Por Pedro Doria
Já estamos vivendo uma nova era na história da internet. É sua quarta geração. É difícil precisar quando começou, tem um quê mais de um ano, mas já se trata de uma rede fundamentalmente diferente daquela que existiu. Sua principal característica é a fragmentação.
A primeira geração da internet durou duas décadas e meia, entre seu nascimento enquanto ArpaNet, em 1969, até o surgimento da web gráfica, em meados da década de 1990. Foi uma internet pequena, principalmente acadêmica, pela qual se navegava usando comandos escritos contra tela preta, letras e números num verde brilhante típico dos terminais de computadores de muito tempo atrás.
A segunda geração da rede foi a da web gráfica navegada via Netscape ou Explorer na qual os mais tarimbados pioneiros tinham a própria homepage. (Naquele tempo, não se falava de site. Era uma única página, em geral com imagens piscantes e a plaquinha informando que tudo estava em construção.)
A terceira é aquela batizada por Tim O’Reilly, um editor de livros sobre tecnologia, de Web 2.0. Sua principal característica é a interação. A nova web, inaugurada após a bolha, trazia sites inteligentes que vão de blogs ao YouTube, da Wikipedia ao Orkut. Sites que não eram só de texto e imagens fixas mas que permitiam comentários, relações entre pessoas, sites ao menos parcialmente construídos por seus usuários.
Há uma disputa em jogo por quem define melhor o que é esta quarta geração da internet. Na capa da Wired de um mês atrás, a notícia era de que ‘a web morreu’. Segundo o editor Chris Anderson, a internet estava deixando a tela do Firefox ou Explorer para se distribuir num mundo de apps em vários aparelhos entre smartphones e tablets.
A revista britânica The Economist, que faz uma das melhores coberturas das ideias que circulam no Vale do Silício na imprensa, aposta num conceito parecido embora diferente. Não é que a web esteja morta, apenas que ela ficou menos importante. Há um processo de balcanização da internet, explica seu correspondente no Vale.
A internet não é mais uma só, aberta, toda conectada entre si. Agora ela é muitas. Há exemplos óbvios, caso do Facebook, que vive na web porém é uma rede fechada, quase desconectada do resto. (Na semana passada, o Facebook ultrapassou o Google, agora é o site no qual as pessoas passam mais tempo na internet mundial.)
E há casos menos óbvios. A internet começa a ser um pouco mais local e menos global. De dentro da China, da Arábia Saudita ou do Egito, não se vê a rede completa. E o instrumento dos censores está mais usado com outros fins. A Austrália começará a impedir acesso a pornografia infantil usando as mesmas ferramentas. O Hulu, site de vídeos legais que exibe séries de TV, só é acessível nos EUA. Parte do conteúdo do YouTube também. Tem pedaços da rede que só se vê em um lugar, outros que não se vê em outros. A internet não é mais uma só.
No caso dos apps para celular e tablets a confusão ainda impera. No mundo da Apple, de iPods, iPhones e iPads, tudo é fechado, um universo à parte. Faz parte da internet, é muito usado, mas sequer é percebido por quem não convive com os aparelhos da empresa.
O Google, com seu Android, pretende crescer ao ponto de se tornar um concorrente de peso. Tem chances e uma desvantagem. Como seu sistema para aparelhos móveis é aberto, cada empresa implementa a seu modo. O resultado são dezenas de pequenas incompatibilidades. O programinha testado em um aparelho não funciona necessariamente em outro. A turma do buscador está correndo atrás para fechar um pouco mais a plataforma e impor um padrão mínimo. Só assim será possível criar um ecossistema de apps capaz de enfrentar o mundo Apple.
De muitas formas diferentes, a internet em que vivemos já é outra. Nela, a web é menor e os conteúdos não estão disponíveis a todos. Há os limites geográficos e também os financeiros. Cada vez mais tem gente cobrando pelo acesso ao que produz. Assim como há gente pagando.
Esta nova rede precisa de um nome. Web 3.0 não serve, pois se a web foi o centro das duas gerações anteriores, ela é apenas um componente desta de agora. O concurso pelo nome já abriu.
Fonte: Estadão