Redação Estadão
SÃO PAULO - O site WikiLeaks divulgou nestes domingo e segunda-feira, 28 e 29, mais de 250 mil documentos diplomáticos secretos dos EUA enviados para mais de 250 embaixadas e consulados americanos em todo o mundo, revelando iniciativas e bastidores polêmicos sobre a política externa de Washington e segredos de outros países.
Os documentos, divulgados pelos jornais The New York Times (EUA), The Guardian (Reino Unido), Le Monde (França), El País (Espanha) e pela revista Der Spiegel (Alemanha), fazem parte do maior vazamento de material diplomático da história e colocam Washington em uma situação delicada. Veja detalhes de quais informações são reveladas e sobre quais nações. Os documentos referentes ao Brasil podem ser acessados neste link.
EUA - Os papéis mostram que a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, mandou diplomatas espionarem a liderança da Organização das Nações Unidas (ONU). Entre os alvos estão o secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon e representantes de Reino Unido, França, China e Rússia, países com assento permanente do Conselho de Segurança.
Segundo os documentos vazados pelo WikiLeaks, Hillary ordenou que especialistas elaborassem relatórios com detalhes sobre os sistemas de comunicação utilizados pelos principais diplomatas da ONU, incluindo senhas e códigos de segurança usados em redes privadas e comerciais para as contatos oficiais da entidade.
O material vazado ainda revela que diplomatas americanos pressionaram outros países para receber os detidos da prisão em Cuba, e para isso estabeleceram "negociações". Para a Eslovênia, por exemplo, disseram que as lideranças do país só teriam receberiam uma visita do presidente Barack Obama se recebessem um prisioneiro. Para a Bélgica, receber um prisioneiro seria uma "via de baixo custo para obter maior proeminência na Europa".
Irã - Outro ponto citados nos documentos são os repetidos pedidos do rei Abdullah, da Arábia Saudita, às lideranças americanas que atacassem o Irã para acabar com o programa nuclear do país persa.
Os documentos revelam que vários países árabes pressionaram os EUA para um ataque contra as instalações nucleares iranianas e expõem os bastidores das tensões sobre o programa de enriquecimento de urânio mantido pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad. As mensagens teriam sido enviadas para embaixadas americanas para todo o Oriente Médio.
A República Islâmica ainda é acusada de ajudar o grupo militante libanês Hezbollah ao usar ambulâncias da organização do Crescente Vermelho para enviar armas aos rebeldes. Além disso, um documento afirma que o supremo líder iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, está com câncer e em estado terminal
O WikiLeaks também revelou que o Irã obteve um sofisticado sistema de mísseis capaz de atingir o oeste da Europa graças à ajuda da Coreia do Norte. Os foguetes são muito mais poderosos do que qualquer arma publicamente conhecida do arsenal iraniano. Desde 2006 especula-se que a Coreia do Norte poderia vender ao Irã os armamentos.
O míssil pode levar material nuclear explosivo. Embora os especialistas acreditem que o Irã ainda não tenha tecnologia o suficiente para produzir material nuclear com finalidades bélicas, especula-se que esse seja o objetivo do programa atômico iraniano.
Ainda segundo o WikiLeaks, os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) receberam das autoridades iranianas plantas apenas parciais das obras da usina de secreta de Qom. A atitude elevou ainda mais as suspeitas de que o complexo deva ser usado pelo Irã para a produção de armas nucleares.
Os documentos também revelam que embaixadores da União Europeia concordaram em boicotar a posse de Mahmoud Ahmadinejad como presidente do Irã. Os diplomatas mantiveram a decisão em segredo. Os europeus se viram em uma situação dupla - precisavam mostrar que não apoiavam as controversas eleições iranianas, mas tinham de reconhecer que o poder estava nas mãos de Ahmadinejad e do supremo aiatolá Ali Khamenei.
Gaza - De acordo com o material revelado, o Egito e o Fatah, partido palestino que controla a Cisjordânia, sabiam dos ataques de Israel contra o Hamas em Gaza antes da guerra começar, em 2008.
Os documentos mostram que o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, disse a uma equipe do governo "ter consultado o Egito e o Fatah antes dos ataques, perguntando se eles desejariam assumir o controle da Faixa de Gaza uma vez que o Hamas fosse derrotado". Ambas as partes rejeitaram a oferta.
Síria - Nos documentos, diplomatas americanos descrevem os esforços falhos dos EUA em prevenir a Síria de fornecer armas para o grupo militante Hezbollah, atuante no sul do Líbano, que ampliou seu arsenal significativamente desde a guerra de 2006 com Israel. Uma semana depois de Bashar al-Assad, presidente sírio, prometer não enviar mais armas para os militantes, os EUA reclamaram de que a Síria continuava a armar os rebeldes.
Paquistão - Os cabos mostram a preocupação dos EUA com a presença de material radioativo em usinas nucleares do Paquistão, que Washington temia ser usado em ataques terroristas. As comunicações revelam que, desde 2007, os EUA vinham tentando remover urânio altamente enriquecido de um reator usado para pesquisas no Paquistão.
Em um cabo emitido em 2009, a embaixadora dos EUA no Paquistão, Anne W. Patterson, diz que o país se recusa a aceitar uma visita de especialistas dos EUA. Segundo ela, autoridades do Paquistão disseram que uma visita seria vista pelos paquistaneses como "se os EUA estivessem tomando as armas nucleares do Paquistão".
China - Os documentos revelam preocupação sobre o suposto uso em grande escala, pelo governo chinês, de técnicas de infiltração e sabotagem cibernética. Alguns dos cabos diplomáticos afirmam que uma rede de hackers e especialistas em segurança foram contratados pela China a partir de 2002, e que essa rede conseguiu acesso a computadores do governo e de empresas dos EUA, além de aliados ocidentais e do dalai-lama.
Os cabos citam um contato chinês que disse à embaixada dos EUA em Pequim que o governo chinês estaria por trás da infiltração do sistema de computadores do Google no país em janeiro.
Coreia do Sul - Autoridades dos EUA e da Coréia do Sul discutiram planos para se formar uma Coreia unificada, no caso de colapso do regime da Coreia do Norte. O embaixador dos EUA em Seul afirma na comunicação que a Coreia do Sul considerava oferecer incentivos comerciais à China para "ajudar a mitigar" as "preocupações da China sobre o convívio com uma Coreia reunificada".
O WikiLeaks é um site que se dedica a revelar documentos militares secretos dos EUA e de outros países. Neste ano, o site divulgou cerca de 400 mil documentos secretos sobre a guerra do Iraque. Antes disso, o WikiLeaks já havia divulgado 90 mil relatórios confidenciais sobre abusos cometidos no Afeganistão. O site promete mais vazamentos nos próximos dias.
Fonte: Estadão