sexta-feira, 26 de junho de 2009

Celso Schröder comenta queda da obrigatoriedade do diploma de Jornalismo

Por Andrei Andrade

Em entrevista ao Portal3, na tarde da última quarta-feira, 24, o vice-presidente da Fenaj, Celso Schröder, comentou sobre o futuro dos jornalistas após a queda da obrigatoriedade do diploma. Segundo ele, incentivar o debate talvez seja o melhor a fazer neste momento de muitas indefinições sobre a profissão. Confira os principais trechos da entrevista:

Quem pode ter registro de jornalista a partir de agora?
Celso Schröder: É difícil dizer como vai ficar a regulamentação, por uma série de fatores que o Supremo Tribunal Federal (STF) não explicitou na sua decisão. Mas é preciso dizer que a profissão não está desregulamentada. O que aconteceu é que o diploma obrigatório, que era a principal porta de acesso a ela, caiu.

Então, agora está tudo fora do lugar. Da forma como foi dada a decisão, a gente entende que qualquer um pode ser jornalista. O Ministério do Trabalho é que não entende assim e está buscando criar critérios ainda não explicitados. Ficam dúvidas também quanto aos concursos públicos e às assessorias de imprensa. São interpretações que o ministério terá que fazer.

A Fenaj e o Sindicato continuam fortes como representantes da profissão?
CS: Sim. A Fenaj ainda vai ser o centro do debate das questões sindicais. Foi julgada apenas a constitucionalidade da lei que obrigava o diploma, e ela foi considerada ilegal. Não houve a desregulamentação do jornalismo. Agora estamos buscando fazer um movimento nacional, acolhendo várias subscrições de deputados e senadores que estão produzindo emendas constitucionais e projetos de leis, além de constituir um grupo de estudos constitucionais no Congresso Nacional que nos ajude a decidir pelo melhor caminho.

O sr. acredita que uma Proposta de Emenda Constitucional pode provocar uma reviravolta neste processo?
CS: Acredito que sim. Mas para isso acontecer, só se estivermos mais fortes do que éramos antes, caso contrário, o STF voltará a derrubar. Temos que constituir uma opinião pública que enfrente este conceito que está por trás do julgamento, de que a obrigatoriedade do diploma fere a liberdade de expressão. O que é uma baboseira.

Como as universidades podem contribuir nessa luta pela regulamentação?
CS: Acho que as universidades entraram tarde e fracas nesse debate, que ficou restrito aos movimentos sindicais. Entre os jornalistas também se aderiu muito pouco à campanha. Quando as faculdades se engajaram, em 2008, foram extremamente importantes e influenciaram muito para que a votação tenha sido protelada tantas vezes. As universidades são decisivas para formar a opinião pública, não só no meio acadêmico, mas na sociedade. Se essas instituições ficarem de fora, é ponto para o Supremo, pois estaremos atestando uma mediocridade que não interessa para a nossa classe.

Gilmar Mendes falou da tendência à desregulamentação de outras profissões. Pode haver uma união com entidades de classes destas profissões que podem vir a ser desregulamentadas?
CS: Isso pode acontecer de novo. Já houve uma união de entidades de classe em 1992, quando o Collor tentou desregulamentar 17 profissões, inclusive a de jornalista. Felizmente, daquela vez a resistência não precisou ser testada, devido à queda do presidente. O aceno dado por Mendes para outras desregulamentações é a repetição daquele projeto liberal, que deixa o mercado agir livremente, sem regulação do Estado.

O que a Fenaj tem a dizer aos estudantes, que em sua maioria estão angustiados com a medida do STF?
CS: O jornalismo é uma profissão maravilhosa, e a melhor forma de aprendê-la sempre será pela faculdade, pois é onde descobrimos nossas potencialidades. Acho que todos têm que apostar nisso, forçar que as faculdades sejam cada vez melhores, que os conteúdos melhorem, que ensinem de forma consistente as teorias do jornalismo e valorizem o comprometimento ético do jornalista.

Agora é o momento de os alunos, assim como os profissionais e os professores saírem às ruas. Temos que mudar essa opinião pública alimentada pelas empresas de comunicação, que é a única voz que chega à sociedade. A história mostra que é possível vencer essa opinião constituída pela mídia. Quando a sociedade tem razão, a mídia não tem força pra combater.

Todos podem fazer como eu farei a partir de agora. Vou me apresentar sempre da seguinte forma: “Celso Schröder, jornalista diplomado”. Isto é diferente de ser jornalista daqui pra frente.

Fonte: Portal 3.