A edição número 304 da Revista IHU com a coluna do Grupo Cepos já se encontra disponível no Instituto Humanitas. Coube à professora e doutoranda Nadia Helena Schneider a responsabilidade de preencher o espaço desta semana no periódico com o artigo “Expectativas e possibilidades da TV digital na educação". O próximo membro que dissertará para a coluna será o Professor Doutor Eduardo Vizer.
Expectativas e possibilidades da TV digital na educação
Por Nadia Helena Schneider*
O presente texto, em consonância com os estudos da Economia Política da Comunicação, tem o objetivo de refletir sobre as possibilidades da TV digital interativa e sua contribuição na educação. Visa promover a utilização dos recursos da linguagem audiovisual e a exploração de determinados conteúdos da televisão, como conhecimento específico.
Atualmente, com a chegada da digitalização, vivenciam-se grandes avanços e expectativas em diversas áreas, que refletirão em vários segmentos sociais, modificando os meios de comunicação e as mediações das interações sociais.
Diante dessas mudanças, nota-se a grande preocupação com o desenvolvimento da humanidade, que exige dos cidadãos um alto investimento intelectual que contemple tanto o domínio técnico quanto a reflexão crítica e o autoconhecimento. Nesse sentido, compreende-se a televisão como meio de comunicação que sempre esteve presente na trajetória educacional, tendo em vista sua grande força como produtora de sentidos e significados, bem como por estar presente em 97% dos lares brasileiros, legitimando valores e estimulando comportamentos, através de seus programas, atuando, especialmente, como agente de socialização.
No Brasil, a digitalização do sistema de transmissão da TV aberta iniciou-se, primeiramente, em São Paulo, no final de 2007. Além da alta qualidade da imagem, a tecnologia possibilita incorporar dois atributos que, até então, são de domínio da Internet: a interatividade e a quebra da verticalização da programação. Ou seja, o telespectador poderá selecionar o conteúdo e a hora de exibição do programa de seu interesse para assisti-lo no momento desejado. Atualmente, a cobertura ao sinal digital atende a 17 capitais, abrangendo as cinco regiões do Brasil, e a previsão é atingir as demais até o final de 2009.
No momento, a discussão sobre a TV digital está na pauta de vários segmentos da sociedade, merecendo atenção especial, devido às suas possibilidades, e, grandes são as perspectivas no campo educacional, objetivando favorecer o processo ensino aprendizagem.
Nesse sentido, duas são as expectativas: o Canal da Educação e a Interatividade. Quanto à primeira, depois da fusão da Empresa Brasileira de Comunicação (Radiobrás) e da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), o Governo está com suas atenções voltadas a criar o canal da educação, previsto no artigo 13 do Decreto 5.820, que implantou o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTD-T). Esse canal, ainda em fase de planejamento, está sob a coordenação do Ministério da Educação (MEC).
Segundo o Secretário de Educação à Distância do MEC, Carlos Bielschowsky, durante o II Fórum Nacional de TVs Públicas, realizado dia 26 de maio do corrente, o MEC está disposto a trabalhar conjuntamente com as TVs universitárias em um "modelo de gestão de governança". Na ocasião, a Associação Brasileira de Televisão Universitária – ABTU - lançou uma campanha para solicitar da União um canal digital com 6 MHz, específico para as TVs universitárias e a possibilidade de fazer multiprogramação. Esse modelo implica numa televisão passível de ser dividida em quatro canais, alegando que as afiliadas da ABTU produzem mais de 240 horas/semana de programação inédita que poderiam ser ofertadas ampliando a diversidade audiovisual de conteúdos educacionais e culturais.
A segunda expectativa no ensino, com a chegada da TV digital, está na possibilidade da interatividade, citada no artigo 6 do Decreto 5.820, uma característica dos novos meios, que vai ao encontro dos caminhos da escola em busca de inovações nas práticas pedagógicas.
A capacidade de interação entre o telespectador e a emissora, através do conversor, ou set top box, bem como a convergência com outros aparelhos, abrem ainda mais o leque de opções aplicativas de uso e permitem considerar, preliminarmente, quais seriam os recursos que poderiam ser explorados no campo educacional, nos processos de ensino-aprendizagem, pela apropriação dos elementos de linguagem e possibilidades técnicas para a produção e transmissão do conhecimento. Vale destacar que a esperada interatividade se divide em duas. A local, na qual o telespectador interage com conteúdos disponibilizados pela emissora, tais como textos com informativos sobre uma notícia dada e vídeos adicionais que dêem mais detalhes, e a interatividade plena, que oportuniza que o telespectador interfira na programação que está sendo enviada para todos, votando, enviando informações e e-mails.
Entretanto, a implantação efetiva desse recurso requer investimentos significativos, tanto para os consumidores, quanto para a indústria, fabricantes, produtores e radiodifusores.
A perspectiva de educar pela televisão significa tanto comprometer emissoras a ofertar mais e melhores programas ao público, quanto lutar por mais ofertas de canais educativos no sistema aberto de televisão.
Só dessa forma é possível vislumbrar a apropriação da TV digital propiciando uma educação que promova a cidadania, na medida em que a interatividade estimula a formação de receptores ativos, imprescindíveis para uma intervenção social coletiva e crítica. A televisão, mais do que uma tecnologia que transmite sons e imagens, voltada, principalmente ao entretenimento, faz parte do cotidiano da maioria das famílias e seu conteúdo serve de referência sobre a realidade social.
Concluindo, é importante ressaltar que educar através da nova televisão exige que educadores e comunicadores abracem alguns objetivos comuns; a compreensão intelectual do meio, o domínio da tecnologia e a capacitação para sua utilização livre e criativa.
* Professora na rede municipal de Dois Irmãos (RS), membro do Grupo de Pesquisa CEPOS (apoiado pela Ford Foundation) e mestre e doutoranda em Ciências da Comunicação da (Unisinos).
Fonte: IHU