sexta-feira, 3 de julho de 2009

Informação em movimento: londrinos lêem e ganham jornais no trem

Por Denis Gerson Simões, de Londres
Especial para o Grupo CEPOS

Se as manhãs do metrô de superfície Porto Alegre – São Leopoldo recebem muitos leitores de diversos periódicos, com destaque ao popular diário gaúcho, em Londres o cenário e bem mais acentuado, quando quase todos os passageiros estão portando um jornal ou, no mínimo, ouvindo notícias ou música. É uma característica da cidade, seja pela manhã ou à tarde, transporte e leitura estão intimamente associados pelas terras da rainha. Mas esta característica não é gratuita, ou melhor, é gratuita sim, já que nas estações de metrô e nos pontos de ônibus há uma grande distribuição de jornais cortesia, que todas as manhãs são distribuídos aos milhares, sendo uma distração informativa. Fazem parte do conjunto de tablóides com notícias sensacionalistas, mas com acesso total às mãos dos consumidores.

E se acham que se trata de produtos de impressão ruim ou papel de última qualidade, estão enganados. Por exemplo, os jornais London Lite e The London Papel tem em média 36 páginas coloridas e grampeadas, com qualidade que botaria inveja a muitos dos periódicos pagos da Grande Porto Alegre. Não se trata de um barateamento de material, a estratégia ganhar na publicidade.

Mas será novo engano se cogitar que se trata de um jornal só de anúncios. A estrutura, que mescla publicidade e notícias, não tem grande distinção se comparado à tradicionais veículos como Zero Hora, Correio do Povo, Diário Gaúcho, O Sul, NH, entre outros. Além disso, os anunciantes são de peso, como Activia (Danone), Back Stret Boys (Show do Grupo), Samsung, Tap Portugal, Panasonic, assim como outras marcas locais e propagandas de filmes em cartaz nos cinemas. A própria empresa de metrôs é patrocinadora dos impressos. Se comparado ao padrão publicitário brasileiro, não há excessos de anúncios no produto inglês, nem dados popularescos. É popular sim, mas nada fora de um padrão aceitável, ainda mais se comparado a muitos outros vendidos no Rio Grande do Sul.

Claro que a realidade londrina tem suas particularidades, além de uma população amplamente maior do que a da capital gaúcha, com outra mistura social e econômica. Mas de toda forma, faz-se interessa pensar: porquê essa alternativa de produtos gratuitos e de base competitiva com as empresas hegemônicas não tem força em Porto Alegre e região? É um novo braço de investimento, com grande possibilidade de retorno, se for bem gerido e chegar aos patrocinadores certos (sem amadorismo). Ou quem sabe seria um grande fiasco de arrecadação e não chegaria a 7 dias de vida. Mas o fato é que em Londres funciona, concorrendo, de certa forma, com uma grande número de empresas de grande porte no ramo da notícia impressa, como The Guardian, Daily Mail, The Times, The Sün, só para citar alguns, mesmo que haja entre essas empresas negociações que amenizem as polarizações.

Fica a questão a ser refletida. O segmento de produtos gratuitos não necessita, necessariamente, ser feio e com cara de brinde barato. Parece não ser preciso ser “injeção na testa”; pode ser de graça e ainda útil. Mas um produto como este não pode ser gerido pelo sistema do lucro máximo, o que é prática comum no Brasil, já que a lógica é outra. Todavia, viabilizar esta prática dentro de um país com altíssima carga tributária também parece outro desafio, que mina possíveis iniciativas de uma idéia como esta ganhar corpo ou ter sucesso. Enquanto isso os brasileiros se satisfazem com os presentinhos que ganham (ou mesmo pagam) dos jornais populares, impulsionando a venda destes materiais jornalísticos que por vezes valem, em seu conjunto, menos do que as panelas que podem ser trocadas depois de juntarem 60 selinhos.