domingo, 26 de julho de 2009

Som e Fúria, a superação da indústria


Valério Cruz Brittos*

Som e Fúria
terminou na última sexta com gosto de quero mais. São esses momentos, mais raros do que deveriam ser, que fazem da televisão aberta brasileira um instrumento além do mercadológico, levando a cultura universal a públicos distantes dela, enquanto, simultaneamente, provocam no consumidor (neste caso empoderado como cidadão) a capacidade de abstração, de reflexão ou de simples fruição da arte, na sua mais alta acepção. Por tudo isso, é da maior importância a decisão da TV Globo, de garantir uma segunda temporada da série, apesar de seu fraco desempenho de audiência, perdendo para produções (nacionais e internacionais) menores programadas pela Record.

Na verdade, com todas as críticas passíveis de fazer à Globo, algo deve ser dito: é ela (não a Record, ou SBT ou qualquer outra emissora, especialmente dentre as comerciais) que garante os melhores momentos da televisão brasileira. Por motivação de mercado, é claro, pois é uma empresa privada, na medida em que, mesmo sem ser um êxito comercial, garante pontos para a imagem da organização. Mas as demais redes também estão no mercado, mas praticamente investem em algo que não esteja relacionado com resultados de curto prazo.

Por fim, algo deve ser dito sobre a interpretação de Felipe Camargo. Este ator superou a si próprio, na medida em que esta foi sua principal atuação na TV. Sua capacidade interpretativa foi exacerbada, levada ao extremo, fazendo duos de qualidade superior com o também talentosíssimo Pedro Paulo Rangel. Outros grandes atores tiveram um excelente palco para demonstrarem seu talento, em Som e Fúria, efetivamente demonstrando, mas foi Felipe Camargo que, dando a volta por si, mostrou-se um ator até então ainda não plenamente revelado na televisão, aproveitando-se positivamente da chance renovada. Um exemplo de profissional, a ser apreendido por todos.

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Professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS, coordenador do Grupo de Pesquisa CEPOS (apoiado pela Ford Foundation) e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela FACOM-UFBA. E-mail: val.bri@terra.com.br.