terça-feira, 6 de setembro de 2011

Novos lugares, novos olhares


Por Valério Cruz Brittos e Alexon Gabriel João 
[Valério Cruz Brittos e Aléxon Gabriel João são, respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos; jornalista e mestre pelo mesmo programa]


Vive-se um momento especial na história da humanidade. Inúmeras transformações estão acontecendo em todo o planeta, em grande velocidade, por isso não permitindo um maior afastamento para a reflexão sobre o fenômeno. Um dos conceitos-chaves do mundo contemporâneo é o de convergência, resultado do desenvolvimento recente das tecnologias de comunicação e informação (TICs) e do processo de digitalização geral, inclusive da radiodifusão. É importante entender este momento para que se possa identificar plenamente o aparecimento de novos suportes midiáticos e o redimensionamento das atuais plataformas de transmissão de conteúdo audiovisual, que descortinam um novo cenário na televisão brasileira.
Nesse contexto tecnológico, mobilidade e portabilidade, que até então eram características exclusivas do rádio e no televisual e estavam restritas a previsões ensaísticas, tornaram-se elementos essenciais para a ampliação do espaço da televisão, surgindo a PluriTV. O pacote do qual ela faz parte insere-se no cotidiano do usuário e permite que, no jogo mercadológico, ateste suas potencialidades, interferindo de forma cada vez mais eficaz na disputa por audiência, na consolidação de novos mercados para a publicidade e na reconfiguração do modelo de negócios para a indústria de produção e distribuição de informação.
A PluriTV instaura a necessidade de repensar a comunicação enquanto processo recíproco, que mescla os papéis de emissor e receptor, colocando em xeque a atual conformação do modelo televisivo e provocando o rearranjo da cadeia de produção, distribuição e consumo de produtos audiovisuais. Essa PluriTV nasce após a digitalização, rompe as paredes e alarga sua zona de atuação e influência, até chegar aos mais variados lugares, disponibilizando conteúdos audiovisuais por múltiplos canais. Com isso, torna-se acessível através dos mais variados sistemas de transmissão, seja por cabo, satélite, microondas ou internet, acompanhando o receptor no celular, no aparelho de iPod, no ônibus, no trem, no saguão do aeroporto, no carro, no escritório e no quiosque da praia.
Tempo ocioso é preenchido com informações importantes
Trata-se aqui de uma televisão capaz de ser altamente convergente, com conteúdo tendo múltiplos aproveitamentos, a partir das várias janelas de transmissão. Assim, a PluriTV pode ser aplicada na comunicação intra-empresa, com foco principal no público interno, podendo o cliente externo também ser alcançado, havendo interesse da organização. A PluriTV pode estar no interior de empreendimentos comerciais, constituindo-se em uma ferramenta de grande eficiência para impulsionar as vendas, uma vez que 75% das decisões são tomadas momentos imediatamente anteriores à compra, ou seja, dentro da loja.
Ela também pode ser público-institucional, focada na comunicação de prefeituras e governos estaduais, inserida em suas estratégias de transparência e instalada em locais de grande fluxo de pessoas, dentro de estruturas funcionais como hospitais, escolas, secretarias e delegacias. A grade de programação pode conter dados sobre obras, projetos, agenda do governante, notícias e campanhas diversas, diminuindo a sensação de espera por atendimento, ao mesmo tempo em que transmite informações aos cidadãos. Em hotéis, objetiva ser uma fonte de informações complementares, disponível nos apartamentos através de um canal adicional de TV a cabo. Nele são disponibilizados subsídios como cardápio de restaurante, avisos, escala de serviços, telefones úteis, situação e horários de voos no aeroporto da cidade.
Já em universidades, está focada na divulgação de assuntos acadêmicos, instalada em áreas de convivência, biblioteca e restaurantes, exercendo um papel fundamental na integração da comunidade universitária. Alunos e professores passam a contribuir, divulgando ali eventos, trabalhos científicos e opiniões, tornando o veículo rico em conteúdo. Por outro lado, tempo de espera por um voo, previsão do tempo e principais pontos turísticos da cidade de destino, assim como a localização de hotéis, entre tantos outros anúncios e programas, podem ser veiculados pela PluriTV, instalada em pontos estratégicos do saguão do aeroporto. Com ela, o tempo ocioso pode ser preenchido com informações importantes para a viagem.
Um modelo significativo
A PluriTV pode estar igualmente nos dispositivos móveis. Há um ganho significativo para o usuário, quando se tratam de aparelhos telefônicos, por haver um canal de retorno, ampliando as possibilidades de interatividade e permitindo que o consumidor tenha participação direta, ao expressar sua opinião, participando de enquetes, adquirindo produtos e construindo sua própria programação, fundamental para a consolidação desse tipo de TV. Com o canal de retorno, disponível em plataformas fixas e móveis com rede para tal, abrem-se possibilidades para cursos, jogos online, correio eletrônico, programas com respostas individualizadas, portal de informação e notícias personalizadas. Já no carro, as falhas de transmissão, os chuviscos e os ruídos são substituídos por alta qualidade de som e imagem.
No âmbito da PluriTV, poderá sofrer modificações o próprio modelo de negócio da televisão aberta ao se viabilizarem novos serviços, como a venda de produtos por meio televisivo (t-commerce). Ainda que permaneçam os problemas estruturais da TV, como mercado capitalista oligopolizado, amplia-se a autonomia do espectador, capaz de interagir mais amplamente com os produtores e também postar conteúdos, construindo e reconstruindo grades. Na gênese da PluriTV está a possibilidade de inclusão de novos atores, gerando fortes efeitos sociais e mercadológicos, envolvendo recolocação em múltiplos espaços e ingresso de produções individualizadas e dando ao espectador a possibilidade de interferir no processo. Como exemplo, pode-se citar a TV 2.0, que nasce e se desenvolve tendo o telespectador como produtor de conteúdo. A Current TV (www://current.com) é um significativo modelo deste tipo de proposta, pois nela um terço da programação é produzido pelo público.