Faltando pouco mais de 60 dias para as eleições deste ano, o que surpreende é o baixo indice de participação do público na campanha eleitoral. A reação espontânea da maioria das pessoas é ver o pleito como uma coisa dos políticos e, secundariamente, como uma obrigação cidadã.
Trata-se de uma mudança significativa em relação a eleições recentes — e como a web é um componente novo na campanha, é inevitavel a pergunta se ela tem alguma coisa a ver com este fenômeno.
Como experiência brasileira com politica digital ainda é muito recente, precisamos recorrer a dados de outros paises para procurar uma resposta tentativa; e a primeira constatação é a de que a imprensa convencional já não é mais o único canal de comunicação entre os eleitores.
Até agora, os jornais e a televisão eram hegemônicos na mediação entre os candidatos e o público. Agora, existem os blogs, o Twitter, os videos do YouTube e as comunidades do Orkut.
A web ainda é privilégio de uma minoria de brasileiros, mas ela cresce aceleradamente em dois segmentos com influência crucial nas tendências de voto: na classe A e entre os jovens. Ao contrário dos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, onde o percentual de eleitores conectados à internet já passa dos 50% da população, aqui ficamos abaixo dos 25%, o que ainda é pouco significativo em termos absolutos.
Mas a classa A tem um grande poder de inhfluência na fixação da agenda dos meios de comunicação, enquanto os jovens com menos de 25 ou 30 anos formam o maior contingente dos eleitores céticos, aqueles que estão cada vez mais distantes do processo convencional de caça ao voto e que são majoritários no universo dos blogs, twits, chats, videos amadores e comunidades sociais.
As novas ferramentas de comunicação na web têm características diferenciadas em relação à imprensa convencional e devem ser levadas em conta na avaliação de sua influência sobre a campanha eleitoral.
Os blogs, twits, fóruns e comunidades são basicamente ambientes de discussão e de troca de idéias, ao contrário dos jornais e da TV, cuja função é essencialmente a de mediação entre os partidos ou candidatos e o eleitor. Enquanto o ambiente digital é, por natureza, confuso e desordenado, o papel da imprensa é o de organizar a informação.
Esta diferença, por si só, determina papéis bem diferentes na disputa eleitoral. Enquanto os blogs favorecem a diversidade, os jornais são, por limitações espaciais e técnicas, forçados a uniformizar e padronizar a realidade eleitoral para poder levá-la até o eleitor.
A web tende a funcionar como refúgio dos desiludidos, e como grande caixa de ressonância dos eleitores apáticos, enquanto a imprensa convencional serve de foro para os participantes do jogo do poder.
São duas realidades diferentes e o fato de elas existirem já é um fato novo transcendental no processo eleitoral. Ele não está mais sendo decidido apenas na mediação da imprensa tradicional, mas também no caos dos blogs e dos twits.
Quem analisa a campanha pela ótica da mídia tradicional tende a desqualificar os canais da web como agentes perturbadores da ordem. Mas acontece que são justamente os blogs, o Twitter, os vídeos amadores e as comunidades do Orkut que tornam o debate eleitoral mais próximo da realidade social, ao espelharem minimamente a diversidade social.
Fonte: Observatório da Imprensa