domingo, 29 de março de 2009

Pase fala de TV digital e perspectivas do audiovisual na internet


Por Rafael Cavalcanti

Na última quinta-feira, 25, o Grupo CEPOS recebeu na Unisinos o professor Dr. André Pase, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, para a palestra “A TV digital e as perspectivas do vídeo digital”. Em sua segunda reunião do ano, os membros do grupo acompanharam a fala do professor, que afirmou o campo "online” como futuro da produção audiovisual.

Antes da palestra começar, os presentes organizaram uma roda de discussão para debater a evolução da radiodifusão no Brasil. O professor Dr. Valério Brittos lembrou da dificuldade que era sintonizar os canais, no interior do Estado, quase sempre resumidos a poucos na maior parte do país. “Depois do lançamento da TV a tubo, apareceram controle remoto, videocassete, antena parabólica, televisão por assinatura até chegarmos à TV digital, que tem a capacidade de multiplicar o número de canais em sinal aberto”, afirma Brittos.

André Pase afirmou que não vale a pena comprar a nova televisão hoje porque os conversores ainda serão atualizados para receber a interatividade. Além disso, a produção digital se limita a novelas e filmes. “TV é uma coisa que fascina o brasileiro. Se a TV digital aparecer, é óbvio que ele vai querer comprar. Mas para ver Caminhos da índias ou Os Normais? Assim, não. Neste caso, o conteúdo se torna mais importante do que a tecnologia”.

O professor lamentou o fato do Governo ter preterido o modelo desenvolvido por pesquisadores brasileiros, cuja interatividade teria um importante papel na inclusão digital da população. Interatividade esta, que já é encontrada, de forma superficial, nas televisões pagas e será resumida a poucos recursos de informações no sistema nipônico de TV digital, dadas as baixas possibilidades do canal de retorno. Da mesma forma, Pase criticou a norma que regulamenta a multiprogramação, estabelecida de forma duvidosa pelo Ministério das Comunicações.

Segundo o professor, a norma foi uma estratégia de setores privados que queriam evitar “novas idéias” para a televisão brasileira. “Sem a norma, o que impedia a Record, que não tem o padrão Globo de qualidade, de usar banda Standard e colocar, simultaneamente, Ana Hickmann e Pica-Pau a manhã toda? Se eu fosse diretor do SBT, era Chaves 24 horas! Teria audiência sem nenhum custo a mais”.

Enquanto isso, a internet avança, tal como os usuários que a dominam como instrumento de comunicação. Youtube e Vimeo são páginas que já exibem grande quantidade de vídeos em alta resolução. Outros como o Justin.TV ou Hulu reproduzem a programação da TV aberta e fechada em tempo real de modo gratuito. A própria rede virou o único suporte para divulgação de telejornais amadores e filmes não-comerciais, a exemplo das produções americanas Rocketboom e Zeitgeist, respectivamente.

Pase destacou que, além da gratuidade, a migração dos telespectadores para a internet foi motivada pela crise econômica. O caso dos americanos é o mais emblemático. Pela segunda vez no ano, eles tentam migrar para o sistema digital, mas não conseguem devido à resistência da população. “O americano padrão começa a pensar ‘eu estou sem emprego, começando a ficar com pouca grana, será que eu vou pagar por TV a cabo ou por essa nova televisão se eu tenho a Hulu me dando a mesma programação de graça?’”, explica o professor.

Com isso, surge o chamado “canibalismo de mídia”. A internet tensa se aproveitar do produto da TV, enquanto a mesma procura encaixar nos programas fenômenos virtuais. Pase recorda que o principal destaque do Fantástico em 2008 foi o Bola cheia, Bola Murcha, com vídeos amadores de futebol enviados pelo público. Foi uma exceção que deu certo, quando a regra mostra que o uso da internet pela televisão quase sempre proporciona efeitos desagradáveis.

O fato é que a internet permite ao usuário uma intervenção muito mais direta no processo de comunicação. Pase afirma que “ a molecada hoje faz a própria playlist e programação de TV. Ela não está mais querendo ser adestrada”. Tal avanço permite um protagonismo inédito, transformando receptor também em emissor. “A internet está virando um fio que conduz as coisas. Ela oferece novos formatos e conteúdos. Se a nova televisão não proporcionar o mesmo, será difícil a mudança do analógico para o digital”, concluiu o professor.

A próxima reunião do Grupo CEPOS será no dia 08 de abril, às 17h, no Centro de Ciências da Comunicação, na Unisinos. Haverá a exibição do curta-metragem Hiato, de Vladimir Teixeira, seguido por um debate sobre a temática do filme.


Vídeos citados na palestra