Parecendo que não, mas é um facto, o nepotismo está ganhar terreno nas nossas organizações públicas e privadas, isto é, nos últimos anos está cada vez mais dificil ter emprego numa empresa qualquer deste país se o concorrente não tiver familiares ou amigos na organização que pretende servir.
Qualquer cidadão atento pode notar que as nossas empresas públicas e privadas estão virando clubes de amigos e familiares, onde as portas estão abertas somente para pessoas conhecidas, como: cunhados, vizinhos, netos, afilhados entre outras espécies de parentesco que se pode encontrar por aí.
Os nossos jornais têm sempre anúncios de vagas para emprego nas empresas. Porém, esses supostos anúncios não passam de simples escritos para o “Inglês ver”. Na verdade, as vagas publicitadas vêm já ocupadas, as entrevistas que se fazem servem para brincar com as pessoas ou justificar qualquer cláusula que se calhar a lei prevê.
O cenário é dramático. É dramático sobretudo para o jovem recém graduado que pretende singrar no mercado de trabalho, para mostrar os seus dotes profissionais e materializar os seus conhecimentos científicos, a fim de desenvolver o país, mas não o pode fazer porque é impedido por questões mesquinhas como o nepotismo.
É triste para o estudante que por azar ou sorte do destino deixou a sua província para continuar os seus estudos, contudo, porque é o primeiro e único a sobresair na familia e não tem padrinhos é condenado ao Deus dará até aos últimos dias da sua vida.
A situação fica ainda mais penosa para aquele cidadão anónimo que vive no limiar da pobreza, abaixo de um dólar por dia e mesmo assim continua a sonhar com dias melhores, “anestesiado” com pão e circo que o governo proporiona.
Só que, este mesmo cidadão já começa a ficar farto da palhaçada porque o pão torna-se cada vez mais escasso e o circo começa a perder graça, daí opta pela coisa mais simples que consegue fazer: abster-se das eleições, caso não, vai a procura das soluções mais rápidas e não boas para a sociedade, neste caso, pauta pelo crime, roubo e outras práticas antisociais.
Fica mais díficil ainda para aqueles que, por causa dessa postura das nossas organizações procuram alternativas no comércio informal e nas pequenas indústrias, mas mesmo assim não escapam dos impostos que “diariamente” tem sido criados neste país.
Moçambique é um país pobre e todo mundo sabe muito bem disso. É necessário que se invista mais no capital humano, nas pessoas competentes e dotadas de habilidades e capacidades para operar tecnológias e solucionar as crises que nos enfermam.
Senhoras e senhores não se pode sair da condição de pobreza agindo nesses moldes. Com o nepotismo e clientelismo institucionalizados não se constrói um país próspero, mas sim, um clube de amigos e familiares onde a preguiça e anarquia, os desmandos e os abusos de confiança imperam.
Quando se trata de servir o país, não se devia brincar em serviço. Nestes casos os valores de um homem não devem ser medidos com base nos graus de parentesco, pois é preciso basear-se na competência e na capacidade de solução dos problemas. É assim como funcionam as coisas em países onde reina a disciplina e cultura de trabalho.
Muitas vezes os nossos governantes cantam que, “a juventude é a seiva da nação”. De que juventude se trata? Essa maioria sem horizontes, a qual depois do término de seus estudos não tem tido por onde ir?
Ou referem-se a seus filhos, enteados e afilhados com oportunidades de escolher entre continuar a estudar num país do primeiro mundo, às custas do erário público, ou singrar no mercado de emprego numa dessas grandes empresas da praça com direitos a salários chorudos e regálias infindáveis.
É assim que pretendemos combater a pobreza absoluta no país? Será este, Moçambique para todos do qual Sua excelência o Presidente da República falou na abertura da reunião dos quadros do partido Frelimo a 19 de Abril de 2009?
Estamos a transformar as organizações e consequentemente o país num clube de amigos e familiares. Pensem nisso, compatriotas!