Por Luis Osvaldo Grossmann
Está praticamente sacramentado o projeto que vai unir as redes de telecomunicações de vários países da América do Sul. A engenharia geral dessa união foi aprovada durante reuniões realizadas nesta semana em São Paulo, embora ainda restem acertos sobre detalhes de participação societária e, naturalmente, o financiamento da empreitada. E apesar dos predicados dessa interconexão em si, o foco é garantir escala para duas novas saídas internacionais de internet a partir do Brasil.
De um lado, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, reuniu-se com colegas da Colômbia e do Chile, além de representantes do BID e da Cepal, para negociações do lado político do empreendimento. “Temos todo o interesse em criar uma grande parceria entre os países sulamericanos para construir um anel óptico em nosso subcontinente. Em breve o assunto será levado aos ministros de todos os países vizinhos, na próxima reunião da Unasur”, disse Bernardo.
Essa reunião está prevista para novembro, mas na prática a interconexão das redes deve estar acertada muito antes – provavelmente, antes do fim de setembro. Enquanto o ministro travava reunião pelo lado político, as questões técnicas avançaram em outro encontro, com representantes das estatais de telecomunicações do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, além da subsecretaria de telecom do Chile.
A ideia é a construção de dois novos cabos submarinos, ambos a partir de Fortaleza-CE, sendo um para os Estados Unidos, outro para a Europa. Grosso modo, trata-se de um rateio que tem como base a demanda por tráfego de diferentes países – o que faz com que Brasil, Chile e Argentina sejam os principais atores do desenho. E, nesse ponto, vale uma rápida explicação sobre como essa demanda por tráfego internacional se dá atualmente.
Diferentemente da maioria dos países sulamericanos, mais da metade do que é acessado pelos brasileiros é buscado em servidores instalados no próprio território nacional – ponto muito relacionado ao uso da língua portugesa.
Já nos vizinhos, praticamente todo o conteúdo acessado requer tráfego internacional, embora em termos nominais a demanda seja inferior à brasileira. A exceção é o Chile, cujo tráfego externo com a Europa é o dobro do brasileiro, por conta das conexões dos dois observatórios astronômicos instalados no norte do país.
O tráfego chileno, assim, é fundamental para a escala – e, portanto, o retorno – do projeto, especialmente com relação ao cabo em direção à Europa. Mas essa parte do empreendimento tem ainda um outro componente: é por aí que deverá ser feita uma interconexão também com a África, plano que conta com o entusiasmo – e recursos – de Angola.
Uma das possibilidades é que os cabos submarinos que partem do Brasil e da África se encontrem em Cabo Verde (ou nos Açores), de onde outro “braço” se estenderá para o continente europeu. A conexão com a África pode ser interessante do ponto de vista político, mas a demanda daquele continente não justificaria a empreitada econômica.
O segredo é outro – o tráfego da Ásia. Como o Egito proibiu novas instalações no canal de Suez, há interesse em aproveitar o tráfego da Índia, que a exemplo da era das grandes navegações, precisa dar a volta pelo Cabo da Boa Esperança – atualmente isso já acontece com a conexão que une aquele subcontinente com a África do Sul. Daí o projeto prever um novo cabo na margem ocidental da África e o encontro, bem mais ao norte, com as fibras que partirão da América do Sul.
Fonte: Convergência Digital