sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Interatividade ainda frustra e confunde telespectadores

Por Andres Kalikoske e Naiá Giúdice.

A televisão interativa é promessa parcialmente cumprida pelo Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), uma vez que, para que níveis satisfatórios de interatividade sejam atingidos, o telespectador necessita de condições específicas, incluindo conexão entre o seu aparelho televisor e a internet. O que ocorreu efetivamente, desde a digitalização da televisão, foi uma a melhoria na qualidade do áudio e imagem, além da possibilidade de captação de sinal em mídias digitais móveis. Neste sentido, toda expectativa em torno do lançamento comercial do SBTVD, em 2007, transformou-se em frustração, especialmente para o consumidor interessado em interagir, a partir de um canal direto, com seus artistas e programas favoritos.

O problema se agrava porque, mesmo os televisores que contam com o Ginga, middleware responsável pela mediação entre os aplicativos enviados pelas emissoras e o sistema operacional do SBTVD, possuem condições de interatividade insignificantes. Em uma telenovela, por exemplo, os recursos se limitam ao resumo de capítulos, perfil dos personagens, imagens de alguns atores e, quando muito, enquetes com respostas pré-estabelecidas. Um segundo obstáculo é que, até o presente momento, a interatividade na TV aberta não está disponível em todos os Estados brasileiros. São Paulo e Rio de Janeiro estão mais bem atendidos, mas em mercados também importantes, como o Rio Grande do Sul, apenas a Globo oferece o serviço, através de sua afiliada RBSTV.

Os programas que oferecem interatividade contam com um indicador, convidando o telespectador a acessar o conteúdo disponibilizado. Trata-se de um logotipo com animação discreta, cuja aparição geralmente ocorre na parte superior direita da tela do televisor. Quando acessado, inicia-se a exibição do aplicativo oferecido pela emissora naquele momento. Ainda é cedo para saber qual será o modelo definitivo da televisão interativa, mas pode-se observar que as experimentações atuais apontam para a diversidade de aplicativos e que, apesar da escassez do conteúdo, são funcionais e esteticamente atrativos.

Potencial publicitário da TV interativa

Os aplicativos da Globo, por exemplo, acompanham o fluxo da programação, sempre vinculados aos conteúdos que estão sendo exibidos no momento. Neste modelo, cada programa possui sua aplicação interativa específica. As primeiras experiências da Globo se iniciaram na novela Caminho das Índias, em 2008. A Record atualmente também disponibiliza aplicativos individuais. Em 2009, a emissora fez seu primeiro teste, através do programa A Fazenda. Inicialmente disponibilizou o perfil de cada participante do reality show e uma enquete, com respostas pré-estabelecidas. No ano de 2010, o aplicativo de Aprendiz Universitário oferecia, além das tradicionais funcionalidades, informações sobre as tarefas realizadas pelos participantes naquele dia e um resumo do último episódio. A emissora também testou a interatividade durante a exibição de Bela, a Feia, disponibilizando resumos dos capítulos e informações sobre personagens. A Band, utilizando-se da mesma estratégia, disponibilizou em 2010 um aplicativo específico para o Campeonato Brasileiro, com tabelas e resultados dos jogos. No mesmo ano, passou a oferecer interatividade no Jornal da Band. O aplicativo do noticioso disponibilizava informações sobre os apresentadores e notícias diversas. Em 2011 o serviço se ampliou, através da participação do telespectador em enquetes e a possibilidade de avaliação, em tempo real, das reportagens exibidas.

A interatividade no SBT diferencia-se das demais emissoras. Em 2009, a emissora de Silvio Santos investiu em um aplicativo fixo, com interface semelhante aos sites de internet, chamado Portal de Interatividade. O serviço está disponível durante 24 horas, oferecendo acesso aos destaques da programação e informações como data, hora e previsão do tempo, além de enquetes e promoções. Ainda, possui uma seção de notícias, que são atualizadas independentemente ao que está sendo veiculado na TV. Uma publicidade fixa da perfumaria Jequiti Cosméticos, empresa do Grupo Silvio Santos, aparece constantemente na tela. Pode-se dizer que o portal é a entrada para que aplicativos específicos sejam acessados, uma vez que, para se obter informações adicionais sobre determinado programa, o usuário deve acessar seção específica, correspondente ao programa.

O longo caminho que a televisão interativa ainda vai percorrer deve delinear os rumos não somente das aplicações televisivas, que, por enquanto, são tanto ou mais remotas que as possibilidades de interatividade, mas também do potencial publicitário deste modelo de negócio. Aplicativos internos, disponibilizados nos próprios televisores, também já estão disponíveis. Oferecem basicamente conteúdos da internet (especialmente do YouTube), com qualidade de imagem que muito deixa a desejar. Para o telespectador, a permanecem a frustração e certeza de que, para o negócio vingar, a televisão interativa ainda precisa oferecer muito mais.




[Andres Kalikoske e Naiá Giúdice são, respectivamente, doutorando em Ciências da Comunicação na Unisinos e especialista em Televisão e Convergência Digital pela mesma instituição]


Fonte: Observatório da Imprensa