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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Deus veio para a mídia

Por Deonísio da Silva

Fez bem a revista Superinteressante em dar capa a Deus no número de novembro. Afinal, em outubro, Deus, por ínvios caminhos, esteve na pauta da mídia de um modo ou de outro, às vezes trazido de falas de bispos, padres e pastores, outras vezes ressoando por temas de domínio conexo nos programas dos dois candidatos que chegaram ao segundo turno. Esses temas frequentaram igualmente o programa da candidata que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, por tratar-se de pessoa formada nas comunidades eclesiais de base da igreja católica.

Todavia Marina Silva trocou de partido, deixando o PT para migrar para o PV; e de religião, migrando dos católicos para os evangélicos. Dilma Rousseff e José Serra também apresentaram ingrediente religioso nas respectivas campanhas, seja nas missas a que compareceram, deixando-se fotografar e filmar (José Serra chegou a comungar sem confessar, numa delas), seja nos complexos argumentos religiosos invocados para defender a vida e fixar posição contra o aborto. Como se em plena modernidade não fosse possível defender a vida sem incorrer no pecado de "invocar seu santo nome em vão".

Motivos plurais

Deus não atrapalha ninguém na defesa da vida, mas se alguém quisesse, por hipótese, defender a morte, encontraria, principalmente no Antigo Testamento, um Deus que se propõe a exterminar a oposição, não a dos demônios, mas a dos homens. As chacinas de estrangeiros patrocinadas pelo Deus de Israel, o Senhor dos Exércitos, são um espanto. O Jeová do Antigo Testamento é mesmo durão! Felizmente, a civilização datada dos tempos d.C., inaugurados ainda no primeiro século do primeiro milênio, alicerçou-se no supremo mandamento "amai-vos uns aos outros". O discurso pacífico não impediu, porém, que os massacres continuassem, irrompendo em séculos sangrentos.

Hoje mesmo nossa civilização é herdeira de duas guerras mundiais na primeira metade do século passado e de numerosos conflitos que trazem no bojo o ingrediente religioso. Mata-se em nome de Deus, tenha ele o nome que tenha, seja Deus ou Alá. Mata-se em campos de batalha, mata-se nas ruas, mata-se em casa e matam-se nascituros fora ou dentro do ventre das mães, por aborto, inanição, desnutrição, fome etc. Por que então o aborto ganhou a primazia das mortes a evitar?

Infelizmente a mídia submeteu-se aos discursos dos candidatos e nem ela mesma foi capaz de fixar uma defesa leiga da vida, como se precisássemos de temperos religiosos para sermos éticos, justos, humanitários, compassivos, solidários, preocupados com o outro, que, vivendo ou não em nosso mundo, faz por merecer o nosso respeito. Misturar isso já resultou em Inquisição, em genocídios, em diversas formas de excluir o outro do convívio, por ser de outra cor, por ser pobre, por morar em tal ou qual lugar do mundo e não em nossos domínios imediatos; enfim, os motivos são plurais, mas todos têm um só e mesmo objetivo: a exclusão. Se todas as estratégias falharem, ainda temos a guerra e a morte, no varejo ou no atacado, para resolver os conflitos.

Invocação indevida

Superinteressante, diferentemente dos programas dos candidatos à presidência da República, não perde a oportunidade de informar e formar, duas coisas que os programas de todos os partidos esqueceram, fixando-se num combate, como se os programas de televisão fossem arenas e não passarelas. O que diria o público se num desfile espetacular de modelos, Gisele Bündchen puxasse os cabelos da concorrente, baixasse o biquíni de outras candidatas e mostrasse ocultas cicatrizes, marcas para disfarçar celulites e outras imperfeições de pele ou aludisse ao passado delas, proclamando o seu como exemplar?

Seria difícil escolher a vencedora. Pois, chutatis chutandi, foi mais ou menos esse o quadro apresentado aos eleitores. Não admira que tenha sido a campanha presidencial que menos interesse despertou no distinto público. E o resultado está aí: por insondáveis ou claros motivos, 36.339.177 eleitores não votaram em nenhum dos dois candidatos. Esta foi a soma de abstenções, votos nulos, votos em branco.

José Serra, o candidato derrotado, teve 43.711.388. E a vencedora, a primeira mulher eleita presidente da República, teve 55.752.529 votos. Aqueles que, de um ou modo ou de outro, não votaram nela, somaram 80.050.565 eleitores. Mas agora ela é a presidente da República de todos os brasileiros, inclusive daqueles que ainda não são eleitores, alguns dos quais vão nascer depois que ela for diplomada e tomar posse.

São obviedades? São. Mas são dados muito importantes. E Deus não poderá ser invocado como desculpa para novos fracassos e incompetências que nos impeçam de resolver problemas seculares que afligem o Brasil.

Fonte: Observatório da Imprensa

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

JN e o meteorito de papel

Por Washington Araújo

Ânimos exaltados fazem aflorar ainda mais a partidarização da imprensa no corrente pleito de 2010. Esta é uma campanha presidencial sui generis. Tudo o que não é fato vira notícia e tudo o que tem potencial de notícia deixa de ser divulgado. Chama a atenção o vocabulário corriqueiro dos candidatos à Presidência da República: o adversário é sempre mentiroso, não importa qual seja a situação, a mentira antecede o depoimento, a desfaçatez nubla a face da verdade e o que acusa o outro de mentiroso o faz sem a contração de qualquer músculo facial.

Na tarde da quarta-feira (20/10), no Rio de Janeiro, tivemos o próprio "Efeito Borboleta": uma simples bolinha de papel, pesando não mais que 5 ou 8 gramas, bateu na cabeça do candidato José Serra. Mas foi suficiente para produzido o festejado efeito cinematográfico: ocupou espaço nobre no Jornal Nacional, edição mais que caprichada com direito a inserção de vídeo com foto, de entrevista de médico com áudio de repórter, ampliações desmesuradas com o intuito nada ingênuo de transformar o choque de uma bolinha de papel sobre um ser humano com a gravidade e contundência de meteorito se chocando com o planeta Terra.

Fabricação de realidades

A idéia da TV Globo era usar todos os recursos de dramaturgia acessíveis. Apenas a emissora líder não contava com o baixo desempenho da protagonista... Com uma bolinha de papel não dá para escrever capítulo muito emocionante, algo que seja digno de novela das 9.

A edição pareceu resultante de vitamina de atleta olímpico e tinha de tudo mesmo: bolinha de papel tocando o lado esquerdo da calva do presidenciável, caminhada de 20 minutos, presidenciável atendendo chamada no telefone celular, presidenciável passando a mão levemente sobre o lado direito da calva, presidenciável entrando na van, depois saindo da van, voltando a caminhar, e tudo isso tendo como pano de fundo bandeiras vermelhas e azuis, gritos, gente alvoroçada.

Depois corta para entrada do presidenciável em hospital, sinais de tontura e as primeiras aspas ouvidas por testemunhas de que "estou meio grogue". Depois saindo de clínica de saúde com médico dizendo que "o candidato não sofreu qualquer arranhão... nada externo".

Foi esse enredo que atravessou os programas dos presidenciáveis. O de José Serra, carregado de dramaticidade, tendo a locução de repórter desconhecida emulando a voz de Ilze Scamparini, aquela correspondente da TV Globo para assuntos do Vaticano e também da Itália em geral. O estilo de enunciar crise cardinalícia ou mesmo morte do pontífice ou então a eleição do novo sucessor no trono de Pedro. Impressiona a avidez com que emissoras de televisão se sentem tão à vontade para criar a realidade que lhes pareça melhor, mais adequada, conveniente ou ao menos plausível.

"Misterioso caso"

Na quinta-feira (21/10), temos discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva embrulhando os parágrafos acima e amarrando todo esse minitiroteiro com barbantes apertados. O aperto de quem denuncia o conteúdo do pacote como farsa, nada mais que farsa. Até o goleiro Rojas, aquele que simulou ter sido atingido por foguete em jogo no Rio de Janeiro, foi mencionado na fala presidencial. Uma vez mais o pano de fundo era desmascarar mais mentiras, mais inverdades, mais falsidade, mais realidade fabricadas.

Na edição do Jornal Nacional de quinta-feira (21/10), repetição de cenas do arquivo do dia anterior acrescidas de aula sobre bolinha de papel, rolo de fita crepe e a teoria pouco convincente – penso – de dois eventos estanques, isolados, completamente distintos. A aula foi ministrada com raro didatismo pelo ex-professor da Unicamp Ricardo Molina de Figueiredo em um veículo e em um horário em que cada segundo vale literalmente ouro em pó. Onde a eternidade é condensada aos 5, 10 ou 15 segundos de matéria levada ao ar.

A TV Globo, ao escolher o especialista Molina, deixou claro que neste jogo quer maior protagonismo. Afinal é o mesmo Molina quem vem abastecendo dezenas de matérias produzidas pelo mesmo Jornal Nacional ao longo das décadas: Seu nome se encontra de alguma forma envolvido com casos como a compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso; o acidente aéreo com os integrantes da banda Mamonas Assassinas; o pagamento de suborno no caso Waldomiro Diniz; as mortes de Celso Daniel e de Paulo César Farias; os atentados do PCC em São Paulo; e o caso da menina Eloá, em São Paulo.

Apesar da notoriedade, em suas aparições na mídia, o ex-professor Molina comumente faz declarações sobre ações da perícia criminal oficial, mesmo sem nunca ter sido perito criminal oficial. Certamente passará a lustrar mais sua fama com este "misterioso caso da bolinha de papel" na reta final da campanha presidencial de 2010.

De joelhos

Chegamos a uma encruzilhada perigosa em que a credibilidade de boa parte de nossa grande imprensa parece uma vez mais afundar: se dispomos das conclusões e se estas parecem sólidas, quase pétreas, por que não montar as variáveis do problema que possam se harmonizar de forma indolor e quase imperceptível com as conclusões? E é um processo retroalimentado diariamente: primeiro surge na coluna do jornalista Merval Pereira, depois ganha mais substância com o comentário da historiadora Lucia Hippolito na rádio CBN e pronto: logo os engenhosos e incompletos raciocínios pautarão as falas do presidenciável José Serra ao longo do dia.

Para chegar a tais conclusões basta um pouco de paciência: visitar os blogs dos citados e conferir vídeos no Youtube do presidenciável, em especial aqueles com suas aparições nos telejornais das TVs Globo, SBT, Record e Band.

O que é mais escasso no episódio é a ausência total de análises profundas sobre o acirramento de ânimos de parte a parte. O excesso de uso dos carimbos contendo palavras como "mentira", "inverdade", "falsidade". Revistas e jornais proclamam completa independência dos partidos postulantes à Presidência da República ao tempo em que os profissionais que assinam as matérias, colunas e também os simulacros de reportagens não fazem outra coisa que fazer diária e semanalmente sua profissão de fé na capacidade e experiência demonstrados por seu candidato ao Palácio do Planalto. Tal profissão de fé é sempre recorrente como recorrente tem sido a demonização do tal "outro lado" que atende também pelo nome de "campanha adversária".

Como linha auxiliar da oposição, parte considerável da grande mídia verbaliza o que pode ser apenas intuído por esta campanha. E se a "campanha adversária" decide não deixar passar em branco tão engenhosa estratégia partidária, então veremos que 10 em 10 vezes esta será atacada como atentatória à liberdade de imprensa, estará mostrando ranço autoritário, demonstrará assimetria entre a liturgia que se espera de detentor de cargo público e a função de militante político.

Ao momento, a profundidade a que me refiro é tal que uma formiga de joelhos poderia atravessar sem o menor risco de afogamento.

Fonte: Observatório da Imprensa

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A burocratização dos debates na TV gera apatia e distanciamento do eleitor

Por Carlos Castilho

Se há uma coisa que a atual campanha eleitoral deixou bem claro, esta coisa é o desgaste dos debates pela televisão entre candidatos a presidente e a governador. A monotonia, burocratização e o excesso de regras transformaram os encontros numa espécie de performance pessoal em que o ganhador não é quem mostra mais idéias, mas quem erra menos no vídeo.

A fórmula está desgastada por culpa das emissoras de televisão e dos especialistas em marketing político que impuseram aos candidatos tantos condicionamentos que eles acabaram virando atores quase que telecomandados.

As emissoras de televisão transformaram os debates num espetáculo em que a grande preocupação é audiência. Cada uma monta o seu show e o promove como se fosse um programa de auditório. Os apresentadores parecem marionetes obrigados a seguir um script cujo conteúdo rendeu horas de reuniões entre os assessores políticos de cada candidato.

Os debates pela TV cairam na mesma armadilha criada pela Justiça Eleitoral para a propaganda eleitoral. Para resolver protestos de partidos e candidatos foram criadas tantas leis, regras e normas que a campanha eleitoral tornou-se quase invisível. O mesmo acontece agora com os debates ao vivo, nos quais as regras estão se tornando cada vez mais meticulosas e cada detalhe, inclusive os técnicos, discutidos durante horas ao longo de negociações que duram semanas.

O acúmulo de regulamentações reduz ao mínimo a espontaneidade tanto dos candidatos como dos cabos eleitorais e todos acaba parecendo funcionários burocráticos. Estamos vivendo um paradoxo: se deixamos a propaganda correr solta e eliminamos as regras no debates, a campanha torna-se imprevisível e provavelmente violenta, transmitindo insegurança, desconforto e incerteza.

A busca de ordem gerou a avalancha de regras e com isso as manifestações espontâneas acabaram se tornando cada vez mais raras. A campanha perdeu vivacidade, autenticidade e principalmente participação popular. É a conseqüência do dilema clássico entre o caos e ordem.

O caos incomoda, transmite incerteza e insegurança, mas está associado à mudança, renovação e criação. A ordem gera tranquilidade, certeza e segurança, mas tende a provocar imobilismo, rotina e burocratização pela multiplicação de normas para preservá-la .

Pelo andar da carruagem, provavelmente teremos que fazer em breve outra escolha, além de selecionar governantes: como é que desejamos viver. A regulamentação é causa e conseqüência do desenvolvimento de uma casta burocrática que sobrevive pela administração das regras, leis e normas. Ela (a casta) não tomará a iniciativa de mudar este estado de coisas porque se nutre dele. Assim, caberá aos cidadãos propor algo diferente.

Fonte: Observatório da Imprensa

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Dilma e Serra usam imagens do debate Folha/RedeTV! no horário eleitoral

Redação Folha.com

Concentrados em exibir suas performances no debate Folha/RedeTV! realizado ontem, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) detiveram boa parte de seus programas eleitorais de hoje na TV em trocas de acusações.

Dilma continua a acusar Serra de querer privatizar a Petrobras, empresa a qual teria incentivado que o nome fosse trocado para Petrobrax.

A propaganda da candidata mostra o momento do debate em que ela falou sobre o caso Erenice afirmando que "nós investigamos, a Erenice saiu do governo. Diferente de Serra, nós investigamos".

Dilma se referia às denúncias envolvendo o ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira Souza --conhecido como Paulo Preto. A petista afirmou que ele desviou R$ 4 milhões destinados à campanha de Serra.

Em entrevista publicada na última terça-feira (12) pela Folha, Paulo Preto afirma que Serra o conhece --diferente daquilo que o tucano havia afirmado no debate da Band, quando Dilma fez as acusações-- e, em tom de ameaça, diz que "não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada".

No dia seguinte, Serra disse não ter lido as declarações do ex-diretor, minimizando a importância do caso, e afirmou que "a acusação contra ele é injusta" e que o engenheiro é "totalmente inocente". O programa da candidata acusa Serra de mudar de opinião de forma suspeita e de defender um culpado, destacando que Paulo Preto é investigado pela Polícia Federal, na operação Castelo de Areia.

Dilma ainda prometeu concluir obras como a Transnordestina e a Norte-sul.

PSDB

A propaganda de Serra ressalta méritos de seu governo em São Paulo e acusa Dilma de ser contra seu projeto de colocar dois professores em sala de aula.

O tucano direciona suas críticas a Lula, acusando-o de fazer mais concessões da Petrobras para empresas privadas do que FHC fez. O candidato ainda associa a valorização das ações da empresa com seu avanço nas pesquisas.

Serra ainda acusa o presidente de permitir a entrada de drogas no país, por falta de fiscalização nas fronteiras --em especial a boliviana.

É a deixa para ele propor mais centros de reabilitação e criticar os problemas da acessibilidade, prometendo criar uma rede de reabilitação chamada Zilda Arns e 154 policlínicas.

O programa declara Serra vencedor do debate baseado no grupo de 27 eleitores que avaliou o evento em tempo real a convite da Folha e da RedeTV!.

Fonte: Folha.com

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O debate fora de lugar

Por Alberto Dines

Atenção aborteiros, abortistas, antiabortistas, dilmistas e serristas: retirem o assunto dos palanques. Vocês estão brincando com fogo – literalmente.

Os editais dos Autos da Fé já estão afixados nos templos e nas quermesses, as fogueiras estão preparadas. Guerras santas começam por ninharias (a questão do aborto jamais foi premente) e acabam em banhos de sangue.

Este debate ensandecido e despropositado sobre a descriminalização da interrupção da gravidez está empurrando o país para um modelo de república clerocrata, antirrepublicana, semidemocrática.

E a mídia tem grande responsabilidade neste arranca-rabo infantilóide. Nossa imprensa é, por tradição, sacristã: os grandes jornais sempre correram atrás das batinas e disputaram arcebispos e cardeais para lustrar suas páginas. Jamais chamaram um pastor luterano ou um intelectual agnóstico.

Mãos limpas

Quando se tratou de lembrar os 200 anos de fundação da imprensa brasileira, a presença de Hipólito da Costa como patrono do jornalismo foi determinante para que as comemorações fossem suspensas: além de maçom, denunciou ao mundo as barbaridades da Inquisição portuguesa.

Quando em 2008 o presidente Lula foi ao Vaticano acompanhado por seus entes queridos para assinar uma Concordata com o papa Bento 16, a grande imprensa – toda ela, sem exceção – manteve o assunto sob rigoroso sigilo, na clandestinidade. A pedido do governo. Uma imprensa altiva, libertária, não se importou em autocensurar-se ostensivamente [ver emissões abaixo]. Em nome da fé, vale tudo.

Começava naquele exato momento o ensaio geral para a atual caça às bruxas que fatalmente nos conduzirá ao total desrespeito e esquecimento pelos direitos humanos. Convém lembrar que o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, apresentado pelo governo com toda a pompa e circunstância no final de 2009, foi abortado – a palavra é esta, não existe outra – para acalmar as lideranças católicas e evangélicas (ineditamente irmanadas) que orquestravam a oposição ruralista e da mídia. Os chefes militares adoraram, lavaram as mãos. Os civis também sabem fazer suas guerrinhas sujas.

O retorno

A igreja católica rasgou naquele momento uma corajosa história escrita ao longo de três décadas contra a tortura e o desaparecimento dos presos políticos, só para evitar que a nação brasileira começasse a encarar a possibilidade de debater a questão dos símbolos religiosos em prédios públicos, do casamento gay e... do aborto.

O infalível retorno dos bumerangues traz de volta a questão do aborto – vociferada, enraivecida, envilecida, brutalmente simplificada. E condenada a ser erradicada da nossa agenda política pela radicalização eleitoral que a mídia açula e assopra.

Fonte: Observatório da Imprensa

ANÁLISE SEGUNDO TURNO ELEIÇÕES 2010

Por Nayane Andrade Miranda

No próximo dia 31 haverá o segundo turno das eleições 2010 para presidente e governador de cada estado. No Piauí a disputa segue entre Wilson Martins (PSB) e Sílvio Mendes (PSDB). Nas pesquisas eleitorais da região Wilson está na liderança e agora resta saber em quem os eleitores indecisos votarão.
Wilson Martins é médico formado pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, e tem várias especializações. Foi Deputado Estadual por três mandatos e presidiu a Frente Parlamentar do Cooperativismo do Estado. Presidente das Comissões de Infra-Estrutura de Fiscalização, Administração Pública e de Constituição e Justiça, da Assembléia Legislativa do Estado do Piauí. Foi Secretário Municipal de Saúde de Teresina e Presidente da Fundação Municipal de Saúde de Teresina (1993-1994). Atualmente, é Membro Titular da Câmara Setorial do Cerrado e Biodiesel e do Conselho Estadual do Meio Ambiente. É Presidente da Executiva Estadual do Partido Socialista Brasileiro – PSB no Estado do Piauí. Foi eleito Vice-Governador do Estado do Piauí, para o quadriênio 2007-2010, Coordenador do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC e do Núcleo de Estudos e Projetos Especiais – NEPE do Estado do Piauí. Em abril de 2010, com a renúncia de Wellington Dias, assumiu o cargo de Governador do Estado do Piauí. Candidato através da “Para o Piauí Seguir Mudando” (PRB / PT / PMDB / PTN / PR / PSB / PRP / PC do B.
Silvio Mendes também é médico e deixou a medicina em 1993 quando foi convidado pelo então prefeito de Teresina, Raimundo Wall Ferraz, para assumir a gestão da saúde pública da capital, onde ficou por dez anos, também nas gestões dos prefeitos Chico Gerardo (1995/1996), e nos dois períodos de Firmino Filho (1996/2004). Em 1996, assumiu a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2004 foi eleito prefeito de Teresina. Nas eleições de 2008, Silvio Mendes obteve mais de 70% dos votos válidos. É candidato através da coligação “A Força do Povo” (PSC / PPS / DEM / PSDB).
No início Silvio Mendes estava em uma ótima posição nas pesquisas sendo considerado um dos favoritos, mesmo sem ter definido os partidos da coligação. Mas esta realidade mudou quando Wilson Martins decidiu candidatar-se e levou consigo o apoio de Wellington Dias, ex- governador e agora eleito senador, e do presidente Luis Inácio Lula da Silva. A disputa política segue forte mas como podemos observar a força e influencia do Lula elege qualquer candidato.
Apostava-se que Wilson Martins ganharia no primeiro turno, por conta deste apoio, mas o trabalho desempenhado por Silvio na prefeitura de Teresina garantiu sua vaga para o segundo turno. De certo que a decisão que eleitor irá tomar será muito complicada. De um lado a imagem de um prefeito que possui excelente histórico e ótimo trabalho realizado e de outro lado um candidato que tem bastante experiência e um grande apoio.
Acreditamos que a vitória será data para Wilson Martins por conta da imagem do Lula que carrega consigo já que o eleitor espera a continuidades dos projetos realizados por ele. Pensa-se que se o Silvio for eleito não teremos as “portas abertas” para o Piauí.

O comportamento da Mídia nas Eleições

Por Jaqueliny Siqueira

A ‘grande mídia’ vem exercendo um importante papel nestas Eleições de 2010. Nunca se viu tantas redações do Brasil sendo pautadas por esta ferramenta tão poderosa. O que não é novidade, haja vista que este comportamento nos remete às primeiras eleições depois do desmoronamento da ditadura militar. Um bom exemplo disso foi a eleição do “marajá” (Fernando Collor de Melo), que utilizando a ampla mídia conseguiu chegar ao topo (presidência da república) e ao fundo do poço do mesmo modo.

Não é de se estranhar ver tantas bem feitorias e tantas desgraças em menos de 40 minutos de programa eleitoral televisivo. A mídia transforma o ‘mocinho’ em ‘bandido’ em poucos instantes e a sua contribuição para a soberania popular reina, para não dizer o contrário.
Mas o fato é que, com o poder da internet e das redes sociais fica garantido ao cidadão o direito a voz e a manipulação das informações midiáticas. A comunicação se torna, neste momento, alternativa e há a troca de idéias. Esses cidadãos conhecem o verdadeiro mundo através de suas e de outras opiniões.
O que está em questão não é, somente, a liberdade de imprensa, mas como o uso da ‘grande mídia’ pode embutir interesses em nome de uma soberania que não existe. Soberana, numa sociedade democrática, é a vontade da maioria de seus cidadãos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O comportamento da Mídia nas Eleições

Por Jaqueliny Siqueira

A ‘grande mídia’ vem exercendo um importante papel nestas Eleições de 2010. Nunca se viu tantas redações do Brasil sendo pautadas por esta ferramenta tão poderosa. O que não é novidade, haja vista que este comportamento nos remete às primeiras eleições depois do desmoronamento da ditadura militar. Um bom exemplo disso foi a eleição do “marajá” (Fernando Collor de Melo), que utilizando a ampla mídia conseguiu chegar ao topo (presidência da república) e ao fundo do poço do mesmo modo.

Não é de se estranhar ver tantas bem feitorias e tantas desgraças em menos de 40 minutos de programa eleitoral televisivo. A mídia transforma o ‘mocinho’ em ‘bandido’ em poucos instantes e a sua contribuição para a soberania popular reina, para não dizer o contrário.

Mas o fato é que, com o poder da internet e das redes sociais fica garantido ao cidadão o direito a voz e a manipulação das informações midiáticas. A comunicação se torna, neste momento, alternativa e há a troca de idéias. Esses cidadãos conhecem o verdadeiro mundo através de suas e de outras opiniões.

O que está em questão não é, somente, a liberdade de imprensa, mas como o uso da ‘grande mídia’ pode embutir interesses em nome de uma soberania que não existe. Soberana, numa sociedade democrática, é a vontade da maioria de seus cidadãos.b

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Opinião sobre "Bolsa-Família" leva Estadão a demitir colunista Maria Rita Kehl

Redação Portal IMPRENSA

Em entrevista ao jornalista Bob Fernandes, do Terra Magazine, a psicanalista e colunista do jornal O Estado de S. Paulo Maria Rita Kehl confirmou sua demissão do veículo paulista. No último sábado (02), Maria havia escrito o artigo "Dois Pesos...", que falava sobre a "desqualificação" dos votos dos pobres e elogiava o programa Bolsa-Família, gerando grande repercussão na internet.

A colunista informou que foi notificada sobre sua saída do Estadão na última quarta-feira (06), e que a situação iria contra a defesa de liberdade de expressão feita pelo jornal: "Como é que um jornal que está, que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?"

Segundo Maria, o motivo de sua demissão foi o fato de o jornal ter considerado o texto um "'delito' de opinião": "O argumento é que eles estavam examinando o comportamento, as reações ao que escrevi e escrevia, e que, por causa da repercussão (na internet), a situação se tornou intolerável, insustentável, não me lembro bem que expressão usaram", declarou.

A ex-colaboradora do Estadão disse, ainda, que a repercussão gerada pelo seu artigo mostrava que há uma discussão entre os leitores que gostaram ou não de seu texto: "Eu disse que a repercussão mostrava, revelava que, se tinha quem não gostasse do que escrevo, tinha também quem goste. Se tem leitores que são desfavoráveis, tem leitores que são a favor, o que é bom, saudável..."

Para ela, em um momento em que a imprensa crítica os ataques feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra os veículos de comunicação do país, o fato de ter sido demitida seria uma situação absurda: "É tudo tão absurdo... a imprensa que reclama, que alega ter o governo intenções de censura, de autoritarismo", declarou a psicanalista, que disse não concordar com os rumores de ações concretas "para cercear a imprensa".

"Por outro lado a imprensa que tem seus interesses econômicos, partidários, demite alguém, demite a mim, pelo que considera um "delito" de opinião", criticou. Na entrevista, Maria disse acreditar que, devido período de eleições, a repercussão gerada pelo artigo tenha se agravado, "pois, pelo que eles me alegaram agora, já havia descontentamento com minhas análises, minhas opiniões políticas".

A coluna da psicanalista era publicada aos sábados no caderno "C2+Música". Um dos trechos do texto polêmico elogiava o fato de o Estadão ter assumido seu apoio ao presidenciável José Serra (PSDB) e falava sobre a briga pelo eleitorado: "Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos."

Enquanto ainda não se confirmava a demissão da colunista, o caso foi um dos assuntos mais comentados no Twitter nesta semana. O jornalista Xico Sá, que assina uma coluna na Folha de S.Paulo, escreveu em seu perfil no microblog: "Maria Rita Kehl seria a 1ª demissão da história por ter elogiado a atitude de 1 jornal." Sá declarou, ainda, que a publicação exigia que ela não escrevesse sobre política, "só psicanálise".

Ao Portal IMPRENSA, o diretor de conteúdo do Estadão, Ricardo Gandour, declarou: "O projeto original, no caderno "C2+Música", é ter aos sábados um espaço para a psicanálise, mas não era o enfoque que se vinha praticando. Assim, iniciou-se com a autora uma discussão em torno de novos rumos para a coluna, inclusive com a substituição da colunista, o que é normal numa publicação."

Gandour disse, ainda, que a repercussão do assunto na internet "precipitou a decisão, o que lamentamos", e que em nenhum momento houve censura: "A hipótese de 'censura' é incabível. Todas as colunas foram integralmente publicadas, como sempre serão", disse o diretor.

Fonte: Portal IMPRENSA

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O impacto eleitoral limitado da web

Por Guilherme Mergen

Se nos Estados Unidos a internet se consolidou como carro-chefe da eleição do presidente Barack Obama, o mesmo veículo tem menos força para interferir diretamente no processo eleitoral do Brasil. Na primeira corrida presidencial do país em que candidatos traçaram estratégias focadas nas ferramentas online, uso da web se restringiu à função de divulgação, e não de mobilização, como na vitória norte-americana. A avaliação é do especialista de inovação em Marketing, Ricardo Cappra.

Na opinião de Cappra, um dos estrategistas contratados por Obama para atuar na campanha nos países da América Latina, pelo menos três pontos explicam o abismo entre a campanha virtual dos candidatos ao Palácio do Planalto e o trabalho desenvolvido no Estados Unidos em 2008: a inclusão digital, o uso das ferramentas e a dependência da internet dos meios de comunicação tradicionais no Brasil.

Enquanto mais de 60% da população americana têm acesso à internet banda larga, o percentual brasileiro caminha para alcançar os 20%, segundo o Instituto Brasileiro de Estatísticas e Geografia (IBGE).

– Quando foi chamado para auxiliar na campanha online da Dilma (candidata do PT), o Ben Self – marqueteiro guru da campanha de Obama – alertou que o acesso ainda era baixo para repetir uma estratégia semelhante – afirma.

Se a inclusão digital foge do controle dos marqueteiros dos candidatos, a forma como a web é utilizada está diretamente ligada às coordenações das campanhas. Tanto Cappra quanto o professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Henrique Autoun, avaliam que a utilização da internet é limitada.

Para o ex-integrante da equipe de Obama, além do pontapé inicial para as ações online ter sido tardio, ferramentas como Twitter, Facebook e blogs ganharam um caráter de divulgação – diferente da eleição americana, em que a web atraiu simpatizantes através de processos de socialização.

– A campanha do Obama agregava pessoas e movimentos do mundo inteiro pela internet. Cada etapa da campanha tinha uma mobilização especial na web, o que levava as pessoas para dentro do projeto dele. Aqui usamos as ferramentas como divulgação. O material publicado na TV e no rádio também vai à Internet, mas sem sofrer as adaptações necessárias – avalia.

Apesar de classificar a campanha online como um "avanço interessante", Autoun aponta deficiência nas estratégias para potencializar a internet na corrida presidencial. Segundo ele, a web agrega resultados quando deixa de ser vista unicamente como meio de audiência e como um espaço voltado a repercutir discussões de TVs e jornais.

– Não adianta pensar que é como televisão, que quanto melhor a audiência melhor está o candidato. A web com muita audiência e sem mobilização não vale nada. Vale quem faz coisas, e não quem simplesmente assiste.

Baixa arrecadação

Novidade na campanha deste ano, a arrecadação online também demostra a limitação da internet no processo eleitoral brasileiro. Única candidata a pedir doações em seu site, Marina Silva (PV) contabilizava R$ 168 mil de arrecadação na web até a noite desta sexta-feira. Ao todo, a coordenação do PV prevê gastar R$ 90 milhões na campanha. Nos Estados Unidos, Obama arrecadou US$ 500 milhões pela internet.

Na opinião de Autoun, as regras da doação virtual, aprovadas às pressas pouco antes do período eleitoral, são confusas, o que intimida o simpatizante a ajudar.

– Achei o procedimento confuso. A lei que permite as doações tem restrições esquisitas, que tornaram a arrecadação ambígua. É necessário construir um instrumento adequado para poder fazer a arrecadação e prestar contas, os dois procedimentos ao mesmo tempo.

Cappra também defende um processo de arrecadação "mais profissional", com meios transparentes, com a finalidade de o eleitor acompanhar o destino do seu dinheiro. Na campanha de Obama, o doador recebia um relatório com a aplicação dos discursos.

– Doação em campanha já é um tema difícil no Brasil. Se não for de uma forma muito transparente, não vai dar certo.

Futuras eleições

Mesmo de forma tímida se comparada aos Estados Unidos, a campanha deste ano na internet mostra o quanto o espaço deve crescer nos próximos pleitos. No entanto, para garantir a ascensão, os mecanismos precisam ser aprimorados, especialmente os de arrecadação, segundo os especialistas.

– A internet cresceu de maneira tão assustadora e tão significativa que certamente vai ter um papel maior nas próximas eleições. A questão é descobrir de que maneira vão funcionar os mecanismos, porque eles não são iguais. Dependem da cultura de uso, da cultura política local – argumenta o professor da UFRJ.

O integrante da campanha de Obama relaciona o avanço do mundo online nas corridas eleitorais com a inclusão digital do país.

– O avanço depende de uma movimentação forte rumo à inclusão digital, de um ambiente mais preparado para a campanha na internet. Sem dúvida, a web terá outro peso na próxima eleição presidencial brasileira.

Fonte: Observatório da Imprensa

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Governador do TO recua e pede suspensão de censura a 84 veículos de imprensa

Redação Portal IMPRENSA

A coligação "Força do Povo" (PMDB, PT, PP, PDT, PSB, PPS, PSL, PSDC, PHS, PCdoB e PRP), que apoia a reeleição do governador do Tocantins Carlos Gaguim (PMDB), entrou com um pedido no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-TO), nesta segunda-feira (27), para suspender a decisão que proibia 84 veículos de imprensa de citar o nome do político em um caso de investigação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), sobre uma organização criminosa que cometia fraudes em licitações públicas.

Segundo o portal Último Segundo, a coligação afirmou que a censura valeria apenas para os programas do horário eleitoral gratuito veiculados no Estado. O governador declarou que não é a favor da censura, e que em seu governo "nunca teve e nem nunca terá mordaça" aos veículos de imprensa. "Isso aí que nossos adversários estão falando, e estão fazendo publicar, deixa falar. Deixa fazer o que quiserem. É desespero", disse Gaguim.

A decisão de impedir que os veículos de mídia do Tocantins divulgassem informações sobre a investigação do MP paulista foi tomada pelo desembargador Liberato Póvoa. O magistrado alegou que o caso corre em segredo de Justiça, e que as notícias sobre o suposto envolvimento de Gaguim no caso teriam sido expostas após o roubo de um computador. "A liberdade de expressão não autoriza a veiculação de propaganda irresponsável, que não se saiba a origem, a fonte", disse.

A censura do TRE-TO atingia oito jornais - incluindo O Estado de S. Paulo -, 11 emissoras de televisão, 40 rádios comunitárias e 20 comerciais e cinco portais de notícias. Caso os veículos descumprissem a medida, teriam que pagar multa de R$ 10 mil por dia.

Fonte: Portal IMPRENSA

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Receita vasculhou sigilos de mais 3 pessoas ligadas a Serra e FHC

Investigação revela que Luiz Carlos Mendonça de Barros, Ricardo Sérgio de Oliveira e Gregório Marin Preciado também tiveram sigilos quebrados


Por Leandro Colon e Rui Nogueira

Investigação interna da Receita Federal revela que acessos suspeitos aos sigilos fiscais de adversários do PT foram além do manuseio dos dados do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge. Os documentos mostram que, no mesmo dia, de um mesmo computador e em sequência, servidores do Fisco abriram os dados sigilosos de Eduardo Jorge e de mais três pessoas ligadas ao alto comando do PSDB. São elas: Luiz Carlos Mendonça de Barros, Ricardo Sérgio de Oliveira e Gregório Marin Preciado.

O Estado teve acesso a informações do processo aberto pela Corregedoria da Receita para saber quem acessou e por que os dados de Eduardo Jorge foram abertos em terminais da delegacia da Receita Federal em Mauá (SP). Essas informações foram parar num dossiê que teria sido montado por integrantes do comitê de campanha da candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT). A oposição acusa funcionários do governo de violarem os sigilos fiscais de tucanos para fabricar dossiês na campanha eleitoral.

Os dados da investigação revelam que as declarações de renda de Eduardo Jorge e dos outros três tucanos foram acessadas do mesmo computador, por uma única senha, entre 12h27 e 12h43 do dia 8 de outubro do ano passado. O terminal usado foi a da servidora Adeilda Ferreira Leão dos Santos. A senha era de Antonia Aparecida Rodrigues dos Santos Neves Silva. Às 12h27, foi aberta a declaração de renda de 2009 de Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações do governo de Fernando Henrique Cardoso. Três minutos depois, às 12h30, acessaram os dados do empresário Gregorio Marin Preciado, casado com uma prima de José Serra. Às 12h31, a declaração de Renda de Ricardo Sérgio foi aberta. Ele é ex-diretor do Banco do Brasil no governo FHC. Às 12h43m41s daquele mesmo dia, o mesmo terminal acessou a declaração de renda de 2009 de Eduardo Jorge. Quatorze segundos depois, os dados referentes a 2008 foram abertos por um servidor da Receita.

Os nomes dos tucanos foram destacados pela própria investigação da Receita Federal, como "contribuintes que despertaram interesse na apuração". O trabalho de apuração da Receita compreendeu os acessos ocorridos naquela delegacia entre 3 de agosto e 7 de dezembro de 2009. Em depoimento à corregedoria da Receita, as duas funcionárias negam envolvimento na abertura desses dados. Dona da senha usada, Antonia Aparecida alega que repassou o código a outras duas colegas e que não sabe quem fez essas consultas.


Fonte: Estadão

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Fichas-sujas invadem a corrida eleitoral

Em todo o País, candidatos que respondem a processos e até alguns já condenados saem em busca de votos, apesar da Lei da Ficha Limpa.

Candidatos com ficha policial ou cassados pela Justiça Eleitoral afrontam a Lei da Ficha Limpa e fazem campanha, confiantes de que serão eleitos. Há casos emblemáticos em vários Estados envolvendo nomes notórios, como ex-governadores, um dirigente de futebol e até um bicheiro.
No Rio de Janeiro, o ex-presidente do Vasco e ex-deputado federal Eurico Miranda (PP) tenta voltar à Câmara dos Deputados apresentando-se como "candidato ficha limpa". Ele é réu de processos em varas criminais da Justiça Federal, alvo de inquéritos em andamento e um dos denunciados pela CPI do Futebol do Senado, finalizada em 2001.

Eurico nunca foi condenado em decisões colegiadas - o que o deixa de fora das inelegibilidades previstas pela Lei da Ficha Limpa. "Sou ficha limpíssima", afirma o dirigente esportivo. "Foi justamente essa lei que me motivou a fazer campanha".

Na semana passada, o TRE do Rio deferiu a candidatura de Eurico. Ele apresentou 15 certidões criminais negando condenação. Em 2007, ele foi condenado a 10 anos de prisão por crimes tributários pela 4ª Vara Federal Criminal do Rio. O STJ, porém, anulou a sentença. Duas ações tramitam em varas federais e um inquérito na Justiça estadual.

"São questões que envolvem recolhimento de INSS. Esse não é mais um problema meu. É problema do Vasco", alegou Eurico.

Em Alagoas, o ex-governador Ronaldo Lessa, cujo pedido de candidatura ao governo pelo PDT foi impugnado pelo TRE, foi orientado pelo advogado a ignorar a decisão da Justiça e continuar em campanha.

Para Lessa, a decisão do TRE-AL foi política e será revertida pelo TSE. Ele não se considera um ficha-suja, apesar de condenado por um colegiado, acusado de abuso de poder político e eleitoral, nas eleições de 2004.

"Os verdadeiros bandidos permanecem impunes, enquanto eu estou sendo punido por ter dado aumento aos servidores da Educação", afirma.

Cassado pelo TSE por corrupção eleitoral em fevereiro do ano passado e barrado pelo TRE da Paraíba com base na Lei da Ficha Limpa, o ex-governador Cássio Cunha Lima está em plena campanha para o Senado pelo PSDB.

Ele aguarda que o TSE julgue recurso contra decisão do TRE que manteve a impugnação de sua candidatura. No programa eleitoral, se apresenta como "injustiçado" que acatou a decisão da Justiça. Nas primeiras aparições, disse que já foi punido e não vai desistir da candidatura ao Senado.

Bicho. José Carlos Gratz, preso em 1989 pela Polícia Federal acusado de comandar o jogo do bicho em Vitória, foi uma espécie de governador às avessas, exercendo enorme poder na vida política e econômica do Espírito Santo. Do cargo de presidente da Assembleia Legislativa, controlava o Poder Executivo.

Durante pelo menos duas administrações, o governador que não rezasse a cartilha dele não conseguia apoio do parlamento.

Em 2002, acusado pelo Ministério Público Estadual do desvio de R$ 26,7 milhões do Legislativo, teve o mandato cassado. Foi preso outras duas vezes, e ainda responde em liberdade a cerca de 150 ações judiciais.

Mesmo com um currículo desses, encontrou abrigo no nanico PSL e arquitetou a volta à vida pública, na disputa pelo cargo de senador. Foi o primeiro político do país a questionar a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa no STF, com duas ações com pedido de liminar, nas quais busca sustentar a candidatura.

O TSE vai julgar uma das ações, e a outra teve o pedido negado pelo ministro do STF Carlos Ayres Britto.

Dos candidatos impugnados pela Procuradoria Eleitoral do Maranhão, enquadrados na Lei da Ficha Limpa, todos aparecem na TV e no rádio fazendo campanha normalmente, como Jackson Lago (PDT), Sarney Filho (PV), Cléber Verde (PRB) e Márcia Marinho (PMDB). / ALFREDO JUNQUEIRA, WILSON LIMA, RICARDO RODRIGUES, ADELSON BARBOSA DOS SANTOS e ALEXSANDER PANDINI.

Fonte: Estadão

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Jornais comem poeira

Por Alberto Dines

Além da disputa entre os presidenciáveis, há um outro confronto em curso. Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva candidatam-se a sucessores do presidente Lula. Ao mesmo tempo será decidido o futuro da mídia brasileira. A hegemonia ficará com os jornais, com a TV ou a internet?

A entrada da TV foi de grande efeito: o espetáculo político ganhou uma nova dimensão a partir das entrevistas na bancada do Jornal Nacional da Rede Globo. A internet ainda não encontrou uma maneira de mostrar o seu poderio. Mesmo o debate Folha-UOL de quarta-feira (18/8) – primeiro no gênero no Brasil – não conseguiu eletrizar porque na realidade foi uma reinvenção da TV, sem os seus atributos e com todas as precariedades da web brasileira.

O fato de ter sido acessado em 127 países (como a Folha gabou-se na edição de quinta, 19) não chega a impressionar porque não se conhecem a duração e a quantidade de acessos. A edição do Observatório da Imprensa na TV Brasil também é acompanhada ao vivo por internautas do exterior, o mesmo acontece com ouvintes de países vizinhos que captam nossos comentários radiofônicos retransmitidos por emissoras brasileiras nas regiões fronteiriças.

Ilusões tecnológicas

Quem ainda não deu o ar de sua graça foi o meio jornal. Sem a vantagem da instantaneidade e, em compensação, com a capacidade de pautar o debate já que não está sujeito às limitações legais impostas às concessionárias de rádio e TV, o jornal vê-se obrigado a correr atrás do horário eleitoral e dos embates eletrônicos.

A aposta num grande elenco de opinionistas e celebridades em detrimento da reportagem investigativa escancara aqui os equívocos das empresas de jornalismo impresso – que nos últimos anos trocaram seus atributos históricos por miragens tecnológicas com prazos de validade limitados.


Fonte: Observatório da Imprensa

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Debate sobre a popularidade de Lula é raso

Por Luciano Martins Costa

A chamada grande imprensa, aquela que supostamente propõe a agenda pública do País, ainda não aprendeu a lidar com a exuberante popularidade do atual presidente da República.

Entre aqueles, poucos, que até algum tempo atrás repetiam que tal índice de aprovação deriva de políticas populistas, de projetos sociais que oferecem "esmolas" aos pobres, brotam agora os que descobriram a expressão "feel good factor", assim mesmo em inglês, querendo dizer que a população escolhe aquele que, nos seus sentimentos simples, ela vê como responsável por uma situação mais confortável. O crescimento da economia, a maior oferta de empregos e oportunidades de geração de renda seriam as fontes desse bem-estar.

Mas se tudo é assim tão simples, como se encaixariam nesse raciocínio os grandes desafios nacionais, apontados em todas as pesquisas de opinião e em recorrentes relatos da imprensa, como a sensação de insegurança pública, a má qualidade do ensino, as deficiências no setor de saúde, a dura vida de quem depende de transporte público nas grandes cidades e tantos outros motivos de insatisfação?

Será que o cidadão comum, aquele que a Rede Globo qualifica como o simplório e pouco honesto Homer Simpson, é o padrão nacional, que se satisfaz com uma ocupação insalubre, uma cervejinha no fim da tarde e o futebol no fim de semana, relevando questões importantes como a ética na política e nos negócios?

A questão do apoio ao presidente Lula da Silva revela raízes mais profundas e muito mais complexidade do que tem alcançado a imprensa. Veja-se, por exemplo, a pesquisa de mobilidade social divulgada em fevereiro de 2009 pela Fundação Getulio Vargas, e já tratada aqui neste Observatório. Esse trabalho, referendado posteriormente por reportagens de iniciativa da própria imprensa, revelou que no Brasil as classes de renda A e B foram muito mais impactadas pela crise financeira internacional do que as classes de renda C e D, consideradas o núcleo original de onde emana a grande popularidade do governo.

Portanto, não se trata apenas de um "feel good factor" que possa ser analisado isoladamente. Trata-se de uma sensação geral de pertencimento que exige mais esforço para ser interpretada.

A imprensa não parece estar fazendo esse esforço.

Uma nova cidadania

Não é fácil encontrar referências nos estudos sobre desenvolvimento que expliquem aquilo que a imprensa chama agora de "feel good factor". Se aceitarmos que o cidadão médio é mesmo um Homer Simpson, fica mais fácil afirmar que, para esse indivíduo medíocre, basta que se lhe ofereça a oportunidade de comprar uma televisão de tela plana, um computador e uma máquina de lavar roupa em trocentas prestações para que se manifeste em sua plenitude a sensação de bem-estar que, na suposição da imprensa, seria a plena e completa explicação da popularidade de Lula.

Mas até o mais obtuso entre os analistas sabe que a questão é mais complexa quando observamos o fenômeno da mobilidade social. Esse fenômeno sempre se relaciona a uma consciência de pertencimento, ao ingresso do cidadão em determinado contexto no qual ele se sente cidadão.

A imprensa deveria prestar muita atenção nesse cenário, porque, assim como a indústria do entretenimento, o turismo e outros setores da economia, o negócio da comunicação tem muito a ganhar quando se agrega ao mercado de consumo um contingente fabuloso como esse que é representado pela nova classe média brasileira.

Depois dos itens básicos de consumo que consolidam sua nova condição social, esse contingente da sociedade vai querer fazer sua primeira viagem de avião, vai visitar os parentes na cidade de origem e desembarcar gloriosamente no aeroporto local, e em seguida vai descobrir como é chique receber um jornal à sua porta pela manhã, ou chegar no fim do dia com o jornal dobrado embaixo do braço.

Por enquanto, o que as empresas de comunicação estão dando a ele é um jornal cheio de notícias de crimes, com fotos de mulher pelada e futricas do futebol.

Esse cidadão quer mais, ele se mira no seu igual que saiu de uma fábrica e se tornou presidente da República. Ele quer ver esse processo ser consolidado e quer ser reconhecido como cidadão de primeira classe. É isso que estão dizendo as pesquisas e não simplesmente um suposto "feel good factor".


Fonte: Observatório da Imprensa

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ÁSIA: Junta militar anuncia as primeiras eleições gerais de Mianmar em 20 anos

A junta militar que governa Mianmar anunciou nesta sexta-feira que realizará no dia 7 de novembro as primeiras eleições gerais do país em duas décadas.

A eleição será a primeira desde que o partido da líder pró-democracia do país Aung San Suu Kyi, a Liga Nacional Democrática (NLD, na sigla em inglês), venceu eleições por maioria esmagadora, em 1990.

A junta militar, que governa o país desde 1962, nunca permitiu que o partido de Suu Kyi assumisse o poder. O partido foi desmantelado e ela foi presa.

Críticos afirmam que a eleição será uma farsa, devido, principalmente, a leis eleitorais que favorecem as autoridades militares.

A nova Constituição do país reserva 25% do novo Parlamento às Forças Armadas, e vários dos partidos inscritos para a eleição também são vistos como partidos de fachada para os militares.

Intimidação

Suu Kyi, que passou os últimos 20 anos na cadeia ou em prisão domiciliar, não pode participar da eleição, devido às suas condenações na Justiça. Outros ativistas pró-democracia estão na mesma situação.

Pessoas com afiliações religiosas também não podem participar das eleições, o que descarta também os monges que lideraram protestos contra o governo em 2007.

Um partido não ligado ao governo denunciou à Comissão Eleitoral do país que seus integrantes estão sendo intimidados.

A lei eleitoral restritiva – que também proíbe passeatas que possam "danificar a imagem do país" – foi anunciada em março. Em protesto, o NLD se opôs à lei e anunciou um boicote às eleições. Em contrapartida, o partido foi extinto pelo governo em maio.

Desde então, outro grupo – a Força Democrática Nacional (NDF) – foi formado com ex-integrantes do partido e participará da eleição. O líder Than Nyein disse esperar que o pleito traga mudanças ao país. Outros 40 partidos deverão participar das eleições.

O anúncio da data foi feito em um breve pronunciamento da Comissão Eleitoral em rádio e televisão.

"Eleições gerais multipartidárias para o Parlamento do país acontecerão no domingo, sete de novembro", disse a comissão, no anúncio.


Fonte: BBC Brasil

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Veracidade subjetiva e a paz de espírito

Por Eugênio Bucci

"Twitter, my friends!"

Assim falou Plínio de Arruda Sampaio. E prosseguiu:

"É twitter! Eu sou o maior twittador agora."

Com essa conclamação, o candidato à presidência da República pelo PSOL intimou seus seguidores a "twittar" e entrar "diretamente" no debate político. Aos 80 anos de idade, vem esbanjando jovialidade – e não apenas quando demonstra familiaridade com certas modas tecnológicas. No debate da TV Bandeirantes, na quinta-feira (5/8), era ele o mais bem-humorado, o menos previsível, o menos careta. Plínio tinha mais frescor e mais presença de espírito. Roubou a cena, como disseram.

Nos dias subsequentes, comentários nos jornais encontraram uma explicação plausível para uma performance tão descontraída e desapegada: Plínio não tem nada a perder. Do alto de seu 1% nas pesquisas eleitorais, pode arriscar tudo, pois, mesmo perdendo tudo, não perderá grande coisa. E até poderá sair ganhando, ou seja, poderá ganhar simpatia, poderá marcar positivamente a imagem do PSOL como um partido que não tem nada a esconder. Se demonstrar que não está disposto a trocar voto por fingimento, ele tem chance de sair no lucro, mesmo que não conquiste voto.

A explicação parece óbvia, mas, no fundo, não dá conta de decifrar o fenômeno chamado Plínio de Arruda Sampaio (aliás, quanto ao sobrenome Arruda, ele faz piada, dizendo que não é "o Arruda do DEM", aquele tal, de Brasília, mas é "o Arruda do Bem"). Enfim, a explicação parece óbvia, mas é anêmica. O brilho particular dessa candidatura nanica não se deve simplesmente à condição daquele que, não tendo nada a perder, sai por aí bancando o franco atirador, como também já se disse. Ele não está fazendo o tipo "aventureiro feliz". Há mais elementos nessa história, há algo mais interessante aí. No meu modo de ver, Plínio se comunica bem porque está bem – em tempo, é justamente por isso que o tema me interessa, por se referir à qualidade da comunicação política entre um candidato e seu público –, porque está inteiro no que diz. Ele dá a sensação de não ter uma agenda oculta. Ele olha no olho do interlocutor e manda ver. Que outros candidatos podem se abrir da mesma forma?

É por aí que começo a minha discussão.

Sejamos acadêmicos...

É notório, notável e incrível como o candidato do PSOL está de bem consigo próprio. Ele é "o Plínio do bem", como brinca, e também o Plínio de bem. É por isso, também, que consegue olhar direto nos olhos da gente sem pestanejar, sem piscar, sem vacilar, e dizer o que pensa com naturalidade. Ele não tem rancor ou raiva; tem apenas determinação. E aí fazer essa conversa olho-no-olho – para usar aqui a expressão preferida do jornalista Celso Nucci, quando discorre sobre comunicação pública.

Não se pode afirmar que Plínio enuncie "a" verdade, uma vez que suas teses são, no mínimo, controversas, e às vezes carregam uma nostalgia utópica com toques de baile da saudade. Mas, de outro lado, não há dúvida de que ele fala "a sua" verdade, sem torcer nem edulcorar. Pode parecer pouco, mas isso o diferencia radicalmente dos outros. Nesse sentido, tenho a impressão que o diferencia não é tanto o programa, mas a postura pessoal, embora as duas coisas não se desvinculem por inteiro.

Quero me deter um pouco mais sobre isso de alguém falar "a sua" verdade, uma verdade na qual acredita sinceramente. Peço licença para um breve exercício de pedantismo. Vou citar um filósofo que andou em voga de algumas décadas para cá, Jürgen Habermas. Se o leitor vai se espantar, vai se abespinhar, vai falar "ah, assim não dá", o problema é do leitor. Eu vou citar Habermas assim mesmo.

A certa altura da sua Teoria da Ação Comunicativa, o filósofo alemão se refere à "veracidade subjetiva" como uma das características da fala do sujeito orientado para o entendimento. Tem a tal "veracidade subjetiva" aquele que expressa uma idéia que, em sua consciência, de boa fé, ele toma por verdadeira. Nesse caso, "a intenção expressada pelo falante coincide realmente com o que ele pensa", escreve Habermas. Poderíamos chamar a isso de honestidade intelectual; rigorosamente, a veracidade subjetiva seria apenas um dos aspectos daquilo que costumamos chamar de honestidade intelectual. Tanto que Habermas lista de três pretensões de validade a ser atendidas pelo cidadão que se orienta para o entendimento. As outras duas são a "retidão normativa" e a "verdade proposicional", das quais não vou me ocupar agora. Fiquemos, então, com esse requisito apenas, o da veracidade subjetiva, ou, em outras palavras, fiquemos apenas com essa parcela do que poderia ser a honestidade intelectual. Pronto. Fim da citação de Habermas.

... mas não sejamos tão complicados

A gente olha nos olhos apertados de Plínio de Arruda Sampaio e somos convidados a crer que ele crê na coincidência entre o que diz e o que pensa. Ele parece, no mínimo parece, acreditar que o que diz coincide com o que pensa. Não é pouco, não é mesmo. Ao vê-lo discursar, o espectador não se vê surpreendido pela desconfiança de que, em privado, ele diria algo diferente. Não há sinais de que ele nos esconda uma parte do que pensa. É fantástico.

Outra coisa, totalmente outra, é saber se o que ele diz é verdadeiro. Ou, em outras palavras, outra questão seria saber se, verdadeiramente, o que ele prega representa a melhor solução para o Brasil. Devo, nesse ponto, deixar bem claro o que penso – o que também não sei se é efetivamente verdadeiro, mas ao menos é o que penso que penso. Devo declarar que, a meu juízo, as teses do PSOL nem sempre conjuminam com os desafios postos por essa outra categoria discursiva, essa tal a que damos o nome de realidade. Respeito, respeito muito alguns dos integrantes do PSOL, como o deputado federal Chico Alencar, entre outros, mas não me vejo sinceramente convencido das propostas que os unificam. Por vezes, tenho a impressão de que eles habitam outro planeta, e, nessas horas, repito comigo mesmo que o pessoal do PSOL vive no mundo da PLUA.

O que não importa. Não estou aqui para julgar que carta-programa é melhor, a desse partido ou daquele outro. Não sou comentarista político, nem cabo eleitoral de um ou outro. Falo sobre comunicação, ou, ao menos, procuro falar sobre isso e ser útil aos interessados no assunto. O meu ponto é procurar entender por que um dos candidatos, o Plínio de Arruda Sampaio, consegue uma comunicação com o público que, se não leva à cooptação e ao voto, se não serve para ganhar a eleição, ao menos inspira confiança, não no enunciado, mas no enunciante (sim, a palavra não existe no dicionário, mas você entendeu).

Se é verdade que, ouvindo o Plínio, a gente, ainda que não concorde com o que ele diz, tende a acreditar que ele acredita no que diz – e, logo, acredita que ele não está tentando nos tapear –, temos aí um ponto que merece atenção. Ele nos propõe um jogo limpo, e por isso se sobressai. Ele não é o que é por não ter nada a perder, mas talvez por não ter nada a esconder. Aí está sua veracidade subjetiva, uma condição que quase nunca a gente encontra num político.

Eu vi o debate na Bandeirantes. Senti sono, mas resisti. Às vezes, tive a sensação de que ele, o Plínio, funcionava como um anti-ponto-de-fuga em geometria. O ponto de fuga, sabemos, é aquele que, sem estar incluído nos quadrantes e na superfície que encerram o desenho, funciona para organizar as retas e semi-retas na folha de papel. É aquele para o qual convergem as linhas da perspectiva. O anti-ponto-de-fuga é o oposto disso, mas ainda funciona como a referência a partir da qual podemos compreender as inclinações dos demais. Na arena do debate, ele nos ajudava a entender a lógica dos outros, os que têm chances de vencer o pleito. Atuando no "espaço off", servia para realçar os contrastes. Em lugar de representar o ponto para o qual as linhas convergem, representava o ponto do qual elas divergem. Plínio era o coro crítico daquele teatro, era um ET mais outsider que os jornalistas que fizeram perguntas.

Alguém dirá que todos os fundamentalistas são assim. Fechados em seus princípios supostamente puros, eles não concedem nada, nunca, e seguem adiante, possuídos pelo gozo de se supor prenhes da verdade absoluta. Eles nada têm a esconder, também, e em seus olhos se nota a luz desinteressante do fanatismo. Mas não é disso que se trata, aqui. Existe o elemento do humor, bastante acentuado, na comunicação de Plínio de Arruda Sampaio – e humor é algo que não se mistura com fanatismo e ou fundamentalismo.

A certa altura do debate, Plínio fez piadas a respeito do "bom-mocismo" dos outros três debatedores, e eu fiquei pensando nele como uma forma de "bom-velhismo", o bom-velhismo que é seu nirvana total. Com seu 1%, ele, que é católico, está no seu auge espiritual. Não precisa de mais do que isso para estar feliz. Ele se realiza e, sem ponta de culpa, se diverte largamente. Ele está lá por missão, é verdade. Mas também está lá a passeio. Eis aí outro aspecto que distingue a comunicação que ele é capaz de pôr em marcha.

Eu via o debate, pensava nisso, pensava em bom-velhismo, pensava em Habermas, pobre de mim, e pensava que teria um artigo para escrever, pobre de você. Pensava na comunicação olho-no-olho com Plínio. Não penso o que ele pensa. Não concordo com o que ele enuncia. Mas, mesmo assim, vejo nele um homem em paz de espírito. Ele não é fanático, não é um profeta dos fanáticos, é apenas um ego tranqüilo, que, mais do que não ter nada a perder, não deve nada a ninguém.

Conheço Plínio de Arruda Sampaio de outros carnavais, de outras quaresmas, de outras procissões. Nunca o admirei tanto como agora.


Fonte: Observatório da Imprensa

Dilma terá 10 minutos do horário eleitoral; Serra, 7 e Marina, 1

Por Carol Pires, de Brasília

A coligação “Para o Brasil seguir mudando”, da candidata do PT à Presidência, Dilma Rouseff, terá 10 minutos e 38 segundos de cada um dos dois blocos de 25 minutos do horário eleitoral gratuito que irá ao ar a partir do próximo dia 17, terça-feira, na TV e no Rádio.

O horário eleitoral funciona como uma espécie de vitrine dos presidenciáveis para o eleitorado, que se informa, na maioria, por meio da TV e do Rádio. As inserções ocorrerão sempre às terças, quintas e sábados até 30 de setembro. O tempo de TV e Rádio de cada coligação foi divulgado nesta quinta-feira, 12, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

José Serra (PSDB), da coligação “O Brasil Pode Mais”, ficou com o segundo maior tempo do horário: sete minutos e 18 segundos. Marina Silva, do PV, terá um minuto e 23 segundos. O PSOL, do candidato Plínio de Arruda Sampaio, terá um minuto e um segundo.

Os demais cinco candidatos à Presidência terão 55 segundos de tempo na TV e no Rádio. São eles: Rui Costa Pimenta (PCO), José Maria de Almeida (PSTU), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidelix (PRTB) e Ivan Pinheiro (PCB).

A ordem de aparição dos candidatos no horário eleitoral foi definida por sorteio, no início do mês, pelo Tribunal Superior Eleitoral, e ficou assim, seguindo do primeiro ao último: José Serra, Plínio de Arruda Sampaio, Rui Costa Pimenta, José Maria de Almeida, Dilma Rousseff, José Maria Eymael, Levi Fidelix, Marina Silva e Ivan Pinheiro.


Fonte: Estadão

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Eleitor, o grande ausente na cobertura da campanha eleitoral de 2010

Por Carlos Castilho

Segundo os valores democráticos convencionais, os eleitores são os grandes atores de uma votação, pois esta seria a sua principal oportunidade para influir nos destinos do país. Pelo menos é isto que dizem os livros, mas, na prática, as campanhas eleitorais foram transformadas em competições em que o importante é saber quem está na frente e quem tem chances de ganhar.

É a velha imagem da corrida de cavalos, criada pela imprensa norte-americana há mais de 50 anos e que continua válida até hoje, tanto lá como cá. Esta simplificação extrema do processo eleitoral é uma conseqüência direta das estratégias dos candidatos e da política editorial da imprensa — que invariavelmente reduz a cobertura da campanha à briga pela pole position nas pesquisas de intenção de voto.

O resultado é o abandono, em maior ou menor escala, da informação sobre as posições, preocupações e desejos dos eleitores. É raríssimo encontrar um jornal, revista, emissora rádio ou TV que vá às comunidades sociais para investigar o que elas estão pensando, abra espaços para os debates que acontecem dentro delas e crie uma interface entre o público e os candidatos.

O resultado é que o eleitor acaba por sentir-se um mero espectador num processo em que ele deveria ser o protagonista, se fosse levada em conta a retórica democrática. Daí uma das mais prováveis razões do desinteresse crescente do cidadão pelas eleições, vistas cada vez mais como mais do mesmo.

Na última metade dos anos 1990 houve uma tentativa de reduzir a apatia e a abstenção eleitoral nos Estados Unidos por meio de um projeto chamado Jornalismo Cívico, nascido no meio universitário e que depois obteve recursos do Centro Pew e a adesão de cerca de 30 jornais regionais norte-americanos.

A proposta era simples. Em vez de cobrir os candidatos, os jornais passaram a dar espaços para as comunidades urbanas expressarem opiniões sobre os seus problemas, sobre a campanha e os partidos. Além disso, jornais começaram a promover audiências públicas para as quais os candidatos eram convocados a discutir com a população uma agenda montada pelos repórteres e editores.

O Centro Pew de Jornalismo Cívico (hoje inativo) chegou a colocar 10 milhões de dólares no projeto que tinha como principal referencial as eleições presidenciais norte-americanas de 1996 e de 2000. Mas, apesar dos esforços da fundação, de intelectuais como o professor de jornalismo Jay Rosen e dos editores de jornais, a proposta do jornalismo cívico acabou não prosperando.

Houve uma forte oposição dos grandes jornais como The New York Times, The Washington Post e Wall Street Journal, que rotularam o projeto como um envolvimento indevido do jornalismo na política, contrariando as normas de isenção e imparcialidade. Houve muito debate, mas acabou prevalecendo a tendência do não envolvimento com os eleitores, a pretexto de preservar a independência das redações.

Hoje esses argumentos perderam boa parte de sua consistência na medida em que os eleitores começam a encontrar outros meios, como os blogs, twits, comunidades sociais e fóruns online, para expressar suas preocupações e apatia diante de mais uma edição da corrida eleitoral protagonizada por candidatos, tribunais e pela imprensa, aqui no Brasil.

Mantendo-se fiel à rotina, os jornais perdem uma oportunidade única para procurar uma aproximação com os eleitores num momento em que cresce o número de jovens que abandonam a mídia convencional como fonte de informações. A opção preferencial pela cobertura dos candidatos feita pela maioria dos jornais brasileiros parece mais vinculada à rotina interna e uma vinculação atávica com a disputa pelo poder, do que por uma atitude lógica.

A imprensa precisa do público para sobreviver como negócio, mas evita uma alternativa como o jornalismo cívico que poderia melhorar a sua imagem diante dos eleitores, especialmente os mais jovens, a um custo quase zero em relação às estratégias editoriais já em curso para a cobertura da campanha de 2010.

Fonte: Observatório da Imprensa

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Em 2010, mais de 200 mil eleitores brasileiros votam no exterior

De São Paulo

Dos 135.804.433 eleitores aptos a votar, 200.392 residem no exterior e requereram transferência do domicílio para os países em que vivem atualmente, informa o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Esses eleitores poderão votar apenas para os cargos de presidente e vice-presidente.

Segundo o TSE, são 260 eleitores com idade menor que 18 anos; 5.803 entre 18 e 20 anos; e 12.116 entre 21 a 24 anos. O número mais representativo de eleitores está na faixa etária de 25 a 59 anos, somando 168.480 (53.415 eleitores com 25 a 34 anos; 57.559 com 35 a 44 anos; 57.506 com 45 a 59 anos).

Os eleitores que têm entre 60 a 69 anos totalizam 10.707; de 70 a 79 anos são 2.307 e com idade superior a 79 anos, 716.

Há eleitores brasileiros domiciliados nos cinco continentes, mas os três maiores eleitorados estão em Nova York (21.076), Lisboa (12.360) e Boston (12.330).

Nas três últimas eleições presidenciais o número de brasileiros residentes no exterior aptos a votar teve um aumento expressivo, passando de 69.937 no ano de 2002 para 86.360 registrados em 2006 e ultrapassando os 200 mil eleitores para as eleições do próximo dia 3 de outubro.

VOTAÇÃO

As missões diplomáticas ou as repartições consulares serão responsáveis por informar aos eleitores hora e local de votação. As seções serão organizadas para funcionar nas sedes das embaixadas, nas próprias repartições consulares ou locais em que funcionem serviços do governo brasileiro.

O eleitor regularmente inscrito no exterior que não puder comparecer à sua seção eleitoral no dia do pleito deverá, também, justificar sua ausência, "mediante requerimento dirigido ao juiz eleitoral da Zona Eleitoral do Exterior, a ser entregue à repartição consular ou missão diplomática".

Se não votar e deixar de justificar sua ausência, além das demais penalidades previstas para quem não vota no território nacional, o eleitor residente fora do país ficará sujeito, ainda, à proibição de requerer qualquer documento perante a repartição diplomática a que estiver subordinado, enquanto não se justificar.


Fonte: Folha.com