terça-feira, 28 de abril de 2009

UM BREVE OLHAR SOBRE O NIASSA

Nos últimos meses de Dezembro a Fevereiro visitei o Niassa, a província mais extensa do país.

Na província do Niassa as chuvas são regulares, a terra produz muita comida, recursos minerais, desde o Ouro de Lupilichi até o Rubi de Mavago. As paisagens são belas e atraentes, próprias para um turismo de primeira categoria.

A fauna, a flora, as águas cristalinas e as praias virgens do lago e reserva do Niassa respectivamente, assim como outros recursos naturais subaproveitados fazem da província uma jóia por facetar.

Porém, “o Niassa está esquecido”, quem o diz são os Massukos, uma banda musical da casa. E, com base naquilo que se pode constatar no terreno, a opinião é verdadeira, senão vejamos:

O desenvolvimento caminha a passos lentíssimos, quase todas estradas são de terra batida e esburacadas. No tempo chuvoso, a situação é pior. A chuva destrói as pontes e picadas. Os transportadores de passageiros e mercadorias não se arriscam a enfrentar o martírio de explorar o trájecto.

O comboio de Cuamba (a segunda maior cidade) para Lichinga (a capital provincial) circula uma ou duas vezes por mês. Não transporta passageiros e dura mais de cinco dias, por causa dos carris tortos, num percurso de aproximadamente 300km.

As infraestruturas são de construção precária. Alguns dirigentes defendem a exiguidade de fundos como a causa pela má qualidade das obras. Outros denunciam a existência de crónicos esquemas de corrupção, clientelismo e uma falta águda de transparência nos concursos para construção de infraestruturas do estado. Mas seja o que for, a verdade é uma: a situação não é boa.

O povo é simpático, trabalhador, acolhedor e continua dormindo a sonhar com dias melhores, enquanto se contenta com os jogos de futebol do Moçambola aos domingos.

Na capital provincial, as ruas e avenidas confundem-se com burracos, o dia-a-dia é feito de filas enormes nas poucas instituições bancárias existentes. Um certo banco, tão útil para as populações tem uma e única agência com duas ATMs operacionais para toda província.

Nas escolas, alunos do nível pré-universitário estudam em cubículos sem coberturas laterais, submetidos a todos riscos possíveis. As salas de aulas albergam mais de 90 alunos sentados no chão. Virou coisa normal de segunda a sexta-feira ver pais e filhos transportando cadeiras de casa para escola e vice-versa.

Em Lichinga falta água canalizada, faltam transportes públicos, faltam serviços básicos, para além dos preços e o custo de vida elevadíssimos. Contudo, os dirigentes políticos insistem que a província está a desenvolver. Ora, ora tenhamos peso na consciência!

Entenda-se o seguinte: entre muitas coisas, a província vai desenvolver quando em primeiro lugar as vias de comunicação estiverem acessíveis. É urgente a asfaltagem da estrada que liga Nampula e Lichinga é também necessária que a linha fêrrea que une as duas principais cidades esteja operacional.

O crescimento económico da província está também dependente do tipo de dirigentes que norteiam os seus destinos. Faltam dirigentes sérios, com vontade e visão de desenvolvimento, muito diferente da visão destes últimos cujo mandato está terminar.

Nos últimos cinco anos a província teve a pouca sorte de ser dirigida por pessoas “incapazes” que no auge da sua mediocridade tiveram a coragem de devolver fundos aos doadores alegando não haver áreas de aplicação. Esse tipo de governantes deveria ser escoraçados.

Niassa precisa sair da letargia em que se encontra. Para tal é preciso muita seriedade e um trabalho árduo de todos nós. Os dirigentes não devem olhar as províncias como fonte de produção de riqueza pessoal, muito menos para acomodar interresses de conterrâneos, amigos de infância e fomentar o tribalismo segundo denunciaram no ano passado os professores doutores Brazão Mazula e Carlos Machili respectivamente.

Uma força para todos compatriotas que lutam nas várias frentes para o bem-estar desta pátria amada, Deus vos oiça!

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