Por Alberto Dines
O Estado brasileiro venceu na quinta-feira (25/11) uma importante batalha contra o narcoterrorismo, no Rio. Foi crucial – tanto sob o ponto de vista psicológico como tático – a participação dos dez veículos blindados da Marinha e os cerca de 50 fuzileiros navais que os tripulavam. A mídia ressaltou com entusiasmo a "ajuda" das forças armadas, mas fugiu ao seu dever de explicá-la devidamente: tratou-se de uma intervenção federal.
Intervenção "branca", disfarçada, informal, pontual, mas de qualquer forma uma intervenção do Estado nacional numa unidade da federação. Mais uma vez, a mídia foi "boazinha", atendeu às conveniências e ajudou a encobrir uma realidade: o narcotráfico transcendeu à condição de crime organizado, deixou de ser um grupo empresarial diversificado. É terrorismo: disputa territórios, quer dividir o país e impor a sua lei. Uma clara e insofismável ameaça à segurança nacional.
Governantes têm horror à palavra intervenção, fogem dela como o diabo da cruz. Compreensível, a intervenção é um recurso emergencial nas repúblicas federativas. As autoridades estaduais não querem parecer frágeis, incapazes de oferecer proteção à sociedade e as federais não querem parecer autoritárias nem assumir os riscos de um eventual fiasco. Sobretudo depois de uma campanha eleitoral na qual se discutiu abertamente a federalização da segurança pública.
A mídia arriscou-se, ofereceu uma cobertura intensa da operação policial que desalojou os bandidos da Vila Cruzeiro e obrigou os facínoras a fugir acovardados, embora esta cobertura tenha desagradado ao comando das operações. A mídia tem o dever de mostrar que o Estado tem meios de proteger a sociedade.
Mas a mídia, tanto a "antiga" (segundo a classificação do comunicólogo Lula) como a blogosfera, têm a obrigação de dar o nome aos bois: narcotráfico é terrorismo, não adianta tergiversar, amaciar. A sociedade cordial não é necessariamente ingênua. Nem estúpida.
Lembrança apagada
A imprensa paulistana, embora poderosa, rica e sofisticada, mostra-se cada vez mais provinciana e medíocre. Durante os cinco dias de combates nas ruas do Rio, nenhum dos jornalões locais sentiu-se obrigado a lembrar aos seus fiéis leitores que de 12 a 19 de maio de 2006 a cidade de São Paulo, a maior cidade da América Latina, foi paralisada por uma sucessão de ataques organizados pelo PCC (Primeiro Comando da Capital).
A cidade parou com as 300 incursões e o assassinato de 55 pessoas (entre policiais e civis). O bombardeio da Paulicéia só foi interrompido depois que o então governador em exercício, Cláudio Lembo, aceitou negociar com os cabeças do PCC que atuavam a partir de um presídio de segurança máxima.
O único veículo jornalístico que lembrou o dramático episódio e o seu vergonhoso desfecho foi o Bom Dia, Brasil da Rede Globo, apresentado na manhã de quinta-feira (25).
Com bairrismo não se enfrenta o terrorismo.
Fonte: Observatório da Imprensa