As recentes declarações do ministro das Comunicações, Hélio Costa, sugerindo uma análise mais profunda do padrão europeu de rádio digital, o DRM, tem causado um certo incômodo em muitos empresários do setor. O temor é que as análises acabem inviabilizando uma tomada de decisão ainda neste ano, como era aguardado pelos radiodifusores. O chamamento público em que os testes estão sendo feitos termina no dia 22 de novembro e os empresários tinham a esperança de que o martelo fosse batido pouco tempo após esta data.
A preocupação maior se dá pelo fato de que praticamente nenhum teste completo foi executado no padrão DRM. O motivo dessa análise parcial seria a falta de equipamentos no mercado para os testes em FM, tendo sido usados apenas softwares de computador para analisar a transmissão das rádios nesse sistema nos testes executados.
Empresários contam que a própria decisão do ministro de analisar melhor o DRM não está tão clara assim nas conversas com membros do governo. Diferentes visões teriam sido apresentadas para grupos distintos de radiodifusores, tornando o cenário ainda mais confuso. Também não há consenso sobre os motivos da reviravolta sobre a análise dos padrões. A impressão de empresários consultados por esta reportagem é que a escolha do Iboc era praticamente certa, apesar de o sistema não ser perfeito.
Uma das "fraquezas" de ordem técnica que todos admitem é que o Iboc não pode ser usado em ondas médias, enquanto o DRM sim. Ocorre que o padrão europeu ainda teria uso insipiente no mundo e, mesmo tendo potencial para ser aplicado em todas as modulações de rádio, praticamente não há uso desse sistema no FM. Em todo mundo, o setor calcula que menos de 60 emissoras usem o DRM como padrão digital em AM.
Apesar desta desvantagem, o Iboc leva a melhor em número de emissoras já usando o sistema. Apenas nos Estados Unidos, mais de 1,8 mil empresas adotam o padrão e, no Brasil, 19 emissoras já teriam os equipamentos neste sistema em regime de teste. Só que as análises dos testes teriam apontado um comportamento no uso do padrão norte-americano no Brasil considerado uma deficiência pelo governo.
Interferência
Além da constatação de algumas interferências, havia uma expectativa de que digitalização ampliaria a área de propagação das transmissões, mas isso não ocorreu. Na prática, existem áreas que não são cobertas pelo Iboc nos testes, mas os defensores do padrão alegam que essas regiões onde os testes apresentaram falhas também existem problemas no atual sistema analógico. Em suma, onde a transmissão analógica não chega, a transmissão digital também não está atendendo. Essa suposta limitação teria uma explicação técnica: como não houve mudança nem ampliação da faixa de radiofrequência usada pelas rádios, o escopo do rádio digital é o mesmo do analógico, ao contrário do que está ocorrendo na transição do sistema de televisão, onde a propagação tem sido ampliada.
Pedidos
Procurado por esta reportagem, o presidente da Abert, Daniel Slaviero, evitou entrar na polêmica e confirmar as informações levantadas junto aos radiodifusores. Slaviero disse que ainda não é possível avaliar se os testes em DRM atrasarão a decisão do governo sobre o padrão e que isso só poderá ser avaliado após o dia 22 de novembro, quando termina o prazo dos testes.
A associação sugerirá ao governo que teste o padrão europeu em, ao menos, uma rádio FM e uma rádio AM, sendo que ambas deverão ter passado anteriormente pelos testes no Iboc."É importante que seja assim para que possamos ter realmente um método de comparação", explicou o presidente. Também deve ser recomendado que se dê preferência a emissoras localizadas em São Paulo, onde a transmissão é mais desafiadora.
A Abert também provocará o Instituto Brasileiro de Informação, Ciência e Tecnologia (Ibict) para que ele apresente contribuição ao ministério esclarecendo o panorama de uso do padrão Iboc, os eventuais problemas diagnosticados, os royalties a serem distribuídos e outras informações que possam ser relevantes na escolha do padrão. Outro esclarecimento que Slaviero fez questão de prestar é que os testes do Iboc não foram "rejeitados" ou "aprovados", mas apenas apresentados ao governo. E que é inegável a melhoria na qualidade de recepção que o sistema digital tem mostrado nas análises já feitas.
Fonte: Tela Viva