terça-feira, 13 de abril de 2010

Vários caminhos para Democratização da comunicação

Texto e fotos: Carolina Anchieta

Como tornar a televisão mais interativa? E com tantos espaços para a participação popular nos meios de comunicação, o que é afinal “interatividade”? O que caracteriza uma rádio como comunitária? Você sabe como é a o caminho necessário para se montar uma rádio comunitária através da regulamentação dos meios de comunicação social, e se o seu país oferece recurso para isso?
Parecem questões só para quem trabalha com comunicação e para quem se envolve com associações de bairro que geralmente organizam as rádios comunitárias, mas na verdade são temas que dizem respeito a todos nós, afinal uma sociedade que se comunica melhor, cresce melhor.
E foi justamente esse o foco trabalhado na tarde do dia 07 de abril em uma das atividades desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (CEPOS).
As integrantes do grupo de pesquisa a mestranda do Programa de Pós Graduação em Comunicação da UNISINOS, Ana Maria Oliveira Rosa e a doutoranda, em ciências políticas na Faculdade Latino Amerinana de Ciências Sociaias (FLACSO) do México, Gislene Moreira, apresentaram os trabalhos que estão desenvolvendo, ambas orientadas pelo professor Valerio Cruz Brittos.

Com o título “Televisão interativa - inclusão e alternativas na digitalização”, Ana apresentou questões como o que é a “interatividade” na televisão digital? Como construir um programa de televisão interativo com foco na inclusão digital? E Como a entrada da interatividade afeta o modelo de exploração da televisão?

Com o trabalho mais focado nas duas primeiras questões, e com a terceira ainda em construção, a orientanda observou que hoje esse tipo de acesso ainda é limitador e desigual, afinal a popularização do computador e da internet no Brasil não significa o fim dos “analfabetos digitais”. E não há como chegar nessa mudança sem pensar no papel da Economia Política da Comunicação, e para isso Ana percorreu algumas temáticas como inclusão digital; Conceito de interatividade e Padrão tecno-estético alternativo.

Pensando nessa mudança o trabalho propõe uma interatividade mútua, onde não se pensa somente nas questões técnicas, e também em não limatar-se em pensar na relação de um sujeito específico com uma emissora, mas sim em uma rede de interatividades onde o usuário não só aprende, mas também participa do processo. Para isso usou como exemplo o programa da emissora CBS, o "Winky Dink and You", de 1953. Apresentado por Jack Berry, a atração tinha também um personagem animado chamado Winky Dink-Woofer e seu cão. Durante cada episódio, Winky Dink iria encontrar-se em um pouco de dificuldade, que necessitariam de assistência de telespectadores em casa. Com um pedaço de plástico posto em frente à tela, o “Magic Window”, as crianças participavam das ações do personagem.










No Brasil, o exemplo ficou por conta do filme A Gruta, um suspense interativo que conta a história de Luiza (Poliana Pieratti) e Tomás (Carlos Henrique), casal que vai passar uns dias na fazenda da família da garota, onde mora o caseiro Tião (André Deca). Acesse o blog do filme para entender como funciona a interatividade nesta produção que se dá através do controle remoto no link: http://blog.filme-jogo.com

Esta é só uma parte do trabalho de mestrado que parte agora para a conclusão e tem fim previsto para o início de 2011.
Também pensando na democratização dos meios de comunicação, o segundo trabalho a ser apresentado, foi o da aluna de doutorado Gislene Moreira.


Com o título “Na Corda Bamba - Trajetórias da sociedade civil na democratização dos meios de comunicação na América Latina”, a doutoranda tenta entender através da regulamentação, das leis qual é a relação entre a sociedade civil organizada para mudar a questão das comunicações.

O trabalho propõe quais os desafios e possibilidades da sociedade civil de re-distribuir os meios de comunicação e gerar leis favoráveis aos meios comunitários.
Usando como parâmetro quatro países: Venezuela, Argentina, México e o Brasil, ela explora como os próprios cidadãos se mobilizam para alcançar este formato de veículo que muitas vezes é o único a dar voz às camadas mais carentes, e se estes países oferecem maneiras para se chegar a isso através das leis.

No trabalho é traçado um comparativo entre os países analisados. Por exemplo, enquanto na Argentina a questão da regulação está em disputa, no Brasil ela é limitada e no México é inexistente, o que dá uma idéia de como cada país lida com essa questão.

A doutoranda também compara como foi o Cenário latino-americano em relação as legislações, mostrando que os anos 90 ficaram marcados pelos avanços das TICs, a consolidação dos Meios de Comunicação como poderes fácticos e Debilidade do papel do Estado na regulação.
Pensando nessa democratização, Gislene usa o exemplo das rádios comunitárias que requerem certos cuidados que vão desde questões técnicas até conceituais, como por exemplo de ser uma emissora sem fins lucrativos e visar, ao invés do lucro, o crescimento social, cultural e econômico da comunidade em que está inserida. Estima-se que, que existam hoje cerca de 4 mil rádios comunitárias com licença permanente e mais de 15 mil sem se nenhum tipo de licença, funcionando no País.
Como sugestão para entender melhor, e ver um pouco da realidade de algumas rádios comunitária no país, fica a dica do filme "Uma onda no ar" que conta a históra real de quatro jovens de uma favela de Belo Horizonte que criaram uma rádio para ser a voz da comunidade em que viviam. Surge, então, a Rádio Favela que operou vários anos sem licença e, depois de muitas perseguições do governo e da polícia, foi reconhecida com vários prêmios. Hoje, com 20 anos de existência, a rádio continua levando a voz da favela para toda cidade.


A gora a doutoranda, que mora na cidade do México onde desenvolve o trabalho na FLACSO, embarca para Argentina e Venezuela, onde dá continuidade a pesquisa.