Por Valério Cruz Brittos e Andres Kalikoske
Em 2010, antes da décima edição do Big Brother Brasil (BBB) estrear, a Globo já havia faturado R$ 67,5 milhões com a comercialização das cotas de patrocínio. Até que o último candidato confinado fosse eliminado, o programa arrecadou R$ 300 milhões. Para a edição de 2011, ainda no ar em sua trajetória final, o faturamento deve ser recorde, de R$ 350 milhões, números excelentes, especialmente para o período de férias, tradicionalmente uma temporada de recuo nos investimentos publicitários, o que este reality show conseguiu alterar.
A mansão de iletrados da Globo também não fez feio na audiência: o primeiro episódio desta décima primeira temporada registrou média de 35 pontos, de acordo com o Ibope, garantindo liderança absoluta no horário. Ainda assim, é uma das mais baixas entre as estreias deste show de realidade. A Record posicionou-se em segundo lugar, com 12 pontos, e o SBT em terceiro, com cinco. Band e RedeTV! apostaram na chamada contra-programação (counter-programming), oferecendo conteúdos alternativos, como esporte e filmes norte-americanos, respectivamente. O bendito fôlego do BBB ainda não foi visto em outros realities, como A Fazenda, da Record, e menos ainda no Solitários, do SBT, que, apesar de possuir uma dinâmica interessante, perde muito por ser exibido totalmente gravado.
Os reality shows são paradigmáticos para o mercado televisivo. Há 15 anos, seria tecnicamente impossível gravar um grupo de pessoas durante o dia todo, através de mais de 30 câmeras, e editar rapidamente o material para ir ao ar na mesma noite. O programa também prejudicou a noção mais sofisticada de programação, consolidada pela Globo nos anos 60, que consiste em exibir um programa diário sempre no mesmo horário e com igual duração. Na academia, provocou uma avalanche de análises teóricas que se esforçam em estudar – e tentar compreender – seu apelo voyeurístico.
Renovação constante
Nos marcos da era da convergência, seu formato também é pioneiro, uma vez que possibilita atuação em diversas mídias, inclusive a internet. Potencial para esta plataforma deslanchar não falta. Recentemente, o uso da internet desbancou a televisão nos Estados Unidos, Europa e China, segundo um estudo promovido com 50 mil usuários, de 16 a 60 anos de idade, em 46 países. Na América Latina, a TV continua sendo o meio mais utilizado, assim como na Ásia, Oriente Médio e África. Isso demonstra que a vida longa dos shows de realidade não tem data para acabar, especialmente considerando seu potencial multimídia.
Em tempos de rápida obsolescência, multiplicam-se as tentativas de prolongamento de atrações como o Big Brother Brasil. Mesmo desvencilhando-se de preconceitos, é facilmente observável que são as gincanas hostis e os corpos sarados, muitas vezes desnudos, que conquistam as audiências durante o verão. O padrão de produção, no caso do BBB, também tem sido uma peça-chave para o sucesso: trata-se de uma narrativa muito similar à praticada pelas novelas, desde os planos de câmera até as maledicências potencializadas no processo de edição.
Artisticamente, o formato holandês adquirido pela Globo – e produzido em regime de co-produção com a Endemol – soube reciclar-se com astúcia. Em primeiro lugar, porque sua exibição ocorre exclusivamente uma vez ao ano, havendo tempo necessário para o telespectador descansar de seu formato. Segundo, por ser um programa que se supera enquanto atração televisiva, com mecanismos de mudança de elevada aleatoriedade. A própria Globo atribuiu às novidades implantadas ao longo dos anos o segredo para sua longevidade. Trata-se de uma produção de custos relativamente baixos, quando comparados a um produto de ficção, embora não apresente potencialidade para redifusão e exportação.