segunda-feira, 14 de julho de 2008

Concorrência e digitalização na fase da multiplicidade da oferta

Por Valério Cruz Brittos, Marcia Turchiello Andrés e
Ewerton Luis Faverzani Figueiredo

O desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação e informação (TICs) ampliou quantitativa e qualitativamente a difusão cultural, favorecendo a troca de bens e mensagens entre diferentes espaços, auxiliando a circulação de produtos simbólicos globais e impulsionando a instalação do capitalismo reconfigurado nas sociedades. Esse processo, cujo início remete às últimas décadas do século 20, trouxe muitas conseqüências à iniciativa privada e ao Estado, requerendo flexibilidades de toda ordem e enxugamento de custos.

A globalização originou alterações nos conceitos e práticas de economia e política de mercado, diante das novas necessidades do capital. Tal fenômeno tem como características principais a transnacionalização e o rearranjo estatal à política neoliberal, com suas inerentes privatizações e desregulamentações. Assim como em outros setores, na área de televisão a disputa (por audiência e, em decorrência, publicidade) acirrou-se, diante de um mercado mais competitivo. Desse modo, a criação de estratégias midiáticas eficazes, já em curto prazo, tornou-se fundamental para o reposicionamento das empresas dentro deste contexto.

A Fase da Multiplicidade da Oferta, definitivamente desencadeada na metade da década de 1990, é expressão desse movimento, resultante da enorme ampliação da quantidade de programação midiática disponível aos consumidores, como forma de conquistar novos nichos mercadológicos e driblar a concorrência. Isso trouxe alterações nas grades dos canais, com a busca incessante por programas mais atrativos e incentivadores da participação reativa do telespectador, a exemplo dos reality shows, que, além do mais, permitem variados negócios.

Treinamento de recursos humanos

Ao lado disso, troca de equipamentos por dispositivos mais modernos, aumento do número de atrações televisuais e também criação de novos canais, especialmente com o advento da TV por assinatura, são os principais expoentes desse período. Essa gama de opções ao usuário torna-se uma ameaça aos oligopólios existentes, pois esses fatores acabam pulverizando os públicos, os quais agora têm acesso a um leque diversificado de conteúdos – não só televisivos, mas provenientes também de outras mídias, como a internet.

Esse cenário, de disputa intra e intermídia, tem demandado mais investimentos, buscando novos aportes para a produção e gestão dos processos midiáticos, fator que se agrava com a digitalização da transmissão da TV hertziana. A implantação do sistema digital terrestre abre um novo tempo de desenvolvimento deste mercado, incrementando as características da Fase da Multiplicidade da Oferta. A criação de estratégias originais e inovadoras impõe-se frente a um leque de possibilidades, assim como o investimento em infra-estrutura, com a compra de equipamentos e obras para a instalação de transmissor digital.

Conteúdos inovadores, de fácil assimilação pelos públicos, elevação do tempo de programação local e contratação de profissionais conceituados tornam-se fundamentais para a presença concorrencial porque agregam audiência, a qual, por sua vez, gera crescimento do número de anunciantes. Esse processo envolve adaptações em cenários, figurinos, maquiagem, distribuição de elementos nos estúdios, iluminação, som, áudio e pós-produção. Nesse sentido, treinamentos de recursos humanos serão necessários para o melhor aproveitamento deste novo sistema em toda sua potencialidade.

Publicado originalmente no Observatório da Imprensa, em 8/7/08