Para compartilhar os resultados de suas investigações e avaliar o amadurecimento dos estudos críticos comunicacionis nos últimos anos, os pesquisadores da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (Ulepicc) reuniram-se no período de 13 a 15 de agosto, na Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP, em Bauru/SP. Esse foi o 2º Encontro do capítulo brasileiro da entidade, que teve como tema a relação entre “Digitalização e Sociedade”.
O encontro contou com a participação de pesquisadores de renome internacional. A conferência de abertura foi ministrada pelo presidente da Ulepicc Internacional, Luis Albornoz (Universidade Carlos III/Madri), que defendeu uma maior democracia na internet para o intercâmbio de idéias e experiências. Ele disse que qualquer tipo de restrição só favorece os oligopólios da indústria cultural e salientou o caso da música, que vem sendo alvo de amplas discussões em decorrência dos direitos autorais.
Para o professor Albornoz, o compartilhamento on-line ajuda na promoção dos músicos e contribui para a descoberta de novos talentos. “Aos poucos surgem novas plataformas de exibição audiovisual, o que é muito positivo em uma época em que a internet faz parte do dia-a-dia do cidadão”, completa.Os debates começaram na manhã do dia 14, com um painel sobre “Economia política e políticas de comunicação no paradigma digital”, encabeçado pelos professores Valério Brittos (UNISINOS); Murilo César Ramos (UnB) e César Bolaño (UFS), e outro a respeito das “Indústrias culturais e digitalização”, liderado por Anita Simis (UNESP); Suzy dos Santos (UFRJ) e Laurindo Leal Filho (Cásper Líbero-USP).
Para os painéis do dia 15, foram convidados os pesquisadores Adilson Cabral (UFF), Antônio Magnoni (UNESP) e Leandro Ramires Comassetto (UnC), que discutiram a “Comunicação comunitária na era digital”, além de Ruy Sardinha (USP), William Dias Braga (UFRJ) e Antônio Carlos de Jesus (UNESP), cuja temática de debate foi a respeito das “Convergências e desafios da digitalização”.
Grupos de Trabalho
Em virtude do grande número de trabalhos a serem apresentados nas tardes da quinta e da sexta-feira , já que ao todo foram registrados 87, foi preciso que a comissão organizadora do evento distribuísse cada um dos cinco Grupos de Trabalho em sessões simultâneas. Para se ter uma idéia, o GT de ‘Indústrias Midiáticas’ chegou a dividir-se em oito partes, com debates variados em torno das indústrias fonográfica, televisiva, radiofônica, de livro e de tecnologias de informação e comunicação.
Nas três sessões do GT de ‘Políticas de Comunicação’, foram discutidas questões como financiamento, regulação, regulamentação e participação. Já os participantes do GT de ‘Políticas Culturais e Economia da Cultura’ trataram desde a sociabilidade e o ambiente cinematográfico até a produção colaborativa de softwares livres, redes e a dinâmica dos mercados. Ficou por conta do Grupo de Trabalho ‘Comunicação Pública, Popular ou Alternativa’ o debate sobre democratização, caráter público, mobilização social e relações com o Estado.
Enquanto isso, os pesquisadores inscritos nas sessões do GT de ‘Teorias’ falaram sobre a práxis comunicacional, a perspectiva de Herbert Shiller e Raymond Williams, a metodologia colaborativa para a pesquisa em mediação cultural, a lógica de Peirce e a didática para o ensino do hipertexto.
De acordo com o presidente da Ulepicc–Brasil, Valério Brittos, o Encontro superou as expectativas e já se firma no calendário acadêmico como um importante espaço de apresentação de pesquisas, debate pluralista e intercâmbio de idéias. Ele ressalta que “a grande conquista do capítulo brasileiro envolve o avanço e a visibilidade da Economia Política da Comunicação na comunidade acadêmica. Isso passa por questões como a realização e consolidação de nosso evento a cada dois anos, o lançamento e atualização de um sítio na internet e a edição de um livro”.
Rede de Pesquisa
Ao final do evento, houve uma assembléia com os grupos de pesquisa. Na oportunidade, o vice-presidente da Ulepicc-Brasil, Laurindo Leal Filho, propôs a criação da Rede de Pesquisa em Informação, Comunicação e Cultura, que deverá promover a criação de grupos interinstitucionais e aproximar aqueles já existentes em torno da pesquisa focada nos propósitos da entidade internacional.
A sugestão foi aceita com entusiasmo pelos associados, que inclusive já escolheram os professores Ruy Sardinha Lopes e Leandro Ramires como coordenadores da rede.O Capítulo Brasil da Ulepicc foi fundado em março de 2004, em Aracaju/SE, como uma sociedade civil sem fins lucrativos. A entidade procura estimular a criação de espaços acadêmicos para o debate da Economia Política da Comunicação, da Informação e da Cultura, além de promover encontros bianuais, desenvolvidos em parceria com instituições de ensino superior, realizadoras dos eventos.
O 1º Encontro da Ulepicc-Brasil, realizado em outubro de 2006, em Niterói/RJ, resultou na publicação do livro “Economia Política da Comunicação: Interfaces Sociais e Acadêmicas no Brasil”. Dentre os assuntos discutidos na obra estão o renascimento da Economia Política nas análises da comunicação; especificidades atuais da indústria cultural; TV Digital; cultura tecnológica; políticas para comunicação e cidadania; as relações entre sociedade e televisão e entre comunicação e cultura; materialismo dialético e os observatórios de comunicação.