Por Carlos Castilho
Se há uma coisa que a atual campanha eleitoral deixou bem claro, esta coisa é o desgaste dos debates pela televisão entre candidatos a presidente e a governador. A monotonia, burocratização e o excesso de regras transformaram os encontros numa espécie de performance pessoal em que o ganhador não é quem mostra mais idéias, mas quem erra menos no vídeo.
A fórmula está desgastada por culpa das emissoras de televisão e dos especialistas em marketing político que impuseram aos candidatos tantos condicionamentos que eles acabaram virando atores quase que telecomandados.
As emissoras de televisão transformaram os debates num espetáculo em que a grande preocupação é audiência. Cada uma monta o seu show e o promove como se fosse um programa de auditório. Os apresentadores parecem marionetes obrigados a seguir um script cujo conteúdo rendeu horas de reuniões entre os assessores políticos de cada candidato.
Os debates pela TV cairam na mesma armadilha criada pela Justiça Eleitoral para a propaganda eleitoral. Para resolver protestos de partidos e candidatos foram criadas tantas leis, regras e normas que a campanha eleitoral tornou-se quase invisível. O mesmo acontece agora com os debates ao vivo, nos quais as regras estão se tornando cada vez mais meticulosas e cada detalhe, inclusive os técnicos, discutidos durante horas ao longo de negociações que duram semanas.
O acúmulo de regulamentações reduz ao mínimo a espontaneidade tanto dos candidatos como dos cabos eleitorais e todos acaba parecendo funcionários burocráticos. Estamos vivendo um paradoxo: se deixamos a propaganda correr solta e eliminamos as regras no debates, a campanha torna-se imprevisível e provavelmente violenta, transmitindo insegurança, desconforto e incerteza.
A busca de ordem gerou a avalancha de regras e com isso as manifestações espontâneas acabaram se tornando cada vez mais raras. A campanha perdeu vivacidade, autenticidade e principalmente participação popular. É a conseqüência do dilema clássico entre o caos e ordem.
O caos incomoda, transmite incerteza e insegurança, mas está associado à mudança, renovação e criação. A ordem gera tranquilidade, certeza e segurança, mas tende a provocar imobilismo, rotina e burocratização pela multiplicação de normas para preservá-la .
Pelo andar da carruagem, provavelmente teremos que fazer em breve outra escolha, além de selecionar governantes: como é que desejamos viver. A regulamentação é causa e conseqüência do desenvolvimento de uma casta burocrática que sobrevive pela administração das regras, leis e normas. Ela (a casta) não tomará a iniciativa de mudar este estado de coisas porque se nutre dele. Assim, caberá aos cidadãos propor algo diferente.
Fonte: Observatório da Imprensa