Depois de três anos de negociações, o Brasil e a Argentina assinaram em Buenos Aires um acordo para que o país vizinho use a experiência brasileira na administração dos domínios de internet, ou seja, os endereços utilizados pelos usuários da rede para acessar as páginas de seu interesse. Desde 1995, com a criação do Comitê Gestor da Internet, o Brasil já utiliza um software (programa de computador) produzido no país para organizar a administração dos 2,2 milhões de endereços terminados em .com.br, conhecidos como domínios. A Argentina, que tem 2,3 milhões de endereços .com.ar, ainda não criou um órgão específico para esse trabalho, que é feito pelo Ministério das Relações Exteriores.
A encarregada do setor de ciência e tecnologia da Embaixada do Brasil em Buenos Aires, Ana Paula Kobe, disse à Agência Brasil que o acordo foi assinado entre o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto Br (NIC.br), o braço executivo do Comitê Gestor da Internet, e o NIC.ar, do país vizinho.
"Basicamente, o NIC.br ajudará sua congênere argentina a administrar a concessão do registro de domínios na internet, produzir estatísticas e estudos sobre questões de segurança na rede, além de todo e qualquer tema que se relacione com a utilização da internet. Os profissionais do NIC.br são os mesmos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo [Fapesp], que registra os domínios brasileiros."
Segundo Ana Paula Kobe, o NIC.br é uma organização civil sem fins lucrativos e investe o dinheiro arrecadado com os registros de domínios na própria administração da internet brasileira. "Cada registro .com.br paga uma anuidade de R$ 30. Se multiplicarmos esse pagamento pelos 2,2 milhões de domínios registrados no Brasil, chega-se a uma quantia bastante significativa para impulsionar a administração da rede. A Argentina não cobra nada pelo registro de domínios mas, por outro lado, não tem estatísticas precisas sobre o que acontece na internet local".
Outro diferencial é que a administração da internet na Argentina está sob a responsabilidade exclusiva do governo, por meio da chancelaria. No Brasil, segundo Ana Paula, a administração da rede está organizada de uma maneira mais democrática, com a participação de órgãos governamentais, da iniciativa privada, de universidades e da sociedade civil.
O software brasileiro que ajudará a Argentina a organizar a administração dos seus domínios de internet não custou nada para o país vizinho, pois é um produto de uso livre. Segundo Ana Paula Kobe, o Brasil é um grande produtor de softwares livres, que têm o código aberto para modificações. "Eles até podem ter um custo, mas permitem que os usuários os modifiquem conforme suas necessidades. Não é como um software oferecido pela Microsoft, por exemplo, que não pode ser modificado,”
De acordo com ela, todo o governo brasileiro já usa o software livre devido à liberdade de modificação do seu código e aos recursos que oferece para adaptação às necessidades de cada usuário. "É possível criar, a partir do software livre, um programa específico para o Ministério da Saúde controlar focos de doenças na Amazônia, por exemplo. Esse tipo de software cria programas conforme as necessidades dos ministérios ou de outros órgãos governamentais, do trabalho que será desenvolvido e de suas peculiaridades."
O acordo assinado entre o Brasil e a Argentina permitirá que, a partir da organização administrativa da internet no país vizinho, novas possibilidades de cooperação bilateral sejam abertas na área de tecnologia da informação e da gestão de recursos de informática. Segundo Ana Paula Kobe, esse é um passo inicial, uma vez que não havia nenhuma formalização entre os dois países no setor. “O acordo poderá gerar subtemas desde que exista o interesse dos governos de trabalharem em conjunto. Ele também permite que o Brasil e a Argentina trabalhem coordenados em torno de um assunto, a internet, que tem problemas e soluções muito parecidos, pois estarão conectados por um sistema comum que oferece os mesmos desafios."
Fonte: AdNews