Sessenta segundos a cada minuto. Sessenta minutos a cada hora. Vinte e quatro horas a cada dia.
A mínima imprecisão contida nessa constatação é assunto para os estudiosos.
O tempo segue igual.
O que o faz andar depressa está em nós. Nada tem a ver com os relógios.
Hoje acordamos todos diante dessa fronteira invisível que separa os anos. Estamos, mais uma vez, neste dia em que parece mais fácil vislumbrar o passado e o futuro. Esse é o nosso presente.
Era uma vez o Flamengo campeão, o desamor da torcida palmeirense por Wagner Love, o Santos mudando de presidente, o Cruzeiro perdendo a Libertadores, o Fluminense se salvando do rebaixamento, o Belluzzo sendo vencido pela emoção.
Tudo isso ficou pra trás.
Depois dos fogos de artifício, dos abraços, sinceros ou não, depois de pular as sete ondas, voltaremos a nos banhar nas águas dos nossos compromissos. Carregando esperanças e promessas. Desejosos de novas vitórias e, quem sabe, conscientes de que só as indispensáveis deveriam consumir nossas horas.
Esse mundo está cheio de coisas mais importantes do que ganhar um jogo. Quem aí acredita, por exemplo, que fazer uma boa eleição pode nos dar mais orgulho e nos fazer mais felizes do que ganhar uma Copa do Mundo?
De que lado desse duelo estará a maior torcida? O que diriam as pesquisas, que análises fariam os especialistas?
Somos mais talentosos com a bola do que com a política não resta dúvida. Na política nos falta um craque. Na política não temos um Pelé. E mais do que montar um time precisamos é construir um país.
Precisamos de homens no sentido mais amplo da palavra, gente capaz de olhar nos olhos dessa nossa imensa torcida. Olhar com dignidade e não com desfaçatez. Não, não coce a cabeça e, se possível, resista ao ímpeto de deixar essa leitura de lado.
Vestimos o mesmo uniforme, e não estou aqui para profanar a alegria branca que o momento sugere. Mesmo que seu time vá mal, mesmo que o rival triunfe, mesmo que você abra as páginas deste jornal e encontre um articulista perdido em um deserto de acontecimentos esportivos tentando se escorar em alguma reflexão que valha a pena, ainda assim a felicidade será viável.
Além do mais as escolas de samba voltarão aos sambódromos para ajudar a manter o clima de euforia. As fantasias e os carros alegóricos serão a garantia do brilho. Vá se arrumando, 2010 vem aí, carregando no ventre um Carnaval, uma Copa do Mundo e uma eleição para presidente.
O tempo seguirá igual.
Sessenta segundos a cada minuto. Sessenta minutos a cada hora.
O que poderá fazê-lo diferente está em nós.
Fonte : Mídia sem Média