sexta-feira, 11 de junho de 2010

Diante da religião, 'a ciência vai ganhar', afirma Stephen Hawking

O célebre físico Stephen Hawking sabe mais sobre o universo do que quase qualquer outra pessoa que já andou pelo planeta, mas algumas respostas ainda escapam até mesmo dele. Quando perguntado por Diane Sawyer, do canal ABC News, sobre o maior mistério que gostaria de resolver, ele disse: "Eu quero saber por que o universo existe, por que há algo maior do que o nada".

Hawking, que foi homenageado na semana passada no World Science Festival, em Nova York, é famoso por sondar as questões mais profundas do cosmo.

Até ter deixado o cargo no ano passado, ele ocupava a cátedra Professor Lucasian de Matemática da Universidade de Cambridge, uma posição ocupada anteriormente por Sir Isaac Newton, o "pai da física".

Durante os 30 anos de Hawking nesse posto, ele deu a seus colegas novas formas de olhar para o universo. Mas ele também deu ao público, por meio de seus muitos livros e aparições ocasionais, uma forma de se conectar com o mundo geralmente obscuro da física teórica.

"Breve História do Tempo"

"Stephen teve um tremendo impacto em nossa compreensão do universo, particularmente do espaço e do tempo distorcidos no universo, dos buracos negros, da origem do universo", disse o físico Kip Thorn no evento do World Science Festival que homenageava Hawking, na semana passada.

O livro mais conhecido de Hawking, "Uma Breve História do Tempo", vendeu mais de nove milhões de cópias e é um best-seller internacional. Ele também fez aparições breves em produtos da cultura pop, como "Os Simpsons" e "Star Trek".

Mas explorar as origens do tempo inevitavelmente leva a questões sobre as origens últimas de tudo e o que, se há alguma coisa, está por trás de tudo isso.

"O que poderia definir Deus [é pensar em Deus] como a encarnação das leis da natureza. Entretanto, não é isso o que a maioria das pessoas pensaria sobre Deus", disse Hawking para Sawyer. "Eles fizeram um ser parecido ao ser humano, com quem se pode ter um relacionamento pessoal. Quando você olha para a vastidão do universo e para como uma vida humana acidental é insignificante em si mesma, isso parece muito impossível".

Quando Sawyer perguntou se havia uma forma de conciliar a religião e a ciência, Hawking disse: "Há uma diferença fundamental entre a religião, que se baseia na autoridade, e a ciência, que se baseia na observação e na razão. A ciência vai ganhar porque funciona".

Hawking, 68, foi diagnosticado com o distúrbio do neurônio motor ALS, ou doença de Lou Gehrig, quando tinha 21 anos. Disseram-lhe que ele provavelmente não viveria mais do que alguns anos.

Mas em seu site pessoal ele disse que, com "uma nuvem pairando sobre o meu futuro, eu descobri, para a minha surpresa, que eu estava aproveitando a vida no presente mais do que antes".

"Eu percebi de repente que havia um monte de coisas valiosas que eu poderia fazer se eu me aliviasse", disse ele.

Ele teve uma família (ele tem três filhos e um neto) e, apesar de sua condição ter progredido, continuou suas pesquisas sem esmorecer, com a ajuda de uma cadeira de rodas e, posteriormente, com um sintetizador de voz eletrônico.

Embora Hawking já não mantenha a sua posição na Universidade de Cambridge, ele continua atraindo a atenção do público.

Extraterrestres: a nova chegada de Colombo às Américas

Em abril, ele ganhou as manchetes depois da estreia da série do Discovery Channel, "Into the Universe with Stephen Hawking".

No programa, ele disse que é provável que exista vida extraterrestre, mas uma visita de extraterrestres poderia ser semelhante à chegada de Cristóvão Colombo às Américas.

"Se os extraterrestres nos visitarem, o resultado seria muito parecido a quando Colombo desembarcou na América, que não deu muito certo para os nativos americanos", disse ele. "Só precisamos olhar para nós mesmos para ver como a vida inteligente pode se desenvolver para algo que não gostaríamos de conhecer."

Ele também especulou que as capacidades extraterrestres "seriam limitadas apenas pela quantidade de energia que eles poderiam aproveitar e controlar, e isso poderia ser muito maior do que primeiro poderíamos imaginar".

Pode ser até possível para os extraterrestres colher a energia de uma estrela inteira, acrescentou. "Esses extraterrestres avançados podem talvez se tornar nômades, buscando conquistar e colonizar quaisquer planetas que eles possam alcançar", disse Hawking.

Olhe para as estrelas

Mas, apesar de Hawking pensar que procurar por extraterrestres não é uma escolha sábia, sua filha Lucy, com quem ele escreveu um livro para crianças, não concorda.

"Nós temos um desacordo fundamental nessa questão", disse, bem-humorada. "Porque eu acho que se eles são tão espertos que poderiam nos destruir, então não importa se nós procuramos por eles ou não. Porque, se eles estão tão inteligentes assim, eles sabem que nós estamos aqui. Eles podem nos encontrar, quer procuremos por eles ou não. "

Mas Lucy disse que ela e seu pai concordam em muitas outras coisas. "Nós gostamos de confusão, nós gostamos de empolgação, nós gostamos de luzes, nós gostamos de companhia", disse ela. "Nós gostamos de todas as coisas complicadas que a civilização humana criou."

Como os filhos de Hawking navegam pelas muitas complexidades da vida humana, ele ofereceu três pequenos conselhos.

"Um, lembre-se de olhar para as estrelas e não para os seus pés. Dois, nunca desista do trabalho. O trabalho lhe dá sentido e objetivo, e a vida é vazia sem ele", disse. "Três, se você tiver sorte suficiente para encontrar o amor, lembre-se de que ele está lá e não o jogue fora".

*da rede de notícias norte-americana ABC (07/06/2010), com tradução de Moisés Sbardelotto.

Fonte: IHU - Instituto Humanitas Unisinos