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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Carrossel de volta ao SBT

Por Bárbara Sacchitiello

Quem assistia TV no início da década de 90, seja criança ou adulto, certamente se lembra – ou no mínimo tem uma vaga ideia – da novela Carrossel. Trama da rede mexicana Televisa, a novela, direcionada ao público infantil, foi exibida pelo SBT pela primeira vez em 1991, ganhando uma legião de fãs e se tornando um marco na TV aberta nacional.

Agora, vinte anos depois de sua primeira exibição, os fãs da turminha da Escola Mundial e da professora Helena terão a chance de matar as saudades da novela. O SBT confirmou que, em setembro, iniciará as gravações da versão nacional de Carrossel, que será escrita por Íris Abravanel, com apoio do núcleo de dramaturgia da emissora.

Segundo a emissora, a novela irá conservar as características da trama original, mas será adaptada aos costumes e estilo brasileiros. Ainda não há uma previsão concreta para a estreia da novela e nem a decisão do horário em que a trama entrará no ar. De acordo com o SBT, não haverá nenhum problema de uso da marca Carrossel com a Record (uma vez que a Televisa é atual parceira da emissora concorrente), pois a rede de Silvio Santos é a detentora dos direitos da novela infantil.

Na última semana o SBT já deu início à seleção do elenco. A emissora já começou a receber crianças, com faixa etária entre sete e dez anos, para os testes. A emissora confirma que existe a possibilidade de a apresentadora mirim Maísa fazer parte do elenco, mas ainda não há um personagem definido para a garotinha.

Quando foi exibida pela primeira vez, Carrossel conseguiu incomodar a TV Globo, chegando, algumas vezes, a superar a audiência do Jornal Nacional - uma vez que entrava no ar sempre após as 20h. A trama mexicana chegou a ser reprisada três vezes pelo próprio SBT.

Fonte: Meio e Mensagem

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Moldando famílias, comportamentos e influência

Por Valério Cruz Brittos e Jonathan Reis

A televisão é um poderoso instrumento de comunicação. Diferente do ouvinte de rádio, que utiliza a imaginação para completar as lacunas da mensagem, o telespectador recebe as informações prontas, com imagens finalizadas e extremamente produzidas, sem a necessidade de imaginar rostos e cenários, o que, se implica em perda de espaço para a criatividade, também significa obras mais completas, algo relevante para a formação do conhecimento. Isso não representa que na TV o usuário não interaja simbolicamente, pois, inclusive, decodifica os dados recebidos considerando outros elementos prévios.

O poder de manipulação e alienação exercido pela televisão ainda é muito grande, notadamente no Brasil, embora o receptor filtre este consumo a partir de um conjunto de outras mediações. No mínimo, isto limita os comportamentos sociais, impondo padrões e prejudicando quem não consegue neles integrar-se. Por exemplo, o modelo de beleza próprio dos programas de humor e telenovelas torna-se um referencial, difícil de ser alcançado por quase toda a população. Isto influi diretamente na sociabilidade, de forma que a sociedade, na forma como concebida hoje, está diretamente colada no que é a TV e suas práticas.

A influência do produto televisivo, em especial das telenovelas, nas opiniões e gostos dos brasileiros, gera bloqueios, preconceitos, exclusões e aceitações, que, além de repercussões individuais, trazem consequências sociais. Durante a exibição de Laços de Família, a leucemia tornou-se o assunto central no país. Logo, quando Caminho das Índias foi veiculada, a cultura indiana predominou. São pautas importantes, mas que se vinculam à lógica da mídia, a qual se sobrepõe à agenda social. A audiência está em primeiro lugar, sendo o número de capítulos das realizações reduzido ou ampliado a partir dos dados de audiência.

Efeitos negativos e positivos

Em 2009, dois estudos recentes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostraram que as telenovelas apresentadas nos últimos 40 anos vêm moldando as famílias em aspectos como número de filhos e divórcios. A análise de 115 novelas transmitidas pela Rede Globo, nos horários das 19 e 20 horas, constatou famílias com menos filhos, comportamento reproduzido no cotidiano social. A emancipação feminina mostrada, com a entrada da mulher no mercado de trabalho, incentivou a independência, repercutindo no número de divórcios.

Os personagens televisivos influenciam o comportamento das pessoas em seu círculo social. O deslumbre causado pela mídia repercute na sociedade, onde situações que antes não eram assimiladas pela maioria passam a ser aceitas. Esse fato pode resultar em efeitos negativos e também positivos. Um dos efeitos negativos é a generalização, na qual, por exemplo, a imagem da mulher, representada de forma incorreta, principalmente em programas de humor, como alguém sem capacidade intelectual, é indicada como engraçada. Os aspectos positivos estão na grande quantidade de informações diferenciadas veiculadas, visto que permite ao público conhecer novos locais, culturas e novidades sem sair de casa.

Devem ser projetadas soluções coletivas

As telenovelas brasileiras não estão apenas influenciando e causando polêmica no Brasil. Em Angola, por exemplo, são os programas de maior sucesso. O comércio também é influenciado, levando centenas de vendedoras informais angolanas a atravessarem o Atlântico e desembarcarem em São Paulo à procura de mercadorias para revenda em seu país. Para as mulheres de Angola, as novelas brasileiras são referência sobre o que vestir. Os audiovisuais mostrados influenciam diretamente as populações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (Palop) pelas características específicas de uso do português entre os povos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.

O adequado aproveitamento das informações pode depender do telespectador, analisando-as e selecionando-as em busca de resultados positivos. Já quanto às crianças, os pais têm obrigação de apontar limites, visando à sua melhor formação. Há conteúdo apelativo, mas também existe o alternativo de qualidade. O telespectador adulto, mesmo não podendo criar o material, possui o poder de mudar de canal. A questão é que este é um recurso individual e devem ser projetadas soluções coletivas, que não só imponham obrigações sociais aos operadores privados, mas construam saídas que conjuguem serviço público e diversidade.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

TELENOVELAS - Os anos rebeldes

Por Valério Cruz Brittos e Francine Bandeira

Quando Pedro Damián negociou com a produtora Cris Morena Group os direitos de produção local da telenovela Rebelde Way não sabia que a trama – derivada de um original argentino – teria tanta repercussão, na mídia e no comércio, dentro e fora do México. Seguindo a velha fórmula de fazer novelas adolescentes, Rebelde, exibida no Brasil entre 2005 e 2007 pelo SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), trouxe seis jovens cheios de complexos e sensualidade que tinham um interesse em comum: a música.

Até aí, tudo bem, telenovela mexicana, SBT, meninas de saias curtíssimas, cabelos com mechas coloridas, rebeldias e crianças assistindo. Crianças assistindo?! Durante dois anos de exibição, a narrativa gerou discussões e diversos posicionamentos contrários e a favor do melodrama. Pais, professores e psicólogos versus crianças, mídia e comerciantes. Não que os comerciantes tenham assistido à novela. O fato é que eles muito lucraram com a febre de rebeldia daquela época (assim como buscam rentabilizar outras rebeldias, posicionamentos e sensações).

Apresentem-se os números: a média de público estimado em shows no Brasil, em 2006, foi de 700 mil pessoas, 44 milhões de chicletes foram mascados, 150 mil bonecas foram manipuladas por crianças e, incrivelmente, até por adultos, com venda de 10 milhões de revistas e pôsteres, todos levando a marca "Rebelde". O consumo fala mais alto sempre e as lojas eram lotadas de produtos relacionados à produção e à banda RBD, que saiu da ficção para as paradas de sucesso e shows lotados de fãs orgulhosos. Foi uma grande festa para o comércio brasileiro.

Uma (falsa) realidade bonita

O canal SBT já exibiu telenovelas direcionadas para o público infantil vistas com bons olhos por pais e educadores, duas delas tendo sido produzidas pelo mesmo produtor de Rebelde: Vovô e Eu e Luz Clarita. As tramas traziam crianças como protagonistas, deixando a realidade mais próxima de quem as assistia. Diferente, contudo, deRebelde, que carregava um elenco adulto interpretando jovens de 15 a 17 anos.

O figurino (saia curta, gravata e bota de cano alto) era mais ousado – ao contrário da versão argentina –, explorando descaradamente a sensualidade das atrizes, o que ajudou no sucesso da novela, obviamente. Não havia lugar onde não se encontrasse uma criança com esse tal uniforme imitando poses das personagens. Psicólogos se arriscam a dizer que o fanatismo das crianças se deve ao fato da novela mostrar uma (falsa) realidade bonita, próxima da perfeição e com personagens belos. Professores denunciam alunas que usavam maquiagem carregada no período matutino – imitação de uma das protagonistas: a "rebelde" mais rebelde, Roberta Pardo.

Botas de cano alto, gravatas desalinhadas

A mídia pescou, faz tempo, que o belo atrai (também) o público infantil, e usa isso como estratégia para fisgar telespectadores. A realidade mostrada encanta qualquer um: Elite Way School era um colégio de prestígio frequentado por alunos de classe média alta que desfilavam pelos corredores com notebooks, celulares de última geração, motoristas, limusines e todo esse universo que o dinheiro pode proporcionar.

Talvez a discussão volte neste 2011, já que a Rede Record está envolvida no desenvolvimento da Rebelde brasileira. Diferente da mexicana, que contava com um elenco conhecido, a emissora vai apostar em novos talentos. Aos poucos estão divulgando fotos e informações, todo um mistério capaz de instigar mais aquele público que ficou órfão quando o último capítulo da novela foi exibido, em 2007. Não se sabe se um grande sucesso é esperado, pois atualmente, da pré-adolescência em diante, os valores e modismos seguem em mutação permanente. Mas se a produção for similar à mexicana, pode-se esperar a volta das botas de cano alto e gravatas desalinhadas.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O CLONE - Um campeão de audiência no ar outra vez

Por Andres Kalikoske e Éderson Pinheiro da Silva

Consagrada como um dos maiores sucessos da TV brasileira na década de 2000, O Clone está de volta dez anos após sua primeira exibição. Com roteiro de Glória Perez, direção de Jayme Monjardim e elenco consagrado, esta superprodução da Globo carrega consigo a difícil missão de elevar os índices de audiência do Vale a Pena Ver de Novo, carro-chefe da programação vespertina. Sua antecessora, Sete Pecados, apesar de uma exibição inédita vitoriosa, derrubou a audiência da tradicional sessão de reprises. No ar desde o último dia 10/01, O Clone não demorou em mostrar sua potencialidade: na Grande São Paulo registrou média de 18 pontos com pico de 21. Há uma forte tendência destes números se potencializarem com o desenrolar da história, já que, com o falecimento do personagem Diogo (Murilo Benício), o cientista Albieri (Juca de Oliveira) resolverá criar um clone a partir de amostras genéticas de seu irmão, Lucas (também interpretado por Benício).

Ainda é cedo para afirmar se O Clone repetirá, até seus últimos capítulos, o sucesso de outras novelas exibidas no Vale a Pena Ver de Novo, como Senhora do Destino, em 2010, A Viagem, em 2006, História de Amor, em 2002 ou Mulheres de Areia, em 1997. Estes títulos, em sua segunda exibição, chegaram a registrar maior audiência que a inédita novela das seis da Globo, criando um problema entre a emissora e seus anunciantes. Isso porque o anunciante da faixa de reprises está desembolsando muito menos dinheiro do que quem anuncia às seis da tarde. Deve-se levar em conta que, ao menos em tese, não se trata do mesmo perfil de telespectador: a audiência que compõe o prime time (ora ampliado, comportado entre as seis da tarde e a meia-noite) possui maior renda e se interessa por uma diversificada gama de produtos e serviços. Como grau comparativo, o valor de tabela de um anúncio de 30 segundos em rede nacional, exibido no início do prime time da Globo, estava fixado em 350 mil reais em 2010. Em contrapartida, no Vale a Pena Ver de Novo o anunciante podia ter seu produto anunciado por 35 mil reais. Preços de tabela, logicamente, que são devidamente barganhados pelas agências conforme a quantidade de inserções e outras infinitas variáveis.

Revelando o Oriente desconhecido

O ineditismo das temáticas que a autora ofereceu para cada núcleo foram os pontos fortes da novela. Além da clonagem humana, a história abordou os conflitos culturais entre brasileiros e muçulmanos; o tráfico de drogas, que contou ainda com depoimentos de ex-dependentes químicos; e o islamismo, hoje posicionado como a segunda maior religião do mundo, registrando 1,4 bilhão de seguidores.

O Clone foi produzida com muito cuidado, recebendo toda atenção que merecia. Para as gravações em Marrocos, por exemplo, a Globo fez questão de enviar uma equipe inteiramente masculina, a fim de diminuir ao máximo eventuais conflitos na região. Durante a pré-estreia, a Globo realizou forte campanha institucional, encomendando aos seus programas jornalísticos reportagens sobre temas abordados em O Clone. Menções sobre clonagem e curiosidades sobre a religião muçulmana eram bem-vindas. Na semana que antecedeu a estreia da novela, um Globo Repórter sobre os avanços da ciência no âmbito da clonagem humana também foi exibido.

Nos momentos finais, como os resultados estavam além das expectativas dos executivos da Globo, a emissora resolveu esticar O Clone em um mês. Criou barrigas para conflitos paralelos que já estavam em desenvolvimento até que o produto totalizasse 221 capítulos. Mesmo com as idas e vindas de Jade (Giovanna Antonelli) e Lucas, a história não se acomodou e a novela das nove hipnotizava o país. Seu último capítulo, exibido em 14/06/02, obteve 64 pontos de audiência; e numa média de toda sua exibição, registrou 47 pontos. No fim dos trabalhos, pode-se avaliar que O Clone foi um folhetim multifacetado. A competência de Glória Perez soube revelar o Oriente desconhecido pelo telespectador brasileiro, ainda traumatizado com a midiatização em escala global das ações terroristas de 11/09.

Os dependentes químicos

Como característica principal de suas novelas, Glória Perez investiu no chamado merchandising social. Ainda que esta terminologia se apresente muito mais como uma estratégia ideológica da Globo, no sentido de reforçar seu comprometimento como empresa de comunicação, cabe resgatar brevemente algumas ações de O Clone que ultrapassaram os limites de um produto de ficção e efetivamente alcançaram visibilidade social.

Retratar a vida de dependentes químicos foi um dos pontos altos. A personagem Mel (Débora Fallabella), inicialmente deprimida e depois revoltada com a vida, unindo-se aos seus amigos Cecéu (Sérgio Marone) e Nando (Tiago Fragoso) para consumirem drogas, ampliou o debate desta problemática que hoje atinge todas as classes sociais. Com mesma temática se apresentou Lobato (Osmar Prado), um homem de meia-idade viciado em álcool. As cenas de desespero e violência destes personagens, lutando para a manutenção de seu vício a qualquer preço, foram méritos absolutos do diretor e sua equipe, composta pelos profissionais Marcos Schechtman, Mário Márcio Bandarra, Marcelo Travesso e Teresa Lampreia. Reconhecimentos para O Clone não tardaram, com homenagens da Associação Brasileira de Alcoolismo e Drogas (Abrad) e um prêmio concedido pelos órgãos norte-americanos Federal Bureau of Investigation (FBI) e pela Drug Enforcement Administration (DEA), dois dos principais responsáveis pelo controle do tráfico de drogas naquele país.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A volta das telenovelas mexicanas

Por Valério Cruz Brittos e Éderson Pinheiro da Silva

SBT vem tentando incessantemente repetir o sucesso alcançado no passado com telenovelas que marcaram a década de 90, como A Usurpadora, A Mentira, Carrossel e Esmeralda. O investimento expresso na contratação do novelista Tiago Santiago rendeu bons frutos, com o remake de Uma Rosa com Amor, original de Vicente Sesso. Porém, os poucos recursos disponíveis, especialmente de autores suficientes para escreverem folhetins, fez com que a emissora de Silvio Santos voltasse ao passado, na busca por resultados positivos.

Historicamente, a primeira opção do SBT sempre foi a exibição de produções mexicanas, em virtude do êxito desses produtos e do laço então existente com a Televisa, a maior exportadora de novelas no mundo. Com o tempo, esta tática simples de trazer folhetins importados acabou não mais agradando ao público e, com isso, foram amargados vários fracassos, que culminaram no rompimento do contrato com a Televisa. Silvio Santos passou a se utilizar de outras formas para impulsionar o setor e trouxe as tramas da extinta Manchete. A exibição do clássico Pantanal foi um grande êxito, pois conseguiu colocar o SBT, naquele horário, de volta ao antigo posto de segunda emissora de maior audiência no país.

Logo após este sucesso, a mulher de Silvio Santos, Íris Abravanel, encarregou-se de escrever os próximos folhetins, Revelação e Vende-se um Véu de Noiva, os quais foram dois tremendos fracassos, gerando falta de perspectiva quanto ao futuro da dramaturgia na emissora. Sem autores para desenvolverem histórias que preenchessem o horário, depois do fim de Uma Rosa Com Amor, o SBT voltou com reprises para segurar a audiência. A escolhida foi Canavial de Paixões, versão da telenovela mexicana Cañaveral de Pasiones, original de Caridad Bravo Adams, e seguem outras apresentações no horário vespertino, como Esmeralda, também uma adaptação. Isso sem falar na veiculação original de As Tontas Não Vão Ao Céu, retornando com as novelas da Televisa, sempre indo e vindo para o SBT.

Número reduzido de roteiristas criativos

As tardes do canal possuem três teleficções, Pérola Negra, Esmeralda e As Tontas Não Vão Céu, num horário antes pertencente aos filmes, na tradicional sessão Cinema em Casa. Existem sérios riscos destas atrações, não obtendo o retorno desejado, terem seus finais abruptamente encerrados, com o recurso da edição, um dos problemas mais graves que Silvio Santos tem provocado, com mudanças repentinas de horários e término antecipado de programas, de acordo com seu desempenho. Ao final de Canavial de Paixões, deve estrear a inédita Corações Feridos, de Íris Abravanel – não tão inédita assim, pois se trata de uma adaptação da mexicana La Mentira, antigo sucesso do canal.

Há um obstáculo persistente na teledramaturgia nacional: o número reduzido de roteiristas criativos para fazer a diferença, o que tem provocado a importação de tramas (prontas ou roteiros), para sobrevivência das emissoras no universo dramatúrgico, com exceção da Globo, que tem a maior fábrica de audiovisual do Brasil. Escritores, assim como elenco conhecido, estão cada vez mais escassos, com a disputa constante das emissoras pelo mercado da teledramaturgia, liderado pela Globo e, num segundo e distante plano, a Record. O público acostumou-se a ver textos realistas, onde se identificam, considerando-se representados, assim como seu dia-a-dia. Este sempre foi um dos maiores trunfos da sobrevivência da telenovela brasileira, em meio à diversidade e às adversidades televisivas.

Fonte: Observatório de Imprensa

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Passione! A indústria da telenovela no balizamento entre o merchandising social e o comercial



Por Jacqueline Lima Dourado*

As emissoras de televisão, enquanto indústrias culturais, desenvolvem processos estratégicos desenvolvidos que estão relacionados, muitas vezes, com temas ou questões que se reportam a situações enfrentadas por uma sociedade em diferentes domínios. Esses atuam desde a coletividade, no campo educacional, político, religioso, tecnológico e ambiental, como na esfera individual, em relação ao comportamento, práticas urbanas, solidariedade, usando para isso táticas de merchandising social, protagonismo social e marketing social.

A telenovela “das oito”, Passione (da Rede Globo, 21h:00min), retoma temas sociais, tais como dependência química, infidelidade, sexualidade, pedofilia, prostituição entre outros antes demarcados, somente, à esfera íntima. Com a mediação televisiva, migram para a esfera pública, proporcionando novas pautas e debates, além do agendamento de outras mídias.

Dessa vez, a Rede Globo afirma não fazer de forma mais explícita nenhum merchandising social. Contudo, retoma temas sociais que resgatam a prática especulativa do tema ao trazer o consumo e dependência de drogas ao enredo com alegorias bem peculiares, como a decadência física, desequilíbrio emocional, desagregação da família que servem de mote de discussão intra e extranovela. Traz ainda a esfera do debate temas motes como pedofilia, exploração e prostituição de menores. Essas abordagens não são colaterais ao enredo, mas a partir delas há um novo olhar sobre o tema da novela. Ressalte-se que os dois assuntos dominam noticiários e revistas no país.

Esses movimentos é o que chamamos de cidadania televisiva. Entendemos que, para adotar este conceito, é necessário concebê-lo como conjunto de temas voltados para os direitos sociais, educativos e morais presentes na programação. De alguma maneira, surge na grade, sob a forma de diferentes temas, problemáticas que, tradicionalmente, antes, não estavam inseridas. Começam a ganhar contornos próprios por meio de operações e estratégias peculiares, inerentes ao próprio regime e à discursividade da TV. Supomos que são escolhas deliberadas via agendas que a mídia faz para tratar simbolicamente, e, com sistematicidade, questões relativas a desafios enfrentados em dados momentos por determinada sociedade.

Ao observarmos o fenômeno por meio do eixo da Economia Política da Comunicação – EPC, avaliamos que, pela ordem capitalista contemporânea, tais injunções são absorvidas como alerta para a integração com outros agentes do capital, na tentativa de manter barreiras à expansão desmesurada de corporações comunicacionais. Qualquer que seja o país, a inserção da programação televisiva como elemento estratégico fortalece relações de poder, embora a função macro da comunicação midiática deva se restringir a acompanhar as mudanças sociais e não a produzi-las.

Também como elemento indissociável ao estudo está a ponderação acerca da postura do telespectador frente à programação da Rede Globo de Televisão. É preciso verificar se há espaço para a reflexividade ou se a grade somente fortalece eventuais mecanismos regulatórios, responsáveis por coletividades passivas e meramente consumidoras. Há indicativos de que esses mecanismos representam fonte de interferência na autonomia das pessoas e em sua capacidade de discernir sobre a participação em questões importantes à sua própria vida, tornando-as, cada vez mais, reféns dos ditames do modo de vida imposto pelas regras de convivência entre Estado, mercado e sociedade, a partir da lógica capitalista contemporânea.

Concomitantemente a esses mecanismos, observam-se ainda determinadas práticas de mercado com o fito do enfrentamento da multiplicidade de ofertas de produtos culturais à disposição do público tais como CDs com a trilha sonora da novela nacional e internacional entre outros subprodutos.

A fase da multiplicidade da oferta é perceptível desde o início da década de 1990, quando há mais opções para os telespectadores e crescente disputa por audiência. Porém, somente em 1995 se define essa fase da TV brasileira, a partir da obra de Valério Brittos, e é nesse panorama que se dá a reestruturação dos mercados televisivos contemporâneos, ávidos por alternativas para seu fortalecimento frente à concorrência.

Ocorre ainda a associação dos atores a práticas de merchandsing como Hospital São Luiz e o ator como personagem X, Houston Bike com os personagens Danilo e Sinval (Cauã Reymond e Kaiky Brito), e a C&A - rede de varejo de moda do Brasil com a personagem Melina (Mayana Moura).

“Cidadania, a gente vê por aqui!” - O que se observa na Rede Globo de Televisão é a autorreferência (a partir dos slogans adotados que surgem como palavras de ordem), como locus promotor de cidadania ao longo da programação. Mas não se pode esquecer é que, enquanto instituição privada, cujos interesses são, em sua essência, particulares, essa cidadania é tematizada na grade e imprime uma feição de prática capitalista, ou seja, emerge como configuração de administração do capital.
O capitalismo, como qualquer outro sistema, mesmo abarcando um rol de injustiças, às vezes, irreparável, não pode estar sujeito às críticas contínuas. Se assim for, inviabilizará qualquer tipo de adesão. Precisa oferecer, minimamente, vantagens que assegurem sua manutenção e, quiçá, sua melhoria.

* Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, professora do mestrado em Políticas Públicas e do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Piauí – UFPI, e líder do Grupo de Pesquisas COMUM/UFPI. Email: jacdourado@uol.com.br.

Fonte: Revista IHU Online Edição 342

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Veneno em forma de folhetim

Por Washington Araújo

Coisas de nossa tevê em canal aberto. Começa ano, termina ano e ficamos sabendo da quantidade de recursos públicos empregados em campanhas contra o uso de drogas. Programas em horário nobre de diversas emissoras de tevê tratam do uso de drogas nas grandes cidades, investigam as razões que levam principalmente os adolescentes e jovens a buscar o uso de drogas, mostram a realidade dos morros e a vida e a morte de traficantes seja no Rio de Janeiro, em São Paulo ou no entorno da Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Mas, moto contínuo temos a novela das 9 da Rede Globo de Televisão – Passione – e com ela a força perniciosa e letal da deseducação em larga escala. O personagem vivido por Cauã Reymond é o típico viciado: mente não ser viciado, falsifica exame antidoping, incrimina o irmão caçula, rouba para pagar o vício, é estressado por natureza e estressa toda a família ou o que possa lembrar núcleo familiar em novela da emissora líder.

O personagem, como poderíamos esperar, não encontra qualquer limite ético, moral, familiar, físico ou financeiro para sustentar o vício. A busca por drogas será acompanhada por todos que seguem a novela. Explica-se, quase didaticamente, onde podem ser encontradas, os contatos que precisam ser feitos, os diálogos necessários e os cuidados para burlar as leis. A busca do realismo, marca comum a qualquer folhetim da Globo, confundirá nossos sentidos. E até que o personagem abandone o vício, por bem ou por mal, internado em clínica especializada ou preso em algum xadrez da cidade, veremos muita água mover os índices de audiência da emissora e milhares de jovens encontrarão certo glamour na vida de Danilo Gouveia. Boa parte destes se sentirá tentada a entrar no caminho sem volta apresentado como viável pelo personagem. Outra parte nem mesmo saberá diferenciar ficção de realidade.

E se Danilo superar o vício será algo a ocorrer nos últimos capítulos, repetindo-se a macabra equação: o crime e a injustiça campeiam toda a trama, centenas de noites a fio; e a redenção, a imposição da justiça, consumirá nada mais que um ou dois capítulos do folhetim. Então, os que por qualquer motivo não assistirem ao final da novela terão na mente apenas as lições dando conta de que nada compensa mais que a ilegalidade e os comportamentos doentios. É como o Papillon – personagem criado por Henri Charriére – no cinema vivido por Dustin Hoffman, nos anos 1970: o espectador passa quase três horas vendo-o comer o pão que o diabo amassou literalmente na Ilha do Diabo (Caiena, Guiana Francesa) para ver o gosto de liberdade em não mais que em seus três minutos finais.

O raciocínio acima vale para a quase totalidade das tramas globais transmitida em horário nobre nos últimos anos. O que lhe aumenta a audiência é precisamente o grau de nivelamento por baixo a que os personagens se esforçam por conceder verossimilhança. O campeão será aquele que fique da altura de uma lâmina de barbear deitada.

Mentira vencedora

Passione é veneno puro, alienação pura, maldade pura. E baixaria para todos os gostos, altitudes e latitudes. A galeria de tipos representa o que há de mais miserável na espécie humana. Começa por filho destratando (estou pegando leve) mãe e sempre a um passo da agressão física, já que a agressão verbal ultrapassa todo e qualquer limite do que poderia ser o diálogo entre um filho e uma mãe. Refiro-me a Werner Schunemman com o seu Saulo e a Fernanda Montenegro, com a sua Bete Gouveia. Até o momento a emissora ainda não nos brindou com cenas de espancamento explícito, aquelas em que Bete será surrada impiedosamente pelo filho.

A mulher de Saulo, vivida por Maitê Proença, é um poço de vida vazia e miserável, ninfomaníaca, mulher manipuladora e sem qualquer noção de ridículo, seduz jovens por shoppings da cidade, que obviamente trai o marido Saulo duas a três vezes por semana, trai a própria filha, tem caso com o caso da filha. O ar de sensualidade – com validade vencida – de Maitê permeia toda a novela, seus olhares são sempre fatais e obsessivos. Lembram os poemas de Pietro Aretino, filho de um sapateiro, contemporâneo de Leonardo da Vinci e Michelangelo, autor dos Poemas luxuriosos.

Aliás, não sei o que deu na Globo – todas as mães são vilipendiadas, desrespeitadas, humilhadas e ofendidas. E se forem avós, a possibilidade de serem aquelas que ofendem e humilham os demais será quase certa. Tem a mãe e avó Valentina (Daisy Lúcidi) que é cafetina, sempre apta a arranjar homens maduros para cliente de sua neta (Kelly), ainda adolescente, meio tímida e sempre assustada. A pressão psicológica exercida por Valentina sobre a neta é algo que supera qualquer escala de coisa despudorada, nojenta, asquerosa. Prostituição de menores bancada por membro da família merece ser abrigada no imenso guarda-chuva da liberdade de expressão?

Tem a mãe e avó (Cleide Yáconis) que adentrando seus 105 anos tem como único objetivo trair o marido Antero (Leonardo Villar) com o bonachão vivido por Elias Gleiser. Considerando que a idade somada dos dois artistas beira o bicentenário, há momentos em que o constrangimento nos faz querer mudar rapidamente de canal. A forma insidiosa com que Yáconis ludibria o marido deixa claro que se existe algo que não tem idade é o desejo de ser vulgar, sacana, o gosto irreprimível pela traição. Ajuda a destruir qualquer bom sentimento que as avós costumam inspirar como aquela angelitude espontânea, aquela bondade ilimitada emoldurada por respeitosos cabelos prateados. Tem a mãe que criou a neta como se filha fosse, caso da personagem Candê vivida pela veterana Vera Holtz. Provavelmente é a novela que leva às telas o maior número de pessoas da terceira e da quarta idades. Lastimável que em sua maioria são pessoas quando não patéticas, ao menos muito desmioladas.

Mariana Ximenes é a protagonista. Veste a personagem Clara Medeiros: uma mulher mentirosa, sem escrúpulos, que só quer tirar proveito das situações. Trabalhava como enfermeira do marido de Bete e será a única a escutar a revelação que o empresário faz à esposa antes de morrer. É neta de Valentina, a quem não suporta, e irmã por parte de mãe de Kelly (Carol Macedo), a única pessoa com quem parece ter um vínculo de afeição. Parece ter sido criada a partir da música de Reginaldo Rossi sobre aquela que iria trair o marido em plena lua de mel. E fez isso mesmo. Engana qualquer um que lhe cruze à frente. Mente com tanta naturalidade e sempre vê sua mentira vencedora absoluta. Ilude um e outro, rouba um e outro, simula incêndio para matar marido, incrimina colega de profissão, arquiteta planos mirabolantes, se vende na noite paulistana e mostra falta de caráter de forma cabal e completa.

Desfecho infeliz

Francisco Cuoco é Olavo, o rei do lixo. Pândego. É tão convincente em seu jeito canastrão que ninguém desperdiça alguns pensamentos do tipo "quem te viu, quem te vê". Sua mulher é Clô, tendo uma Irene Ravache que rouba as cenas em que aparece. É falante, boa praça, a recorrente crítica aos novos ricos que, segundo Vinícius de Moraes, "não têm a dignidade de enriquecer que os ricos tinham ao empobrecer". É a parte leve da trama, uma trama em que traição, inveja, mau caratismo, ciúmes, falsidade, deslealdade, drogas e desvios de conduta pontuam quase que cada cena e quase que cada fala.

Há outros personagens que não valem o feijão que comem. Tony Ramos é o marido traído uma vez e prestes a ser traído outras quinhentas vezes. É o cornuto da novela. Gemma Mattoli (Aracy Balabanian) é a irmã de Totó (Tony Ramos). Gemma, assim como o irmão, é brasileira de nascimento mas vive na Itália. Sincera, amiga e cheia de amor, criou Totó e cuida dele e de toda família com tanto amor que se esquece de sua própria vida. Aracy Balabanian empresta seu talento àquele tipo de irmã mais velha que muitos de nós têm, claro, aqueles que contam mais de 50 anos.

Reinaldo Giannechini é o próprio canastrão, como sempre deixando de convencer o telespectador pois não tem jeito de protagonista, seja mocinho ou vilão. Gabriela Duarte é uma viúva Porcina (vivida por sua mãe Regina Duarte na icônica Roque Santeiro) ainda não entrada em anos, a cada cena evoca algo de pastelão, besteirol. Marcelo Antony é o personagem deprê que não poderia deixar de dar as caras em uma novela de Sílvio Abreu. Talvez seu negócio seja pedofilia mas, quanto a isto, ainda não se tem certeza. Pelos rumos da trama, se for pedofilia é pouco – talvez seja o dono de uma rede mundial de pedófilos-empresários ou coisa assim. Tem também todo o núcleo dos italianos. Tem o Arthurzinho (Julio Andrade) que representa o homossexual afetado e folclórico, chamado por seu patrão Saulo como "a gazela". É deste o vocativo adulador "Milady" para designar a patroa, Maitê. Quantos anos não escutava a célebre expressão de Alexandre Dumas cunhada em seu imortal Os três mosqueteiros! Pena que não restem na novela vestígios de Porthus, Athos, Aramis e do quarto protagonista D´Artagnan. Mas aí já é querer muito.

Tem Fátima Lobato (Bianca Bin), que ainda muito jovem engravida e, sem contar com o apoio do possível pai da criança (Cauã), decide abortar. A busca por clínica de aborto, os contatos na clínica, o ambiente de franca ilegalidade, muita sombra e pouca luz termina por avalizar a idéia que, afinal, abortar não é tão má idéia assim. Uma pena esse pequeno desfecho feliz para uma situação que poderia, ao menos, ser outra, bastante diferente. Mas quem disse que tevê aberta tem algum tipo de responsabilidade social?

Vestes sagradas

Pelo que vejo, passar 10 dias assistindo a capítulos de Passione não terá sido de todo em vão. Aprendi que se a liberdade for total, sem qualquer balizamento, sem quaisquer princípios reguladores, viveremos apenas a liberdade dos animais e não a liberdade adequada a nós, humanos. Aprendi que não basta dispor de todos os recursos humanos e materiais, não basta deter tecnologia de ponta para por em funcionamento a fábrica de ilusões que atende pelo nome de núcleo de dramaturgia de nossas principais emissoras de tevê. Há que se lutar por um tipo de arte que eleve a condição humana. Onde foi parar o senso crítico da rapaziada? Será que nenhum anunciante encontrará alguma convergência com os pensamentos ora alinhavados?

Impressiona ver tantos talentos desperdiçados com uma trama que endeusa a pequenez humana, passa ao largo de todo e qualquer valor humano, desses que uma vez vividos nos fazem pensar que a vida humana é o bem mais precioso que podemos ter. Passione é um atestado de falência múltipla dos diversos órgãos que formam o organismo da sociedade atual, onde quanto mais anormal, mais desprezível for um ser humano, maior será sua aceitação pelos demais, e quanto menos virtudes humanas uma trama tiver, maior será seu êxito comercial.

Mas, como levantar o assunto sem ser acusado de tocar as sagradas vestes da... liberdade de expressão? Por que precisamos nos contentar com um banquete faustoso, amplamente publicizado, reunindo a nata da dramaturgia brasileira experimentada nos últimos 50-70 anos, e que nos serve em horário nobre, ao longo de vários meses, nada menos que comida estragada?


Fonte: Observatório da Imprensa

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A força e a vitalidade da reprise

Por Valério Cruz Brittos e Andres Kalikoske

No atual momento da televisão brasileira, um elevado número de programas está sendo reprisado, ao mesmo tempo em que as emissoras prometem que, nos próximos meses, ainda mais do mesmo está por vir. Casos recentes, como a estreia da novela A História de Ana Raio e Zé Trovão e o lançamento do canal pago Viva, pertencente à Globosat (Organizações Globo), são exemplos de como a estocagem de produtos televisivos pode gerar receita no mercado nacional (além do internacional), de modo que represente uma fonte de faturamento potencial aos seus programadores.

A reprise pode ser analisada como um fenômeno contraditório em tempos que a televisão se reinventa como mídia, através das possíveis (ainda que vagarosas) possibilidades da TV digital. No limite, não se pode dizer que a oferta nacional seja versátil e esteja se preparando para o novo modelo, já que a prioridade à convergência de produtos para disponibilização em espaços móveis (como celulares e ônibus) impede maior desenvolvimento de formatos que explorem elementos mais interessantes, como a interatividade, por exemplo.

Um estudo realizado pelo Núcleo de Análise da Teledramaturgia (NAT), do Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (Cepos), da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), concluiu que, mesmo após uma exibição inédita não vitoriosa, um produto de estoque televisivo continua com alto grau de potencialidade, especialmente os de ficção seriada – mas não somente, uma vez que programas infantis do mundo todo ainda se alimentam de desenhos animados produzidos nas décadas de 1950 e 1960.

SBT relança duas novelas

Com custos de produção inteiramente pagos, estes conteúdos são colocados à disposição de novos anunciantes, gerando receita, na medida em que impulsionam as grades de programação. Este é o caso de A História de Ana Raio e Zé Trovão, transmitida pelo SBT desde maio de 2010, uma promessa de incremento na audiência com prazo de validade datado, sendo que, para seu término, nada está sendo pensado. Apesar da imagem borrada, a epopeia bandeirante produzida pela Manchete em 1990 tem cumprido a função de devolver à emissora de Silvio Santos a vice-liderança durante o horário, deixando para trás a inédita e bem cuidada Ribeirão do Tempo, da Record.

A história, escrita por Marcos Caruso e Rita Buzzar, recheada de sertanejos, cavalos xucros e festas de rodeio, nem de longe lembra o descanso paisagístico de Pantanal. No entanto, a lentidão narrativa de Jayme Monjardim está presente, desbravando regiões brasileiras pouco exploradas. Fugindo do eixo Rio-São Paulo que ainda povoa as novelas, Ana Raio e Zé Trovão muda de cenário praticamente toda semana, viajando de São Paulo para estados do Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Em sua primeira apresentação na TV aberta chegou a assombrar a Globo, a qual, temerosa pelo sucesso da antecedente Pantanal, cancelou o capítulo inédito de Araponga, exibido no mesmo horário e, numa atitude incomum, o substituiu pelo filme Cobra, com Sylvester Stallone. Mas a promessa de Ana Raio e Zé Trovão não se cumpriu, ainda que, para o SBT, esteja rendendo frutos ocasionalmente interessantes. O canal, que deixou de faturar R$ 500 milhões em 2009, neste ano organizou sua grade de programação apresentando um incremento de 32% no primeiro semestre de 2010.

Recentemente, em 12 de julho, o canal reafirmou sua carência de estratégia para a teledramaturgia, ao lançar duas reprises: Pérola Negra e Esmeralda, grupo que será acrescido de Canavial de Paixões, a partir de 17 de agosto. Versão brasileira de roteiro argentino, Pérola Negra foi resgatada para aumentar a audiência do canal no período vespertino; e Esmeralda é uma das bem-sucedidas versões de roteiros mexicanos que o canal produziu com a Televisa. Já Canavial, também desta mesma safra, será ressuscitada com o término da acertada Uma Rosa com Amor, numa ingênua tentativa de segurar a audiência do prime time (o horário nobre) até que outra novela nacional esteja pronta.

Audiência e desempenho

Distribuído pelas operadoras a cabo e satélite Net, Sky e Via Embratel, o Viva surge com a promessa de atender ao público feminino da TV paga – ainda que, na prática, este discurso não se reproduza, pois o padrão tecno-estético da Globo, a produtora de seus conteúdos, está fortemente difundido entre telespectadores de ambos os sexos.

Sua inauguração – na verdade o simples acionamento de um botão nos complexos da Globo, ocorreu no dia 18 de maio, contando com a presença do governador e do prefeito do Rio de Janeiro. O canal ainda exibe estoques norte-americanos, como filmes dublados e um programa liderado por Oprah Winfrey, legendado para "não perder sua espontaneidade". Comercialmente, optou por buscar anunciantes-fundadores, que atualmente são 18, e terão seus comerciais veiculados até o final de 2010, em publicidades distribuídas ao longo de três períodos diários. Para o futuro, o canal deve negociar modelos tradicionais de comercialização.

No que diz respeito aos números medidos pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), a estratégia de re-exibir estoques de ficção seriada ainda se mostra comercialmente acertada. Com histórico de reprises, os decanos Chaves e Chapolin por muitos anos têm sido sucessos de audiência, batendo por diversas vezes a própria Globo. Novelas como a excelente Café com Aroma de Mulher ou a própria Pérola Negra também impulsionaram as tardes do SBT nos últimos cinco anos; Café com índices de audiência superiores à sua primeira exibição no prime-time e Pérola seguidamente alcançando a liderança. A Record, por sua vez, tem na re-exibição de Os Mutantes – Caminhos do Coração a segunda colocação assegurada às 18 horas, ainda que muito próxima do SBT, posicionado em terceiro.

Na Globo, as reprises também imprimem feitos. O produto de estoque Senhora do Destino, produzido em 2004 e re-exibido em 2009, foi a terceira atração mais vista da TV neste ano. De acordo com informações do jornal Extra, 52,8% dos televisores estavam ligados no horário de exibição do Vale a Pena Ver de Novo. Em seus momentos de desfecho, a novela atingiu 44 pontos, representando um share de 67,5% dos televisores ligados em 15/07/09 (enquanto SBT e Record, respectivamente, marcavam seis e cinco pontos). Outro exemplo, ainda que não tão fenomenal, a reprise de Alma Gêmea, escrita por Walcyr Carrasco em 2005 e re-exibida em 2009, obteve a média 29 pontos no Ibope em sua nova trajetória.


Fonte: Observatório da Imprensa

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Globo aposta em sucesso do passado

Por Andres Kalikoske e Denis Gerson Simões

O humor zombeteiro parece ser a aposta da Globo para seu horário das sete. Trata-se de Ti Ti Ti, de Cassiano Gabus Mendes, um novo remake que estreou na emissora na última segunda-feira (19/7). Uma primeira versão da novela foi exibida em 1985, no mesmo horário, sendo que nesta variante novas nuances são vistas, a partir da inserção de personagens de Plumas e Paetês, outro folhetim do mesmo autor, exibido em 1981. A partir do entendimento de que televisão é um hábito desenvolvido, cabendo ao programador respeitar determinadas categorias que implicam nesta rotina por parte do telespectador, não se tem nenhuma novidade em relação à escolha do horário, tradicionalmente reservado às comédias escrachadas da Globo.

O fato de ser um remake também não significa a opção da emissora por conteúdos estagnados. Ao contrário, em televisão a relação se constrói vagarosamente, numa dinâmica onde há doses de inovação e anacronismo, através de elementos reconhecidos pelo público. E é nesta direção que a estratégia da Globo vem sendo construída há muitos anos, sendo que, no caso específico de Ti Ti Ti, espera-se que os novos ganchos devolvam os altos índices de audiência que a emissora sempre atingiu na faixa das sete.

A versão se refaz nas mãos de Maria Adelaide Amaral – que, por sua vez, já possui familiaridade com o texto de Gabus Mendes, a julgar pelo sucesso alcançado por Anjo Mau em 1997, na qual também adaptou o autor. Em seu primeiro capítulo, exibido das 19h14 às 20h13, Ti Ti Ti registrou média de 29 pontos, com pico de 32 e 46% de share. No período, a Record apareceu em segundo, com 7,4 pontos, a Band em terceiro com 5,8 e o SBT amargou a quarta posição, registrando apenas 3,6 pontos.

Uma cópia vista como cópia

Em sua primeira semana, um conjunto de tendências, provavelmente tônicas desta produção, puderam ser percebidas: conexões com as novelas das décadas de 70 e 80, a fim de que os espectadores maiores de 30 anos se deliciem ao reviver boas experiências; humor que recorda os clássicos de autor original, sempre referenciando a zona leste de São Paulo, mas com coerência aos elementos contemporâneos; e o trabalho de um ótimo núcleo de artistas (não apenas atores, mas também técnicos e a direção, que cabe a Ary Coslov, Maria de Médicis, Frederico Mayrink e Marcelo Zambelli, sob o comando de Jorge Fernando).

A abertura, mesmo com as melhorias provindas da computação gráfica, se reportou à ideia original, com passagem das duplas de canetas, tesouras, fitas métricas e agulhas, dialogando com o mundo do corte e costura. A trilha sonora, mesmo que regravada e noutro compasso, permanece a original. Já a logomarca, praticamente a mesma de sua primeira exibição, não coloca dúvidas de que a Globo não apenas busca reviver o sucesso do passado, mas também faz de tudo para explicitar o desejo de que seu remake repita os feitos do original.

Em suma, ainda é cedo para dizer se a novela atingirá o sucesso de sua primeira versão, mas a julgar pela primeira semana em que foi exibida, não superou, no quesito audiência, suas antecessoras do horário das sete. A verdade é que, há tempos, não se via uma cópia que queria realmente ser vista como cópia, representando um projeto maior, que engloba a busca por anunciantes e o retorno dos telespectadores perdidos para a Record.


Fonte: Observatório da Imprensa