Por Valério Cruz Brittos e Aléxon Gabriel João
Falar em jornalismo online é entrar numa arena complexa que perpassa a atividade jornalística em seu conjunto, na medida em que hoje é socialmente estruturante. Isso porque, atualmente, as tecnologias de informação e comunicação formam as novas bases da notícia, sendo necessário que o profissional de comunicação conheça todas as ferramentas, a fim de aplicá-las de forma correta, sem cair na vala comum da fragmentação noticiosa ou da superficialidade informativa. Mais do que isso, deve dominá-las para inovar.
Vive-se um momento de passagem de um modelo que imperou por décadas, unidirecional, vertical e centralizado, para outro, multidirecional, horizontal e descentralizado, que traz incerteza e até mesmo insegurança de modos de fazer e do papel do jornalismo num mundo de multidisseminação informativa. Se for impossível traçar um perfil do cenário da atividade jornalística a ser descortinado, pode-se visualizar a aceleração do processo de mudança de hábitos e valores que está acontecendo na prática comunicacional.
Durante muito tempo, as grandes empresas de comunicação trafegaram por um terreno sólido. As estratégias empresariais adotadas eram estáveis e traziam virtuosos dividendos a empresários, associados e grandes famílias proprietárias de megaempresas midiáticas. Há uma grande dificuldade em assumir essa transição, pois fazê-la significa admitir também suas imprevisibilidades e a fragilidade das estratégias operacionais que, mesmo quando exitosas, devem ser logo alteradas. Geram resultados econômicos mais favoráveis os grupos empresariais com maior capacidade adaptativa e de rentabilizar seus arquivos.
Qualidade, a palavra-chave
Neste quadro, a experimentação ganha novo papel, essencial em toda atividade econômica, em especial àquelas vinculadas à cultura, como o jornalismo. Isso requer superar a associação com a possibilidade de erro, que impera não só no sistema de comunicação industrial, mas também nas iniciativas alternativas, as quais, não raro, reproduzem o modelo hegemônico. Tecnologias, equipamentos e máquinas constantemente atualizam-se em tempo recorde, mas os valores individuais e coletivos levam tempo para serem mudados. Por isso a necessidade de se observar esse momento como de (mais uma) transição de modelos.
Com o avanço da internet e a proliferação de espaços midiáticos, mudanças logo geram novas mudanças. Contudo, o que não deve sofrer alteração é a qualidade do que é publicado na web. Qualidade parece ser a palavra-chave nessa era tecnológica, relativizando-se valores seculares do jornalismo, como objetividade, transparência, atualização, veracidade, imparcialidade, fidelidade e isenção, por motivações que passam por condicionamentos econômico-políticos. Mas a qualidade informativa pode surgir revigorada, ante a quantidade sem precedentes de fontes informativas que hoje podem ser acessadas.
Um mesmo fato, inúmeras interpretações
Para isso, é necessário investimento e capacidade de inovar, não o tradicional uso das tecnologias para reduzir o tamanho das redações. Ao profissional de comunicação exige-se um olhar atento e criterioso para essas mutações que, de certa forma, estão impactando o perfil do profissional e seu papel de mediador junto à sociedade. Capacitação e qualificação devem constantemente fazer parte do dia-a-dia do jornalista, o que requer formação universitária sólida, e não flexibilização geral do mercado para desenvolvimento de aventuras.
Frente às novas versões, enfoques e contextos, o que era considerado permanente está se desfazendo. É uma consequência quase irreversível que afeta, da mesma forma, outros setores da vida humana, provocada pela introdObução e sofisticação tecnológica, ainda que o plano informativo seja um dos setores mais comprometidos. Um mesmo fato pode ser transformado em notícia e difundido por diversos veículos de comunicação, tendo inúmeras interpretações. Isso além de outras construções que o fato recebe, com abordagens não-profissionais, cujo compromisso deve ser questionado, assim como o das indústrias culturais.
Fonte: Observatório da Imprensa