No fim de agosto, quando o salão do Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo, abrir suas portas para receber os participantes do Congresso SET 2008, o Sistema Brasileiro de TV Digital, com perdão ao gerundismo, deverá estar inciando um novo ciclo: o da interatividade.
Dezenas de aplicações, desenvolvidas em parcerias entre radiodifusores, produtores de set-top-boxes e desenvolvedores de middlewares baseados no padrão Ginga estarão em exposição, demonstrando que, a despeito de todas as críticas, tecnicamente já é possível ter interatividade na TV Digital, embora local e bastante básica para tempos de Internet. Pode-se afirmar, sem medo de erro, que a pressa em inaugurar as transmissões digitais em dezembro, foi a grande responsável pela desilusão da mídia e, conseqüentemente, do público, com a TV Digital.
Hoje, na prática, set-top-boxes caríssimos, que nada mais fazem que brindar seus usuários com melhor som e imagem _ praticamente imperceptíveis para os consumidores que já podiam pagar pelo cabo _ são os vilões dessa história. Para decolar, o SBTVD precisa de set-top-boxes baratos e interatividade: as grandes promessas do governo. Acontece que, se nada for feito no campo da política industrial, ainda corremos o risco de ver esse sonho brasileiro naufragar. E isso nada tem a ver com a polêmica em torno da patentes submarinas e o pagamento de royalties pelo uso do GEM e do Java. Depende, muito mais, do modelo de negócio dos produtores de set-top-boxes, dos produtores de software, dos radiodifusores.
E onde está a luz no fim do túnel? David Britto, diretor técnico da TQTVD, membro do Fórum SBTVD e levantador da polêmica sobre a necessidade de pagamento de royalties, aponta os caminhos. Semana que vem, a TQTVS mostra em público muito do que já vem apresentado ao seleto público do Fórum SBTVD, e um pouco mais. A maior novidade é o início de licenciamento do Astro, seu middleware baseado no Ginga, já rodando em uma série de set-top-boxes com ampla capacidade de memória, a ponto de já permitir o uso de aplicações com diversos níveis de interatividade. Incluindo a maior delas, através do uso de um celular com funções de comunicação de dados.
Vi várias dessas aplicações ainda rodando em set-top-boxes de pouca memória, da Positivo e da Visiontec, e posso afirmar que o desempenho, embora ruim para os padrões perseguidos, ainda consegue ser melhor que o das aplicações interativas que rodam hoje no set-top-box da Net Digital que tenho em casa. Quem já tentou usar o Canal Plus do SportTV, agora, durante os jogos Olímpicos, sabe do que estou falando.
Uma das aplicações desenvolvidas pela TQTVD desmonstrada em primeira mão,semana passada, na última reunião do Fórum SBTVD, mescla código NCL/Lua (o jogo de tetris) com código Java (o guia de programação obtido diretamente das informações envidas pelo ar pela própria emissora).'Chegou a hora de discutirmos o middlaware e as especificações mínimas necessárias para ver este mercado florescer', advoga David. 'Precisamos definir o que será o Ginga 1.0, sem tirar o Java da norma', diz ele, para quem falar em GEM já é uma página virada.
Só com NCL e Lua já é possível ter um grau de interatividade muito bom na TV Digital. E isso estará demonstrado na Set também por outras empresas, além da TQTVD, como a iTV Produções Interativas, parceira da Record e da TV Cultura, com provas de conceito rodando redondas em set-top-boxes da ZinWell e Visiontec. Como fica a questão do Java? A definição de especificações do middleware 1.0 passa pelo anúncio, na Set, da criação de um grupo de desenvolvedores brasileiros interessados em validar as especificações abertas para os módulos Java usados nos set-top-boxes, incluindo o Java Virtual Machine.
O status de desenvolvimento dessas especificações, que estão sendo refeitas pela Sunem conjunto com membros do SBTVD, deverá ser apresentado no congresso por Rob Glidden e Calinel Pasteanu. Essa especificação aberta será a base para o novo Ginga-J, que será totalmente reescrito. A participação no grupo será aberta a toda a comunidade de desenvolvedores Java, mediante à assinatura de um documento comprobatório do compromisso de liberação de patentes.
Cristina de Luca
Convergência Digital