Por Luis Osvaldo Grossmann
Anatel e radiodifusores estão novamente em rota de colisão, agora por conta do leilão da faixa de 3,5 GHz, que tem como um dos principais atributos a possibilidade de fazer deslanchar no país operações de WiMAX. O nó da questão está na interferência causada na Banda C, ou seja, especialmente na recepção de televisão por antenas parabólicas.
Duas das principais operadoras de satélite do país – StarOne (Embratel) e Hispamar (Hispasat+Oi) – além do sindicato nacional das empresas desse setor aproveitaram a audiência pública que discutiu o edital do leilão do 3,5 GHz, nesta quinta-feira, 9/6, para fazerem fortes apelos à Anatel no sentido de adiar o processo de licitação até que uma solução efetiva seja encontrada.
Todas foram enfáticas no uso de termos como “graves consequências” ou “nível extremamente prejudicial de interferência” mesmo com o uso atual, restrito, da faixa de 3,5 GHz. “O prosseguimento do edital sem novos testes poderá comprometer o uso da Banda C”, disse o representante da StarOne, Carlos Santiago. “Pedimos para adiar até a garantia de convivência [das operações em 3,5 GHz] com o satélite”, emendou o presidente do Sindisat, Luiz Otávio Prates.
A Banda C – e a Banda C estendida – diz respeito, no Brasil, às frequências nas faixas de 3,6 GHz a 4,2 GHz. Na prática, as empresas sustentam que a convivência é inviável, especialmente pelo nível de potência mais alto das operações na faixa, como o WiMAX, mesmo nos blocos mais distantes da faixa de 3,5 GHz, o que exige distâncias muito grandes entre os diferentes receptores – segundo estudos nos EUA, entre 50km e 280km.
O pleito das operadoras de satélite recebeu apoio do sindicato das teles – teoricamente as mais interessadas no leilão, ainda que seus grupos econômicos atuem em ambos os setores. Segundo o Sinditelebrasil, a licitação deve ser adiada até que fique claro, de preferência através de um parecer técnico, quem terá que arcar com os custos de eliminação das interferências.
A agência, no entanto, considera que há exagero nas reclamações dos operadores de satélite. “É um tema em discussão, sabemos do problema, mas do nosso ponto de vista não existem problemas muito sérios nessa faixa”, sustentou o gerente geral de Comunicações Pessoais Terrestres da Superintendência de Serviços Privados (SPV), Bruno Ramos.
Ramos chegou a deixar um recado no sentido de que os equipamentos utilizados pelas empresas de satélite, inclusive os filtros para redução de interferências, devem passar a ser alvo de certificação da Anatel. É que, na lógica da agência, as operadoras utilizam equipamentos importados que contemplam faixas mais amplas do que aquelas definidas no Brasil para a Banda C, daí os problemas de interferência.
É, na verdade, uma conclusão apontada pela Motorola quando, em 2009, cedeu equipamentos para a realização dos testes de interferência utilizados pela Anatel e pelo Ministério das Comunicações. “Foram constatadas interferências causadas por receptores de TV por satélite que operam na banda C, nas faixas de 3,7 GHz a 4,2GHz e que não dispõem de filtros adequados para a recepção destes sinais”, declarou oficialmente a empresa, na época.
Fonte: Convergência Digital