sexta-feira, 29 de julho de 2011

Itaú Cultural assumirá gestão do Auditório do Ibirapuera por cinco anos

Por Gabriela Longman

O Itaú Cultural assumirá a gestão do Auditório Ibirapuera em parceria com a Secretaria Municipal da Cultura. A instituição foi a única a apresentar proposta no edital lançado pela prefeitura.

O resultado foi publicado ontem no “Diário Oficial”. A parceria deve ser homologada nos próximos dias.

O edital foi aberto depois que a Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Instituto Auditório Ibirapuera (IAI), que administrava o espaço desde dezembro de 2004, solicitou a rescisão contratual.

“Entendemos que auditório tem potencial para muito mais do que estávamos conseguindo cumprir”, disse Mário Cohen, presidente do (IAI). Ele diz ter procurado o secretário Carlos Augusto Calil em busca de uma solução.


Maria do Carmo/Folhapress

Vista do lado de fora do Auditório Ibirapuera, que vai passar a ser gerido pelo Itaú Cultural

Vista do lado de fora do Auditório Ibirapuera, que vai passar a ser gerido pelo Itaú Cultural

O Auditório Ibirapuera vivia uma crise de recursos desde a perda do patrocínio da TIM, em fevereiro de 2010. Em junho do ano passado, o Ministério da Cultura anunciou que investiria R$ 10 milhões no espaço, dos quais só uma parte foi liberada.

O Itaú se compromete a utilizar recursos que não vêm de incentivo fiscal. Ainda não se sabe o montante exato que será destinado ao auditório. O orçamento do Itaú Cultural, sem inclusão deste, é de R$ 45 milhões anuais.

O contrato prevê a gestão conjunta por cinco anos. O nome Auditório Ibirapuera permanece inalterado.

Na proposta, o Itaú Cultural se comprometeu a reduzir o preço dos ingressos e promover eventos gratuitos.

A programação de 2011 permanece inalterada. Em 2012, haverá novos projetos.

Fonte: Folha.com.

Sem autorização, TV paga é exibida de graça no iPad

Por Emerson Limura

O iPad é um bom aparelho portátil para ver televisão via internet. Não é muito pesado e tem tela com boa qualidade de imagem, bateria de longa duração e muitos aplicativos que reproduzem conteúdo de TV.

Alguns deles transmitem vídeos de canais pagos ou sem autorização para exibição no Brasil, de redes como ABC, BBC, Discovery, ESPN, Fox, HBO, NBC e Sky. Isso chama a atenção principalmente porque são aplicativos vendidos na App Store, loja on-line da Apple que tem certa fama pelo rigor do seu processo de verificação --todos os programas enviados passam por avaliação da empresa antes de ser disponibilizados para o consumidor.

O mais popular aplicativo desse tipo no Brasil é o WatchTV HD, que lidera listas de programas para iPad mais baixados na App Store do país. Ele reproduz vídeos de emissoras de diversos lugares do mundo, como Estados Unidos, França, Rússia e Japão.

A lista do Reino Unido, por exemplo, inclui conteúdo da BBC que normalmente não pode ser exibido em outros países. Entre as opções do Brasil, há canais fechados --como ESPN HD, Fox e HBO-- e abertos --como Cultura, RedeTV! e SBT.


SPB TV, TVU Player e theChanner são alguns aplicativos com funções semelhantes às do WatchTV HD. Além de agregarem conteúdo televisivo de vários países, todos eles têm em comum uma interface algo tosca, com falhas de usabilidade, e, no geral, vídeos com baixa qualidade de áudio e imagem.

Há ainda um sortimento de aplicativos chineses que oferecem, além de programas de TV, seriados e filmes sob demanda. O PPTV, por exemplo, apresenta uma infinidade de títulos, que abrangem de produções de Hollywood a vencedores de festivais europeus, passando por séries asiáticas, sitcoms norte-americanas e animações japonesas. A interface é em chinês, mas é fácil se acostumar a ela.

Posição das emissoras

A Folha entrou em contato com algumas redes de televisão que têm conteúdo reproduzido por aplicativos para iPad. Veja o que elas responderam:

HBO:
"A HBO Latin America não disponibiliza seus conteúdos exclusivos para assinantes por meio de download ou acesso streaming pela internet. Por isso, a utilização de qualquer programa para acesso gratuito à sua programação é ilegal. A HBO LAG considera extremamente grave a violação de sua propriedade intelectual e tomará as medidas necessárias para impedir que isso continue ocorrendo."

ESPN:
"A ESPN informa que o aplicativo WatchTV HD não tem autorização da empresa no Brasil para transmitir conteúdo dos canais. A emissora está analisando quais medidas adotará para resolver esta questão."

DISCOVERY:
"Identificamos conteúdo da rede Discovery apenas no aplicativo WatchTV HD. Esse conteúdo não está autorizado pela Discovery e já notificamos a Apple sobre isso."

DEUTSCHE WELLE:
"A Deutsche Welle está bem ciente de que certos provedores usam e integram conteúdo não autorizado da rede em aplicativos de terceiros. É parte da estratégia de distribuição da DW permitir que parceiros selecionados redistribuam conteúdo da DW. Entramos em acordo com determinados provedores que oferecem aplicativos de agregação de conteúdo. Provedores que integram conteúdo da DW sem permissão prévia são contatados pela DW e cordialmente solicitados a remover o conteúdo. Se nenhuma solução é encontrada, a DW é forçada a tomar ações legais."

FRANCE 24:
"Nós já concluímos acordos com algumas empresas, permitindo que elas distribuam o canal gratuitamente em suas respectivas plataformas. Mas, como você sabe, há um monte de aplicativos desse tipo, e às vezes é difícil identificar todos eles. Então estamos tentando, tanto quanto é possível, contatar todos para concluir acordos de distribuição. Se isso não ocorrer, nós podemos notificar alguns sites e aplicativos que vendem o nosso conteúdo sem ter um acordo prévio com a France 24, principalmente se os aplicativos não são gratuitos."

SBT:
"O SBT está expandindo sua cobertura para todas as plataformas digitais do mercado com as devidas práticas internas. Nesse específico aplicativo [WatchTV HD] não foi autorizado o uso da imagem, e no momento nenhum outro possui essa autorização. Com isso, o departamento jurídico da emissora está tomando as devidas providências legais para barrar esse tipo de veiculação indevida e não autorizada."

Fonte: Folha.com.

Notícias de crise, um retrato parcial

Por Luciano Martins Costa

O noticiário econômico dos últimos dias tem sido centrado na corrida contra o tempo em que se empenha o presidente americano Barack Obama para elevar o limite de endividamento dos Estados Unidos e enfrentar o risco de moratória.

Mas há uma variedade tão grande de fatos relacionados em vários graus ao problema dos americanos que se torna praticamente impossível ao leitor comum formular uma opinião a respeito das consequências do momento econômico para sua vida pessoal.

Embora de forma longínqua, as reportagens e análises ainda fazem referência à crise financeira de 2008, mas em geral o noticiário e o opiniário deixaram para trás aquele evento – fundamental para entender o problema atual.

Fragilidade patente

As crises cíclicas do capitalismo são tema clássico de economia, tradicionalmente relacionadas aos próprios ciclos econômicos. Também é eventualmente citado o conceito das ondas longas da conjuntura, elaborado em 1926 pelo russo Nicolai Kondratiev, segundo o qual o capitalismo passa periodicamente por movimentos ascendentes e descendentes em ciclos de 40 a 60 anos. Segundo essa teoria, a economia global, majoritariamente capitalista, estaria chegando ao fundo do ciclo descendente, iniciado nos anos 1990, que se seguiu aos “trinta anos gloriosos”, núcleo de tempo do ciclo ascendente anterior.

Contextualizar este turbulento início de século nesse cenário sistêmico, considerando ainda os estudos sobre ciclos econômicos de curto prazo, é tarefa complicada para o jornalismo do dia a dia. No entanto, essa é uma pauta que deveria ser tomada a sério pela imprensa, como pressuposto para a manutenção da confiança da sociedade na capacidade do próprio sistema de superar suas crises – tema que evidentemente interessa à imprensa.

Essa tarefa se torna ainda mais difícil se for levado em conta que na crise atual do capitalismo o olho do furacão está localizado na maior economia do planeta. O que acontecer com os Estados Unidos nos próximos dias vai afetar todos os países do mundo, todas as atividades econômicas e até mesmo as políticas de muitas nações.

A teoria dos ciclos de Kondratiev tem como base principal o modo como se estabelecem as mudanças tecnológicas, que produzem ondas de investimento, de volumes e duração variáveis conforme o processo de apropriação, maturação e renovação dessas tecnologias.

Essa característica remete a uma extrema fragilidade da economia brasileira: temos baixa capacidade de inovação, fruto de deficiências educacionais, do conservadorismo de nossos empreendedores e da falta de uma política industrial.

Sem inovação, um país pouco se beneficia dos investimentos em tecnologia nos períodos ascendentes e conta com poucos recursos para furar os ciclos descendentes.

Um novo modelo de imprensa

O cenário a ser analisado se torna ainda mais complexo se levarmos em conta que o atual ciclo coincide com a constatação de que o sistema econômico global precisa conciliar o crescimento com a preservação do patrimônio ambiental e a redução das emissões de gases que produzem as mudanças climáticas.

Por outro lado, esse conjunto de elementos precisa ser administrado em meio à constatação de que os modelos de representação política – que transferem da sociedade para as instituições públicas a missão de produzir o bem-estar geral – estão sob contestação em muitas partes do mundo.

Na terça-feira (26/7), quando toda a imprensa registrava os altos níveis de tensão no mundo financeiro com a incerteza sobre a dívida dos Estados Unidos, o jornal Valor Econômico incluía, em sua primeira página, reportagem sobre o crescimento da demanda, por parte de grandes empresas, por serviços de combate a fraudes e corrupção.

De acordo com os paradigmas da sustentabilidade, que se estabelecem entre os cânones da gestão a partir das urgências ambientais, a corrupção é um elemento tangível de risco e um custo que as empresas deveriam evitar.

No momento em que a imprensa celebra a ascensão do Brasil ao quinto lugar entre os principais destinos de investimentos produtivos, o efeito da corrupção sobre a economia é pauta que também não pode faltar.

Como se pode observar, a despeito de alguns esforços isolados, o noticiário econômico fragmentado que os jornais apresentam a seus leitores tem pouca valia nesse cenário de grandes complexidades.

Será que o atual modelo de imprensa dá conta de todas essas variáveis?

O esquema de cadernos temáticos, com reportagens ancoradas em artigos de opinião, talvez esteja superado.

A Folha de S.Paulo de quinta-feira (28/7) informa que a America Online (AOL) busca parceiro para voltar a se instalar no Brasil, trazendo o Huffington Post –mídia online que transporta milhares de blogs. Seria esse o modelo?

Fonte: Observatório da Imprensa.

Com 1 milhão de novos clientes, DTH chega a 50,6% do mercado de TV paga

Por Luís Osvaldo Grossmann

Nas contas da Anatel, o Brasil encerrou o primeiro semestre de 2011 com 11,1 milhões de assinantes de TV paga. Nesses seis meses, o serviço prestado via satélite (DTH) superou o número de clientes na modalidade de TV a cabo e passou a concentrar mais da metade dos assinantes – em junho, chegou a 50,6% da base (ou 5,6 milhões de clientes).

Nos seis meses, o crescimento foi de 1,3 milhão de novos clientes. A virada no mercado, consolidada nos primeiros seis meses, deve-se ao ritmo muito mais forte de novas adesões. A exemplo dos outros meses, em junho 85% dos novos assinantes contrataram TV paga pelo DTH – 199,6 mil dos 234,6 mil registrados no mês.

A TV a cabo continua crescendo, mas em ritmo menor. Assim, do total de novos assinantes de junho, o serviço ficou com 40,6 mil. Ao longo do semestre, enquanto o cabo ampliou a base em 208,4 mil, o DTH avançou cinco vezes mais rápido, superando a marca de 1 milhão de novos consumidores.

Em contrapartida ao avanço dos principais segmentos, o serviço via MMDS segue definhando. Essa modalidade, que começou o ano com 303,8 mil assinantes, chegou ao fim de junho com 275,5 mil, representando, então, 2,4% do mercado total de TV paga no país.

Fonte: Convergência Digital.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Amy Winehouse, a pauta cômoda

Por Raphael Tsavkko Garci*


Anders Behring Breivik é jovem, loiro, alto, de olhos azuis, nórdico e cristão. Ainda, um fundamentalista de extrema-direita. E com profundo ódio por muçulmanos e pelo multiculturalismo... Nem de longe o conjunto de características preferidas pela mídia para designar o típico terrorista.

Apesar das primeiras notícias e teorias envolvendo os atentados quase simultâneos na Noruega – a explosão em frente ao edifício do primeiro-ministro que levou à morte de pelo menos sete pessoas e o tiroteio no acampamento de jovens do Partido Trabalhista na ilha de Utoya, que deixou mais de 80 mortos – de que o terrorista seria muçulmano, a verdade logo se mostrou o mais absoluto oposto.

Na ilha de Utoya, centenas de jovens haviam feito, no dia anterior, um ato em defesa da Palestina, pedindo ao primeiro-ministro do país que reconhecesse o novo Estado Palestino que logo será declarado. Em Oslo, uma bomba no parlamento com a intenção de atacar a principal instituição do país, o centro de poder, e a figura central da política local, o primeiro-ministro Jens Stoltenberg.

Sensacionalismo melodramático

O terrorista, Anders Breivik, que foi bem-sucedido em seu ataque aos estudantes mas não ao primeiro-ministro, deixou abaladas as estruturas norueguesas. No entanto, o terrorista recebeu uma ajuda inesperada, da mídia internacional e da brasileira, para tornar memoráveis seus atos ao mesmo tempo em que suas motivações e seu fanatismo eram escondidos. A mídia internacional se apressou em apontar os culpados, os “terroristas islâmicos”. A mesma pressa de sempre em apontar culpados fáceis e, por que não, convenientes. A brasileira, por sua vez, se contentou em esconder as verdadeiras motivações de Breivik. Ele odiava o multiculturalismo, mas pouco se falou sobre seu fanatizado cristianismo.

No dia seguinte aos atentados, morreu a famosa cantora Amy Winehouse, possivelmente de overdose, e a mídia encontrou o tema principal do fim de semana. Muito mais cômodo e sensacionalista tratar da morte de uma grande cantora do que se aventurar no espinhoso terreno do terrorismo... cristão. Manchetes de jornal por todo o país, online e offline, lembravam do atentado cometido pelo norueguês alto e loiro, mas escondiam e relegavam às letras miúdas e rodapés suas motivações: ódio visceral ao islamismo e fundamentalismo cristão militante. O termo “terrorista cristão” não foi empregado em momento algum, muito menos virou uma única expressão, como acontece com o termo “terrorismo islâmico”. Ora, para a mídia, a palavra “terrorismo” precisa de um qualificado e não faz sentido se este não for “islâmico”. O termo, então, foi pouco usado.

No Jornal Nacional do sábado (23/7), o primeiro bloco, de 10 minutos, foi inteiramente dedicado à morte de Amy Winehouse, enquanto seis minutos do segundo bloco foram dedicados aos atentados/massacres na Noruega. No terceiro bloco, mais 12 longos minutos de Amy Winehouse. Vinte e dois minutos de jornal para Amy Winehoyse, seis minutos para a crise na Noruega. No Fantástico do domingo, também da Rede Globo, menos de quatro minutos dedicados aos atentados na Noruega – mas com o mesmo melodrama típico dos domingos à noite, em que a notícia dá lugar ao sensacionalismo melodramático de novelas mexicanas.

Suaviza-se a realidade

O entretenimento venceu o jornalismo. Ou talvez as tradicionais concepções de jornalismo estejam ultrapassadas. Fosse islâmico, baixinho, barbudo e com semblante do Oriente Médio, qual seria a reação do jornalismo mundial? Como se daria a cobertura de mais um atentado de um discípulo de Bin Laden (que, mesmo morto, parece continuar a comandar uma rede internacional mais poderosa que muitos Estados, na visão sempre sensacionalista da mídia)? O jornalismo foi substituído por um misto de hipocrisia e melodrama. Um terrorista cristão não serve aos propósitos midiáticos. Não é um inimigo fácil e se parece demais com muitos articulistas de grande revista semanal ou de diários conceituados.

A extrema-direita fundamentalista se parece, não importa o país, e o Brasil vem sendo vítima de uma onda fundamentalista cristã que busca perseguir a comunidade LGBT tanto através da via política (bancada evangélica, tentativas de deslegitimar o Judiciário e de vetar qualquer lei contra a homofobia), quanto através da violência nas ruas mesmo contra um pai que abraça seu filho e são “confundidos” com um casal gay, como se a possibilidade de que fossem efetivamente gays pudesse mudar o sentido ou o significado da violência.

Extrema-direita cristã, fundamentalista, se vê na Fox News, canal de grande audiência dos EUA. A mesma ideologia se nota nos programas evangélicos das madrugadas (e até dos horários nobres) de muitas redes de TV brasileiras ou em revistas e jornais de grande circulação. Ou seja, é incômodo classificar os atos terroristas de Andres Breivik como “terrorismo cristão”.

Para escapar do “problema”, foca-se em outros assuntos e suaviza-se a realidade. Maior foco na reação do primeiro-ministro norueguês, maior foco no salvamento das vítimas de Utoya e mesmo na morte de Amy Winehouse, a melhor desculpa que poderia ter caído no colo dos tubarões da mídia neste momento.

* Jornalista, blogueiro e mestrando em Comunicação pela Cásper Líbero, São Paulo.

Fonte: Observatório da Imprensa.

Companhias de TV a cabo incorporam lições da web

Por David Gelles

A televisão vem aprendendo algumas lições da internet. Na Cable Show, feira do setor de TV realizada em Chicago na semana passada [retrasada], palavras-chave do mundo da tecnologia como “aplicativos”, “nuvem” e “social” circulavam de maneira exaltadLinka. Mas não se tratava de declarações vindas da Apple, do Google ou do Facebook para mostrar seus produtos mais recentes. Elas partiam de empresas de TV a cabo, como Comcast, Time Warner e ESPN, buscando explorar avanços nas comunicações móveis, armazenagem remota e programação de software para tentar continuar relevantes para o consumidor atual. “A expectativa dos usuários sobre como consumir vídeos está mudando”, disse Imran Shah, sócio-gerente da IBB Consulting. A forma como os espectadores buscam programas está mudando e as “recomendações [feitas nas redes] sociais são parte integral disso”, afirmou Shah.

A Comcast, maior operadora a cabo nos Estados Unidos, lançou a próxima geração de seu software Xfinity. A tecnologia permite aos usuários buscar conteúdo de forma mais fácil e acessar algum conteúdo na internet. Por exemplo, uma busca por “Tom Cruise” mostrará todos os próximos programas a serem exibidos sobre ele ou nos quais o ator trabalha, assim como os filmes disponíveis sob encomenda.

O novo software da Comcast também apresenta quatro “aplicativos” que exibem informação sobre o clima e o tráfego e dão acesso a funções online, como o Facebook e o serviço de rádio pela internet Pandora. Os esforços para melhorar a experiência na TV são parte de uma investida mais ampla da Comcast e de outras operadoras a cabo para segurar assinantes que, de outra forma, poderiam fugir para as opções online.

Vantagens tremendas

Por trás do sistema da Comcast, há uma nova abordagem para a navegação na TV. Em vez do software que mostra a rede de canais e está inserido no decodificador fornecido pelas operadoras a cabo, a Comcast fornecerá uma interface “em nuvem” que pode ser personalizada e atualizada. “A Cloud TV é mais flexível”, disse Ian Blaine, executivo-chefe da The Platform, que fornece a infraestrutura para o novo sistema da Comcast. “Você pode desenvolver mais rapidamente, atingir mais aparelhos. É a tendência que avança neste ano.”

A Liberty Global, grupo americano que possui operações de TV a cabo na Alemanha e em países escandinavos, informou que também trabalha em um produto similar para mercados europeus chamado Horizon, que estará disponível ainda este ano.

A audiência total da TV aumentou 22 minutos por mês, por pessoa, em comparação com o ano passado, segundo a Nielsen, e as expectativas dos espectadores relativas à facilidade de navegação continuam aumentando. E, embora Netflix, Hulu e Apple estejam ganhando adeptos com suas alternativas aos pacotes tradicionais oferecidos pelas operadoras de cabo, analistas veem uma maior oportunidade para as empresas a cabo que possam usar o melhor da internet em seu benefício. “A empresa que integrar canais online tradicionais, vídeo sob encomenda e [gravadores de vídeo digitais] online, por meio de plataformas múltiplas e uma interface fácil de usar [...] tem vantagens tremendas em termos de participação no mercado de vídeo e, mais importante, na determinação de preços dos vídeos”, disse Benjamin Swinburne, analista do banco Morgan Stanley.

Aparelho de exibição de vídeos

As empresas que quiserem aproveitar essa oportunidade terão de agir rápido. O modelo estabelecido de distribuição de televisão já mostra sinais de desgaste. HBO e ESPN, duas das redes a cabo mais bem-sucedidas, desenvolveram seus próprios aplicativos, que permitem aos usuários assistir aos programas pelo iPad. O aplicativo da ESPN, que permite aos usuários ver a programação ao vivo, foi baixado mais de 2 milhões de vezes. O programa da HBO, que dá opções sob demanda, teve mais de 1 milhão de transferências.

“As marcas mais fortes estão dizendo não ter certeza de que gostariam de ser agrupadas”, disse o analista Michael Nathason, do banco de investimento Nomura. “Temos uma base de assinantes que sabe nos encontrar por conta própria. Podemos desenvolver nosso próprio aplicativo.”

Portanto, embora o setor de TV a cabo esteja nas alturas, com uma base sólida de assinantes e receitas em alta, seus executivos reconhecem que, após décadas de domínio da TV tradicional, novas tecnologias repentinamente tornaram seu mundo bem mais complicado. “Temos de adotar novas tecnologias, precisamos entregar as coisas em novos formatos, precisamos adotar todas as telas”, disse o executivo-chefe da Time Warner Cable, Glenn Britt. “Não existe mais tal coisa como a TV. O que existe é um aparelho de exibição de vídeos.”

* Jornalista do Financial Times em Nova York.

Fonte: Valor Econômico.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Anatel e PLC 116: a TV a cabo em pauta

Por Valério Cruz Brittos e Lucas de Abreu Dias*

O anacronismo da regulamentação das comunicações no Brasil é de conhecimento público. Na radiodifusão (televisão e rádio abertas), isso é mais nítido, tendo em vista a ausência de contrapartidas impostas ao uso do espectro eletromagnético, utilizado a partir de lógicas eminentemente privadas com os resultados sabidos, em termos de concentração e falta de diversidade. Não obstante, a TV por assinatura também tem uma legislação incompatível com as necessidades do país e incoerente, como nas diferenças de exigências para operação de cabo, satélite e microondas, sendo muito maiores no caso da primeira tecnologia, com (corretas) obrigações de transmissão de canais específicos e abertura de espaços para iniciativas sociais, além de restrições (parciais) para o capital estrangeiro.

Nesse quadro de atraso a ser corrigido é que devem ser interpretadas as resoluções da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para o sistema de outorgas e regulação do mercado de TV a cabo. Anunciadas oficialmente em 4 de junho deste ano, visando à substituição da já ultrapassada Lei do Cabo, de 1995, devem impactar um setor há 10 anos fechado para novas empresas e concentrado. Entretanto, estas resoluções normatizam um tema que já vinha sendo debatido anteriormente pelo Congresso Nacional, através do Projeto de Lei da Câmara (PLC) nº 116, de 2010. A Anatel parece ter reunido propostas já existentes que sofrem com o rumo das negociações políticas, cuja lentidão dificulta a votação.

Aguardando debate

Contudo, as resoluções da Anatel e o PLC 116 não são iguais. Lançado em 2010 como sucedâneo doPLC 29, o PLC 116 objetiva a abertura do mercado de televisão a cabo para qualquer companhia interessada. A mudança de maior impacto é a autorização para empresas de telecomunicações, independentemente de sua composição acionária, poderem comprar outorgas e participar como prestadoras de serviços de TV a cabo para o consumidor final. Todavia, a Anatel não incluiu na sua proposta a remoção da restrição para empresas que possuem mais de 49% de capital estrangeiro de entrar no mercado, beneficiando diretamente a Oi, única das teles enquadrada nas regras propostas, o que pode levar as demais empresas de telecomunicações (leia-se Telefônica e Embratel) a adotar medidas judiciais contra a empresa brasileira e contra as próprias medidas da Anatel, atrasando o processo de alteração.

A decisão da agência de tomar a frente na abertura do mercado de TV a cabo deve ser analisada com cuidado. De um lado, o Brasil não pode ficar indefinidamente aguardando uma decisão congressual, sendo que, aliado ao devido conhecimento técnico, a Anatel possui mais agilidade para aprovar o novo sistema de outorgas, abrindo o mercado para outras empresas. De outro, o Congresso é o lugar por excelência das decisões legislativas, como espaço político legítimo de confrontação de ideias e definição de proposições, sendo o debate e a negociação inerentes à sua dinâmica, o que requer tempo, o qual, no entanto, não pode ser indefinido. O PL 116 está parado no Senado e, apesar de ser prioridade para o governo, sua votação tem sofrido constantes adiamentos, com expectativa de ser votada em agosto.

Uma forma de compensação

Desde os primeiros movimentos para a modificação do marco regulatório na área da TV paga neste século, transparece a disposição para a abertura do mercado, um intento que não é geral, encontrando maiores resistências especialmente junto aos radiodifusores. Assim, chama atenção a brecha aberta pela Anatel, que possibilita apenas para uma das grandes empresas de telecomunicações o ingresso em um mercado de alcance limitado, mas com grandes efeitos. Da forma como cada espaço do mercado é intensamente disputado por agentes de diversas áreas, nesta Fase da Multiplicidade da Oferta, é esperada uma forte briga entre as próprias empresas para que seja decidido se haverá restrições ou não.

Tais fatos transcorrem em um momento de pressão para aprovação de iniciativas herdadas do governo Lula, como o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Abrir o mercado para novas participações também é de interesse do Estado, seja para arrecadar recursos com as vendas de novas outorgas e suas posteriores operações (via tributos), seja para a (indispensável) ampliação do alcance do serviço de telecomunicações no seu todo. Além disso, a entrada dessas empresas no cobiçado mercado de distribuição de audiovisuais por cabo pode ser interpretada como uma forma de compensação do Estado por eventuais perdas (ou lucros reduzidos) que venham a obter na operação do pacote de banda larga popular.

* Respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Facom-UFBA; e graduando em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pela Unisinos.

Fonte: Observatório da Imprensa.

Tele firma acordo com Telebrás para oferecer internet a R$35

Com um contrato inicial de 40 Mbps, firmado com a Telebrás, a TIM vai oferecer, a partir de setembro, acesso a internet nos moldes do Plano Nacional de Banda Larga – ou seja, conexões de 1Mbps por R$ 35. Esta capacidade inicial é para atendimento em quatro cidades – duas em Goiás, duas no Distrito Federal – mas a meta da operadora é ampliar o serviço a mil localidades até o fim do próximo ano.

Além das quatro primeiras cidades – Santo Antônio do Descoberto e Águas Lindas, em Goiás, e Samambaia e Recanto das Emas, no DF – outras oito, ainda não reveladas, devem fazer parte da primeira ampliação do contrato já firmado, pelo qual a Telebrás vende capacidade entre R$ 120 e R$ 200 o megabit.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, destacou que esse acordo com a operadora integra o Plano Nacional de Banda Larga dentro da estratégia de garantir a oferta do acesso à Internet em regiões mais carentes como o Norte do Brasil.

Segundo o diretor de Marketing da TIM, Rogério Takayanagi, as mil cidades previstas até o fim de 2012 serão discutidas com a própria Telebrás e o Ministério das Comunicações, mas a empresa adianta que parte da lista vai contemplar municípios onde já existem obrigações de cobertura pelo leilão 3G. A rede da Telebrás, no entanto, deverá garantir maior capacidade às conexões.

Semelhante aos termos acordados entre o Minicom e as concessionárias, a oferta da TIM a R$ 35 também prevê um limite para download, ainda que sensivelmente superior àquele previsto para as conexões móveis conforme o Termo de Compromisso assinado entre as teles e o governo.

No caso da TIM, esse limite será de 500 MB – similar, portanto, ao que as concessionárias deverão oferecer nos acessos fixos. Quando os consumidores esgotarem esse limite, dentro do período mensal dos contratos, o acesso de 1Mbps será reduzido para 128 kbps.

A diferença mais significativa em relação ao acordo com as concessionárias, no entanto, é que o PNBL nos moldes da Telebrás já impõe uma garantia mínima de qualidade. No caso, a estatal exige o cumprimento dos critérios definidos pelo Inmetro e pelo Comitê Gestor da Internet (CGI).

O principal deles é a garantia de entrega de, pelo menos, 20% da velocidade contratada – o dobro dos 10% praticados atualmente pelo mercado. Além disso, a empresa deve aceitar a instalação de equipamentos de monitoramento de qualidade. Outro ponto é que, nos moldes da Telebrás, cada Mbps só pode ser compartilhado por até 20 clientes.

O presidente da Telebrás, Caio Bonilha, por sua vez, aproveitou a ocasião para afirmar que o acordo fechado com a TIM se dará nos mesmos moldes daquilo que vem sido oferecido aos provedores, sem nenhum tratamento diferenciado para a operadora.

Fonte: Convergência Digital.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Globo e SBT vetam homossexuais por conservadorismo da audiência

Por Andres Kalikoske e Jonathan Reis*

Os homossexuais nunca estiveram tão presentes na telenovela brasileira como em 2011. Para além do clichê que tradicionalmente é construído, autores da Globo e do SBT têm se esforçado para apresentar na TV aberta um cotidiano muito próximo da realidade destas minorias. Isto envolve construção de personagens não estereotipados, submetidos a contextos que, no folhetim televisivo, antes pertenciam exclusivamente ao universo heterossexual. A evolução no discurso é mérito da genialidade dos novelistas, que identificaram o momento propício para renovar seus núcleos a partir de abordagens inovadoras, mesmo limitadas ao que é admissível em veículos massivos como a televisão. Novela com o maior número de personagens homossexuais dos últimos anos,Insensato Coração (Globo, 21h10) possui gays bem-comportados que enfraquecem a mitologia da promiscuidade. Ainda que em menor medida, Amor e Revolução (SBT, 22h15) recentemente também surpreendeu, ao exibir um beijo de língua entre mulheres. A surpresa maior ficou por conta da emissora que a exibiu, sabidamente despreocupada com inovações em sua teledramaturgia.

No entanto, como grande parte da audiência de ambas novelas ainda é conservadora, não tardou para que as emissoras recuassem na temática. Na Globo, Gilberto Braga e Ricardo Linhares foram convocados para uma reunião emergencial com a direção da emissora, que solicitou aos autores que acalmassem os anseios dos personagens homossexuais. No SBT a ordem partiu diretamente de Silvio Santos ao autor Tiago Santiago, que foi aconselhado a desfazer um casal de rapazes em vias de se formar e que seria o responsável pelo primeiro beijo homossexual entre homens em uma novela nacional. Foram cortadas também cenas já gravadas que mostravam a ambiguidade sexual de um jovem padre.

Pai e filho espancados

Os discursos abordados em novelas não raramente estão condicionados a pesquisas de opinião, sendo estes os indicativos responsáveis pelo avanço ou recuo de determinado personagem. Pelo impacto gerado por uma novela do prime time da Globo, Insensato Coração pode ser considerada a mais positiva tentativa de apresentar ao telespectador ortodoxo uma realidade talvez desconhecida. Apesar da negativa aos personagens homossexuais revelada pelas pesquisas, a novela de Braga e Linhares nutre-se de uma realidade muito presente na vida cotidiana. Neste momento cumpre, inclusive, um importante trabalho de divulgação da homofobia, termo introduzido nos anos 1960 para explicar a aversão, ódio e demais níveis de discriminação contra homossexuais.

Para abordar a questão, os autores construíram cenas em que os personagens gays são perseguidos e violentados. A carga de realidade presente nos capítulos finais de Insensato Coração foi inspirada no caso de três estudantes homossexuais vítimas de homofóbicos que utilizaram lâmpadas fluorescentes para agredi-los. A violência gratuita virou manchete nos principais veículos de comunicação, uma vez que câmeras de segurança capturaram o exato momento da agressão. Mais recentemente, pai e filho confundidos com homossexuais foram espancados na rua, no momento em que se abraçavam. Enquanto o adolescente desmaiou com os golpes que sofreu, o homem de 42 anos teve parte da orelha decepada.

O crime dos skinheads

Não se pode negar que os meios de comunicação massivos foram co-responsáveis por midiatizar uma espécie de categorização da sexualidade humana. Em escala global, imagens de mulheres extremamente masculinizadas e homens feminizados colaboraram para a formação simplificada e caricata dos homossexuais. O poderio das igrejas, detentoras de infinitas outorgas de emissoras espelhadas pelo território nacional, aponta para a propagação deste mesmo discurso nos próximos anos.

Acostumada a ser crucificada por extremistas religiosos, a senadora Marta Suplicy (PT) recentemente revisou seu antigo Projeto de Lei da Câmara (PLC), disposto a criminalizar os homofóbicos. A proposta original batia de frente com membros da bancada evangélica e grupos chamados pró-família. Na verdade, algumas comunidades religiosas assumiram temer medidas como a prisão de seus membros, no caso de pronunciamentos contra os homossexuais. No entanto, uma nova proposta – ora redigida em comum acordo com a Associação de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ALGBT) – focou na violência contra os homossexuais, chegando mesmo a ser defendida pelo senador religioso Magno Malta (PL).

* Respectivamente, jornalista e doutorando em Ciências da Comunicação na Unisinos, onde coordena o Núcleo de Análise da Teledramaturgia (NAT); e graduando em Publicidade e Propaganda e pesquisador do NAT na mesma instituição.

Fonte: Observatório da Imprensa.

Coisas espantosas que vi na Europa

Por Alberto Perdigão *

A cada nova crise que atinge a União Europeia-27, a Economia e a política globais ficam se perguntando: pode o PIB da Alemanha seguir sustentando a Grécia? É possível a Portugal existir como projeto autônomo e sustentável? Que Espanha é essa que hoje gera menos empregos que antes da unificação? As questões são muitas, as dúvidas parecem eternas. Mas uma coisa é certa: o velho mundo, que é primeiro mundo, pensa primeiro na vida como maior valor e na cidadania como maior bem da sociedade.

É neste contexto que se insere a comunicação pública, aquela que os governos oferecem aos governados, a centrada no interesse público, a dialógica e inclusiva. Independentemente da pujança econômica ou da estabilidade política dos estados membros da União Europeia, é lá que se encontram, como em nenhum lugar do mundo, as ferramentas comunicacionais que asseguram à cidadania – e por extensão aos visitantes – o direito de ser informado e de também se expressar quanto aos seus desejos e opiniões.
Chega a ser espantoso, para nós da América Latina que convivemos passivamente com a cidadania muda e, coniventes, legitimamos o Estado solitário. No Brasil, não diferente da Argentina, Chile ou daVenezuela, a comunicação pública ainda é um devir até teorizado em alguns livros, mas pouquíssimo praticado - não obstante as ondas democráticas e o avanço tecnológico que nos chegam quase simultaneamente, em relação à Portugal ou Espanha, a Alemanha, França ou Inglaterra.

Na União Europeia, a relação entre o Estado e o cidadão é um compromisso praticado exaustivamente pelos governos, sejam eles mais democratas ou mais trabalhistas, estejam eles mais à esquerda ou mais à direita do Greenwich político. O melhor exemplo talvez venha da Inglaterra, onde a Monarquia se curva ao Parlamento, pela preservação devalores republicanos, como Estado democrático de direito e dos canais de comunicação que asseguram à cidadania a plena e livre expressão para muito além do simples voto.

Um turista em rápida passagem pelo país vai ver que nos órgãos públicos são garantidas e facilitadas a informação e a comunicação direta, gratuita e no local, com um gerente ou ouvidor, mesmo quando há um atendimento físico de guichê ou balcão – inclusive ao visitante. Nas estações do mais antigo sistema de metrô do mundo, ao lado da bilheteria que arrecada, há uma cabine para prestar contas e esclarecimentos. Na plataforma de embarque, um telefone está disponível para falar com o gerente da estação. Isso é comunicação pública.

Enquanto no Brasil ainda se vê no sistema público de transporte coletivo a advertência “Fale com o motorista somente o indispensável”, o ônibus londrino tem dois “andares” de comunicação: um canal de voz com a cabine do condutor e outro com a central do serviço. Nos pontos, as informações sobre linhas e horários estão expostas em braile. Embarcados, cegos e surdos são informados por display eletrônico e canal de voz sobre a sequência de paradas do trajeto. Isso é comunicação pública.

O dia em que um (não) cidadão francês (não) foi suspeito de furtar uma bicicleta
Em Paris, na França, o que é espantosa é a relação de confiança que sustenta o sistema público que estimula a utilização de bicicletas, inclusive entre turistas. O Velib’ (uma referência a vélo libre, bicicleta livre) oferece bikes que podem ser apanhadas, e deixadas, em dezenas de estações espalhadas pela cidade, na conveniência do usuário. Para trajetos de até meia hora não se paga nada, o que mantém a alta rotatividade no uso. Basta se inscrever, deixar uma caução no cartão de crédito e pedalar.

O exemplo de sistema público de transporte politicamente correto e ecologicamente seguro é também um modelo de comunicação pública. Além do site de fácil navegação www.velib.paris.fr, que pode ser acessado do telefone, em cada estação há um totem comum terminal de acesso e interatividade com a central, parecido com um caixa eletrônico, mas que é um espetáculo de usabilidade. Achou pouco? Pois em caso de dificuldade, basta acessar um canal de diálogo, e o atendimento é prestado na hora. Isso é comunicação pública.
Eu mesmo precisei do canal. Ao não conseguir desengatar a bicicleta que acabara de pedir ao terminal, o sistema entendeu que eu a estava utilizando, não permitindo uma nova retirada. Irritado por não ter uma bicicleta para mais um passeio, e por estar sob o risco de perder a caução pela não devolução do que não usara, chamei o canal de voz. Falei em péssimo inglês que tinha problemas e, em tom abusado, confesso, exigi que a conversa fosse na língua espanhola. E fui atendido prontamente.
Comecei dizendo que estava prejudicado por um problema mecânico do sistema, que não aceitaria ser tratado como suspeito de não devolver bicicleta nem admitiria perder o dinheiro da garantia. O senhor tem toda razão, pedimos nossas desculpas, disse uma moça, para meu espanto, em tom cordial e atencioso, como quereria qualquer turista em situação embaraçosa. Dando prova de confiar no que eu relatava, simplificou: basta o senhor dizer o número do posto e o número do engate da bicicleta 613, que o senhor não usou.

Chamei o Velib' horas depois, passei as informações. Como bom brasileiro, pedi o número do protocolo. Não precisa de protocolo, não há processo aberto, nem pendências, o caso está encerrado. Insisti, pedindo que me enviassem um comprovante de que não devia nada, de que nada me seria cobrado. Não precisa informar o que o senhor está me afirmando; não sendo necessária a devolução nada lhe será cobrado, disse. E muito obrigado pela informação, o engate já está sendo consertado, finalizou. Isso é comunicação pública.

Moral da história. Na União Europeia, a relação entre o Estado eo cidadão (incluídos os visitantes) é forjada na confiança. A cidadania na União Europeia se fortalece com a na comunicação pública. A abrangência e o rigor com que esta comunicação pública é praticada ainda são um espanto para nós, de países ditos republicanos, ditos democráticos, onde governos e eleitores não se relacionam, não se reconhecem como interlocutores em temas de interesse comum e estão sempre dispostos a assaltar um ao outro.

* Jornalista, mestre em Políticas Públicas e Sociedade, escreve semanalmente para o Blog da Dilma. aperdigao@terra.com.br.

Fonte: Blog da Dilma.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Brasil comanda Programa Ibero-Americano de Inovação

O presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCT), Glauco Arbix, foi eleito por unanimidade presidente do novo Programa Ibero-Americano de Inovação, iniciativa multilateral que promete mudar o panorama da tecnologia na região. A escolha ocorreu na 1ª Reunião do Comitê Intergovernamental, realizada no último dia 15 de julho, em Madri (Espanha), que contou com a participação de representantes de Argentina, Brasil, Bolívia, El Salvador, Espanha, Portugal Nicarágua, México, Panamá, Paraguai, Uruguai e Peru.Também está definido que a Finep será sede da Secretaria Executiva do Programa nos próximos três anos.

A próxima reunião, que prevê o estímulo à atuação colaborativa entre empresas dos países membros em projetos de inovação tecnológica, já está agendada para os dias 3 e 4 de novembro, na sede da Finep, no Rio de Janeiro. Neste encontro, será aprovado o plano de ação e escolhido o nome do secretário-executivo, que não pode ser do país sede. Os candidatos serão selecionados por um Comitê de Busca Internacional formado por representantes da Secretaria Geral Ibero-Americana (Segib), para um mandato de um ano, prorrogável por mais dois.

“A ideia é intensificar a cooperação de pequenas e médias empresas”, afirma Glauco Arbix. Segundo ele, todos os países envolvidos deverão contribuir financeiramente para o Programa. A Espanha foi a primeira a aprovar um aporte de 500 mil euros. No caso do Brasil, a contribuição não será financeira, mas baseada na prestação de serviços e alocação de pessoal para conduzir o programa.

Na reunião em Madri também foram aprovadas outras medidas para intensificar esta cooperação entre empresas. Uma delas prevê a criação de um portal da inovação Ibero-Americana – uma espécie de Facebook – com o objetivo de estreitar o relacionamento entre empresas interessadas na busca de parcerias e em novas oportunidades de negócio. Também está em estudo o lançamento de um edital de cerca de R$ 10 milhões para apoiar a inovação entre empresas que já estejam em processo de cooperação.

Será criado ainda um sistema de plataformas tecnológicas de estímulo à cooperação para a escolha de temas que possam ser debatidos em eventos empresariais e ajudem efetivamente a viabilizar negócios. Segundo Arbix, para países como o Brasil, o Programa ajudará na expansão e internacionalização das empresas. Em outros, contribuirá para a expansão e absorção de tecnologias para melhoria de produtos e processos pelo setor empresarial.

Fonte: Convergência Digital

Quando os espectadores se tornam parte do processo

Reproduzido do semanário The Economist, 7/7/2011; intertítulos do OI; tradução de Jô Amado

O anúncio de que Barack Obama apareceria dentro em pouco na televisão veio tarde, na noite de 1º de maio. “Potus [sigla para President of the United States] falará à nação esta noite, às 22:30, horário da Costa Leste”, dizia o tweet de Dan Pfeiffer, diretor de Comunicações da Casa Branca. A mensagem provocou uma explosão de especulações no microblog. Teria Muamar Kadafi sido morto num ataque aéreo? Teria Osama bin Laden finalmente sido localizado? De início, ambas as teorias tinham o mesmo número de defensores, a julgar pelo volume de tweets. Foi então que Keith Urbahn, principal assessor de Donald Rumsfeld, ex-secretário de Defesa, recebeu um telefonema de um produtor de televisão bem relacionado que queria entrevistar Rumsfeld sobre o assassinato de Bin Laden. E Urbahn escreveu no Twitter: “Fico sabendo por uma pessoa respeitável que mataram Osama bin Laden. Cruzes!”

Sua mensagem logo se espalhou pelo Twitter. Telejornais começaram a divulgar o caso, que foi confirmado uma hora depois por Obama. Posteriormente, soube-se que Sohaib Athar, um consultor de informática que vivia em Abbottabad, o vilarejo paquistanês onde Bin Laden vinha se escondendo, descrevera como a operação sucedera numa série de tweets (“Um estrondo que estremeceu as janelas, aqui em Abbottabad... Espero que não seja o começo de algo ruim”).

No dia seguinte, começou a circular na internet uma foto que dizia mostrar o rosto ensanguentado de Bin Laden, mas no Twitter isso foi rapidamente exposto como falso. Uma semana depois, um depoimento num site obscuro atribuído ao filho de Bin Laden, Omar – denunciando a morte de seu pai como “criminosa” e seu corpo jogado ao mar como degradante –, foi divulgado pelo mundo todo quando foi adicionado um link pelo Twitter de Leah Farrall, analista em contraterrorismo. Tudo isso mostra como as redes sociais estão mudando o jornalismo, diz Mark Jones, editor para assuntos globais da agência de notícias Reuters. “Todos os ângulos da matéria estavam no Twitter.”

Antagonismo entre blogueiros e jornalões

Pesquisas feitas na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos sugerem que de 7 a 9% da população usa o Twitter, comparado a quase 50% que usa o Facebook. Mas os usuários do Twitter também influenciam, diz Nic Newman, ex-executivo da BBC para “mídia do futuro” e atualmente professor no Instituto Reuters da Universidade de Oxford. “A audiência não está no Twitter, mas as notícias estão no Twitter”, resume Jones.

Graças à ascensão das redes sociais, a notícia já não é colhida pelo repórter e transformada numa matéria, mas emerge de um ecossistema no qual jornalistas, fontes, leitores e espectadores trocam informações. Essa mudança começou em torno de 1999, quando as ferramentas dos blogs se tornaram amplamente acessíveis, diz Jay Rosen, professor de Jornalismo da Universidade de Nova York. O resultado disso foi “a passagem das ferramentas de produção para as mãos das pessoas até então conhecidas como audiência”, diz ele. A isso seguiu-se outra mudança: a ascensão da “mídia horizontal”, que tornou rápido e fácil para qualquer pessoa compartilhar links (via Facebook ou Twitter, por exemplo) com um grande número de pessoas sem o envolvimento de uma organização jornalística tradicional. Em outras palavras, as pessoas podem agir coletivamente como uma rede de transmissão.

Inicialmente, muitas organizações jornalísticas eram abertamente hostis a estas novas ferramentas. Nos Estados Unidos, o auge do antagonismo entre blogueiros e os jornalões foi no final de 2004, quando o programa 60 Minutes, telejornal da noite da CBS, divulgou, com base em comunicados vazados, que George Bush Jr. tinha se utilizado de conexões familiares para receber um tratamento favorável da Air National Guard na década de 70. Imediatamente, blogueiros questionaram a autenticidade dos comunicados. Um ex-executivo de jornalismo da CBS ridicularizou o blogueiro como “um camarada sentado na sala, em pijamas, escrevendo o que lhe passa pela cabeça”. Mas os blogueiros tinham razão. A CBS voltou atrás e Dan Rather, um dos nomes mais respeitados no jornalismo norte-americano, renunciou ao seu posto de âncora no início de 2005.

A maior influência no mundo árabe

Mas nos últimos anos, as grandes organizações jornalísticas mudaram de atitude. O êxito do Huffington Post, que foi lançado em maio de 2005 com uma combinação de reportagens originais pelos membros da equipe, posts em seu blog de voluntários (incluindo muitos amigos célebres de Arianna Huffington, cofundadora do site) e links com matérias jornalísticas em outros sites, mostrou a sedução pelo que Arianna chama de abordagem “híbrida”, que mistura o velho e o novo, o profissional e o amador. Desde então, jornais e telejornais criaram seus próprios blogs, contrataram muitos blogueiros e permitiram aos leitores que deixassem comentários, como nos blogs. Também pedem fotos, vídeos e outras contribuições de seus leitores e procuram material publicado na internet, incorporando, dessa forma, não-jornalistas ao sistema de informação.

Os jornalistas vêm se tornando mais inclinados a ver os blogs, o Facebook, o Twitter e outras formas de mídia social como um acessório de valor à mídia tradicional (e, às vezes, um corretivo). “Vemos essas coisas como sendo muito complementares àquilo que fazemos”, diz Martin Nisenholtz, do New York Times. Muitos jornalistas que subestimavam a mídia social mudaram de tom nos últimos meses, quando seu valor ficou em evidência na cobertura das revoltas árabes e no terremoto japonês, diz Liz Heron, editora de mídia social no New York Times.

Quando um jovem tunisino, Mohammed Bouazizi, ateou fogo em si próprio no dia 17 de dezembro para protestar contra a polícia ter confiscado sua banca de frutas e contra a falta de emprego para jovens, sua ação provocou de imediato manifestações de outros jovens na cidade de Sidi Bouzid. O vídeo de um protesto, liderado pela mãe de Bouazizi, foi postado no Facebook onde foi visto pela equipe de reportagem da al-Jazira, uma emissora de notícias via satélite fundada em 1996 e sediada no Catar que se tornou a plataforma de maior influência no mundo árabe. A al-Jazira exibiu o vídeo e, quando Bouazizi morreu – no dia 4 de janeiro, devido às queimaduras –, explodiam protestos por toda a Tunísia que acabaram se espalhando pelo mundo árabe.

Material útil

Mark Lynch, especialista em questões da mídia no Oriente Médio na Universidade George Washington, diz que a mídia social e a televisão por satélite trabalharam em conjunto para chamar a atenção para a primavera árabe. A mídia social disseminou imagens dos manifestantes na Tunísia que, de outra forma, poderiam ter sido reprimidos pelo regime, escreveu Lynch em seu blog na Foreign Policy. “Mas foi o fato da al-Jazira ter posto esses vídeos no ar... que trouxe essas imagens para a grande massa do público árabe e mesmo para muitos tunisinos que, sem isso, poderiam não ter compreendido o que se passava.”

Ocorre que a equipe da al-Jazira que faz a transmissão em árabe e inglês tinha passado por um treinamento intensivo de mídia social apenas um mês antes. “Foi em cima da hora”, diz Moeed Ahmad, chefe do serviço de novas mídias da emissora. Embora a al-Jazira já tivesse usado material da internet em coberturas anteriores, na Tunísia não havia outra opção, pois não tinha repórteres no campo. Com seus jornalistas recém-treinados para o uso desse material, a teoria foi rapidamente posta em prática.

O treinamento culminou uma iniciativa de dois anos da al-Jazira de fazer melhor uso da mídia social e teve início quando, durante a guerra de três semanas em Gaza (2008-2009), a audiência do canal passava rapidamente para a internet. Isso significava convencer os jornalistas de que a mídia social não representa uma ameaça, e sim “o mais valioso recurso que você pode ter”. Ao invés de enviar um repórter, por avião, para qualquer lugar, a al-Jazira pode utilizar redes de voluntários confiáveis cuja credibilidade foi atestada. Há também um website, chamado Sharek, onde podem ser postados fotos e vídeos (após avaliação) para as reportagens da al-Jazira na televisão e na internet.

Outras organizações jornalísticas vêm trabalhando de modo semelhante. O Sharek, que foi lançado em 2008, parece ter tido como inspiração o website iReport, da CNN. Mais de 750 mil pessoas se apresentaram como voluntárias do iReport e trabalhos vêm sendo enviados de todos os cantos da Terra. A cobertura do terremoto no Japão, em março, que em grande parte se baseou em material do iReport, ganhou para a CNN os melhores índices de audiência dos últimos cinco anos. “Por ter acontecido de maneira tão repentina, e numa área tão remota, o material adicional do iReport foi imensamente útil”, diz Mark Whitaker, editor administrativo da rede americana. “Vê-se que está crescendo.” Mas o conteúdo é sempre investigado antes de ir ao ar, acrescenta Whitaker.

Prática do furo

Verificar o material para garantir que é apropriado para ser transmitido pode ser um processo complicado, diz Mohamed Yehia, da BBC em língua árabe. Jornalistas examinam fotografias e vídeos, procurando sinais reconhecíveis, placas de rua, veículos ou armas, para determinar se as imagens vêm, de fato, de uma cidade ou região específica. Os sons ajudam. A sombra pode sugerir a hora do dia. Comparar previsões do tempo com selos da data pode revelar se um vídeo ou uma fotografia foi realmente feito numa data específica. Yehia acrescenta que, mesmo após a verificação, o material não é utilizado caso identifique pessoas e possa colocá-las em perigo.

Verificar fragmentos de informação, como é o caso com o Twitter, é mais difícil. Os tweets podem ser uma maneira simples de avaliar a opinião do público sobre uma questão e são frequentemente incorporados à cobertura jornalística como “vox pops” digitais. Muitos jornalistas usam o Twitter para pedir dicas ou informações e localizar fontes. Mas o Twitter é um fórum público, no qual qualquer pessoa pode dizer qualquer coisa. Neal Mann, produtor que trabalha para o Sky News, canal britânico por satélite que é controlado pela News Corporation, acredita que é dever do jornalista fornecer informação confiável, no Twitter como em qualquer outro lugar. Ele trabalha com uma rede de contatos confiáveis por todo o mundo e passa seus tweets à sua equipe. Já Andy Carvin, estrategista de mídia social da NPR que se tornou conhecido por ter monitorado, via Twitter, os acontecimentos da primavera árabe, não tenta verificar a exatidão de cada tweet antes de publicá-lo. Em vez disso, pede à sua equipe que o ajude a avaliar a confiabilidade de tweets individuais.

De qualquer maneira, é evidente que há um papel para as pessoas – incluindo jornalistas, mas não apenas eles – selecionarem, filtrarem e analisarem a torrente de informações postadas na internet. “Ainda é necessária uma função editorial – ainda é necessário alguém que ponha sentido naquilo tudo”, diz Jack Dorsey, cofundador do Twitter. Esse processo é chamado, em jargão da mídia social, de “cura” [no sentido de conservação] e existe um grande número de ferramentas disponíveis para fazê-lo. O website Storify, por exemplo, permite aos usuários organizarem itens da mídia social (incluindo tweets, posts do Facebook, vídeos do YouTube e fotos do Flickr) em narrativas cronológicas. A narrativa que dali resulta pode ser fixada em páginas de outros sites. Os websites Keepstream e Storyful trabalham de maneira semelhante. Tudo isso levanta a questão de saber se algumas matérias podem ter melhor cobertura se forem constantemente atualizadas por fluxos de tweets, e não de artigos tradicionais. Resumindo, ao proporcionar mais material do que nunca de onde destilar a notícia, por um lado a mídia social dispensa o papel dos editores e, por outro, mostra a necessidade deles. As organizações jornalísticas já vêm abandonando a prática do furo, esforçando-se, em vez disso, por serem as melhores em verificar e “curar” a informação, diz Newman. Porém, como ocorre com outros aspectos do jornalismo, também esse papel agora está aberto a qualquer pessoa.

A “a recriação do refrigerador”

Assim como o envolvimento (caso queiram) na coleta, verificação e “cura” da informação, leitores e espectadores também se tornaram parte do sistema de distribuição da notícia, pois partilham e recomendam itens de interesse via e-mail e redes sociais. “Se a busca pela informação foi o desenvolvimento mais importante da década passada, a partilha da informação pode estar entre os mais importantes da próxima década”, destaca um recente estudo sobre o consumo de informação online nos Estados Unidos feito pelo Projeto para a Excelência do Jornalismo, do Centro de Pesquisa Pew. Tipicamente, cerca de 20 a 30% das pessoas que visitam websites de grandes organizações jornalísticas vêm do buscador Google ou de seu site de notícias, Google News. A proporção de visitantes que vêm do Facebook é inferior, mas cresce rapidamente na medida em que as características de partilha social se tornam mais comuns e mais fáceis de usar. Com um único clique na tecla “recomendar” do Facebook, por exemplo, você pode recomendar uma matéria, um vídeo ou um show de slides para toda a sua rede de amigos. Alguns sites de notícias apresentam aos visitantes uma lista de matérias recomendadas por seus amigos por acharem que a aprovação por parte de alguém que você conhece dá mais peso. “Este ano, você verá cada vez mais sites onde as referências às redes sociais superam aquelas das ferramentas de busca”, diz Joshua Benton, do Nieman Journalism Lab. “O Facebook começa a juntar-se ao Google como um dos mecanismos mais influentes em guiar audiências de notícias”, observa o estudo do Pew Center, pois a partilha social dirige os leitores para as matérias que são mais populares em seu círculo social.

Permitir que sua rede de amigos o guie para coisas que você pode achar interessantes faz todo o sentido, diz Nick Denton, fundador da rede de blogs Gawker Media. Os amigos são bons substitutos para o gosto das pessoas, diz ele, e a recomendação social é muito mais eficiente do que manter listas de palavras-chave relacionadas a tópicos de interesse. Ou, melhor ainda, “você recebe os felizes acasos que as pessoas diziam que se iriam perder com as notícias personalizadas”. Ao mesmo tempo, diz Bret Taylor, principal responsável pela tecnologia no Facebook, as recomendações sociais são “a recriação do refrigerador” ao aumentarem as possibilidades, num panorama de mídia fragmentada, de amigos e parentes poderem ver as mesmas coisas.

Milhões de novas pessoas

O Flipboard, um aplicativo acessível no iPad, vai mais longe. Pode compilar uma revista personalizada por inteiro, com páginas que se podem virar e nas quais os artigos são itens recomendados por contatos do usuário no Facebook e no Twitter. Outros aplicativos de notícias e websites, como News.me e Trove, fazem o mesmo. John-Paul Schmetz, veterano da indústria de mídia alemã e cofundador do Cliqz – outra recente recomendação social –, diz que esses serviços são necessários pois a explosão de conteúdo online na década passada significa que “você passa muito tempo filtrando e não passa muito tempo lendo”. Mais do que meramente confiar em editores humanos ou algoritmos irracionais para encontrar o melhor conteúdo, diz ele, faz sentido usar uma abordagem híbrida, analisando contatos e comportamento em redes sociais para encontrar itens interessantes. Nick Denton, no entanto, preocupa-se com o fato de que a passagem da informação por filtros sociais torna as organizações jornalísticas dependentes demais do Facebook. E Bret Taylor insiste que não existe conflito porque sua empresa não produz conteúdo – apenas proporciona uma “distribuição valiosa” para ele.

É evidente que cada vez mais leitores e espectadores se envolvem em coletar, filtrar e distribuir informação. Alan Rusbridger, editor do Guardian, chama isso de “mutualização” da informação. “Se você permite a contribuição de outros, geralmente obtém um conteúdo mais rico, melhor, mais diversificado e especializado do que se você tentar fazê-lo sozinho”, diz. O envolvimento de milhares de leitores por meio de fontes múltiplas [crowdsourcing] também permite às empresas jornalísticas fazer coisas que, de outra forma, seriam impraticáveis, como procurar, em pilhas de documentos, algum material interessante.

“Ao invés de pensarem que fazem a agenda e conduzem a conversa, as organizações jornalísticas precisam reconhecer que atualmente o jornalismo é apenas parte de uma conversa que, de qualquer maneira, continua”, aponta Jeff Jarvis, guru da mídia da City University, de Nova York. O papel dos jornalistas neste novo mundo é acrescentar valor a essa conversa proporcionando a reportagem, o contexto, a análise, a verificação, a desmistificação e tornando acessíveis ferramentas e plataformas que permitam às pessoas a participação. Tudo isso exige que os jornalistas reconheçam que não detêm o monopólio da sabedoria. “Dez anos atrás, essa era uma ideia incrivelmente ameaçadora – e ainda é, para algumas pessoas”, diz Rusbridger. “Mas no mundo real, o fato de se agregar aquilo que as pessoas sabem será, na maioria dos casos, mais do que sabemos sentados no escritório.”

Um estudo do Pew Research Center publicado em maio de 2010 salienta que 37% dos usuários de internet norte-americanos, ou 29% da população, “contribuíram para a criação de notícias, comentaram as notícias e as disseminaram por meio de posts em sites da mídia social, como o Facebook e o Twitter”. Hoje, esse número é provavelmente muito superior, pois a pesquisa do Pew Center, apurada em abril de 2010, é anterior à inauguração da tecla “Recomendar” do Facebook, que torna partilhar uma matéria jornalística (ou qualquer outra coisa) tão simples quanto um clique do mouse. Apenas uma pequena proporção dessas pessoas fornece conteúdo, ou comentários e partilhas. Mas, como destaca Jay Rosen, mesmo que apenas 1% da audiência esteja envolvida no sistema de informação, isso significa milhões de novas pessoas. “Não é verdade que todo mundo seja jornalista”, diz ele. “Mas muito mais gente está envolvida.”

Fonte: Observatório da Imprensa

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Anatel marca votação das metas de competição

Por Luis Osvaldo Grossmann

A Anatel colocou em pauta, para a reunião desta semana - prevista para o dia 21 - a votação do Plano Geral de Metas de Competição (PGMC), que tem como um de seus principais pontos a definição e o estabelecimento de obrigações para empresas que tenham Poder de Mercado Significativo.

A agência vai definir onde estão os mercados não competitivos do país e, neles, atuar sobre aquelas empresas que, também por definição do órgão regulador, tenham PMS com base em uma série de premissas que vão desde a participação de mercado até o acesso a financiamentos, passando pelo controle de infraestrutura.

A partir dessa definição, seriam adotadas medidas como, por exemplo, a determinação para que as empresas com esse poder significativo – portanto, aquelas cuja atuação tem impacto na oferta como um todo, assim como no mercado de insumos – façam ofertas públicas de serviços, no atacado, como EILD, interconexão ou infraestrutura passiva (dutos, etc).

Outra ideia é de que isso seja analisado e operacionalizado por uma entidade administradora das ofertas, composta pelas empresas – sendo obrigatória a participação nessa entidade para as empresas com poder de mercado.

A criação dessa entidade, no entanto, ainda divide as empresas. Enquanto algumas sustentam que ela deveria ser completamente “privada”, portanto fora da alçada do órgão regulador, outras acreditam que, ao menos no início, deve existir alguma participação do poder público.

Blogs influentes são mais lidos que jornais impressos

Alguns blogs de jornalistas famosos e considerados influentes, mantidos em portais, chegam a superar jornais impressos brasileiros em termos de abrangência. As páginas de Juca Kfouri (UOL), Patrícia Kogut, Fernando Moreira, Ricardo Noblat (O Globo) e Marcelo Tas (Terra), segundo o Comunique-se, são exemplos.

A maioria deles supera a circulação dos dez maiores diários do país, que têm de 125 mil a 295 mil exemplares diários, segundo dados da Associação Nacional de Jornais (ANJ).

Porém, apesar da diferença no número de leitores, os blogs, jornais e portais não são vistos como rivais, mas como complementos editoriais. Grandes veículos impressos também têm endereços virtuais (para os cerca de 73 milhões de internautas no Brasil) que, consequentemente, são bem populares como o Terra, O Globo, e UOL/Folha.

Em primeiro lugar no ranking dos blogueiros fica o endereço virtual de Patrícia Kogut, que possui cinco milhões de leitores por mês (visitantes únicos), com 14 milhões de páginas visualizadas. Juca Kfouri tem três milhões de visitantes únicos mensais; quase cinco milhões de visualizações de página.

Fernando Moreira, dono do Page Not Found tem uma média de quatro milhões de visitas por mês; 1,7 milhão de visitantes únicos.

Já o blog do Ricardo Noblat tem 257 mil visitantes no mês, mais de um milhão de page views). A página deMarcelo Tas é vista por 200 mil internautas em um mês e chega a ter picos de 300 mil.

Para Juca, o motivo principal é a facilidade do acesso, Ele, que é colunista da Folha de São Paulo e da CBN, se define como blogueiro.

Com informações do Comunique-se


Fonte: Adnews

terça-feira, 19 de julho de 2011

A seleção brasileira da TV Globo

Por Valério Cruz Brittos e Anderson David Gomes dos Santos

Já são conhecidas as barreiras estabelecidas pela Rede Globo de Televisão junto à transmissão do futebol no país, influenciando até a formatação do Campeonato Brasileiro deste esporte. Mas pouco tem sido comentado acerca do monopólio de transmissão em território nacional dos jogos da seleção brasileira de futebol, que há décadas são veiculados apenas por uma emissora, a mesma Rede Globo de Televisão, líder do oligopólio midiático nacional. Na melhor das hipóteses, quando não possui interesse em exibir, a Globo decide e repassa a outro operador.

Se no caso do Campeonato Brasileiro já se colocaram vários questionamentos sobre as opções do torcedor-consumidor de assistir ao seu time do coração, quando isso ocorre com a seleção do país o nível de questionamentos sobre os processos de negociação deveria aumentar, mas não é o que tem ocorrido. Afinal, alguém sabe ou ouviu falar como se dá a licitação dos direitos de transmissão desses jogos?

Para se ter uma ideia, o primeiro jogo da seleção após a Copa do Mundo de 2010 sequer foi veiculado por TV aberta porque se iniciaria às 21h, horário da principal telenovela da grade de programação da Globo. Mesmo que a transmissão da partida contra os Estados Unidos tenha sido transmitida de forma gratuita pelo portal Globo.com, com direito à mesma equipe de reportagem, a possibilidade de acesso à internet é bem menor, ainda mais se for considerado o preço do serviço com velocidade que permita assistir uma transmissão ao vivo pela rede. De evento gratuito, indiretamente virou algo que o torcedor de alguma forma teve de pagar.

Transmissão exclusiva em TV aberta

Para os amistosos e eventos da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), paira o silêncio de informações. Para se ter uma ideia, a atual edição da Copa América não pode ser transmitida pelo YouTube por conta do contrato de transmissão local. Já nos torneios oficiais da Federação Internacional de Futebol e Associados (Fifa), casos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, há um processo de licitação para todas as mídias – inclusive para o rádio, que não entra na negociação dos torneios brasileiros. Seja em TV aberta ou fechada, há muitas edições da Copa do Mundo as Organizações Globo detêm os direitos de transmissão, optando por repassá-lo ou não para outras emissoras.

Analise-se como se deu esse processo nos três Mundiais realizados neste século. A Globo transmitiu sozinha o Mundial da Coreia do Sul/Japão, em 2002, por conta até mesmo de uma falta de expectativas no time que viria a ser pentacampeão mundial e também devido aos horários dos jogos, que ocorreriam de madrugada ou pela manhã. Ao longo do torneio, e também por causa do avanço do selecionado nacional, a emissora conseguiu atingir recordes de audiência, não previstos de serem conquistados nestes horários.

Para a Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, a opção da Rede Globo foi por transmitir de forma exclusiva em TV aberta, dado o sucesso do torneio anterior e do próprio escrete nacional, que contava, por exemplo, com um Ronaldinho Gaúcho duas vezes eleito o melhor jogador do mundo. Em televisão fechada, houve o repasse para o BandSports, do Grupo Bandeirantes, que naquele evento contou com a principal equipe de transmissão da Band.

Exclusividade continuará em 2014

Em 2006, houve uma denúncia por parte da Rede Record contra a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Fifa, já que a emissora alegara que ofereceu o dobro do que oferecera a líder do oligopólio midiático nacional e ainda assim não ficou com os direitos de exibição da edição seguinte do evento. A Fifa respondeu que a negociação ficava por conta das federações nacionais; já a CBF alegou que as “relações históricas” entre a Globo e a entidade, com sua experiência comprovada nas transmissões, foram levadas em consideração.

Seguindo a evolução da parceria no futebol em geral, retomada em 2004, após a Record recusar os limites impostos pela Rede Globo, à Band foi repassado o direito de transmissão da Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, assim como da Copa das Confederações, evento preparativo para o Mundial no ano anterior. Como, em quatro anos atrás, o selecionado nacional chegava como um dos principais favoritos, apesar das críticas ao técnico Dunga – que, inclusive, criou um inédito mal-estar entre a CBF e as Organizações Globo, principalmente a partir do veto imposto por ele às benesses que só a emissora tinha, como entrevistar de forma exclusiva o próprio treinador e jogadores.

Daqui a três anos, o maior evento do futebol mundial ocorrerá no Brasil e, até o ponto que se sabe, não há uma definição clara sobre as transmissões, a não ser que a Rede Globo será uma das exibidoras. A emissora continuará com a exclusividade em veicular os amistosos da seleção – por mais que não se saiba como se dá esse acordo – e poderá repassar os demais torneios para a sua parceira, a Band, que não representa um perigo para a líder, já que em regra não disputa os primeiros lugares de audiência. Neste ano, os campeonatos sul-americanos de categorias de base – onde a Globo só transmitiu a final do sub-20 porque garantiria vaga nos Jogos Olímpicos, que ela não irá exibir – e da Copa do Mundo de Futebol Feminino são exemplos desses eventos repassados.

Jogos serão narrados pela mesma voz

Se, para os Jogos Olímpicos de 2016, que ocorrerão no Rio de Janeiro, o Comitê Olímpico Internacional optou por dividir a transmissão entre as principais emissoras brasileiras, não é de se esperar que o bom senso prevaleça em relação ao Mundial de futebol. Basta olhar as recentes denúncias envolvendo a Fifa e a CBF, através de seus presidentes, Joseph Blatter e Ricardo Teixeira, que estarão nos cargos até lá.

Os jogos de futebol da seleção que representa o país com mais títulos mundiais deverão continuar a ser narrados pela mesma voz, a qual, inclusive, foi alvo de campanha durante a Copa da África do Sul, espalhada mundialmente por uma rede social, por mais que a responsabilidade de escutar-se somente ela (e seu ufanismo) em jogos do Brasil não seja do seu proprietário, mas de quem o paga.

Fonte: Observatório da Imprensa

Briga por espectro: Brasil corre risco real de apagão de dados

Por Ana Paula Lobo

Para a Intel, os radiodifusores - que pedem mudanças no modelo de uso da faixa de 3,5GHz alegando interferência no sinal distribuído para as antenas parabólicas - utilizam a faixa de 3625 a 3700Ghz de forma indevida nos últimos anos. E diz que nova polêmica acontece para evitar, mais uma vez, que a Anatel faça o leilão do espectro.

"Os radiodifusores deveriam usar a faixa que reclamam de interferência do WiMAX apenas para retransmitir sinal da matriz para as suas afiliadas. Mas há anos não é isso que acontece. E esse assunto já tinha sido contornado pela Anatel nas consultas públicas do leilão de 3,5GHz. Há um cronograma de transição de cinco anos", observa Emílio Loures, diretor de Assuntos Corporativos da Intel, fomentadora da tecnologia WiMAX.

Para o executivo, a polêmica em torno do cancelamento de distribuição de sinal de TV para as antenas parabólicas é mais um ingrediente na disputa por frequência que acontece entre os radiodifusores e as operadoras de telecomunicações. "Os radiodifusores não investiram na construção de rede terrestre. A faixa reclamada não era para ter transmisão de sinais direto para os consumidores. E quem cobrará os aportes em rede que eles não fizeram?", indaga.

Loures diz que a posição da Anatel - que, agora, admite que pode mudar as regras por sinalizar que há,sim, possível interferência para as TVs - será decisiva em um tema ainda mais controverso: A real ameaça de vir a acontecer um apagão de dados no Brasil em 2016. Segundo o diretor da Anatel, o país precisará de 800 MHz para suprir a demanda de banda larga até 2016 e os 200 MHz da faixa de 3,5GHz são cruciais.

"Se o leilão da faixa for postergardo mais uma vez pela Anatel, há o risco, sim, de faltar espectro para a oferta de serviços de Internet. E é essa a nossa preocupação maior. Nâo acho que seria prudente deixar o leilão da faixa próximo do de 2,5GHz prometido para abril de 2012 pelo próprio governo", diz Loures.

Para o diretor da Intel, o modelo desenhado pelo órgão regulador para o leilão de 3,5GHz favorece as concessionárias da telefonia e as teles móveis nos grandes blocos regionais, mas que a faixa de 10 MHz poderá, sim, ser disputada pelos provedores de médio e pequeno porte, conforme a região de atuação.

"Posso garantir que as teles vão disputar o 3,5GHz. Espectro é vital na estratégia delas. E depois dessa faixa, teremos apenas o 2,5Ghz, já que o uso da faixa de 700 MHz segue sem qualquer sinalização pelo governo no curto prazo, até em função da briga, mais uma, entre radiodifusores e teles pelo uso do dividendo da migração para a TV digital", pondera.

Ao marcar posição sobre o uso da faixa, a Intel diz que não está saindo em defesa do WiMAX, mas, sim, da demanda maior por transmissão de dados na Internet. "Podemos dizer que ao contrário do que se fala não tiramos o pé do WiMAX. Mas colocamos o pé em outras tecnologias, entre elas, o LTE, que está sendo adotado pelas operadoras móveis", complementa Emílio Loures.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

3G Brasil: Oi não investe no 1º semestre. 4022 municípios seguem sem o serviço

Ana Paula Lobo

Vivo e TIM foram as operadoras que mais investiram na ampliação da cobertura da rede 3G nos primeiros seis meses de 2011. A Claro pouco cresceu sua rede ( 411 localidades) e a Oi manteve os dados de 2010, ficando em apenas 211 municípios, a menor cobertura das quatro grandes teles. Levantamento mostra ainda que apenas 109 municípios brasileiros têm competição efetiva em 3G.

Os dados, divulgados pelo portal Teleco, apuram que a Vivo, no primeiro semestre de 2011 chegou a 1448 municípios - em dezembro de 2010 tinha 1206. Houve expansão de rede para 242 novos localidades. Apesar de ser a maior rede do país, a Vivo reduziu bastante o seu ritmo pós-aquisição pela Telefónica. Em 2010, a empresa praticamente dobrou a sua capacidade de cobertura - de 579 localidades, em 2009, para 1206, no ano passado.

A TIM desponta na segunda posição na expansão de rede 3G. A operadora passou de 195 municípios, em dezembro de 2010, para 250, no primeiro semestre de 2011 - acrescentando 55 novas localidades à sua rede. Mas ainda é superada pela Claro - que'congelou' a expansão da infraestrutura em 2009 e desde então está estagnada na sua rede - passando de 389 localidades, em dezembro de 2009, para 402, em 2010, e 411 ao final dos primeiros seis meses de 2011.

A Oi tem, segundo os dados do estudo, o pior desempenho entre as quatro teles. A empresa - que tinha prometido investir mais em 3G ao longo de 2011 - pelo menos de acordo com os dados do Teleco, nos primeiros seis meses não cresceu a sua rede - mantendo os 211 municípios cobertos, registrados no final de 2010, sendo superada por todas as suas rivais.

O levantamento do Teleco mostra ainda que há, sim, uma concentração de serviços 3G apenas nos municípios de maior renda econômica. O portal sustenta que 4022 localidades do país seguem sem o serviço - ou 24,3% da população brasileira (46.364.483) Em 1094 municípios - 17.3% - há a presença de uma única operadora - o que significa ausência de competição. Em 202 municípios - 8,1% - há a presença de duas operadoras.

A competição se concentra em 109 municípios - com cinco operadoras. São 2% da cobertura nacional, mas que mobilizam mais de 72 milhões de brasileiros. Apenas nessas localidades - as mais abastadas do país - é que há uma disputa efetiva na oferta 3G. No total, de acordo com os dados do Teleco, hoje, há cobertura 3G em 1543 dos 5560 municípios brasileiros.

A globalização da ética de imprensa

Por Eugênio Bucci

O fechamento do tabloide inglês The News of the World, que vendia 2,6 milhões de exemplares, deu a largada para a principal discussão sobre ética de imprensa no mundo globalizado. A partir de agora está claríssimo: a conduta dos órgãos encarregados de informar a sociedade é uma pauta supranacional. Não é apenas o capital que viaja em segundos de um continente para outro. Não são apenas as massas trabalhadoras que migram clandestinamente para disputar empregos em terras estrangeiras. Não é apenas a indústria da diversão que alcança simultaneamente os olhares de povos distantes entre si. Agora ficou evidente: a credibilidade dos órgãos jornalísticos não é meramente um assunto doméstico, ela floresce e sucumbe na arena global.

Já veremos por quê. Antes façamos uma recapitulação sumária do que se passou.

Esse jornal, The News of the World, tinha 168 anos de idade. Desde 1969 pertencia à News Corporation, o megaconglomerado internacional, com faturamento na casa dos US$ 33 bilhões ao ano, controlado pelo australiano Rupert Murdoch. Vivia de bisbilhotagem, luxúria e algum sangue. Vivia muito bem, apesar do lento declínio em circulação, que vinha de décadas. Sua fórmula editorial ia dos aposentos da família real em Londres às estripulias transoceânicas dos astros do show business, passando por bestialidades a granel.

Há poucos anos, seus métodos “jornalísticos” passaram a ser contestados. No site da Press Complaints Commission – instituição encarregada da autorregulamentação da imprensa britânica – há queixas de escutas clandestinas contra ele. Na esfera policial também houve investigações. Um jornalista do News of the World, Clive Goodman, chegou a ser preso em 2007.

Agência de arapongas

Tudo isso não é novo, portanto. Mas até então se acreditava que os crimes registrados eram desvios individuais, casos isolados, como se diz. Agora se viu que não. Os crimes são mais sérios e muito mais numerosos. Segundo apontam as investigações, seriam mais de 4 mil os telefones grampeados pelo jornal. Estamos falando, portanto, da industrialização do grampo. Gerenciar milhares de escutas clandestinas é uma operação de monta: requer equipes treinadas, orçamentos bem planejados, estruturas próprias. Os inquéritos vão dando conta de que o News não era uma redação jornalística – era uma agência de arapongas assalariados.

Descobriu-se mais. Além de grampear celebridades – o que já constitui uma ilegalidade inaceitável, que se situa fora do campo do jornalismo –, o jornal teria invadido celulares de pessoas comuns, que não dependem do estrelato para inflar seus cachês. Grampeou parentes de soldados mortos. Grampeou até a adolescente Milly Dowler. A garota estava desaparecida – soube-se depois que já tinha sido assassinada – quando detetives contratados pelo News apagaram mensagens de seu celular, o que causou nos familiares a impressão de que ela ainda estava viva. Com isso o caso ganhou uma sobrevida – e, em consequência, a cobertura do caso, liderada pelo News of the World, também ganhou sobrevida. Lucrativa.

Essas revelações estarreceram a Inglaterra. O tabloide era um serial killer da privacidade de gente comum. Anunciantes caíram fora. Os protestos se generalizaram. Murdoch fechou o semanário, na tentativa de estancar a sangria de reputação e de salvar um objetivo maior: ele queria comprar a totalidade da BSkyB, um poderoso grupo de canais a cabo do qual já é sócio. A tentativa não deu certo. O quadro só se complicou. Andy Coulson, ex-diretor do News of the World e porta-voz de David Cameron, o primeiro-ministro britânico, até janeiro de 2011, foi preso na sexta-feira passada. Só foi liberado sob fiança. O ex-primeiro ministro Gordon Brown diz que também foi grampeado. A crise do tabloide virou uma crise no Parlamento. Políticos de correntes várias passaram a contestar em público as pretensões do dono da News Corp., a tal ponto que, ontem mesmo, Murdoch anunciou que desistiu da compra da BSkyB. Ele está acuado. Na Inglaterra e no mundo.

O Watergate de Murdoch

Aí é que entram as razões da internacionalização desse debate. O escândalo dos grampos virou notícia no mundo todo porque o conglomerado de Murdoch está no mundo todo – e se ele faz por aí o que parece ter feito em Londres, isso diz respeito a todos nós. Ontem pela manhã a Rádio CBN noticiou em primeira mão no Brasil que o senador democrata Jay Rockefeller pretende investigar o grupo de Murdoch nos Estados Unidos. Um dos jornais que mais se destacaram na cobertura dos bueiros da News Corp. – depois do diário inglês The Guardian – é o americano The New York Times, que vem sofrendo uma concorrência frontal do Wall Street Journal, comprado, em 2007, por ninguém menos que Murdoch. Na Newsweek desta semana, o jornalista Carl Bernstein – autor, ao lado de Bob Woodward, da série de reportagens sobre o escândalo de Watergate, publicadas no Washington Post, que levaram a renúncia de Richard Nixon, em 1974 – lança a pergunta que só ele pode fazer: será que esse escândalo não é o Watergate de Murdoch?

O sentimento geral foi bem sintetizado pela revista The Economist de quinta passada: “Se ficar provado que os diretores da News Corporation agiram contra a lei, eles não deveriam mais comandar nenhum jornal ou estação de TV. Deveriam estar na cadeia”. Isso vale para qualquer país. No mundo de hoje, as práticas dos tabloides ingleses viraram tema do interesse público internacional.

Sim, isso mesmo. Existe um interesse público internacional, ainda que difuso, rarefeito, pouco institucionalizado. Não são apenas o capitalismo selvagem e a especulação financeira que rasgam fronteiras. As preocupações humanitárias em geral e a ética jornalística em particular também se globalizam como valores universais. É a isso que Murdoch terá de prestar contas. E com isso ele talvez não contasse.

Fonte: Observatório da Imprensa