Diego Costa**
Venezuela e Colômbia são dois países sul-americanos fronteiriços. Possuem um histórico de serem grandes aliados; porém, as relações entre eles ficaram acirradas mais recentemente, devido às acusações mútuas de seus líderes, no âmbito de suas diferenças ideológicas.
O conflito ocorre entre o presidente venezuelano Hugo Chávez, opositor ferrenho dos Estados Unidos e ligado aos movimentos de esquerda, de um lado, e de Álvaro Uribe, presidente da Colômbia, adepto do neoliberalismo e aliado dos norte-americanos, de outro. Esta aliança resultou num acordo, em que o exército dos EUA ocupa bases militares colombianas até 2019, com o suposto objetivo de ajudar a Colômbia a combater o narcotráfico.
Na penúltima semana de julho, o presidente colombiano, já em fim de mandato, acusou seu colega venezuelano de esconder e manter abrigado em seu país mais de 1.500 guerrilheiros e dezenas de acampamentos das Forças Armadas da Colômbia (FARC), organização apontada como ligada ao narcotráfico. O governo da Venezuela imediatamente pediu retratação do governo colombiano e, diante da negativa, rompeu relações diplomáticas com o país vizinho.
Chávez acusa o presidente Uribe de arrumar pretexto para invadir a Venezuela, mediante as bases militares instaladas pelo exército norte-americano. Desta forma, Chávez deixa o país, as forças armadas e a imprensa internacional avisadas de um possível ataque da Colômbia, com respaldo dos Estados Unidos, e destaca com veemência que está preparado, se houver alguma reação neste sentido.
De fato, a intervenção norte-americana na Colômbia desestabiliza uma tentativa de maior aproximação entre os países sul-americanos e cria um ambiente de ruptura entre nações irmãs. A gravidade da acusação colombiana é reforçada pelo recente investimento bélico patrocinado pelos EUA e põe em voga uma velha prática da ideologia norte americana, que é a de se fazer presente ou invadir um território quando fica em posição desfavorável aos seus interesses.
Países como Brasil e Argentina, que mantém a liderança sul-americana, devem intervir diplomaticamente neste conflito o quanto antes, construindo um consenso, para que o continente com um todo não saia perdendo, embora o Uribe já tenha dirigido palavras duras também ao presidente brasileiro. Quanto mais unida estiver a América do Sul, menores serão as possibilidades de intervenção e maior será a aproximação econômica, cultural e política. Por tudo que se conhece na história recente do continente e das ditaduras patrocinadas, sem nenhum tipo de alarmismo deve-se afirmar que a presença dos EUA tem sido altamente nefasta.
* Professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS, coordenador do Grupo de Pesquisa CEPOS (apoiado pela Ford Foundation) e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela FACOM-UFBA. E-mail:
** Graduando do Curso de Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS), bolsista FAPERGS e membro do Grupo de Pesquisa CEPOS (apoiado pela Ford Foundation). E-mail: