Por Andres Kalikoske e Denis Gerson Simões
O humor zombeteiro parece ser a aposta da Globo para seu horário das sete. Trata-se de Ti Ti Ti, de Cassiano Gabus Mendes, um novo remake que estreou na emissora na última segunda-feira (19/7). Uma primeira versão da novela foi exibida em 1985, no mesmo horário, sendo que nesta variante novas nuances são vistas, a partir da inserção de personagens de Plumas e Paetês, outro folhetim do mesmo autor, exibido em 1981. A partir do entendimento de que televisão é um hábito desenvolvido, cabendo ao programador respeitar determinadas categorias que implicam nesta rotina por parte do telespectador, não se tem nenhuma novidade em relação à escolha do horário, tradicionalmente reservado às comédias escrachadas da Globo.
O fato de ser um remake também não significa a opção da emissora por conteúdos estagnados. Ao contrário, em televisão a relação se constrói vagarosamente, numa dinâmica onde há doses de inovação e anacronismo, através de elementos reconhecidos pelo público. E é nesta direção que a estratégia da Globo vem sendo construída há muitos anos, sendo que, no caso específico de Ti Ti Ti, espera-se que os novos ganchos devolvam os altos índices de audiência que a emissora sempre atingiu na faixa das sete.A versão se refaz nas mãos de Maria Adelaide Amaral – que, por sua vez, já possui familiaridade com o texto de Gabus Mendes, a julgar pelo sucesso alcançado por Anjo Mau em 1997, na qual também adaptou o autor. Em seu primeiro capítulo, exibido das 19h14 às 20h13, Ti Ti Ti registrou média de 29 pontos, com pico de 32 e 46% de share. No período, a Record apareceu em segundo, com 7,4 pontos, a Band em terceiro com 5,8 e o SBT amargou a quarta posição, registrando apenas 3,6 pontos.
Uma cópia vista como cópia
Em sua primeira semana, um conjunto de tendências, provavelmente tônicas desta produção, puderam ser percebidas: conexões com as novelas das décadas de 70 e 80, a fim de que os espectadores maiores de 30 anos se deliciem ao reviver boas experiências; humor que recorda os clássicos de autor original, sempre referenciando a zona leste de São Paulo, mas com coerência aos elementos contemporâneos; e o trabalho de um ótimo núcleo de artistas (não apenas atores, mas também técnicos e a direção, que cabe a Ary Coslov, Maria de Médicis, Frederico Mayrink e Marcelo Zambelli, sob o comando de Jorge Fernando).
A abertura, mesmo com as melhorias provindas da computação gráfica, se reportou à ideia original, com passagem das duplas de canetas, tesouras, fitas métricas e agulhas, dialogando com o mundo do corte e costura. A trilha sonora, mesmo que regravada e noutro compasso, permanece a original. Já a logomarca, praticamente a mesma de sua primeira exibição, não coloca dúvidas de que a Globo não apenas busca reviver o sucesso do passado, mas também faz de tudo para explicitar o desejo de que seu remake repita os feitos do original.
Em suma, ainda é cedo para dizer se a novela atingirá o sucesso de sua primeira versão, mas a julgar pela primeira semana em que foi exibida, não superou, no quesito audiência, suas antecessoras do horário das sete. A verdade é que, há tempos, não se via uma cópia que queria realmente ser vista como cópia, representando um projeto maior, que engloba a busca por anunciantes e o retorno dos telespectadores perdidos para a Record.
Fonte: Observatório da Imprensa