No último sábado (17/04), o Datafolha divulgou pesquisa em que o pré-candidato tucano à Presidência, José Serra, aparece dez pontos percentuais à frente da petista Dilma Rousseff. Os números ganharam destaque no Jornal Nacional e nas primeiras páginas dos jornais.
Poucos dias antes, em 13/04, o instituto Sensus divulgou pesquisa eleitoral que apontava empate técnico entre os dois principais pré-candidatos. A notícia não foi veiculada no Jornal Nacional e ganhou pouco destaque nos jornais, alguns deles questionando a sua validade.
A Central Globo de Comunicação informou que o caso é normal, já que a emissora, por discordar da metodologia utilizada, não divulga resultados de pesquisas realizadas pelo Sensus.
Para Alessandra Aldé, professora da Uerj e pesquisadora do Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública do Iuperj/Ucam (Doxa), o questionamento é novo. “O Sensus já realizou pesquisas para o CNI (Confederação Nacional da Industria) e eu nunca vi esses questionamentos”, conta.
Nos jornais, o tratamento dado às pesquisas também foi diferenciado. O Estado de S. Paulo, por exemplo, deu chamada na capa e mais espaço para o levantamento do Datafolha.
Posições claras
Segundo Marcus Figueiredo, coordenador do Doxa, o caso mostra o posicionamento dos veículos. Para ele, a questão poderia ser resolvida se a mídia divulgasse claramente suas preferências políticas.
“Este episódio só reforça a convicção da preferência política da grande mídia. A mídia tem o direito de ter preferência, o que prejudica a democratização é a não publicação de quem apoia quem. Esta informação é importante para os eleitores, para que possam filtrar o noticiário. Afinal os jornais e telejornais sempre divulgam sua autopropaganda como sendo ‘objetivos e isentos’. (...) Ter preferência política é um direito, mas diga, em nome da democracia”, defende.
Para Alessandra, o posicionamento dos jornais é uma tendência. “Os jornais estão cada vez mais posicionados. Mas isso não faz parte da tradição da imprensa brasileira, que tem um discurso, mas outro posicionamento”.
Sobre a afirmação de Figueiredo, que aponta o posicionamento claro como o melhor caminho, o diretor da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, diz que os jornais têm autonomia para revelarem ou não suas posições partidárias. “Não temos nenhuma orientação nesse sentido. Não cabe a ANJ orientar se devem ou não se posicionar”, afirma.
O editor de Opinião do jornal O Estado de S. Paulo, Antonio Carlos Pereira, explica que o veículo sempre se posicionou em espaço bem definido, mas não nas notícias. "O Estadão sempre se manifestou, desde o começo. Mas usamos nosso espaço de opinião, que estão bem definidos".
Questionado sobre imparcialidade e opinião, Pereira volta a enfatizar a divisão do que é opinião e o que é notícia. "O conteúdo é outra coisa, isso é bem dividido no jornal, não podemos misturar", afirma.
Fonte: Comunique-se