quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Univision e Televisa estrelam novela no tribunal

Dois anos atrás, o empresário egípcio Haim Saban abocanhou um dos mais promissores grupos de mídia do mundo. Junto com quatro empresas de investimento em participações, Saban pagou US$ 13,7 bilhões pela Univision Communications, a transmissora de TV de língua espanhola de Nova York. Pareceu um grande negócio na ocasião.

E apesar da crescente relutância dos anunciantes, a enorme audiência da Univision e seus telespectadores jovens continuam atraindo a Ford, a Procter & Gamble e outras companhias ansiosas por atingirem os mais de 44 milhões de hispânicos que vivem nos Estados Unidos.
Agora, porém, a Univision, famosa por suas exageradas telenovelas mexicanas, está estrelando sua própria novela. E o desenrolar da trama pode ser tudo, menos romântico. Este mês, um tribunal de Los Angeles dará início às audiências de um processo movido contra a Univision pelo Grupo Televisa.

A rede de televisão mexicana fornece muitos dos mais populares programas exibidos pela Univision e alega que esta não está pagando o que deve por eles. A Univision nega a acusação. Mas se perder o caso, ela "perderá permanentemente uma fatia substancial de sua audiência", diz um alto executivo em documentos encaminhados ao tribunal. Isso poderá levar os anunciantes a encontrar outras maneiras de atingir os hispânicos.

As duas companhias se estranham há anos. A Televisa ajudou a começar a Univision em 1986 e mais tarde comprou uma participação de 10,8% no negócio. Mas os dois lados não se entenderam sobre como administrar a companhia, além de envolver-se em questões sucessórias. Quando a Univision foi colocada à venda, em 2006, um grupo liderado pela Televisa tentou comprá-la, mas perdeu a disputa para a Saban & Co. Posteriormente, a Televisa vendeu sua participação na empresa.

Então, a Televisa entrou com a ação. A companhia mexicana afirma que a Univision não vem pagando uma parcela acertada sobre as receitas publicitárias e quer encerrar o acordo, que vai até 2017. Além de negar que tenha rompido o pacto, a Univision diz que, sob protesto, pagou parte do dinheiro que supostamente deve. A Televisa a intimidou, ameaçando levar sua programação para outra emissora. Recentemente, ela licenciou os jogos de futebol do campeonato mexicano para a rede Telemundo, uma concorrente muito menor, que pertence à General Electric.

Saban está numa verdadeira sinuca. Ele e seus sócios pagaram caro pela companhia antes que o mercado publicitário começasse a cair. Dezenove meses depois do negócio, a Univision deu como perdidos US$ 3,7 bilhões do preço de aquisição para que o balanço pudesse refletir o enfraquecimento de seus negócios de TV, rádio e internet. "Pagamos caro demais", diz Saban. "Foi o mercado, e não nós. Ela ainda é uma grande companhia. Em poucos anos, o mercado vai melhorar de novo."

Mesmo assim, tendo endividado a companhia em US$ 10,2 bilhões, Saban não podia esperar. Em fevereiro, ele vendeu a gravadora da Univision para a Universal Music por menos da metade do que a Univision havia pago em 2003. E enquanto espera que o crescente mercado hispânico volte a proporcionar grandes lucros, a Univision também espera aumentar as taxas que as companhias de TV a cabo e por satélite pagam para exibir seus programas.

Ela poderia fazer bom uso do dinheiro: com as receitas publicitárias em baixa, a companhia registrou um fluxo de caixa de US$ 213 milhões em seu trimestre mais recente, segundo Shelly Lombard da empresa de pesquisa Gimme Credit. Isso é pouco mais que os US$ 197 milhões que a companhia paga de juros. A agência de avaliação de risco Standard & Poor's alertou que poderá rebaixar a classificação da dívida da Univision, hoje em "B-".

Enquanto isso, a Televisa disse que poderá investir em outra emissora americana. Se conseguir se livrar da Univision, ela poderá assumir uma participação na Telemundo e enchê-la de telenovelas bregas.


Reproduzido de ADNews, em 07/01/09.