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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Juiz do Pará determina prisão e multa caso jornalista publique informações sobre desvios da Sudam

Por Eduardo Neco

O jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, responsável pelo Jornal Pessoal, foi proibido de publicar, sob pena de prisão e multa de R$ 200 mil, quaisquer informações sobre alguns dos acusados de desviar dinheiro da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) no estado.

Conforme determinação do juiz Antônio Carlos Almeida Campelo, titular da 4ª Vara Cível Federal do Pará, o jornalista não pode mais citar os irmãos Romulo Maiorana Júnior e Ronaldo Maiorana, principais executivos do grupo Liberal de comunicação, além de outros dirigentes da corporação, que estão envolvidos na investigação. A razão, segundo o magistrado, é que o processo corre em segredo de justiça.

O grupo Liberal de comunicação controla dois jornais diários, o Liberal e o Amazônia, uma rede de emissoras afiliadas à Rede Globo, além de emissoras de rádio e um portal de notícias.

Em entrevista ao Portal IMPRENSA, Flávio Pinto afirmou que irá acatar a determinação, mas que pretende recorrer alegando que sua matéria se sobrepõe ao sigilo, uma vez que a acusação de fraudes contra o sistema financeiro é de interesse público.

"Esse segredo de justiça é indevido, porque o direito a informação é constitucional", sublinhou o jornalista. Ele afirmou, ainda, que o curioso da determinação é que o sigilo alegado pelo juiz não foi pedido por nenhuma das partes do processo, tampouco consta nos autos. "É uma decisão arbitrária, não teve ofício".

Sobre a penalização em R$ 200, Flávio Pinto comentou que a "multa é desproporcional", uma vez que ele "está defendendo o interesse público.

O portal Yahoo! lembra que, em 2008, o Ministério Público Federal denunciou os proprietários do conglomerado - o maior do Pará - por fraude para obtenção de recursos de incentivos fiscais da Sudam. Até 1999, os desvios somavam R$ 3,3 milhões.

O caso do jornalista paraense se assemelha ao do jornal O Estado de S. Paulo, proibido desde 31 de julho de 2009 de publicar informações sobre a "Operação Boi Barrica",que apura supostas irregularidades cometidas pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

No entanto, a principal diferença entre os dois casos é que, na censura ao Estadão, a parte citada, no caso Fernando Sarney, requisitou que o processo corresse em segredo de justiça e, em consequência, de forma sigilosa. (Veja aqui a matéria de Lúcio Flávio Pinto sobre os desvios da Sudam no Pará).

Fonte: Portal IMPRENSA

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Censura à imprensa na AL está no nível mais alto, diz comitê

Por Uirá Machado

Os casos de censura à imprensa na América Latina estão nos níveis mais altos desde a redemocratização, afirma Carlos Lauría, coordenador do CPJ (Comitê para Proteção de Jornalistas).

Segundo Lauría, responsável pela apresentação do relatório "Ataques à Imprensa em 2010", a situação é preocupante em vários países da região.

"Houve um aumento significativo dos casos de censura em todo o continente, seja por censura judicial, seja pela violência do crime organizado, seja por pressão do Estado", diz Lauría.

De acordo com ele, o principal problema no Brasil é a censura judicial, enquanto a pressão do Estado se manifesta de forma mais clara na Venezuela, e as ameaças do crime organizado, no México.

O relatório, que traz um levantamento global sobre o estado da liberdade de imprensa, menciona 44 jornalistas mortos no exercício da profissão e 145 presos, o maior número nos últimos 15 anos.

O relatório do CPJ é apresentado hoje em diversos países do mundo inteiro. No Brasil, o evento é realizado com o apoio da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

Fonte: FNDC

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Jornalista Mexicana é demitida por criticar presidente

Redação Portal IMPRENSA

A repórter Carmem Aristegui, da rádio mexicana MVS, foi demitida após fazer um comentário sobre acusação feita contra o presidente Felipe Calderón.

A jornalista comentou em seu programa de rádio um discurso do parlamentar Gerardo Fernandez Norona, no qual ele afirmou que Calderón era alcoólatra e duvidou de sua capacidade de governar, dizendo: "Você não deixaria um bêbado dirigir o seu carro, certo?".

Apesar de o deputado não ter apresentado provas concretas sobre a acusação, ela achou a acusação séria e pediu explicações por parte do presidente. Pouco depois foi dispensada pela rádio com o argumento de ter violado o código de ética interno ao "dar credibilidade a um rumor".

Aristegui afirma que na realidade foi demitida devido a uma pressão do próprio governo de Calderón, que assim que soube do comentário ligou para a rádio pedindo uma retratação pública. Ela se recusou a se desculpar e reiterou o pedido por explicações do presidente.

A rádio MVS, uma das mais ouvidas no México, procurou sanar rapidamente o "problema", pois aguarda renovação da concessão de freqüência. O caso foi levado para o parlamento mexicano, onde se discutiu que o presidente usou de influência política para forçar a demissão, mas a rádio MVS também não deu explicações claras sobre o assunto, como relata o Repórteres sem fronteiras, para o jornal Folha de S.Paulo.

Fonte: Portal IMPRENSA

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Pelo menos 75 jornalistas são vítimas de censura ou violência no Egito durante crise política

Por Renata Giraldi

Brasília – A organização não governamental (ONG) Repórteres Sem Fronteiras concluiu levantamento parcial de que 75 jornalistas foram impedidos de trabalhar no Egito desde o último dia 2 – quando se intensificaram os protesto no país. Vários profissionais relataram casos de violência, roubos e humilhações, além de censura. A ONG informou que o levantamento “está longe” de ser finalizado. Segundo a organização, a lista precisa ser atualizada diariamente.

“Quase todos os jornalistas que estão no Cairo parecem ter sido vítima de um incidente. Alguns solicitaram o anonimato por medo de represálias”, diz o levantamento da organização, referindo-se a profissionais de imprensa de várias nacionalidades, inclusive brasileiros.

Pelo levantamento, apenas o jornalista egípcio Mahmoud Ahmed Mohammed de Al-Ahram foi morto vítima de uma bala, enquanto fotografava na Praça Tahrir, epicentro das manifestações de protesto pela permanência do presidente do Egito, Hosni Mubarak.

Segundo a pesquisa da organização, 72 profissionais ficaram detidos sob poder das autoridades policiais por pelo menos duas horas. Há sete casos em que a ONG não tem informações sobre a conclusão.

Pelo menos 25 profissionais tiveram seu material de trabalho apreendido pelos policiais egípcios, enquanto três denunciaram agressões – físicas ou psicológicas. De acordo com o levantamento, os alvos são jornalistas do Egito, da França, da Polônia e do Catar.

No caso do Brasil, os repórteres Corban Costa, da Rádio Nacional, e Gilvan Rocha, da TV Brasil, ficaram 18 horas presos, tiveram os olhos vendados, além de passaportes e equipamentos apreendidos. Em seguida, foram obrigados a deixar o Egito. Gilvan e Corban chegaram hoje no começo da tarde a Brasília.

Também relatou ter vivido momentos de apreensão o jornalista Luiz Antonio Araújo, do jornal Zero Hora, do Rio Grande do Sul. Ele disse que foi agredido e roubado enquanto fazia a cobertura jornalística das manifestações. Outros jornalistas brasileiros, que estão no Cairo, viram-se obrigados a trocar de hotel, depois de terem os quartos invadidos para vistoria por autoridades de segurança.

Fonte: FNDC

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

REDES SOCIAIS - Um novo ícone da liberdade

Por Muniz Sodré

Na mesma edição (sábado, 29/1) em que noticiava o aumento da circulação de jornais no Brasil (alta de 2%no ano passado, segundo o IVC), O Globo mostrava com tintas fortes, em sua cobertura da revolta civil no mundo árabe, o papel estratégico da internet, dos celulares e das redes sociais.

Segundo o IVC e o jornal, a participação de mercado dos jornais populares não se alterou em relação à fatia dos chamados jornais qualificados, consolidando a tendência dos últimos anos. Para o gerente-geral de Mercado Leitor da Infoglobo, Alexandre Kabarite, "isso demonstra que, apesar de algumas dúvidas em relação ao futuro do jornal impresso, o mercado brasileiro ainda é bastante promissor para os leitores, anunciantes e editores".

Não deixa de ser auspicioso esse tipo de notícia para a classe jornalística como um todo, mas também não deixa de chamar a atenção do observador a evidência de que, em nenhum instante, se tocou no papel da imprensa tradicional na convulsão social do mundo árabe em demanda de mudanças políticas. O que se sabe com certeza é que o presidente Barack Obama proclamou a internet como um "ícone da liberdade", mídia sobre a qual o governo egípcio se empenha em exercer estreito controle.

Esse controle cresceu no momento em que milhares de pessoas passaram a enfrentar blindados nas ruas, o que levou a cortes esporádicos em redes sociais como Facebook e Twitter, e depois no SMS, três das principais ferramentas que ajudaram a alimentar os protestos. Verificou-se então aquilo que os analistas do setor têm chamado de "ciberguerra". Mas não se trata dos cenários de ataques terroristas imaginados por estrategistas militares americanos ou mesmo por roteiristas de cinema, e sim do confronto da sociedade civil com o poder de Estado.

Censura, modos de usar

Como bem se sabe, as fortalezas cibernéticas estão repletas de pontos vulneráveis em meio à complexidade técnica das conexões eletrônicas. A exemplo de uma rede de pesca, os vértices interligados da web deixam pequenos espaços vazios, por onde se infiltra a "contracensura". Cientes das brechas, mais de 16 milhões de internautas egípcios recorreram aos servidores proxy, que garantem o anonimato dos usuários e são muito conhecidos na luta contra a censura na China.

Há algo de notável em toda essa movimentação quando se leva em conta que, até mesmo um velho espaço urbano, como é o caso do Cairo, transmuta-se topologicamente em um novo, na medida em que se deixa atravessar pela lógica reticular (a lógica da rede) no nível das relações sociais.

Em tempos de crise ou de normalidade institucional, essa lógica caracteriza-se peladescentralização (não há uma posição única, e sim uma multiplicidade de conexões), pela interdependência coordenada dos elementos (o que implica tanto a solidariedade entre vizinhos quanto o comum das associações ou de grupos ligados por um mesmo projeto), pela abertura (capacidade de extensão da rede), pela particularização(formação de nichos relacionais no interior de um conjunto ou subconjuntos autônomos e legítimos), pela acessibilidade (a partir de um ponto, pode-se atingir qualquer outro) e pela mobilidade (liberação ou plasticidade dos movimentos). Estas características implicam desterritorialização – e reterritorialização – de espaços tradicionalmente demarcados.

Ao mesmo tempo, é um choque de realidade tomar conhecimento de que é possível ao Estado controlar todos os principais provedores de internet e telefonia celular, derrubando o sistema quando bem quiser. É precisamente o que ocorre no Egito, onde o governo, dando-se conta da insuficiência do controle sobre as redes sociais como o Facebook, simplesmente forçou as operadoras móveis a suspender os serviços.

Sem rede elétrica, sem telecomunicações, sem operadores, a censura acaba sendo exercida de modo semelhante ao que sempre ocorreu nos regimes de exceção, quando exército ou polícia invadia as redações de jornais, rádio e televisão, apreendendo equipamentos e prendendo jornalistas.

Dispositivo tradicional

Apesar do choque, é forçoso constatar que existe mesmo uma nova lógica informativa, subversiva do modelo tradicional, em que o fatos de uma sociedade presumidamente pronta e constituída eram transmitidos a um público-leitor por uma corporação profissional que se industrializou progressivamente ao longo da História – a dos jornalistas. Agora, o complexo informacional conhecido como "mídia" não ocupa mais o lugar de mera correia de transmissão de relatos, porque é um verdadeiro sistema ou um dispositivo capaz de conformar aspectos da própria sociedade.

"Eu chamo dispositivo tudo aquilo que tem, de uma maneira ou de outra, a capacidade de capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e de assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos seres vivos", explica o filósofo italiano Giorgio Aganbem. Dispositivos – telefone portátil, computador, televisão, automóvel etc. – não são, para ele, meros objetos de consumo, e sim funções estratégicas (sempre inscritas em jogos de poder) na disseminação de novas subjetividades.

O jornal confirma-se agora como um dispositivo tradicional, aparentemente mais exultante com a sua própria sobrevida (refletida nos números do IVC) do que com a esfera pública, que animou politicamente no passado. Se o "ícone da liberdade" era o impresso no tempo de Benjamin Constant, passa a ser o virtual na era de Barack Obama.

Fonte: Observatório da Imprensa

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Tecnologia Egípcios driblam bloqueio da internet com tecnologia 'retrô'

Redação Terra

Aparelhos com tecnologias já antigas como máquinas de fax, aparelhos de rádio amador e modems discados estão ajudando manifestantes egípcios a evitar o bloqueio imposto pelo governo à circulação de informações.

No dia 27 de janeiro, a internet foi quase que inteiramente bloqueada no Egito por ordem do governo, devido à onda de protestos contra o regime do presidente Hosni Mubarak. Mas nessa situação, as tecnologias "velhas" continuaram funcionando e provaram ser uma saída para os manifestantes.

Por meio delas os ativistas estão tendo acesso a informações vindas do exterior e também circulam dicas sobre como evitar mecanismos de controle de informação dentro do Egito.

Listas de números
Modems discados têm sido uma das mais populares rotas para que os egípcios consigam utilizar a internet. Extensas listas de números internacionais que podem ser conectados aos aparelhos estão circulando no Egito, graças a ativistas da internet.

Provedores de internet em vários países como França, Estados Unidos, Suécia e Espanha montaram redes de modems que aceitam chamadas internacionais de modo a receber e passar informações para os manifestantes. Muitos até abriram mão da cobrança de taxas para permitir que mais pessoas se conectem.

Mas são poucas as linhas telefónicas egípcias que permitem realizar chamadas internacionais que permitam uma conexão com os modems. O blog Manalaa deu dicas sobre como usar conexão discada utilizando bluetooth, um telefone celular e um laptop. De acordo com o blog, o custo das chamadas internacionais pode ser "caro", mas ele é bom o suficiente para "comunicação urgente". O texto foi publicado em vários blogs, copiado e enviado por muitos outros.

O grupo We Re-Build, que milita por acesso de internet sem monitoramento em toda a Europa, disse que também está acompanhando algumas frequências de rádio amador e que vai repassar quaisquer mensagens recebidas, seja por voz ou por código morse.

Máquinas de fax também vêm sendo utilizadas por ativistas online e outros que buscam contactar pessoas dentro do Egito e passar informações sobre como restaurar o acesso à internet. O grupo de ativistas da internet conhecido como Anonymous, por exemplo, vem utilizando faxes para passar informações para estudantes em diversas escolas do país.

Ajuda internacional
Apesar de a maior parte das conexões de internet do Egito ter sido suspensa, o provedor egípcio Noor parece ter ficado online em grande parte porque ele conecta a Bolsa de Valores do país e as filiais egípcias de muitas empresas ocidentais com outras nações.

Relatos vindos do Cairo sugerem que muitas empresas e pessoas que são assinantes do Noor retiraram as suas senhas, de modo a permitir que outros possam "pegar carona" em suas conexões Wi-Fi. Militantes também divulgaram um documento intitulado Vinte Maneiras de Contornar o Bloqueio da Internet pelo Governo Egípcio, contendo as formas mais eficazes de permitir que a população do país troque informações.

Alguns egípcios relataram ter conseguido utilizar sites como Google, Twitter e Facebook utilizando os endereços numéricos desses sites em vez de o nome deles em inglês. As redes de telefone celular também não escaparam à interferência oficial. Na sexta-feira, a companhia Vodafone Egypt disse ter sido bloqueada em algumas áreas, assim como todas as demais operadoras do país.

Para contornar esse bloqueio, ativistas fizeram circular os telefones de centrais de envios de mensagens, o que permitiu que alguns locais seguissem usando serviços como o Twitter.

Fonte: Terra

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Governo de transição fecha canal de TV privado

Por Leticia Nunes (edição) e Larriza Thurler

O governo provisório da Tunísia fechou o Hannibal TV, um dos mais populares canais do país, na noite de domingo [23/1]. Segundo uma agência de notícias estatal, a emissora privada estaria tentando "abortar a revolução dos jovens, espalhar confusão, incitar conflitos e transmitir informações falsas" que poderiam "criar um vácuo constitucional e desestabilizar o país para levá-lo a uma espiral de violência com o objetivo de restaurar a ditadura do ex-presidente". O dono do canal foi preso.

Um porta-voz do Hannibal afirmou que o governo simplesmente interrompeu o sinal, sem aviso ou explicações. "O dono apoiava a revolução, dando voz às pessoas", afirmou. A Tunísia encontra-se em crise depois que protestos contra o desemprego, liderados por jovens e estudantes, acabaram crescendo a tal ponto que obrigaram o presidente Zine el-Abidine Ben Ali, criticado pelo autoritarismo político, a deixar o país. Um governo de coalizão foi instalado, mas ainda conta com muitos membros do antigo partido de situação, incluindo o primeiro-ministro, Mohamed Ghanuchi – o que tem provocado ainda mais protestos. Eleições serão realizadas em seis meses.

Teste

O dono da emissora seria parente da mulher de Ben Ali. Ainda assim, o canal não teria relação lá muito amigável com o governo. Desde a queda do presidente, sua programação política e noticiosa tem, em grande parte, ecoado as manifestações pela saída do antigo partido de situação do governo de transição.

Na manhã de segunda-feira [24/1], o Hannibal voltou ao ar. Mas o breve fechamento foi suficiente para aumentar as críticas às autoridades do antigo regime, e o destino do canal é visto como um importante teste para o compromisso do governo interino com as liberdades civis. Com informações de David Kirkpatrick.

Fonte: Observatório da Imprensa

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ativista chinesa é condenada a um ano de trabalho forçado por mensagem no Twitter

Redação Portal IMPRENSA

Autoridades da China condenaram a ativista de direitos humanos chinesa, Cheng Jianping, a passar um ano em um campo de trabalho forçado por ter enviado uma mensagem em seu perfil no Twitter, em que ironizava a onda de protestos no país contra a presença do Japão na Expo Xangai. Cheng foi acusada de perturbação da ordem social, e passará por um período de "reeducação por meio do trabalho".


Segundo informou a organização não-governamental (ONG) Anistia Internacional, Cheng havia "retuitado" uma mensagem de seu namorado, Hua Chunhui, em que ele ironizava os movimentos antijaponeses que acontecem no país desde setembro, e dizia que os manifestantes deveriam destruir o estande do Japão na Expo Xangai para "provocar o inimigo". A chinesa também publicou outro tweet, como se convocasse seus compatriotas. "Ataque, juventude raivosa".

A chinesa havia desaparecido dez dias depois de ter postado a mensagem no Twitter, no dia em que iria se casar, e reapareceu na última segunda-feira (15), data em que foi condenada. Para o diretor da ONG na Ásia, Sam Zarifi, a sentença aplicada pela China à ativista mostra o quanto o país reprime as publicações online. "Sentenciar alguém a um ano num campo de trabalho, sem julgamento, só por repetir observação claramente satírica de outra pessoa no Twitter revela o nível de repressão on-line na China", disse.

Já o namorado de Cheng informou que a ativista havia assinado um abaixo-assinado que pede a libertação do ganhador do Nobel da Paz, o dissidente chinês Liu Xiaobo, condenado a 11 anos. Para Chunhui, a sentença aplicada à chinesa poderia ser uma forma de puni-la por apoiar Xiaobo.

O microblog é um dos sites bloqueados pelo governo chinês, mas alguns internautas conseguem burlar a censura. Cheng já havia sido detida por cinco dias em agosto, após manifestar apoio ao vencedor do Nobel, que defende a liberdade de expressão e o uso de meios de comunicação eletrônicos, como a Internet, para acabar com a censura no país. Até o momento, as autoridades judiciais da China não comentaram o caso.

Em setembro, o governo chinês impediu a circulação da revista literária Coro de Solistas, editada pelo escritor chinês Han Han, e que é considerado o blogueiro mais lido mundo. As autoridades do país alegaram que a publicação não possuía uma licença específica para circular na China.

Fonte: Portal IMPRENSA


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Mídias impressas no Irã podem ser fechadas caso publiquem matérias sobre oposição

Redação Portal IMPRENSA

O Ministério da Cultura do Irã alertou as mídias impressas do país que, caso publiquem notícias sobre a oposição, serão fechadas. Segundo analistas, a medida pretende eliminar os críticos ao governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

O Ministério da Cultura iraniano é o responsável por supervisionar as atividades da imprensa local e estrangeira no Irã. O representante do órgão, Ehsan Ghazizadeh, disse que, além de publicar matérias sobre a oposição, os veículos não podem divulgar declarações e fotos dos oposicionistas.

De acordo com informações da Reuters, alguns ativistas que lutam por reformas políticas no país foram presos e condenados a vários anos de prisão nas últimas semanas. Além disso, sites e publicações pró-reformistas foram fechados desde a polêmica eleição presidencial em junho de 2009, que reelegeu Ahmadinejad.

A proibição feita aos veículos impressos do Irã dificulta o contato entre líderes da oposição, como os candidatos derrotados Mirhossein Mousavi e Mehdi Karoubi, e os iranianos.

Na última semana, a correspondente do jornal El País em Teerã, Ángeles Espinosa, teve o visto suspenso no Irã. A jornalista havia sido detida em julho após entrevistar Ahmad Montazerí, filho do falecido ayatolá reformista Hosein Ali Montazerí. Desde que foi presa, Ángeles estava sem sua credencial de imprensa.

Fonte: Portal IMPRENSA

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Associação Mundial de Jornais pede ao governo argentino que pare de 'atacar a imprensa'

Por Ingrid Bachmann

A Associação Mundial de jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA, na sigla em inglês) solicitou à presidente Cristina Kirchner mais respeito às normas internacionais de liberdade de expressãos e o fim “dos ataques de seu governo contra os meios de comunicação independentes”.

A WAN-IFRA, que agrupa editores de mais de 18 mil jornais e revistas de todo o mundo, acaba de realizar sua assembleia anual em Hamburgo, na Alemanha, onde expressou sua preocupação com o que considera ações “que atentam contra a imprensa livre e independente” na Argentina, afirma o La Nación.

O governo argentino mantém uma relação conflitosa com os principais grupos midiáticos do país, tensões que inclusive chegaram aos tribunais. Entre as medidas questionadas pela WAN-IFRA estão a distribuição da publicidade oficial e as ações judiciais envolvendo a principal produtora de papel-jornal do país, a Papel Prensa, adiciona a Perfil.

Fonte: FNDC

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Em dois anos, Brasil sofreu 70 atentados contra a liberdade de imprensa, diz ANJ

Redação Portal IMPRENSA

Um relatório divulgado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), na última segunda-feira (27), revelou que a imprensa brasileira teria sofrido 70 atentados contra a liberdade de informação nos últimos dois anos.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o levantamento, sobre a Liberdade de Imprensa no País, lista casos de censura, ameaças, agressões a jornalistas e outras formas de pressão contra o direito de informar, entre agosto de 2008 a setembro de 2010.

O diretor-executivo da ANJ, Ricardo Pedreira, afirmou que a situação é preocupante, pois todos os casos "representam flagrante desrespeito à Constituição do País". O relatório da entidade destaca os números de ordens judiciais impondo censura aos meios de comunicação: dos 70 casos, 26 se referem a decisões do Poder Judiciário, além da determinação de 10 medidas restritivas pela Justiça Eleitoral.

A ANJ ressalta, ainda, o aumento da quantidade de decisões judiciais que proíbem jornais de divulgar matérias sobre determinados temas ou conteúdo, seja em período eleitoral ou não. Durante o período do levantamento, o Comitê de Liberdade de Expressão denunciou 20 casos de censura, segundo a entidade.

O relatório incluiu dois casos de censura ao Estadão. O primeiro, que impede o jornal de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga o empresário Fernando Sarney, filho de José Sarney. O segundo, que aconteceu na última sexta (24), quando o Tribunal Regional Eleitoral de Tocantins (TRE-TO) proibiu o Estado e outros 83 veículos de comunicação de citarem o nome do governador Carlos Gaguim (PMDB) em um caso de investigação de fraude em licitações públicas.

A liminar, concedida pelo desembargador Liberato Póvoa, favoreceu a coligação de Gaguim, "Força do Povo" (PMDB, PT, PP, PDT, PSB, PPS, PSL, PSDC, PHS, PCdoB e PRP). Porém, o governador - e candidato à reeleição - voltou atrás e, na última segunda, pediu a suspensão da censura.

Fonte: Portal Imprensa

TRE do Tocantins suspende censura à imprensa

Redação FNDC

O Plenário do Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins suspendeu nesta segunda-feira (27/9), por 4 votos a 2, a liminar que proibia veículos de comunicação de publicar informações sobre a investigação do Ministério Público de São Paulo contra o governador do estado, Carlos Gaguim (PMDB). Ele é candidato à reeleição e é acusado de fraudes em licitações, de acordo com informações da Agência Brasil.

A liminar foi concedida pelo desembargador Liberato Póvoa, que entendeu que a investigação corria sob sigilo e que as informações foram obtidas ilegalmente pela imprensa. Segundo os advogados de Gaguim, seus adversários políticos estavam usando reportagem da TV Anhanguera, afiliada da TV Globo na região, a respeito da investigação, para atacá-lo durante a campanha eleitoral.

Além da TV Anhanguera, outros 83 veículos de comunicação foram atingidos pela decisão: oito jornais, dez emissoras de TV, 20 rádios comerciais, 40 rádios comunitárias e cinco sítios de internet. O desembargador fixou multa de R$ 10 mil por dia em caso de desobediência.

Nesta segunda pela manhã, o advogado da coligação, Sérgio do Vale, entrou com um novo pedido na Justiça Eleitoral do Tocantins. Queria a revogação da liminar concedida pelo desembargador Póvoa, “uma vez que o dano causado já se tornou irreparável”, e também que a proibição atinja apenas os adversários, que usam as informações sobre Gaguim na propaganda eleitoral (carros de som, propagandas em rede e inserções na televisão e rádio). O novo pedido ainda não foi julgado.


Fonte: FNDC

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Governador do TO recua e pede suspensão de censura a 84 veículos de imprensa

Redação Portal IMPRENSA

A coligação "Força do Povo" (PMDB, PT, PP, PDT, PSB, PPS, PSL, PSDC, PHS, PCdoB e PRP), que apoia a reeleição do governador do Tocantins Carlos Gaguim (PMDB), entrou com um pedido no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-TO), nesta segunda-feira (27), para suspender a decisão que proibia 84 veículos de imprensa de citar o nome do político em um caso de investigação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), sobre uma organização criminosa que cometia fraudes em licitações públicas.

Segundo o portal Último Segundo, a coligação afirmou que a censura valeria apenas para os programas do horário eleitoral gratuito veiculados no Estado. O governador declarou que não é a favor da censura, e que em seu governo "nunca teve e nem nunca terá mordaça" aos veículos de imprensa. "Isso aí que nossos adversários estão falando, e estão fazendo publicar, deixa falar. Deixa fazer o que quiserem. É desespero", disse Gaguim.

A decisão de impedir que os veículos de mídia do Tocantins divulgassem informações sobre a investigação do MP paulista foi tomada pelo desembargador Liberato Póvoa. O magistrado alegou que o caso corre em segredo de Justiça, e que as notícias sobre o suposto envolvimento de Gaguim no caso teriam sido expostas após o roubo de um computador. "A liberdade de expressão não autoriza a veiculação de propaganda irresponsável, que não se saiba a origem, a fonte", disse.

A censura do TRE-TO atingia oito jornais - incluindo O Estado de S. Paulo -, 11 emissoras de televisão, 40 rádios comunitárias e 20 comerciais e cinco portais de notícias. Caso os veículos descumprissem a medida, teriam que pagar multa de R$ 10 mil por dia.

Fonte: Portal IMPRENSA

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Lula defende controle da imprensa

Por Gilson Cavalcante

Durante solenidade de inauguração de trecho da Ferrovia Norte-Sul nesta terça-feira – que custou R$ 821 milhões – no Tocantins, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a liberdade de expressão, "deve ser respeitada”, mas acrescentou: “os veículos de comunicação têm que ter controle”.

Lula disse ainda que vai fazer a maior capitalização da humanidade na próxima semana, com a Petrobras, mas não revelou detalhes. Ao falar sobre o programa Bolsa Família, o presidente destacou que no seu Governo os pobres “foram privilegiados com financiamentos”.

Na avaliação de Lula, antes, só rico é que “tomava emprestado. Agora não, o governo faz isso é com o pobre, porque o pobre paga suas contas”. E criticou os adversários que chamavam o programa Bolsa Família de “esmola” quando foi criado. Lula disse ainda que durante os quase oito anos de mandato conseguiu “arrumar a casa e pagar o FMI,” o Fundo Monetário Internacional.

Solenidade

A solenidade de inauguração do trecho da Ferrovia Norte-Sul que liga Colinas a Porto Nacional foi transmita pela TV Palmas, emissora estatal afiliada TV Brasil. O senador José Sarney (PMDB), presidente do Senado, fez parte da comitiva. Sarney lembrou, em discurso, que no seu mandato de presidente que a Ferrovia Norte Sul foi lançada.

O Presidente Lula chegou a Palmas às13h40, acompanhado do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e dos Transportes, Paulo Sérgio (interino). No aeroporto de Palmas, foi recepcionado pelo governador Carlos Henrique Gaguim (PMDB), auxiliares de governo.

Gaguim estava acompanhado de outros candidatos da coligação “Força do Povo,” Paulo Mourão (PT), Marcelo Miranda (PMDB). Na recepção também estavam aliados de Siqueira Campos (PSDB), João Ribeiro e Vicentinho Alves, ambos do PR. Siqueira e Gaguim disputam o governo do Tocantins.

Durante toda extensão do percurso que o presidente fez via terrestre, vários carros pilotados com candidatos da coligação “Força do Povo” aguardavam espalhados pela Avenida Teotônio Segurado.
Lula chegou ao pátio acompanhado, no vagão principal, do vice-governador do Estado, Eduardo Machado (PDT), do presidente da Valec – Engenharia, Construções e Ferrovias S/A, José Francisco das Neves (Juquinha), de José Sarney (PMDB) e da prefeita de Porto Nacional, Tereza Martins (PDT).

Obra

O trecho de 256 km da Ferrovia Note-Sul inaugurado nesta terça-feira, liga o Pátio Multimodal de Colinas do Tocantins ao Pátio Multimodal de Palmas/Porto Nacional. Fica localizado a 20 km da Capital. De acordo com o presidente da Valec, foram investidos recursos na ordem de R$ 821 milhões na construção do trecho.

Fonte: IG

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Interpretações de um termo controverso

Por Eugênio Bucci

Eu tinha acabado de concluir a graduação na ECA quando li O que é Biblioteca, escrito pelo meu professor Luís Milanesi. Um livro pequeno e essencial. Saiu pela Brasiliense, onde trabalhei por aqueles tempos. Eu me lembro bem do efeito que me produziu uma frase curta, que pareceu saltar da página para me bater na cara: "A imprensa no Brasil nasceu depois da censura". (O que é Biblioteca foi lançado em 1983. Tenho aqui comigo a edição de 1985, e a frase está lá, na página 29.) Dei com aquela oração de oito palavras e tive um baque. "Taí", pensei na hora. "Eis aqui um traço constitutivo na formação do Brasil." Hoje relativizo um pouco a minha primeira impressão: aprendi a duvidar dessas generalizações peremptórias e tenho mais cautela diante de conceitos por demais abrangentes como "o caráter nacional". Mesmo assim, a frase ainda faz parte das minhas lembranças, por assim dizer, fortes.

Não considero que essa contingência – a censura ter aparecido cronologicamente antes da imprensa – tenha definido um pendor autoritário, para todo o sempre, no tal "caráter brasileiro". De uma forma ou de outra, em quase todos os países, com exceção daqueles que viveram rupturas mais nítidas, como França ou os Estados Unidos, a imprensa e o poder tiveram de negociar espaços indefinidamente. Nem por isso, esses países fincaram pé na intolerância eterna. Portanto, não quero aqui absolutizar, de modo algum, essa particularidade brasileira. Nem se pode exagerar o peso da contingência de que falo agora, nem somos uma nação de intolerância contumaz. Mesmo assim...

A corte chega ao Rio

Vejamos um pouco mais de perto como foi essa história da censura que veio antes da imprensa. Sabemos que, antes de 1808, como colônia, as terras brasileiras não podiam hospedar nenhuma tipografia nem qualquer coisa que fosse parecida com isso. O panorama sofreu uma grande mudança com a vinda da corte portuguesa de Lisboa para o Rio de Janeiro, em 1808. Nos primeiros meses daquele ano, a burocracia estatal da Coroa se transplantou para as praias cariocas. Com a burocracia, veio a legislação censória. Ou seja: a censura se estabeleceu aqui antes do lançamento do diário oficial de D. João (A Gazeta do Rio de Janeiro), que surgiu em setembro de 1808, e também antes do lançamento do Correio Braziliense, que saiu do prelo um pouco antes, em junho do mesmo ano.

O Correio Braziliense é considerado o marco inaugural da nossa imprensa. A Gazeta nasceu mais tarde e, além disso, era um órgão estatal e governamental, não poderia ser classificada como veículo jornalístico. O Correio, sim, era uma voz crítica e independente. Seu editor era Hipólito da Costa, uma inteligência crítica, sem a menor dúvida. Brasileiro nascido em terras hoje uruguaias, Hipólito foi viver em Portugal e, lá, exerceu o cargo de Diretor da Junta da Imprensa Régia. Sua carreira sofreu um revés em 1802, quando ele foi preso pela Inquisição, acusado de integrar a maçonaria. Para sorte da imprensa brasileira, ele conseguiu fugir das grades e se exilar na Inglaterra em 1805. Três anos mais tarde, criou o seu jornal, que se manteve até 1822, sempre impresso em Londres.

Produto do exílio

Além da censura geral, aquela que valia para todos e que obrigava qualquer publicação a ser previamente examinada pelas autoridades antes de obter permissão para circular, o Correio foi nominalmente proibido, em especial e em definitivo. O veto específico vigorou entre 1809 e 1822. Mas, graças aos préstimos do contrabando, alcançou seus leitores nestas plagas. Muitos leitores – entre os quais, o próprio rei, que impunha a lei da censura e, no recôndito das informalidades nacionais, desobedecia a si mesmo. A ambigüidade das relações entre o poder e a imprensa, aliás, nascia aí, como marca registrada desta terra.

Creio que Alberto Dines, um estudioso da vida de Hipólito da Costa, concordará comigo se eu disser que, além de nascer depois da censura, a imprensa no Brasil também nasceu no exílio. Isso mesmo, no exílio. Se não tivesse se refugiado na Inglaterra, Hipólito teria sido preso de novo. O exílio era um pré-requisito de sua liberdade. É certo que, depois, ele se recomporia com D. João, e se pacificaria de vez com o Estado brasileiro após a proclamação da independência: quando morreu, em 1823, aos 49 anos, em Londres, tinha acabado de aceitar um posto diplomático que lhe fora oferecido pelo governo brasileiro, já sob o comando de D. Pedro I. Mas isso não muda o fato histórico: foi no exílio que, ao longo de 175 números, existiu o primeiro jornal da nossa história.

Cai bem aqui uma referência bibliográfica. Então, vamos lá. O jornalista Laurentino Gomes conta essa história em 1808 (São Paulo: Planeta, 2007, p. 136). Há muito mais em A longa viagem da biblioteca dos reis: do terremoto de Lisboa à independência do Brasil, de Lilia Moritz Schwarcz (São Paulo: Companhia das Letras, 2002). Além, é claro, da edição comemorativa dos 200 anos do Correio Brasiliense organizada por Alberto Dines para a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, em 2008.

Censuradinha básica – só para prevenir

Essas marcas de nascença – a censura que vem antes e o exílio como sede da redação – inseminaram a nossa cultura oficial. Não a determinaram, por favor: a relação aqui não é de determinação. Mas, sem dúvida, muito provavelmente, exerceram aí uma inspiração, uma influência. Desconfio que esse tipo de providência preventiva, como censurar por antecipação, passou a habitar o "piloto automático" do poder em relação ao debate público, mesmo que depois, ali, na informalidade, a autoridade se permita afrouxar um pouco o freio. Penso nisso ainda hoje, quando vejo magistrados que atendem pedidos de impor censuras prévias a órgãos jornalísticos. Na dúvida, bem, na dúvida é melhor dar ali uma censuradinha básica. Só para prevenir. Como eu já disse, não quero aqui localizar o nosso "caráter nacional", mas a permanência dessa ilusão – a de que o controle prévio sobre a manifestação das idéias seria capaz de nos abrigar em segurança e conforto – não deixa de ser um componente bem peculiar do nosso modo de viver em sociedade.

Tenho repetido – e isso me cansa um pouco, assim como há de cansar ainda mais os leitores que generosamente me acompanham – que, à esquerda e à direita, os agentes políticos desta nossa terra cultivam apaixonadamente essa ilusão. A idéia de que a comunicação social é uma ferramenta do poder – ou contra o poder – e não uma instância de diálogo entre cidadãos livres é muito profunda entre nós. Muito mais profunda do que gostamos de admitir. A obrigatoriedade de retransmissão do programa A Voz do Brasil, defendida ferrenhamente por parlamentares de esquerda e de direita, tem a ver com isso. Essa expressão, controle social dos meios de comunicação, também tem a ver com isso. Por meio dela, o velho impulso de controlar tudo volta à cena.

Amontoado de caixas pretas

Eu lembro bem – isso aconteceu um pouquinho depois da volta de D. João VI a Portugal, aconteceu ali por volta de 1980, 1990 – quando começamos a falar nesse tal de controle social dos meios de comunicação. O que é que se queria dizer com essa expressão? Era simples, claro, óbvio. Controle social dos meios de comunicação significava um regime de transparência e impessoalidade na condução dos processos de concessão de canais de rádio de televisão, pelo poder público, a particulares. Naqueles tempos, o Ministério das Comunicações era um amontoado de caixas pretas. Era impossível saber quem era dono de que concessão, por que período, com que abrangência geográfica, desde quando e até quando. Era tudo secreto. Estatal e, ao mesmo tempo, secreto. A coisa era pública, mas o controle sobre ela era inteiramente sigiloso, totalmente privatizado pelos burocratas em entendimentos promíscuos com políticos e empresários do setor (não raro, políticos e empresários do setor ao mesmo tempo). Há quem diga que pouca coisa mudou desde então. Às vezes me parece que pouca coisa mudou de fato, mas não vou agora lavar essa roupa suja uma vez mais. Sigo adiante. Estou aqui num diletantismo etimológico – não estou fazendo crítica do Ministério das Comunicações.

Naqueles tempos, falar em controle social significava afirmar o princípio de que a sociedade tinha o direito de saber e de controlar, democraticamente, os negócios de concessão, mais ou menos como a mesma sociedade controla os governantes, ao menos em parte, por meio das eleições (as eleições, nesse sentido, são uma forma de controle social sobre o exercício do poder), ou como a tramitação dos projetos de lei no Legislativo segue ritos que asseguram fiscalização e acompanhamento transparente desses projetos pelos representantes do povo e, muitas vezes, pelos cidadãos, diretamente.

Enfim, controle social queria dizer isso: controle da sociedade sobre os negócios mal explicados que se escondiam em escaninhos obscuros de um Estado opaco e labiríntico. O controle social seria a força contrária ao controle indevido da radiodifusão exercido por mãos ilegítimas e mesmo ilegais.

Pequena confusão


Mas os tempos foram mudando. Mudaram e mudaram. O sentido dessa expressão se perdeu. O significado da expressão controle social dos meios de comunicação também foi mudando, mudando, sem que a situação original contra a qual ela surgiu mudasse no mesmo ritmo. Recentemente, há quem fale em controle social querendo dizer nada menos que controle oficial sobre os conteúdos de jornais, revistas e emissoras. Isso nada mais é que censura, mas alguns passaram a entender isso aí por controle social. Dizem algo como "deixa que o governo de esquerda vai lá e faz um controle social em cima deles e aí eles vão ver o que é bom pra tosse". Ora, se controle social passou a significar controle oficial do que as pessoas dizem, em blogs ou em grandes redes nacionais de televisão, estamos todos fritos – e controlados. Mas tem gente que quer precisamente isso.

Há também aqueles que acham que controle social é uma assembléia permanente dos movimentos sociais organizados, algo por aí, ditando normas sobre o que pode e o que não pode ser veiculado nos tais dos meios de comunicação. Claro, claro, com a bênção da mão bruta do Estado que herdamos de D. João. O controle social, nesse caso, virou sinônimo de controle sindical. Onde os movimentos supostamente organizados da sociedade supostamente civil dão todas as cartas, os milhões e milhões de cidadãos desorganizados estão fritos – e controlados. Mas tem gente que quer também isso, ardentemente.

Cabe à sociedade, não ao governo

Oh, pá, já escrevi muito e estou com preguiça – e a minha preguiça, toda ela, também é culpa de D. João VI. Tudo bem: é culpa, do mesmo modo, de Macunaíma e dos ensandecidos que acreditavam na essência do caráter nacional – ou na essência da falta dele. Estou com preguiça. Mesmo assim, ainda tenho fôlego de dizer que é preciso tomar cuidado.

Controle social dos meios de comunicação pode querer dizer o oposto daquilo que já significou um dia: o oposto de transparência, o oposto de impessoalidade, o oposto de liberdade. Controle social pode querer dizer mais opacidade, mais partidarismo, mais desmandos, mais cartel, mais clientelismo e mais, muito mais patrimonialismo (com um figurino sindicaleiro). Se os tais meios de comunicação não se comportam direitinho, lá vai o governo e dá uma "democratizada" neles, preventivamente, aplica-lhes um "controle social" na veia. É uma sandice. Em nenhuma hipótese, os meios de comunicação deveriam ser da competência de governos. O mercado da radiodifusão, sim, pode ser objeto de regulamentação, por lei, e de regulação, por agências específicas, mas a presença do governo no controle de conteúdo é, em qualquer hipótese, desastrosa. Não por acaso, num texto de 1994, sobre a democracia dos meios de comunicação, eu mesmo escrevi que "não se deve esperar de um governo a mudança desse quadro" [o quadro desequilibrado de distribuição dos canais de rádio e televisão e as distorções de conteúdo que daí decorriam]. Eu dizia que a adoção de regras democráticas para o setor seria uma obra da sociedade, não do governo. E escrevi mais: "Seria uma utopia totalitária esperar isso de um governo." Pois hoje, aqui e ali, a gente vislumbra indícios de que um ou outro ainda acalentam utopias totalitárias. É tenebroso. Se controle social for isso...

Tudo é tudo e nada é nada


Mas, afinal, o que é mesmo que quer dizer essa expressão, controle social dos meios de comunicação? Não dá mais para saber. Ela foi se tornando inútil, esvaziada, morta. Cada um dá a ela o sentido que bem entende, e, quando a coisa chega nesse nível de imprecisão, a gente acaba caindo naquela filosofia de Tim Maia, na qual tudo é tudo e nada é nada.

Pelo sim pelo não, desse controle social aí, esse que quer dizer controle oficial, e também desse que quer dizer controle sindical, desse aí a democracia está fora. Um pouco de desconfiança é de bom tom. Esse discurso que posa de esquerda mesmo na boca de quadros notórios da ditadura militar – vivemos um tempo em que até José Sarney anda declarando que "a mídia se tornou inimiga das instituições representativas", ele mesmo, José Sarney, cuja família é dona de um grupo de mídia nada desprezível, nada alternativo – pende mais para a autoridade que controla do que para a sociedade que critica. É mesmo bom desconfiar quando alguns agentes políticos que saem falando muito testosteronicamente em controle social pretendam apenas intimidar os críticos. Preventivamente. Não esqueçamos que, em nossa cultura de Estado, nós abrigamos a censura antes mesmo de abrigar a imprensa.

São tempos ingratos. Ninguém mais precisa ir para o exílio para criar um jornal, é verdade. É que hoje o exílio não é geográfico: ele é simbólico.

Fonte: Observatório da Imprensa