Entrevista especial com Helenice Carvalho.
Há alguns dias, a Unisinos sediou o III Seminário de Pesquisa Cepos, onde se discutiu a economia política da comunicação como meio de análise midiática. Um dos assuntos debatidos foram as inovações e movimentos que atuam dentro da comunicação hoje. A IHU On-Line, por e-mail, conversou com a professora Helenice Carvalho sobre este tema. Ela tratou também da noção organizacional nos meios de comunicação a partir da revolução tecnológica que estamos vivendo nesse campo e sobre os dilemas da sociedade midiatizada. “Aquilo que é bônus pode se transformar em ônus rapidamente, ou seja, a instantaneidade, a possibilidade de grande visibilidade e o poder da midiatização”, diz ela.
Helenice Carvalho é relações públicas pela Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, com especialização em Dea D'information Strategique Et Critique, na França. Realizou mestrado em Administração, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e em Comunicação, pela Unisinos. Atualmente, é pesquisadora na Universidad de Buenos Aires.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Que tipo de estratégias competitivas surgem na era das novas tecnologias?
Helenice Carvalho – A meu ver, as principais estratégias competitivas na era da Tecnologia da Informação e da Comunicação (TICs) dizem respeito à instantaneidade, a possibilidade de grande visibilidade e ao poder de midiatização que qualquer organização ou marca que incorpore as TICs em suas estratégias comunicativas passa a ter. Entretanto, as TICs sozinhas não asseguram a verdadeira comunicação, mas uma quantidade enorme de informação que precisa ser trabalhada de muitas outras maneiras pela organização, tanto em nível externo quanto interno.
IHU On-Line – E que movimentos comunicacionais importantes nascem a partir da revolução tecnológica? Como eles estão presentes na comunicação brasileira, hoje?
Helenice Carvalho – A partir da chamada Revolução Tecnológica, tivemos o surgimento da internet e todos os seus desdobramentos, entre os quais o e-mail, a intranet, o Orkut nos EUA e no Brasil, os grandes bancos de dados, como o Google e o Yahoo, e as chamadas redes sociais, como o Facebook, que são apenas alguns exemplos que se pode dar. Todos hoje, sem dúvida, fazem parte do cotidiano de um grande número de pessoas, em especial dos jovens, mas de novo, eu diria: isso não que dizer que apesar de todo esse aparato tecnológico nos "comunicamos" mais. Pode ser que estejamos mais em contato, troquemos mais informações, mas em determinado momento há certa entropia, uma circularidade do mesmo que não avança para um conhecimento, que não gera algo novo, que nem sequer chega a esclarecer e que faz com que sejam necessários outros suportes comunicacionais para isso.
IHU On-Line – As inovações tecnológicas mudam a noção organizacional das corporações comunicacionais? De que forma? Qual é a tendência de organização daqui para frente?
Helenice Carvalho – O que se verifica em termos organizacionais é a absorção das novas tecnologias e a inserção das mesmas em um contexto organizacional que já existe, o que não significa dizer que isso é uma regra e que em todos os contextos organizacionais havia antes uma comunicação organizacional estruturada e formalizada. Muitas vezes, inclusive, as organizações que não têm um sistema de comunicação formal previamente estruturado tendem a implantar as TICs com mais rapidez e facilidade como se isso fosse resolver todos os seus problemas de (in) comunicação, como se isso fosse sinônimo de comunicação organizacional. Cada caso é um caso e assim como as pessoas, as organizações são sistemas vivos, porque são formadas por pessoas, e por mais que a tecnologia nos fascine, a comunicação organizacional – no meu entender – não se resume apenas a ela. Assim, penso que a tendência é que, junto com as TICs, sejam implantadas outras estratégias de comunicação, tendo é claro as TICs como apoio, mas não como panacéia.
IHU On-Line – Qual sua opinião sobre a configuração atual da comunicação organizacional virtual? E o que muda no perfil do profissional que tem a web como campo de atuação?
Helenice Carvalho – Para mim, a web é uma ferramenta que, se bem utilizada, pode ser bastante útil e proveitosa. Entretanto, tem suas regras e limitações que devem ser levadas em consideração pelos profissionais. E, mais do que tudo, não pode substituir os elos de geração de sentido e valor humanos que a própria organização deve ter em sua essência e praticar. Quanto ao perfil do profissional para trabalhar com a web, em primeiro lugar é conhecê-la, para saber todas as suas potencialidades e limitações, tanto em termos técnicos quanto éticos e legais.
IHU On-Line – Dentro do campo da comunicação virtual, qual é, atualmente, o grande dilema que a sociedade midiatizada vive?
Helenice Carvalho – Penso que aquilo que é bônus pode se transformar em ônus rapidamente, ou seja, a instantaneidade, a possibilidade de grande visibilidade e o poder da midiatização. Acrescido a isso, temos as questões éticas, pois a rede possibilita o ocultamento dos sujeitos, então isso faz com que os interlocutores possam cometer muitas barbaridades na forma de spams, por exemplo, o que obriga as organizações, em especial aquelas que têm marcas muito visadas a estarem freqüentemente monitorando a rede para verificar o que é que estão falando sobre elas. De repente, isso vira quase que uma paranoia. Inclusive, grandes corporações têm setores especializados só para esse fim. Então, a rede deixa de ser uma boa opção.
Publicado originalmente em 10/01/09, no IHU On Line.