sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dois terços dos consumidores absorvem todo o conteúdo que acessam

RIO - A maioria das pessoas se sente pressionada pela quantidade de informações disponíveis hoje. Porém, dois terços afirmam que absorvem todo o conteúdo disponível nas diferentes mídias que acessam - especiamente os jovens de até 24 anos. Com isso, transformar quantidade em qualidade se tornou um dos grandes desafios da era do conhecimento. Essas foram algumas das conclusões da pesquisa "ConectMídia: Hábitos de consumo de mídia na era da convergência", feita pelo Ibope Mídia e apresentada nesta quinta-feira no 3º Painel de Tendências, do GLOBO.

A apresentação do estudo foi feita por Juliana Sawaia, gerente de Marketing do Ibope Mídia. Após a palestra, foram convidados para discutir os resultados da pesquisa e responder a perguntas da plateia Flávia da Justa, diretora de Comunicação da Oi; Fernand Alphen, diretor de Planejamento da F/Nazca; e Sérgio Bairon, livre-docente em Ciências da Comunicação da USP, autor do livro "Antropologia Visual e Hipermedia" e consultor de novas tecnologias. O evento foi mediado pela colunista do GLOBO Flávia Oliveira.

Muitas vezes, a necessidade de obter informações faz com que o consumidor use simultaneamente mais de uma mídia. Segundo o estudo, 26% dos consumidores assistem à televisão e leem jornal. Praticamente metade dos jovens acessa a internet enquanto vê televisão ou ouve rádio. O que também é um reflexo da falta de tempo: praticamente metade dos entrevistados acredita que ele estará escasso em 2020.

- A necessidade de comunicação é inerente ao ser humano. Ela consolida o processo de integração da sociedade, por meio da linguagem, seja ela qual for. E o conteúdo se tornou o protagonista dessa nova era, independentemente da plataforma - disse Juliana, durante a apresentação da pesquisa, acrescentando que 81% dos consumidores se importam mais com a qualidade da informação do que com o local onde a encontram.

De acordo com a pesquisa, os relacionamentos pessoais são cada vez mais importantes na era da convergência. Tanto que 45% das pessoas acreditam que as redes sociais já fazem parte da rotina. O número sobe para 72% entre os jovens de 18 a 24 anos.

Hoje, mais de 20 milhões de pessoas usam algum tipo de rede social por mês. Um dos fatores que explicam o sucesso da rede é a "curiosidade" do usuário. O Twitter, por exemplo, registrou crescimento superior a 280% entre internautas residenciais. O Brasil ocupa o topo do ranking de penetração do serviço, à frente de países como Estados Unidos e Reino Unido. Além disso, os brasileiros também são os internautas que mais tempo passam no site de microblogs: cada usuário navega, em média, 36 minutos pelas páginas do Twitter.

- As redes sociais já fazem parte da rotina do internauta. E esses números tendem a crescer ainda mais devido a fatores como o processo de inclusão digital do país - disse Juliana, acrescentando que, para os jovens, internet já é considerada uma plataforma tradicional, e não a televisão.

As redes sociais ganham ainda mais força quando se observa que, segundo o estudo, 16% das pessoas preferem falar com amigos, família e colegas de trabalho via computador. Um percentual que é maior entre os jovens de 10 a 17 anos: 29%. Quanto mais jovem, maior a preferência pelos relacionamentos virtuais em detrimento ao interpessoal. Dois terços deles usam regularmente as mensagens instantâneas.

- É a liquidez das relações sociais - comentou Juliana.

A executiva do Ibope Mídia acrescentou ainda que o consumidor passou a ser um colaborador dos canais de comunicação. Com isso, as pessoas geram e disseminam conteúdos e trocam informações:

- As pessoas querem ser protagonistas dessa nova realidade. Querem participar da criação de conteúdos.

Para Bairon, a tendência é de se "redessocializar" toda e qualquer relação. As redes sociais podem se tornar "a casa" e ao mesmo tempo um "lugar sociável":

- É para ficar de olho nessa comunicação.

Segundo Flávia da Justa, da Oi, é preciso hoje permitir a participação do usuário na criação do conteúdo.

- Nada mais pode ser impositivo, especialmente quando se trata dos jovens. É preciso ainda buscar conteúdo para aquele consumidor, sem esquecer o lado humanista.

Para Alphen, da F/Nazca, os novos conteúdos trazem um conceito do que seja a verdade. Isso porque, para ele, a verdade passa a ser uma construção coletiva, que só não é verdade quando tem um desmentido.

- Então, um texto que nao é do (Luis Fernando) Verissimo só não será realmente de sua autoria, quando houver um desmentido. Para se ter idéia, numa pesquisa, 70% dos internautas costumam "espalhafatar" conteúdo na internet. É a única plataforma que permite isso. O papel do criador do conteúdo é ser rápido - disse Alphen, frisando que um dos desafios ainda está em saber como rentabilizar o conteúdo. - A grande questão é como cobrar por uma coisa que as pessoas estão valorizando.

Para Flávia da Justa, é a vez dos micropagamentos. Valores baixos, mas volume altos:

- Talvez a equação não feche. Não se tem um modelo no mundo de rentabilidade, a não ser o Google. As pessoas ainda não aceitam que o conteúdo na internet seja pago.

O estudo mostrou também que as famílias apresentam hoje novos padrões de consumo. Nesse novo universo, o celular exerce papel fundamental. Prova disso é que figuram entre os itens mais importantes do dia a dia: televisão (77%), celular (70%), computador com internet (58%) e rádio (46%).

- O celular traz o mundo de identidade da pessoa. E isso já chegou rapidamente à classe C - concluiu Bairon.

Fonte: O GLOBO Online