quinta-feira, 29 de abril de 2010

Rádios da EBC em Brasília realizam evento para dar voz ao público

O Colóquio de Ouvintes das Rádios Nacional de Brasília e Nacional FM, realizado na manhã do dia 27 (terça-feira), foi espaço para registrar as impressões do público das emissoras, mas também para um balanço feito pelos seus diretores. As declarações dos ouvintes mostraram o carinho do público pelas rádios públicas, mas também que há muitas e antigas reivindicações ainda não atendidas. Já os representantes das rádios avaliam que, em dois anos de criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), as emissoras avançaram em alguns aspectos, especialmente técnicos, mas ainda são “o primo pobre da TV Brasil”.

O evento foi organizado pela EBC como parte das comemorações dos 50 anos de Brasília. O objetivo foi promover um diálogo direto da empresa com os ouvintes, relatar críticas e sugestões.

Para Orlando Guilhon, superintendente de rádios da EBC durante o Colóquio de Ouvintes, a criação da estatal, que substituiu a Radiobrás no comando das rádios, “trouxe mais investimentos”. “Mas não se pode negar que a TV acaba ganhando mais destaque, como ocorre em qualquer outra empresa”, disse. “Que ninguém nos ouça, mas a rádio é o primo pobre da TV Brasil, na EBC. Nós aqui vivemos tentando chamar atenção. Conseguimos sim, mas é uma batalha muito grande.”

Além de Guilhon, participaram do evento, o coordenador da Rádio Nacional FM, Carlos Senna, a coordenadora da Nacional AM, Cristina Guimarães, e a Gerente Regional em Brasília, Taís Ladeira, além de membros da equipe de rádio da EBC. Houve no colóquio um esclarecimento do trabalho realizado e do objetivo de uma rádio pública.

Em pouco mais de dois anos de EBC, os investimentos nas rádios brasilienses foram feitos em equipamentos. Foram comprados quatro transmissores para AM com alta potência, novos estúdios e, em breve, todas as rádios se mudarão para uma nova sede. Os equipamentos ainda não estão em funcionamento, isso ocorrerá após a mudança. Só então uma das principais queixas feitas pelos ouvintes será solucionada: é esperada uma melhora significativa na qualidade do sinal. “Os novos transmissores que estamos comprando são híbridos, funcionam com analógico e funcionam também com digital. Fazendo uma comparação, a AM ficará com som de FM e a FM com som de CD. As duas melhorarão”, diz Carlos Senna.

Entre as dificuldades enumeradas pelos diretores, destaca-se a falta de funcionários. “A EBC cresceu, mas o número de funcionários públicos, não”, queixa-se Guilhon. Segundo ele, há a intenção de realiza um concurso para contratação de quadros o mais rápido possível. Se isso ocorrer ainda nesse ano, já no ano que vem, os novos funcionários começam a trabalhar.

Outro problema é a falta de investimentos em divulgação. De acordo com os diretores, existe uma dificuldade de renovar o público. Os dados não são atuais, mas o último levantamento disponível mostrou que os ouvintes das rádios públicas de Brasília têm, em sua maioria, mais de 30 anos. Os diretores presentes ao colóquio acreditam que, para haver uma renovação, é preciso investimento em marketing.

Participação

Para os diretores das rádios, a boa relação com o público demonstrada durante o Colóquio de Ouvintes encontra é explicada por uma característica do meio – o rádio – e uma opção das emissoras públicas – a abertura à participação. “O rádio é o meio mais democrático que existe. Em um país com 16 milhões de analfabetos, as pessoas podem se expressar”, destacou a radialista Mara Régia. “Participação é importante, renova tudo que a gente faz”, ressalta Cristina Guimarães, diretora da Nacional AM. Os ouvintes podem participar ao vivo na programação ou com sugestões feitas à Ouvidoria.

O colóquio corroborou a necessidade de ampliar estes espaços de participação. Os ouvintes que compareceram ao colóquio elogiaram e reclamaram.

“A minha relação com a rádio Nacional é uma relação de amor”, definiu Diva Azevedo. Arlindo José dos Santos, José Ribamar e Maria Cleonice Leão repetiram as mesmas palavras. José Ribamar saiu de Sobradinho para mostrar a cara e “não ser um ouvinte anônimo”.

Esta busca por sair do anonimato ou identificar quem faz parte do seu dia-a-dia através da programação das rádios motivou vários ouvintes a participar do colóquio. Quando Newton Ferreira chegou, o evento já havia começado. Ele acabou não participando com perguntas ou comentários, mas, segundo ele, “valeu à pena só para conhecer os locutores preferidos”. Antes mesmo de entrar, já comentava: “Eu tenho uma ideia de como são, mas nunca vi. Você já?”

As demonstrações de carinho pela rádio não abafaram as reclamações. As principais reivindicações foram por conteúdo educativo, qualidade de som e democratização do acesso. As sugestões também indicaram a necessidade de tornar a programação mais descontraída.

Theodora Fischli, antiga ouvinte da rádio, enfatizou a importância da qualidade da informação. “Nós aprendemos tanto com os locutores. Eles deviam buscar mais estudos, mais curiosidades, se preparar bem, como se fossem dar uma aula”, disse. Demonstrando conhecimento acima da média sobre as emissoras, Theodora desfiou a programação atual e antiga. E constatou que falta um pouco mais de foco educativo.

Já em relação à qualidade de som, apesar de reconhecerem que houve mudanças nos últimos anos, principalmente na frequência AM, o público ainda exige melhoras. “Eu moro na Asa Norte, próximo ao centro da cidade e lá AM não é boa”, destacou Vasco Vasconcelos. Ele, que também é artista, pede uma maior divulgação do trabalho local: “É preciso valorizar talentos daqui de Brasília. Democratizar o acesso também para aqueles que estão engatinhando no meio musical”, afirmou.

De acordo com os representantes das rádios, as considerações foram todas anotadas e serão levadas para a direção da empresa. Algumas demandas levadas à Ouvidoria anteriormente serão em breve atendidas. A programação deverá se voltar mais ao esporte e à rádio dramaturgia, com a produção de rádionovelas e programas infantis. Além disso, têm se buscado cada vez mais parcerias com entidades e rádios comunitárias, para que a cobertura seja mais ampla.

Outra discussão é a presença de religião na rádio, que transmite uma missa católica pela manhã. “O espaço da religião deve existir, mas deve-se ter cuidado”, diz o superintendente Orlando Guilhon, que acredita que o assunto ainda deve ser debatido. O tema já foi levado ao Conselho Curador da EBC.

Ouvidoria

Para o ouvidor responsável pelas emissoras de rádio, Fernando Paulino, encontros presenciais são fundamentais para garantir a participação, mas é necessário que o contato seja constante. De acordo com dados da Ouvidoria, em um ano e meio foram registradas 250 participações.

Paulino acredita que os resultados são positivos e que o número têm crescido à medida que os ouvintes descobrem o serviço. “A participação tem proporcionado sugestões que geraram mudanças na emissora. Ouvimos não apenas o que se refere a jornalismo, mas também a entretenimento. É um desafio grande, mas acredito que a experiência tem sido positiva.”

Fonte: Observatório do Direito à Comunicação