Por Valério Cruz Brittos e Jonathan Reis
A pirataria assombra a indústria fonográfica há alguns anos. Com a queda da venda de discos, as gravadoras necessitam reinventar-se, inovando o máximo possível para assegurar sua sustentabilidade econômica. Se existe a possibilidade de conhecer o trabalho de um artista sem custo algum, por que pagar (caro) por isso? Certamente esse é o pensamento de todos que fazem download de músicas pela internet. Já a venda de CDs e DVDs falsificados é muito maior que a venda de originais, pois o falsificado custa menos de R$ 10,00 e o original, em média, R$ 30,00, no Brasil.
Gravadoras como Universal Music, EMI Music, Deckdisc, Sony BMG e Warner Music estão buscando uma nova estratégia: diversificar os suportes de distribuição. Nos celulares é que estão as grandes apostas, pois ocorre uma venda casada, onde o consumidor pode dispor de sua banda favorita sem acréscimo explícito no preço do aparelho. É uma nova janela de oportunidades. Por exemplo, em 2008, a Sony BMG comemorou a venda de mais de 500 mil celulares do modelo Jota Quest, enquanto a Deckdisc celebrou a comercialização de 200 mil cópias do álbum Desconcerto ao vivo, de Pitty, no telefone móvel.
Ainda há esperanças para o CD físico. Assim é que a Sony BMG lançou, em 2007, com o álbum "Sim", de Vanessa da Mata, o CD Zero, visando a combater a pirataria. O CD Zero é uma versão reduzida do disco tradicional, com cinco músicas, por apenas R$ 9,99. É uma opção para o público com interesse na música que toca na rádio, mas não quer ou não pode comprar o álbum completo.
Imposto para servidores
São múltiplas as especulações sobre um novo tipo de CD, um sistema contra a pirataria, a volta do disco de vinil e o fim dos atuais modelos de discos compactos. Para alguns dirigentes de gravadoras brasileiras, o CD físico não morre tão cedo, pois sempre haverá consumidores que desejam ter um produto físico com a divulgação do artista. A questão é que, para dar conta dos custos e expectativas de lucros das gravadoras, é necessária escala de consumidores, não apenas alguns poucos.
As reedições de álbuns ajudam na recuperação financeira das gravadoras e promovem a alegria dos colecionadores. São vários artistas, como Jimi Hendrix, Beatles, The Clash, Dolores Duran, Nara Leão e Cazuza, entre outros, que voltaram a ocupar as prateleiras das lojas de discos, em relançamentos com faixas-bônus, áudios remasterizados, belos encartes, documentários em DVD etc. Outra saída contra a pirataria é a venda de músicas pela internet, mas, devido à possibilidade de acesso gratuito, tem baixo apelo e é pouco utilizada.
Na Inglaterra, um grupo que representa os cantores e compositores manifestou-se a favor da implantação de um imposto sobre as empresas que vendem serviços de banda larga na internet. O objetivo é que o consumidor pague de acordo com o número de downloads piratas de músicas através dos servidores. Com isso, os artistas seriam remunerados em consonância com o interesse por suas músicas.
Quem baixa CD pode ser considerado um criminoso?
A polêmica é mundial, com a manifestação de diversos contrários à pirataria. No Brasil, muitos artistas declaram que recebem pouco por álbum vendido e mostram entusiasmo por ver uma vertente não-oficial de seu CD sendo vendido nas ruas, pelo que isto representa de divulgação. O resultado do problema é visível nas gravadoras, onde poucos novos artistas são contratados. Diversos talentos não assinam contrato com gravadoras, focando-se os investimentos apenas nos artistas consagrados e comerciais.
No dia 19 de julho de 2010, a Prefeitura de São Paulo destruiu aproximadamente 20 toneladas de CDs e DVDs piratas, ou seja, mais de dois milhões de produtos. A operação faz parte do trabalho de fiscalização realizado por seis subprefeituras da cidade. O material ilegal é o resultado de apreensões realizadas desde o mês de abril deste ano. A destruição dos produtos protege marcas e patentes, de acordo com a lei da pirataria.
Quem compra CD e DVD falsificado ou realiza downloads pela internet pode ser considerado um criminoso? Devem ser analisados os fatores sociais e culturais do país, onde a remuneração de grande parte do povo é pouca. Com isso, o brasileiro não tem condições de pagar R$ 30,00 para ter acesso ao CD vendido na loja, mas pode obtê-lo a partir da versão (barata) vendida na esquina de casa, ou através de download gratuito. Não se pode culpar o povo brasileiro, que trabalha muito, é mal pago e – especialmente quando avaliado o retorno – arca com alta carga tributária.
Fonte: Observatório da Imprensa