segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A nova bolha da internet

Por Renato Cruz

Em 1999, um ano antes do estouro da bolha das ponto com, quando escrevia minha dissertação sobre internet, meu orientador de mestrado, o professor Kardec Pinto Vallada, disse que aquela situação lembrava a história do menino que tentou vender um filhote de cachorro por US$ 1 milhão, mas que, sem conseguir comprador, acabou trocando-o por dois gatinhos de US$ 500 mil.

Valor pode ser um troço muito subjetivo. O valor de uma empresa reflete a expectativa de resultados futuros. Qual é o potencial das empresas que atuam num mercado novo? Ninguém sabe.

O Facebook vale US$ 50 bilhões e, em meados de 2010, valia US$ 10 bilhões. Recentemente, o Twitter, que é deficitário, recebeu propostas de compra entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões. Em dezembro, era avaliado em US$ 3,7 bilhões. O preço da Zynga, que criou o jogo Farmville, é de US$ 10 bilhões. No ano passado, o Groupon recusou uma oferta de US$ 6 bilhões do Google e tem hoje valor estimado de US$ 15 bilhões.

Acho difícil esse cenário não ser considerado de bolha. Mas existem diferenças em relação àquela que explodiu em 2000. Em primeiro lugar, naquela época havia uma corrida para a abertura de capital. Hoje, essas empresas buscam conseguir o máximo de recursos fora da bolsa, de grandes investidores, adiando o lançamento de ações. Com isso, o alcance da bolha é mais restrito.

Em segundo lugar, os modelos de negócios são mais sólidos. O Twitter nem tanto, mas o Facebook e o Groupon fazem dinheiro. Não são como a Pets.com, empresa típica da bolha 1.0. Ela tentava vender pacotes de comida de cachorro (entre outros produtos) e, como o frete custava mais do que o produto, subsidiava o frete. Não tinha como fazer dar certo. A questão principal das ponto com (quem se lembra do termo?) de hoje é a real capacidade de crescimento.

Mas existe um lado positivo das bolhas. Elas aceleram o desenvolvimento do mercado. Sem as redes de telecomunicações e os centros de dados criados durante a bolha 1.0, não teríamos chegado a esta bolha 2.0.

Fonte: Estadão