se desprender das condições de tempo e espaço e estabelecer virtualmente uma comunicação que não mais se realiza somente através de interfaces de voz, mas também por meio de imagens, textos e sons de variados tipos.

Sujeitos online com um celular, postos em lugares diferentes e distantes, mas simultaneamente próximos, articulam-se e formam redes sociais, através da interação e da troca de mensagens. Tais conexões são capazes de suscitar simulações acolhedoras e de pertencimento, ao contrário do certo isolamento originado pela ausência de acesso a esses meios. Se a facilidade de acesso a dispositivos tecnológicos e comunicacionais faz emergir novos grupos sociais, engajados e consolidados, paradoxalmente tem-se a ascensão irrefutável do reino do isolamento, do privatismo e das pseudo-soluções de mercado para questões públicas. Identifica-se, portanto, uma agregação fugaz, de modo que, mesmo com tanta inovação e consumo, não se atingiu um novo patamar social, como mostram os crescentes índices de violência, dentre outros indicadores de deterioração sócio-econômico-cultural.


Fonte: Observatório da Imprensa