Por Lúcia Berbert
Imagens de alta definição já são transmitidas em 49 cidades, que congregam 40% da população. Porém conversor barato e interatividade ficam devendo.
As transmissões da TV digital no Brasil completam três anos nesta quinta-feira (2) com avanços significativos, mas ainda restam problemas a serem equacionados para que mais brasileiros tenham acesso às imagens em alta definição da TV aberta e aos benefícios da interatividade. Atualmente, o sinal digital está presente em 48 cidades do país, além de Brasília, com mais de 220 canais digitais outorgados, atingindo uma população de 75 milhões de pessoas ou 40% do total dos brasileiros.
O sistema Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial, tecnicamente conhecido como ISDB-TB, criado pelo Japão e aperfeiçoado no Brasil, já está presente em mais nove países - Argentina, Chile, Venezuela, Bolívia, Costa Rica, Paraguai, Peru, Equador e Filipinas -, com público potencial de 550 milhões de pessoas. Outros países da América Latina, América Central e África estudam a adesão ao padrão, que traz vantagens sobre os outros em funcionamento no mundo, entre eles, a mobilidade, portabilidade e a interatividade.
Por meio do middleware Ginga, criado no país, o padrão nipo-brasileiro oferece possibilidades ilimitadas de interatividade ao telespectador, empresas e ao governo, como obtenção de informações sobre o programa que está assistindo, usando apenas o controle remoto. Ou ainda comprar produtos anunciados, realizar operações bancárias ou ainda marcar consulta médica em hospital público. Porém, o Ginga não está presente na maioria dos conversores vendidos. Os radiodifusores também não encontraram um modelo de negócio que justifique investimentos em aplicativos para esse fim. E, o mais importante, ainda não há uma definição sobre o canal de retorno que dará suporte à interatividade.
A pouca oferta de conversores baratos é outro entrave para expansão da TV digital no Brasil. O governo vem tentando incentivar a produção do equipamento a preço mais barato do que o ofertado no mercado, de no mínimo R$ 250, mas encontra dificuldades em reverter a decisão da indústria, que preferiu investir em televisores já com o conversor embarcado, mas com preço ainda muito alto para o padrão de renda nacional.
Por causa desses entraves, a comercialização de conversores não passará de oito milhões de unidades vendidas até o final deste ano, conforme informação do Fórum Brasileiro da TV Digital, aí incluindo os embarcados em televisores, celulares e notebooks. Países da América Latina que aderiram ao ISDB-TB, como a Argentina, resolveram subsidiar o conversor para a população de baixa renda, obtendo mais penetração que no Brasil.
Outra preocupação é com a interiorização do padrão digital, que hoje só está presente nas capitais e nos grandes centros. A Anatel promete concluir os estudos de canalização até junho de 2011. No início de novembro haviam sido concluídos os estudos de canalização para o Distrito Federal, São Paulo, Regiões Metropolitanas, Sul de Minas, Triângulo Mineiro e Juiz de Fora.
O financiamento para que as mais de 10 mil retransmissoras de TV existentes no país adquiram os equipamentos necessários para levar o canal digital é outro quebra cabeça. Apesar de crédito específico oferecido pelo BNDES, a maioria dessas empresas, que possui estrutura familiar, não consegue apresentar a documentação necessária para fazer jus ao financiamento. Esse problema, preveem especialistas, pode atrasar o desligamento da TV analógica, marcado para 2016.
Fonte: Telesíntese