quarta-feira, 28 de outubro de 2009

“Para permanecer no jornalismo, fique online o quanto puder”, diz especialista

O diretor do Nieman Journalism Lab, da Universidade de Harvard, Joshua Benton, deu um conselho aos jornalistas que pretendem continuar na carreira. “Se você quer permanecer no jornalismo, melhor conselho que posso dar é: fique online o quanto puder”, declarou. O jornalista participou da abertura do MediaOn, 3° Seminário Internacional de Jornalismo Online, em São Paulo. O debate foi mediado pelo apresentador da GloboNews Ricardo Lessa.

“Eu poderia dizer a vocês: fiquem tranqüilos, vocês terão emprego para sempre, mas isso não é verdade”. Para combater a queda no número de empregos e garantir posição no mercado, Benton aconselha os jornalistas a investirem o máximo no ambiente online. “Façam um blog de um assunto de seu interesse (...) Quem lida com conteúdo deve monitorar tendências dos internautas...vá aos trend topics, saiba o que as pessoas buscam”, sugeriu.

Crise nos jornais americanos

Para começar sua palestra, o jornalista apresentou números da queda dos jornais impressos nos Estados Unidos. Segundo Benton, o mercado norte-americano de jornais tem perdido 30% do faturamento ao ano e as ofertas de empregos para jornalistas não crescem, estão como há 38 anos, com 40 mil profissionais nos diários impressos.

Para Benton, um dos motivos é o alto valor da publicidade nos jornais. Se para anunciar no New York Times por quatro domingos seguidos, em 1/4 de página, o investimento é de mais 157 mil dólares, o valor para anunciar no site do veículo, por aproximadamente o mesmo período e espaço, é de cerca de 7.500 dólares.

Benton acredita que o jornalismo mudou muito com o avanço da internet e que as pessoas buscam novidades. “A forma com que as pessoas recebem as notícias está mudando muito. Eu não assino jornal há muitos anos. Não tem nada a ver com grande jornalismo ou não. Nós nunca tivemos um jornal nacional nos Estados Unidos. Temos um país muito grande. Por isso a concorrência era mais restrita, o que levou a monopólios. Ter o monopólio no mercado nessas cidades faz com que haja monopólio de preços. E quem quiser anunciar ali tem de pagar o que eles exigem”, diz.

De acordo com o jornalista, as novas mídias deram mais poder aos leitores. “As pessoas têm hoje outras possibilidades e as exploram. Não estão interessadas em pagar o que é a elas imposto”.

A arrogância

Para fazer a transição do modelo tradicional de jornalismo para o online, Benton diz que os jornalistas terão que deixar de lado um estigma. “Os jornalistas terão de perder a sua arrogância e agir como seres humanos. A transição vai ser muito difícil para a maioria, mas é preciso ter uma voz mais humana”, afirmou.

Formação

Para o especialista, a faculdade de jornalismo não é essencial para a profissão. “Essa é uma questão muito controversa nos Estados Unidos, mas eu nunca fui a uma escola de jornalismo, nunca estudei para isso”, afirmou Benton, que é formado em história e já trabalhou como repórter no Dallas Morning News.

O especialista explica que a procura pelos cursos de jornalismo nos Estados Unidos cresceu, mas atualmente há um diferencial. “Hoje temos mais números de candidatos nos cursos de jornalismo que antes, mas a diferença é que agora eles estão criando mídia”, explica.

Tendências do mercado

Benton defende que para sobreviver os jornais devem abrir um espaço cada vez maior para a colaboração. “Os jornais não vão desaparecer definitivamente. O jornalismo será feito também por outras pessoas interessadas, não apenas pelas pessoas que as empresas contratam”, prevê.

A respeito dos profissionais, uma das formas de conseguir se manter no mercado, segundo Benton, é se especializar em alguma área e escrever sobre ela. O jornalista explicou que nos Estados Unidos há diversos sites mantidos por fundações que tratam de temas específicos, como saúde, política, além de sites sobre notícias locais, que empregam jornalistas e se tornam rentáveis. O especialista destacou o caso de sucesso do Huffington Post, que ultrapassou o número de acessos do Washington Post, com 9,4 milhões internautas no último mês, contra 9,2 milhões do tradicional jornal americano.

Sobre o Kindle, novo leitor digital de livros, jornais e revistas, Benton não acredita que a novidade cause grande impacto no mercado jornalístico. “O Kindle é bom para ler livros, mas não para outras coisas”, declarou.

O evento será realizado até quinta-feira (29/10) e terá cobertura do Comunique-se.

Fonte: Comunique-se