Entre as poucas horas de conteúdos regionais veiculadas pelas emissoras nas principais capitais do país, os programas jornalísticos são os mais produzidos. Os telejornais e congêneres somam 464 horas e 7 minutos dentre o universo pesquisado pelo estudo “Programação Regional na TV Aberta Brasileira”, realizado pelo Observatório do Direito à Comunicação, a partir da análise de 58 emissoras em 11 capitais do país [veja aqui].
A emissora que mais veicula programas jornalísticos é a Paraná Educativa, com 23 horas e 25 minutos. Em seguida vêm a Record MG, com 21 horas, a Cidade Record, com 20 horas e 40 minutos, e a TV Pampa, de Porto Alegre, com 20 horas. A Record é a rede que dá mais atenção a este gênero, tendo 8 das 10 emissoras com maior tempo de jornalismo local. Tal desempenho deve-se muito à estratégia de programação local da sede paulista, que privilegia jornais feitos pelas afiliadas em edições na hora do almoço e de noite, além de garantir cerca de duas horas de versões locais do programa Balanço Geral.
O segundo gênero mais freqüente dentre as produções locais é o entretenimento, com 79 horas e 10 minutos. O termo é usado no estudo para agrupar shows de variedades, humorísticos, programas de auditório e filmes. Verifica-se que as iniciativas locais deste gênero não fazem parte das estratégias das cabeças, mas são uma opção das afiliadas. Este tipo de atração é relativamente barata, pois se apóia fortemente em conteúdos ao vivo, com diálogo entre estúdio e pessoas na rua.
Os programas de variedades também são um dos tipos de produção mais realizada pelas emissoras, em razão de seu alto potencial de retorno publicitário. “Programas de variedades são mais fáceis, tanto para fazer quanto para vender. Ele tem leque maior, pois posso ter um cliente que quer fazer quadros diferentes, e acabo fazendo-os adequados aos clientes. São programas mais complexos para produzir, porque demandam equipe maior, mas de mais fácil retorno”, explica Beth Caminha, da TV Jangadeiro.
Outra opção corrente é o humor local, geralmente comandado por algum apresentador ou protagonista de forte carisma, como é o caso de “Caju e Totonho em Off”, da TV Alterosa de Belo Horizonte. No Ceará, programas locais como o “Panelada da Babalu”, da TV Jangadeiro, têm obtido bons índices de audiência.
Na terceira colocação estão os programas esportivos, com 71 horas e 51 minutos. Este gênero faz parte das estratégias das cabeças e é uma opção para as afiliadas pela audiência garantida, sobretudo em razão da forte atração de conteúdos relacionados ao futebol. Há dois tipos principais de programas esportivos: ou próprios das afiliadas, como o Esporte Record Pará, ou inserções locais no programa feito pela cabeça, como os blocos do Globo Esporte.
Com total de horas quase idêntico, os programas culturais somaram 65 horas e 30 minutos. Compõem este gênero principalmente atrações voltadas às artes, sobretudo à música, e com temáticas relacionadas às culturas locais de determinadas regiões. Neste grupo de conteúdos, é visível o desequilíbrio quanto à modalidade de televisão que os veiculam, concentrando-se majoritariamente nas televisões públicas. Estas são responsáveis por 91% do total dos programas culturais.
A emissora com maior volume de produções neste gênero é a Rede Minas, com 16 horas e 50 minutos, seguida pela Paraná Educativa, com 12 horas e 40 minutos, e pela TV Cultura do Pará, com 11h. Das 52 emissoras comerciais analisadas, apenas 12 transmitem este tipo de programa. Religiosos e televendas crescem nas produções regionais
Na análise por gênero, o estudo identificou uma crescente presença dos programas religiosos e de televendas, ocorrida especialmente por meio do arrendamento de espaços nas grades de programação. Os primeiros totalizam 28 horas e 30 minutos do tempo total veiculados pelas emissoras. Já a venda de produtos pela TV soma 47 horas e 15 minutos nas emissoras analisadas. No entanto, boa parte deste tempo deve-se à TV Rondon, de Cuiabá, que aluga 34 horas e 40 minutos de sua grade para este este tipo de programa.
O tempo de programas religiosos aparenta contraste com a presença crescente deste tipo de conteúdo nas cabeças-de-rede nacionais, mas justifica-se pelo fato do aluguel de espaço local ainda ser pouco rentável para as organizações religiosas, que apostam nos horários distribuídos pelas cabeças de alcance nacional.
Já os infomerciais, como são chamados os programas de televendas, têm encontrado nos espaços locais das grades uma estratégia de ocupação do espaço da televisão. “Isso [televendas] não é indústria de TV, com profissionais de TV, que produzem etc. É um vendedor que fica ali anunciando produto. Eu teria restrições a chamar isso de TV, inclusive de permitir concessão para este tipo de coisa. É ilegal, porque leva as emissoras a ultrapassarem o limite de 25% do tempo para veiculação de publicidade”, critica o professor César Bolaño.
Para o acadêmico, este tipo de “barbaridade” ocorre pela falta de uma regulação do conteúdo transmitido na TV, e termina por ocupar um espaço precioso que deveria servir para expressar a diversidade de opiniões políticas e culturas com mensagens puramente comerciais.
Educativos e infantis desprezados
Do total de horas veiculadas pelas emissoras, 16 horas e 12 minutos são programas que têm como temática o campo. Este tipo de atração é presente, sobretudo, nos estados da Região Sul, Paraná e Rio Grande do Sul, e atendem a um público de produtores rurais, que contribuem fortemente com o retorno publicitário.
Com percentual baixíssimo, na base do ranking, estão os programas educativos e infantis, que totalizam apenas, respectivamente, 5 horas e 30 minutos e 4 horas e 30 minutos. Mesmo nas emissoras públicas, que internacional e nacionalmente dão bastante atenção à produção de conteúdos de cunho pedagógico, o tempo totalizado ficou apenas em 4 horas e 30 minutos.
Fonte: Observatório do Direito à Comunicação