Emissoras educativas e culturais estão trocando parte da programação da TV Cultura, de São Paulo, pela da TV Brasil. Desde meados de 2008, a Fundação Padre Anchieta (mantenedora da Cultura) anunciou que não mais subsidiaria a programação para as educativas de outros estados, passando a cobrar pela cessão de direitos. A proposta da TV Cultura foi bem aceita inicialmente pelas emissoras públicas, já que o valor cobrado não ultrapassa 3% de seus orçamentos. Com outras emissoras é estabelecida uma relação comercial, na qual a emissora fica obrigada a veicular o break nacional da TV Cultura. Mesmo assim, muitas emissoras estão trocando os contratos de compra de conteúdo da TV Cultura e se afiliando à TV Brasil.
A cessão de direitos de veiculação do conteúdo é uma importante receita para a TV Cultura. Conforme noticiou Tela Viva News em novembro, o faturamento com o licenciamento de conteúdo para outras emissoras é de aproximadamente um terço do que a TV Cultura fatura com publicidade.
Oferta vantajosa
Segundo Antônio Achilis, presidente da Abepec (Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais), a TV Cultura perdeu cerca de 38% de seus contratos de cessão de conteúdo para emissoras educativas, "e vai perder mais".
Procurada, a TV Cultura não se pronunciou sobre a questão, mas uma fonte importante da emissora paulista disse não identificar qual o real motivo da mudança. "A Cultura cobra muito pouco pelo conteúdo, perto do orçamento de algumas emissoras estaduais. Não acredito que o motivo (da troca) seja o preço", disse.
Achilis, que é também presidente da Rede Minas, diz que a proposta da TV Brasil é tentadora, já que ela não cobra pela cessão de conteúdo. Contudo, a questão, segundo ele, não é apenas preço. A TV Brasil, destaca, acena com a possibilidade de coproduzir com os estados. Em outras palavras, a TV Brasil deve passar a cofinanciar as produções locais dos estados.
Para Achilis, a TV Brasil ainda está em fase de construção, com poucos programas criados. "A implantação não é em velocidade de cruzeiro, mas a possibilidade de co-produção é interessante para as emissoras públicas", diz. Segundo ele, é muito difícil para os estados conseguirem distribuir seus conteúdos pelo país, o que se torna possível com a rede da TV Brasil.
A Rede Minas, diz Achilis, não tem contrato de afiliação "com ninguém". "Por enquanto, estamos analisando as propostas", diz. A rede mineira (que há décadas transmite boa parte da programação da Cultura) é uma das poucas educativas que conseguiu "exportar" seu conteúdo, contando com três programas exibidos pela TV Cultura e outro pelo canal pago da Fundação Padre Anchieta, a TV Rá Tim Bum. "A tendência é que esses programas venham a ser coproduções com a TV Brasil", diz, explicando que a TV Cultura não paga por este conteúdo. "Ela ainda poderá ter acesso aos programas, mas através da TV Brasil", explica.
Infantil
A fonte na TV Cultura também questiona como as emissoras de outros estados farão para substituir a programação infantil da Cultura, bem mais completa que a da TV Brasil, e formada, inclusive, por séries internacionais licenciadas pela Cultura.
Por André Mermelstein e Fernando Lauterjung, da Tela Viva
Fonte: Tela Viva