sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Blogs, um lugar para construir a liberdade

Por Valério Cruz Brittos* e Marco Ries**

O termo blogosfera surgiu pela primeira vez em 1999, como uma brincadeira. Após ser replicado por um especialista em comunicação, tornou-se, pela mídia estadunidense, sinônimo do espaço coletivo de blogs. Um blog é o local que uma pessoa escreve seus pensamentos, já a blogosfera vai além, trata-se de um fenômeno social de comunicação.

Apesar de estar em voga, a noção de blogs não é algo completamente novo. A idéia de uma ferramenta onde usuários possam publicar conteúdos de forma fácil e intuitiva acompanha a evolução do processo comunicativo. Vários fatores aconteceram em paralelo e assim permitiram um aumento significativo do poder de influência dos blogs.

O próprio crescimento exponencial da penetração da internet resultou em uma maior popularidade dos blogs. No entanto, esta ampliação da rede gerou um oceano de informação sem organização hierárquica. Assim, mecanismos de busca eficientes como Google têm sido fundamentais para que os blogs sejam encontrados e conseqüentemente tenham sua popularidade propagada, tornando-se verdadeiros filtros.

Outra questão importante foi o barateamento e decorrente crescimento da base instalada de celulares e câmeras digitais. Tal fato permitiu que conteúdos de texto, fotos e vídeo sejam registrados e publicados nos blogs via redes sem fio, ultrapassando a necessidade do blogueiro estar obrigatoriamente frente a um computador tradicional (fixo ou portátil).

Os blogs funcionam como a internet, quanto à liberdade de expressão. Porém, como a internet, também se reporta, direta ou indiretamente, a grandes empresas. Sua popularização provém da facilidade de acesso, suporte ou conhecimento técnico, mas principalmente por adotar um caráter pseudo-libertário, onde o usuário permite-se fazer uso do blog para expressar qualquer anseio. Assim sendo, trata-se de mais uma rede social.

Por demonstrar certo teor de liberdade de expressão, os blogs foram amplamente adotados por jornalistas, criando pelo mundo uma forte teia de novos lugares jornalísticos. Esse fenômeno deve-se à possibilidade do jornalista expressar opiniões fora do veículo que integra, além de contar como uma visibilidade a mais para o profissional. A partir daí, muitas organizações têm nos blogs espaços da própria empresa, com tudo que isso representa.

O principal diferencial nas ferramentas da internet, incluindo-se o blog, está no imediatismo e simultaneidade junto ao receptor, podendo receber contribuições das mais variadas e dialogar com os públicos com os quais interagem. Blogueiros escolhem seus candidatos ou partidos e promovem divulgações, das mais exageradas às mais subliminares.

Por mais que a blogosfera implique na democratização do meio, aproximando-o do conceito de público, ainda se reporta à indústria da internet e demais setores dispostos a investir no espaço digital. De qualquer maneira, a liberdade de expressão está ligada ao conhecimento do todo que circunda o sujeito, estando nas mãos de poucos. Ao mesmo tempo, surge como uma proposta a mais, um sopro de esperança ao jornalismo e à famigerada liberdade.

* Professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS, coordenador do Grupo de Pesquisa CEPOS (apoiado pela Ford Foundation) e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela FACOM-UFBA. E-mail: val.bri@terra.com.br
** Graduado em Publicidade e Propaganda pela UNISINOS e graduando em Jornalismo na mesma Universidade, onde é bolsista de iniciação científica e membro do de Pesquisa CEPOS (apoiado pela Ford Foundation). E-mail: matries@bol.com.br