terça-feira, 27 de julho de 2010

Pentágono começa a investigar vazamento de dados sobre Afeganistão

DA FRANCE PRESSE, EM WASHINGTON

O Exército americano abriu formalmente nesta terça-feira uma investigação criminal sobre o vazamento de 91 mil documentos secretos sobre a guerra do Afeganistão, informou o Pentágono.

A investigação foi entregue aos cuidados da mesma Divisão Criminal encarregada do dossiê de Bradley Manning, um soldado de segunda classe de 22 anos detido em maio.

Ele é suspeito de ter transmitido ao site internet Wikileaks um vídeo que mostra o ataque de um helicóptero do exército americano que causou, em 2007, a morte de dois funcionários da agência de notícias Reuters e de várias outras pessoas, em Bagdá.

O site Wikileaks, que divulgou os documentos neste domingo, é uma espécie de Wikipedia de documentos vazados. Os papéis publicados trariam inclusive evidências de crimes de guerra.

O coronel Dave Lapan, um porta-voz do Pentágono, informou que a agência vai investigar um "espectro mais amplo" em relação aos vazamentos que levaram à divulgação dos milhares de relatórios militares sobre a guerra no Afeganistão, datados de 2004 a 2009.

"A investigação em curso sobre o vazamento dos documentos a Wikileaks (...) não se concentra sobre um indivíduo em particular, é mais ampla", disse ele.

Manning está atualmente em uma prisão militar americana no Kuait.

Segundo outro porta-voz do Pentágono, Morrell, o soldado Manning é "certamente um personagem importante" em relação a este assunto, mas não quis falar sobre o possível envolvimento dele, em uma entrevista à rede de TV MSNBC nesta terça-feira.

CRIME

Ontem, o Pentágono havia classificado de "ato criminoso" e disse estar revendo os documentos para determinar o potencial estrago para as tropas americanos e de coalizão.

Lapan havia dito que o Exército deveria levar "alguns dias, senão semanas" para revisar todos os documentos e determinar o "risco potencial" para as vidas dos americanos e seus parceiros da coalizão em serviço no país.

O Pentágono já havia informado que investigaria Manning, mas que os mais recentes documentos que vazaram podem ter vindo de "qualquer pessoa que tenha acesso a informações confidenciais".

A Casa Branca, o Reino Unido e o Paquistão condenaram o vazamento dos documentos secretos, um dos maiores já registrados na história militar.

O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jim Jones, disse que a divulgação "coloca as vidas de americanos e seus aliados em risco".

INFORMAÇÕES

A divulgação de milhares de documentos secretos revelando um panorama sombrio da situação no Afeganistão colocou nesta segunda-feira a Casa Branca na defensiva, após o Pentágono anunciar que avaliará os danos causados pela publicação dessas informações.

Os 91 mil documentos sigilosos divulgados criam incerteza em meio ao Congresso americano sobre uma guerra impopular, no momento em que o presidente Barack Obama se prepara para enviar mais 30 mil solados para combater a insurgência taleban.

Os papeis trazem detalhes de alegações de que forças americanas tentaram encobrir mortes de civis, bem como a preocupação dos EUA de que o Paquistão estaria secretamente armando militantes talebans, mesmo tendo obtido bilhões de dólares de ajuda financeira americana.

A Casa Branca condenou a divulgação, dizendo que poderia ameaçar a segurança nacional e pôr em risco a vida dos americanos.

MAIS DOCUMENTOS

Em coletiva em Londres, o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, disse ontem aos jornalistas que o que já foi divulgado sobre o vazamento é "apenas o começo", e que cerca de 15 mil documentos ainda não foram publicados no site.

Ele disse ainda que "milhares" de ações americanas no Afeganistão poderiam ser investigadas devido a indícios de crimes de guerra, mas que as acusações teriam que ser comprovadas na Justiça.

Assange disse também que há evidências de acobertamento de mortes de civis, e apontou para um "suspeito" número alto de mortes que as forças dos EUA atribuem a balas perdidas.

Os documentos cobrem alguns aspectos conhecidos dos nove anos de conflito: operações das forças especiais dos EUA contra insurgentes sem julgamento, afegãos mortos por acidentes e a indignação de autoridades americanas devido à suposta cooperação do serviço de inteligência paquistanês com grupos insurgentes que atuam no Afeganistão.

Os papéis também descrevem incidentes desconhecidos anteriormente sobre mortos de civis e operações secretas contra líderes do Taleban.

Fonte: Folha.com