Por Gislene Moreira*
Como parte das comemorações do Bicentenário da Independência, o governo argentino anunciou, nesta segunda, 03 de maio, a distribuição gratuita de 1,2 milhões de conversores para a TV Digital.Os receptores serão destinados a centros de saúde, escolas, associações e centros culturais em zonas de risco de exclusão digital. De maneira inédita na América Latina, os últimos na distribuição de renda serão os primeiros no acesso tecnológico.A iniciativa é parte do plano estratégico de implantação do Sistema Argentino de Televisão Digital Terrestre, que inclui ainda a instalação, ainda esse ano, de 47 antenas transmissoras do sinal digital da TV Pública, com previsão de outras 100 até 2012. Também está previsto um centro de produção audiovisual,a integração das telecomunicações na região metropolitana de Buenos Aires, além de outras iniciativas de fomento na área.
Se na área tecnológica, o plano é considerado ousado, no campo político ele se anuncia como uma resposta contundente aos embates enfrentados na área das comunicações. Enquanto tenta destravar o bloqueio judicial à nova Lei de Serviços Audiovisuais, o Governo ganha um novo folego em suas disputas com os monopólios mediáticos nacionais e renova as estratégias anunciando um projeto de transmissão em escala do sinal digital da TV Pública.
A integração de Bolívar no Século XXI
O anúncio foi realizado durante o II Encontro do Fórum Internacional Norma ISDB-T, que reúne até o dia 05 de maio autoridades de diversos países da América do Sul, além de Japão e representações africanas.
O evento é parte de um ambicioso programa de integração regional através da escolha compartida do mesmo modelo de TV Digital, o ISDN-T, também conhecido como Nipo-Brasileiro. Além do Brasil, pioneiro e coautor na iniciativa, Argentina, Chile, Peru, Venezuela e Equador já integram a aliança da América do Sul que planeja facilitar o intercambio de tecnologias e de conhecimento através de satélites digitais. Paraguai, Bolívia e Uruguai também esboçam sinais favoráveis de adoção do mesmo sistema.
Seria a realização do sonho de Bolívar de integração regional adaptado ao século XXI? Segundo os idealizadores do projeto de TV Digital, o modelo escolhido pelo Brasil tem as vantagens de ser uma tecnologia gratuita, flexível e economicamente melhorotimizada, favorecendo o desenvolvimento industrial e a diminuição da “Brecha Digital” da maioria da população.
Para além de uma epifania tecnológica, convém lembrar que a escolha do padrão Japonês no Brasil, e que agora orienta um modelo regional, se travou em meio a uma série questionamentos de diversos atores da sociedade civil organizada e das universidades brasileiras. Quizás os avanços provocados pela possível integração regional tecnológica ajude a retomar alguns dos temas desse debate tupiniquim, como o de maior interatividade, o da sobrevivência dos meios públicos e comunitários na era da convergência, e o do estimulo a produção local de conhecimento.
Para além de uma epifania tecnológica, convém lembrar que a escolha do padrão Japonês no Brasil, e que agora orienta um modelo regional, se travou em meio a uma série questionamentos de diversos atores da sociedade civil organizada e das universidades brasileiras. Quizás os avanços provocados pela possível integração regional tecnológica ajude a retomar alguns dos temas desse debate tupiniquim, como o de maior interatividade, o da sobrevivência dos meios públicos e comunitários na era da convergência, e o do estimulo a produção local de conhecimento.
No caso Argentina, por exemplo, apesar do avançado conceito de Democratização Digital, o novo modelo ainda não foi discutido em profundidade pela sociedade civil. No momento, seus principais expoentes estão na berlinda na luta pela aprovação da Lei de Serviços Audiovisuais e ainda deve levar um tempo para acompanhar os rumos de tamanha inovação tecnológica.
Nesse cenário de novos horizontes digitalizados, talvez não seja demais lembrar que muitas das antigas celebrações de inovações desenvolvimentistas na região levaram a rumos bastante questionados. Para além de uma perspectiva positivista, as novas ferramentas não são em si mesmas a garantia de mudanças estruturais. O chamado é a celebração de tamanhas conquistas e inovações, mas também à reflexão e debate sobre os rumos políticos e sociais dessa nova América do Sul Digital.
* Doutoranda em Ciência Política pela FLACSO-México e membro do Grupo de Pesquisa CEPOS (apoiado pela Ford Foundation), E-mail:.
Nesse cenário de novos horizontes digitalizados, talvez não seja demais lembrar que muitas das antigas celebrações de inovações desenvolvimentistas na região levaram a rumos bastante questionados. Para além de uma perspectiva positivista, as novas ferramentas não são em si mesmas a garantia de mudanças estruturais. O chamado é a celebração de tamanhas conquistas e inovações, mas também à reflexão e debate sobre os rumos políticos e sociais dessa nova América do Sul Digital.
* Doutoranda em Ciência Política pela FLACSO-México e membro do Grupo de Pesquisa CEPOS (apoiado pela Ford Foundation), E-mail: