O percentual de financiamento dos imóveis vem crescendo nos últimos anos no país, atingindo no primeiro semestre uma média de 61,9% do valor total da moradia, de acordo com os dados divulgados nesta quarta-feira pela Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) que engloba todos os empréstimos feitos pelos bancos nesse período.
Em 2009, havia ficado em 61,1%, patamar bem acima do contabilizado um ano antes (58,6%). Os números registrados em 2004 (46,8%) e em 2005 (47,8%) mostram que os clientes dos bancos davam mais da metade do valor de entrada para realizar o sonho da casa própria naquela época.
Ao todo, nos primeiros seis meses deste ano, as operações de crédito imobiliário com recursos da poupança atingiram R$ 23,8 bilhões, registrando o melhor resultado para esse intervalo da série histórica, iniciada em 1967.
De acordo com Luiz Antônio França, presidente da Abecip, esse crescimento mostra "claramente uma antecipação de compras", devido, principalmente, às condições de crédito mais favoráveis ao tomador do empréstimo, com taxas de juros menores e o alongamento dos prazos de pagamento.
Para o executivo, a tendência é que o percentual continue subindo e a experiência mundial mostra que 80% é um patamar considerado sustentável.
O dado divulgado pela Abecip (61,9%) se refere à fatia financiada pelo tomador do empréstimo, mas os bancos oferecem a possibilidade de um percentual ainda maior.
A Caixa Econômica Federal, líder de mercado com 67% dos empréstimos com recursos da poupança concedidos no primeiro semestre, financia até 90% do valor do imóvel com essa fonte. No Itaú Unibanco, maior banco privado do país e segundo nesse segmento, pode chegar a 80%.
Outro motivo apontado por França para a diminuição do valor de entrada é a atuação maior dos bancos no mercado de imóveis usados. Segundo o executivo, as pessoas costumavam usar outras maneiras de se financiar nesse caso, citando as compras à vista ou com parcelamento feito diretamente com o vendedor.
"O papel dos usados é fundamental", completa, citando os consumidores que saem de uma moradia para outra, seja por crescimento da familia ou mobilidade. "Se há liquidez no imóvel usado, é mais fácil mudar, porque faz com que o mercado gire com mais fluidez."
BOLHA IMOBILIÁRIA
Um estudo encomendado pela Abecip à MB Associados mostra que não há indícios de bolha imobiliária no país, como aconteceu nos Estados Unidos com a crise do "subprime". O assunto está sendo debatido desde que esse segmento do crédito passou a bater sucessivos recordes e os preços dos imóveis começaram a subir, principalmente nas capitais.
Segundo o economista José Roberto Mendonça de Barros, não existem no país as condições necessárias para a criação de uma bolha, pois não há endividamento excessivo nem dos consumidores nem das construtoras --os bancos também financiam a produção de imóveis.
O economista não arrisca um percentual de financiamento considerado ideal para os consumidores, mas considera importante dar uma entrada e ter "um certo fluxo de caixa" para pagar as prestações.
Outro indicador que afasta o "fantasma" da bolha imobiliária é o crescimento da massa real de renda dos brasileiros. Na previsão da MB Associados, o aumento deve ser de 8% no país na média anual entre 2009 e 2015 e um pouco maior em São Paulo (8,1%) e no Rio de Janeiro (8,5%).
Os preços dos imóveis, na sua opinião, podem subir ainda mais, já que a demanda por novas moradias deve continuar crescendo.
Fonte: Folha.com