sexta-feira, 12 de novembro de 2010

País eleva oferta para que Uruguai adote padrão de TV digital

Por Daniel Rittner

Com o apoio de dez empresários, o governo do Brasil apresentou um pacote que inclui a instalação de uma fábrica de conversores digitais (set-top boxes), uma indústria de beneficiamento de sebo bovino para uso como matéria-prima no setor de cosméticos, uma unidade de pintura automotiva e a construção de um hospital e um shopping center no balneário de Punta del Este.

Os investimentos são privados, mas têm financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo promessa da delegação brasileira que se reuniu com o governo uruguaio, em Montevidéu, na semana passada, esses projetos deverão gerar 3 mil empregos diretos. "Condicionamos essas ofertas à decisão uruguaia sobre o padrão de TV digital", diz André Barbosa Filho, assessor especial da Casa Civil.

Barbosa faz referência à adoção pelo país vizinho do sistema europeu DVB, anunciado pelo governo anterior, mas jamais implantado. Desde o fim de 2006, quando o Brasil optou pelo modelo japonês e incorporou ao ISDB-T algumas inovações desenvolvidas por pesquisadores brasileiros, quase todos os países da América do Sul seguiram a decisão - as exceções foram Colômbia e Uruguai. O novo governo do presidente José Mujica reabriu as negociações. "Como os europeus não deram continuidade ao processo de implantação, nos demos o direito de retomar o diálogo, com todo o respeito", explica Barbosa.

Autoridades uruguaias consultadas pelo Valor informaram que o país deverá pronunciar-se, em caráter definitivo até o início de dezembro. Elas não deram nenhuma pista, entretanto, sobre a escolha: a manutenção do sistema europeu ou a adoção do modelo japonês. Em Montevidéu, receberam a promessa de que os investimentos brasileiros começariam a chegar em até 90 dias.

Embora sejam investimentos independentes um do outro e nada impeça que eles possam ser concretizados sem a escolha do padrão ISDB-T, o governo brasileiro se esforçou para apresentar tudo como um pacote único. "É algo que, evidentemente, sensibiliza", diz o chefe do Departamento de Tecnologias Inovadoras do Ministério do Desenvolvimento, João Batista Lanari Bó. Ele lembrou que o Uruguai tem impulsionado sua indústria de software e já exporta cerca de US$ 100 milhões.

Na tentativa de convencer os vizinhos, Lanari afirma que, se optar pelo padrão japonês, eles poderão entrar com aplicativos em um mercado de 550 milhões de pessoas - a soma dos habitantes de países que escolheram o ISDB-T. Além disso, menciona a ambição do país em tornar-se plataforma de exportação. "O Uruguai quer fornecer equipamentos e, integrando-se ao sistema nipo-brasileiro, ganha escala de produção suficiente", afirma.

Além dos investimentos diretos, uma série de iniciativas de cooperação tecnológica completam o pacote para chegar aos US$ 290 milhões, que representam 0,9% do Produto Interno Bruto uruguaio em 2009. São, por exemplo, bolsas para engenheiros, estágios para profissionais de TV e apoio para a realização de estudos de espectro.

O Japão, por outra parte, se dispôs a fornecer equipamentos digitais (de geração e transmissão) para a emissora pública do Uruguai avaliados em US$ 6 milhões. Também adiantou que poderá intermediar a obtenção de crédito estimado em US$ 10 milhões para outras iniciativas de "digitalização", além de patrocinar viagens de especialistas uruguaios para cooperação acadêmica em universidades e institutos japoneses.

Fonte: FNDC